Sultão Politicamente Incorreto

Mais uma postagem sobre um jogo de celular, mas essa será bem diferente do que estamos acostumados a ver por aqui. Não será um review, na verdade é um jogo que eu até tive a curiosidade de instalar pra ver como era, mas logo apaguei de meu telefone. E admito, fui induzido (pra não dizer enganado) pelos anúncios constantes desse jogo em minhas redes sociais. Mostrando que, mais do que nunca, a propaganda enganosa pra pegar trouxa continua sendo uma das armas de marketing mais usadas pelas empresas.

Em todo o caso, vale o registro... pois são propagandas que beiram o absurdo em níveis de politicamente incorreto. E como eu me divirto em ver a reação dessa geração floquinho de Nutella, criada na base de leite com pêra, não poderia deixar de falar sobre o jogo Game of Sultans e suas propagandas hilárias.

Vale um breve descritivo do jogo, que segue aquela velha linha de joguinhos de gerenciamento, onde você tem várias missões, diversos lugares para visitar, e outras atividades como víamos lá no antigo SimCity. O que acontece é que hoje em dia esse gênero é apresentado em diversos temas: pode ser um prédio, um acampamento zumbi, um hospital, uma base militar, um shopping, enfim... tem de tudo. E por algum motivo alguém achou que seria legal fazer um jogo desses com o tema de sultões, governantes do Império Otomano. 

Parece até novela da Globo. Toda hora inventavam alguma temática diferente, como ciganos, italianos e árabes, mas com a mesma história padrão, da mocinha que se apaixona pelo galã, e que vivem felizes para sempre no final, apesar de todas as tentativas do vilão ou vilã em estragar tudo.

Pior que surgiram vários jogos semelhantes com o mesmo tema, que é outra característica que vemos hoje: quando alguém bola um tema desses, logo aparecem várias outras empresas copiando a ideia, muitas vezes fazendo jogos que são cópias muito parecidas ao original, e em algumas raras situações até aparece algum que muda um pouco o estilo de jogo, e acaba ganhando destaque também. Como eu comentei naquela postagem sobre os jogos de meninas-navio, começou com o Kantai Collection e logo apareceram vários "clones", sendo que Azur Lane foi um que tentou se diferenciar e hoje até parece ter superado o original.

Com os sultões não foi diferente, apareceram várias cópias descaradas, mas o Game of Sultans aparentemente manteve sua posição de destaque (embora eu nem tenho certeza se ele foi o original). Nele, você personifica um sujeito que assume como Sultão do Império Otomano depois da morte de seu pai. E aí é todo um gerenciamento dessa nação, que envolve organizar a colheita para alimentar o povo, fortalecer seu exército para se defender dos invasores e para vencer os inimigos, entre outras coisas. 

E claro, o jogo ainda coloca uma pitada quase que hedonista, com a possibilidade do Sultão arrumar várias mulheres para se casar. Algo típico daquela cultura, onde a poligamia era (e ainda é) incentivada. No jogo são dezenas de mulheres que podem ser colocadas em seu harém, que não apenas contribuem com certas estatísticas de sua nação, mas que também incluem a "visita conjugal".

Pior que depois de "molhar o biscoito" em uma em suas concubinas, existe ainda a possibilidade de você gerar herdeiros, que depois poderão se casar com filhos e filhas de outras nações, comandadas por outro jogadores, tudo isso pra ganhar XP e dinheiro de mentirinha no jogo...

Pois é, embora não tenha nada explícito, em Game of Sultans o jogador poderá "mandar ver" nas mulheres de seu harem todos os dias, gerando filhos que nem coelhos. E logicamente que há mulheres de diferentes tipos, como a dançarina exótica, a artista, a enfermeira e assim por diante.

O mais curioso de tudo é que Game of Sultans passou por uma repaginada "inclusiva" recente, dando a possibilidade de usar uma personagem principal feminina, que vira a Sultana do império. Aparentemente não muda nada, o jogo segue da mesma forma. A única diferença é as candidatas ao harem originais são "convertidas" em uma versão masculina com características semelhantes. 

Embora alguns deixem a desejar no que diz respeito a versão masculina, tipo o boyzinho com o cachorrinho no colo, o "man" com florzinha ou o pseudo-viking de capuz e barbinha de lenhador...

