Phantasy Star III - Os Androides

Eu disse que voltaria, não disse? Sei que demorou muito, mas voltei... Pois é, eu sempre cumpro o que prometo (bom, quase sempre...) e dessa vez não foi diferente. Venho aqui com mais uma postagem que tem foco no sempre polêmico Phantasy Star III, o RPG da Sega que muita gente acha uma droga, mas que mantém uma seleta legião de fãs. Como você deve se lembrar (ou não, já que faz tempo), eu fiz uma longa postagem a respeito do jogo, explicando a minha experiência pessoal com a série, detalhando a jogabilidade e falando das gerações que percorremos ao longo da trama. Mas ainda tenho muito assunto pra falar a respeito de PS3. Como havia prometido, decidi fazer algumas postagens mais curtas (ou menos longas) para falar de alguns outros detalhes, expor minhas teorias e tentar desvendar certos mistérios que não foram muito bem elucidados. 

E eu decidi começar fazendo uma postagem para falar a respeito dos quatro androides que fazem parte do elenco principal da história. 

Robôs, cyborgs e androides sempre estiveram presentes em jogos de RPG de uma forma geral, e a série de Phantasy Star não foi diferente neste aspecto. Mas até então eles eram apenas personagens auxiliares e não-jogáveis (NPCs), como o simpático Hapsby que pilotava a nave no primeiro jogo, e foi justamente Phantasy Star III que os trouxe para a equipe. Desde então, os jogos da série clássica e mesmo os mais novos começaram a incluir esse tipo de personagem jogável. 

Em PS3, são quatro personagens ao todo, sendo que eles se dividem em dois "modelos". Mieu e Miun são as androides femininas, exatamente iguais entre si, e que representam a versão mais humanizada, se parecendo com mulheres. Por sua vez, Wren e Siren são os androides masculinos, que possuem um visual mais robótico, se diferenciando apenas pela cor dos "cabelos". Mieu e Wren são os personagens jogáveis, os primeiros que se juntam à equipe. Miun é uma NPC que pode ser encontrada no meio de um deserto, enquanto que Siren é o "chefão" de uma das gerações.

Já há um ponto curioso a ser comentado, que é a própria definição que se aplica. Pois, formalmente falando, existe uma diferença entre o significado de androide (que, por algum motivo, eu usei por padrão neste post), robô e cyborg. Sei que é uma discussão nerd e meio boboca, mas acho que vale a pena fazer este breve parênteses, pois o próprio PS3 lidou com essa definição de formas diferentes nas versões americana e japonesa. 

A definição de androide se aplica a uma criatura artificial e autônoma que tem a aparência de humano. Ou seja, você não conseguiria distinguí-lo de uma pessoa tão facilmente, visualmente é como um homem ou uma mulher, pelo menos pelo lado de fora. Por sua vez, o robô já seria aquele equipamento que pode até lembrar vagamente uma pessoa, mas em que fica evidente que não é humano, ou então é um mecanismo mecânico de aparência bem distinta. Finalmente, o termo cyborg é geralmente associado a um organismo que mescla partes orgânicas e cibernéticas, meio homem e meio máquina, muitas vezes com uma aparência humanoide, embora isso não seja obrigatório.

Para explicar melhor, vejamos uns exemplos. O Terminator poderia ser definido como um androide, pois visualmente é igual a um ser humano, com a aparência do Arnoldão, embora seja aquele esqueleto metálico por dentro. O C3PO do Star Wars seria classificado como um robô, apesar de sua aparência humanóide é indiscutível que é uma máquina. E o Robocop ficaria como exemplo de um cyborg, já que ele tem pedaços que sobraram do Murphy.

Quando vamos para PS3, temos duas interpretações distintas nas versões ocidental e oriental do jogo, algo que era muito comum na época. Considerando os títulos da Sega, geralmente o "original" era o lançado no Japão, e que depois sofria uma série de alterações quando vinha para o mercado na Europa e Américas. Algumas mudanças eram estéticas (vide as diferenças regionais do Streets of Rage), mas em um jogo com muito texto como um RPG era de se imaginar que os tradutores fariam algumas mudanças sensíveis, alterando certos conceitos da história, seja de forma proposital ou mesmo por incompetência e desleixo. Era o caso em PS3, onde Mieu e Miun eram classificadas como androides na versão oriental, enquanto Wren e Siren eram robôs. Mas, na versão americana, todos eles foram apresentados como cyborgs, dando a entender que eles tinham partes orgânicas. 

É uma zona, eu sei... mas embora geralmente o pessoal considere a versão japonesa como a certa, eu dou um certo voto na ideia de que cyborg se aplique melhor para todos eles, ou pelo menos as duas femininas.

Tem várias teorias que indicam isso, considerando diversos aspectos. Por exemplo, Mieu é apresentada como uma criatura com emoções, e por mais que a IA tente, é impossível ter emoções em uma máquina. O que faz pensar que ela deve ter algo de humano na sua construção. Outro ponto a favor dessa ideia é que Mieu e Wren conseguem usar magias no jogo (como para curar ou lançar bolas de fogo), algo que apenas humanos conseguem. Vide os androides (assim denominados) de Phantasy Star IV, Demi e Wren (outro Wren), que possuem equipamentos avançados em vez de magias. 

E tem mais uma hipótese que penso: se você se lembra da postagem, na guerra que antecedeu os eventos do jogo entre orakianos (seguidores de Orakio) e layanos (seguidores de... adivinha! Laya), seus líderes criaram certas leis, que foram conhecidas como a Lei de Orakio e a Lei de Laya (dããã...). Brincadeiras à parte, as duas leis eram basicamente as mesmas, dizendo que eles não deveriam matar humanos. Ou seja, orakianos não podiam matar layanos e vice-versa. Como leis assim deixariam a guerra meio sem sentido, cada lado criou seus exércitos: Laya com monstros e Orakio com robôs. 

E aí é que vem a sacada que me faz acreditar que Mieu, Wren e companhia eram classificados como cyborgs: pois assim eles supostamente teriam partes humanas, e os layanos não poderiam atacá-los. Explicaria terem feito eles com rostos de gente. Ou talvez não tivessem e fosse efetivamente androides; mas, para ter essa vantagem estratégica no campo de batalha, eram assim denominados pelos orakianos para enganar os layanos.

Mas, como eu já coloquei "androides" no título, vou seguir essa denominação. A menos nos momentos em que eu me esqueça disso.

Depois desse devaneio tecnológico inicial, vamos falar um pouco deles. Como comentei acima, Mieu e Wren são personagens jogáveis, sendo os primeiros a se juntarem à equipe e que permanecem ao longo das três gerações. E é muito interessante como ambos são bem diferentes: enquanto Mieu tem uma aparência 100% humana e demonstra emoções, Wren tem um visual mais robótico e age de forma fria. Uma "química" que acho que funciona bem, com esses dois extremos. Diferenças essas que também aparecem nas próprias características do jogo, em que a primeira foca no combate de curta distância com suas garras e possui técnicas de cura e defesa, enquanto que o segundo usa armas de fogo e possui técnicas de ataque. 

Uma curiosidade é que os dois androides desse jogo de certa forma se parecem com personagens de outros Phantasy Star. Por exemplo, Mieu lembra muito Nei de PS2 e Rika de PS4, não só pelo fato de serem as personagens femininas "principais", mas também ao ver que todas elas usam garras para atacar. 

Por sua vez, o Wren do PS3 sem dúvida influenciou o Wren do PS4, como o androide grandão e armado até os dentes. Sem falar que visualmente os dois são praticamente idênticos. Os mais desavisados, que não conhecem a história da série, provavelmente acham que os dois são a mesma pessoa... ou mesmo cyborg, na verdade. Ou no mínimo que eles são "irmãos", como de uma mesma linha de montagem. Mas não tem nada a ver, apesar de serem muito parecidos. Sem falar que os nomes iguais apenas aparecem na versão ocidental do jogo: na versão nipônica do PS3, o nome dele é Searren, enquanto que o do PS4 era chamado Forren.

Por isso que muitos puristas criticam as traduções americanas, por mudarem nomes e gerar confusão. Embora eu ache que "Wren" soa muito melhor para os dois. 

Mas apesar de terem o mesmo nome e aparências semelhantes, existe uma diferença sutil que, na minha opinião, torna o Wren de PS3 mais legal. Pois ele também é um transformer.