Agora, fico só pensando no seguinte: um Sultão com dezenas de mulheres e gerando filhos com cada uma delas, vá lá... até que dá pra se entender essa ideia, dependendo do quanto o sujeito "desce a lenha" no seu harém, uma hora ele se tornaria quase como uma clínica de maternidade. Agora, se é uma Sultana... puta merda! Quer dizer que a líder do império vai ser uma máquina de gerar bebês?

E, pelo que entendi, ainda há algo pior: para aqueles que quiserem um pouco mais de inclusão, dá pra trocar os pretendentes para outros do mesmo sexo. Ou seja, o Sultão pode interagir com outros homens, e a Sultana com outra mulheres. Não me levem a mal, não venham dizer que eu sou homofóbico, na verdade não faltam registros de relações homo-afetivas em algumas sociedades antigas (vide os gregos, por exemplo). Mas, pombas... Como que dois caras ou duas mulheres vão gerar um filho, cacete?

Enfim... já divaguei demais e falei muito do jogo, e de quebra ainda devo ter arrumado uma razão pra algum politicamente correto vir aqui e me chamar de homofóbico. Pessoalmente, achei o jogo meio escrotinho e repetitivo, e na maioria das vezes fica aquela sensação de "que diabos estou fazendo?" que desanima muito em um jogo. Embora tenhamos que ao menos reconhecer que visualmente é um jogo bonito, com personagens muito realistas, especialmente as femininas.

Embora eu diria também que tenham alguns que beiram o ridículo. Tipo os aliados do Sultão/Sultana que são toscos como se tivesse fugido de um circo. Como o mané com esse chapéu que parece uma cúpula de abajur.

Bizarro...

Mas mais bizarro do que isso são as propagandas que eu citei lá em cima. Algo que se tornou bem comum hoje em dia é que tais jogos sejam anunciados de forma incessante nas redes sociais, enquanto você está passando pelos posts de seus amigos e conhecidos, uma bela hora aparece um anúncio de alguma coisa. Seja um produto sem noção em promoção no Alibaba ou Americanas, uma boazuda dizendo que vai ensiná-lo a fazer investimentos ou até mesmo a sugestão de um candidato a uma eleição (como vi muito durante o último pleito), no meio disso aparece também alguma propaganda de um jogo para você baixar. Em raras situações, é uma propaganda honesta, enquanto que na maioria das vezes são aqueles vídeos que passam uma ideia de gameplay que nada tem a ver com o jogo de verdade. 

E nas outras... bom, são as propagandas do Game of Sultans... Que não apenas mostram anúncios de um estilo de jogo que está longe da realidade, mas que também superam absurdamente o limite de o quanto alguém pode ser politicamente incorreto. 

Sério! Essa é uma propaganda real, eu não fiz nenhum Photoshop. Provavelmente alguns de vocês devem ter visto esses anúncios completamente absurdos, onde não há nenhum tipo de preocupação em ofender os mais sensíveis. Fica evidente que algumas das imagens são alteradas diretamente do jogo, o que aparentemente foi feito pelos próprios produtores como forma de humor bem negro, fazendo zoeira com temas bem sensíveis, como a aparência das mulheres ou colocando em dúvida a fidelidade do Sultão.

Ora, não tem que se ofender com isso. Afinal de contas, no próprio jogo a pessoa deve construir um harem com várias esposas. 

Observe que em muitas dessas propagandas dá a entender de que o jogo tem algum tipo de escolha, como se houvesse um modo de história onde fosse possível escolher diferentes destinos. Mas tudo não passa de propaganda enganosa, pois pelo menos até onde vi, não tem nada disso. Era de se esperar, ao ver que as escolhas chegam a ser bem absurdas mesmo... 

Tais anúncios provocaram a ira dos politicamente corretos, como era esperado. Pois muitos deles demonstram piadas e zoações com temas que a patrulha da moral e bons costumes não permite que se brinque. Tipo, agressão contra as mulheres, como nesta propaganda onde teoricamente você poderia escolher entre perdoar a serva ou mandar outro tapa na cara dela, já marcada...

Eu sei que vão me xingar... Mas eu admito que quando vejo alguns desses anúncios do Game of Sultans eu caio na gargalhada. Por vários motivos, a começar pelo certo reconhecimento pela "coragem" dos produtores ao partir para esse tipo de merchandising, precisa confiar muito no jogo (que já não é essas coisas) pra fazer propagandas tão controversas assim, que podem até mesmo afetar sua popularidade. Me admira como esse jogo ainda não foi banido só por conta disso. Outra razão é ao ver como que pensam as ideias mais absurdas, como tentar explicar a genética ruim por meio de uma filha dentuça como o pai.