Em determinados momentos do jogo você encontra partes que permitem que Wren se transforme em um veículo, como um submarino, um jato e um jet-ski. Esses veículos são necessários não só para alcançar determinadas etapas da história, mas são muito úteis para economizar o tempo nas longas caminhadas, ainda mais longas por conta do passo lento dos personagens. O problema é que algumas transformações dependiam de estar em um certo lugar, como um pier para o jet-ski ou aeroporto para o jato.

Esse sempre foi um ponto que me deixava encucado na época em que comecei a jogar. Pois Wren tem a altura de um humano, e assim não fazia sentido que ele pudesse se transformar em um submarino ou avião que levava os quatro demais companheiros do time. A não ser que a transformação também tinha um efeito Gyodai (os fortes entenderão a referência) que aumentava o seu tamanho. Talvez os desenvolvedores simplesmente cagaram para proporções e deixaram de lado qualquer veracidade nas dimensões das transformações, sei lá... 

Foram anos de dúvida... até eu conhecer o livro de personagens do Phantasy Star III, escrito e desenhado por Toyo Ozaki, a responsável pelos designs do jogo. Um momento "divisor de águas", que trouxe muitas informações legais e fantásticas... e outras simplesmente absurdas. 

E uma dessas informações era como que ela havia imaginado as transformações de Wren, como mostrado na página do livro abaixo.

Algo que já chama a atenção é como os desenhos de Toyo Ozaki são bem fiéis ao que vemos no jogo (ou vice-versa). E as ideias são no mínimo curiosas: o jato parece mesmo como se ele tivesse asas de morcego, com Mieu se equilibrando na parte de cima e os demais pendurados como se fosse uma asa-delta. O jet-ski tem uma ideia bem legal também, com dois trouxas que tinham que se equilibrar nos esquis atrás. Por fim, o submarino é o que acho mais sem-graça, na verdade é quase como um pequeno hidrofólio em que todo mundo fica se segurando. 

Mas agora eu já consigo imaginar com mais fidelidade como que as transformações foram concebidas, e por isso Toyo Ozaki merece uma salva de palmas.

Por gostar muito do jogo eu confesso que gostaria muito ter uma cópia física desse livro, que traz desenhos muito legais, além de curiosidades interessantes como as transformações de Wren. Sei que é algo praticamente impossível, e mesmo que encontre alguém vendendo, deve ser ma fortuna, mas imagino que valeria a pena. Embora, como disse acima, a artista compartilhava algumas de suas ideias sobre os personagens, e algumas são... bem... diria que bem ortodoxas. 

E não é diferente quando se trata dos androides do jogo. Começando com Mieu, ela é apresentada como se fosse igual a uma mulher de verdade, sendo na prática uma "sexdroid" que pode fazer quase tudo que uma mulher de verdade faz, com exceção de engravidar e piscar os olhos.

Cacetada... japoneses e suas mentes pervertidas... Quer dizer que no final das contas Mieu era uma robô sexual, como estão fazendo hoje em dia? 

Eu até imagino um pouco porque bolaram essa ideia. Como disse, ela é a "mocinha" do jogo, criada com a intenção de ser a paixonite da maioria dos jogadores, ainda mais com sua carinha meiga e roupas mais reveladores. Mieu estava ali para se juntar a outras beldades dos videogames, eu mesmo a citei quando fiz essa lista há algum tempo atrás. Embora na época não tinham inventado a "Regra 34" da internet (cuidado com o que vocês vão procurar, para não se arrepender), não duvido que tinha um monte de adolescentes japoneses tarados fazendo os desenhos mais absurdos envolvendo Mieu, fazendo coisas impublicáveis nas posições mais mirabolantes... dessa forma, nenhuma surpresa que ela já fosse apresentada como uma "sexdroid" para agradar aos descascadores de banana com espinhas no rosto.

Apenas alguns comentários sobre as limitações de Mieu. O fato dela não piscar é inclusive usado no jogo, quando as pessoas pensam que ela é uma layana por não piscar como uma pessoa normal. E acho curioso como que certos robôs do mundo do entretenimento não tinham a limitação de engravidar. E até mesmo piscar.