No meu tempo de escola, a gente aprendia genética com aqueles exemplos de cor de olhos, com os genes dominantes e recessivos. Hoje, com Game of Sultans, aprendemos com o tamanho dos dentes.

Pior de tudo é que eu sei que muita gente iria adorar se o jogo fosse assim de verdade, mesmo com essas tiradas politicamente incorretas. Pois tais episódios absurdos são dignos da mais tosca novela da Globo, parece uma comédia, como quando a mulher apresenta o herdeiro do sultão, dotado de uma monocelha e a cara do Tiririca. Nem quero imaginar quais seriam as opções.

Igualzinho àquele bebê dos Simpsons.

Enfim, já vi zoações com diversos assuntos nesse jogo. Mas parece que o que "passou dos limites" foram as piadas com gordos. Em diversas propagandas do Game of Sultans é feita alguma zoação com uma das filhas do monarca, alterada para que pareça ser mais rechonchuda. Como nessa abaixo, onde a gordinha pede um abraço para seu pai, que recomenda que ela perca peso primeiro... e que aparentemente teve sua mão devorada pela menina, como assim?

Esse tipo de piada resultou em uma série de protestos, liderados pela cantora Demi Lovato, que achou um absurdo esse tipo de propaganda que promove a gordofobia (entendo que seria a tradução de fat shaming usada por ela em suas redes sociais) e que deveriam ser removidas, pois muitas pessoas que lidam com problemas de peso poderiam se sentir ofendidas. 

Pessoalmente... eu acho que é exagero dessa Demi Lovato e dos politicamente corretos. Tudo isso é fruto de uma geração hiper-frágil, que se dói com qualquer coisinha, que se ofende com a própria sombra. Tem muita coisa pior nesse mundo, pra que a sociedade fique fazendo mimimi por uma mera piadinha de um jogo de celular. É necessário ensinar às pessoas que nem tudo feito no mundo é com a intenção de ofendê-las, mostrar que se sentir menor por conta de uma mera piada é a escolha de cada um. 

Sei que existem pessoas que não conseguem fazer isso tão facilmente, e por essa razão precisam sim de apoio e consideração de seus familiares e amigos, para que não sejam atingidas por esse tipo de situação; mas penso que a maioria não se sente tão ofendida com essas coisas que os politicamente corretos tanto reclamam, mesmo quando seriam diretamente ofendidos pela suposta ofensa. Tá cheio de exemplos de pessoas acima do peso que não ligam pra isso, que até riem de si mesmas e reagem bem diante disso. 

Esse é na minha opinião o grande problema: aqueles que mais se ofendem com tais piadas são aqueles que não são alvos das mesmas, e não têm nenhum motivo pessoal para reclamar. Fazem isso pois querem posar de justiceiros da moral, defensores dos fracos e oprimidos, e tudo isso com o objetivo de se promover no "Feice" ou no "Insta", pra mostrarem para o mundo todo que são politicamente corretos. Deixem de ser chorões e vão reclamar de coisas que são realmente importantes, e não de uma mera propaganda no Facebook ou Instagram, pombas!

Afinal de contas, duvido que a tal da Demi Lovato iria topar namorar um gordinho. Ela tem toda a pinta de que vai soltar aquele "Eww" se um sujeito pançudo chegar nela e convidá-la pra sair. Claro, nessa hora não vai ter papinho de fat shaming. Pombas, não fode!

Polêmicas à parte, algo nós temos que admitir: não existe propaganda ruim. Mesmo os anúncios de péssima qualidade e/ou controversos podem ajudar uma empresa a vender mais o seu produto. Como diz o ditado, "falem mal, mas falem de mim", e acho que foi essa a estratégia dos criadores do Game of Sultans ao colocar esses anúncios controversos. Repito, eu mesmo acabei "caindo na armadilha" e baixei esse jogo pra ver como era, tudo graças às propagandas bizarras. Claro, fiquei puto por ser mais uma propaganda enganosa, promovendo um jogo que não tem nada a ver com o anunciado, mas para eles já valeu, já foi mais um download contabilizado. 

Estratégia bizarra e politicamente incorreta para os padrões da sociedade atual... mas que parece estar funcionando. 

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