Alguém ainda lembra do "Milagre veio do espaço", clássico da Sessão da Tarde? Os robôs voadores do filme piscavam, e a "mãe" teve três robozinhos filhotes. Esse aí vale uma sátira, quando eu tiver tempo.

Mas quem tem as revelações mais bizarras no livro de Toyo Ozaki é Wren... a começar que no momento em que os dois androides são descritos, é mencionado que ambos têm corpos... femininos? Como assim?

Seria Wren o primeiro caso de trans-robô da história dos videogames? Teria ele um moedor de carne na poupança? Sinceramente, por mais que usem a justificativa de que isso seria apenas por uma questão de mobilidade, trata-se de uma ideia absurda e extremamente desanimadora. Wren é um dos personagens mais legais do jogo, e a ideia de que ele teria corpo de mulher não faz o menor sentido, sem necessidade. 

Mas o livro de Toyo Ozaki, mente criativa por trás dos personagens do jogo, ainda trouxe algumas outras ideias mirabolantes a respeito da dupla de androides que acompanha as três gerações da realeza. E não me refiro ao hobby de Mieu que é brincar de "bem-me-quer, mal-me-quer" com flores ou o fato que o "cabelo" de Wren é na verdade um monte de sensores de temperatura, pressão e outras medições meteorológicas.

Começamos mencionando que Mieu, por ter praticamente todas as funções de uma mulher de verdade, gosta de tomar banho todos os dias para se sentir bem limpinha e perfumada. Como mostra essa ilustração do livro, em que ela está como veio ao mundo (ou melhor, como foi construída) tomando uma ducha, e aproveitando para lavar os cabelos de Lena, que aparentemente está bem envergonhada de ser tratada como uma criança. 

Detalhe para o passarinho ali do lado, que está sendo usado como uma esponja. 

Mas de onde é que surgiu esse chuveiro? Será que no mundo fantasioso de Phantasy Star III existem casas de banho mega equipadas para que qualquer um possa tomar uma ducha? Não, a resposta é bem mais tosca... 

Na verdade o banho ali está sendo providenciado por Wren... pois ele também tem as partes de chuveiro, que o transformam em um banheiro completo. Incluindo ducha de água quente, dispenser de shampoo, cabides para pendurar as roupas e cortina de banho. Pra completar, uma marreta biônica para dar porrada em qualquer tarado que tente dar uma espiadinha para ver o quanto que Mieu é anatomicamente correta.

Sério... depois dessa eu acho que vou jogar a toalha (com trocadilho, faz favor)... só vou seguir pois gosto muito desse jogo. Mas não tem como não achar essa ideia tremendamente absurda.

Para não ficar a impressão que só se trata de sacanagem, vamos falar sobre outro assunto curioso, e que também tem as suas diferenças ao comparar as versões ocidental e oriental do jogo. Trata-se da idade de Mieu e Wren, embora "idade" seja uma definição diferente quando se trata de androides. O livro de Toyo Ozaki menciona que, considerando o momento em que Rhys, primeiro protagonista do jogo, os encontra pela primeira vez, Mieu tinha 580 anos e Wren cerca de 800. Ou seja, eles teriam sido criados muitos anos depois da guerra entre Orakio e Laya, ocorrida 1000 anos antes do jogo. Tais datas aparentemente foram usadas na versão japonesa do jogo também. Significa também que eles só se encontram durante o jogo, e nunca se viram antes.

Por sua vez, na versão americana a impressão é que pelo menos Mieu é bem mais velha...

Isso dá a entender que ela tem mais de 1000 anos, e que dessa forma provavelmente combateu ao lado de Orakio na tal guerra. Por sua vez, nada é mencionado a respeito de Wren, mas imagina-se que ele deveria ser mais ou menos da mesma época.

Isso causa um certo parafuso na cabeça dos fãs. Logicamente que há uma tendência de que a versão japonesa tenha mais credibilidade, fazendo com que Mieu e Wren fossem androides criados depois da guerra, baseados em Miun e Siren, sobre os quais já falarei mais adiante. Algo que não seria surpresa: afinal de contas, embora no jogo eles tenham esses "nomes", na verdade eles são androides de dois modelos distintos (eles se apresentam como cyborgs tipo-Mieu e tipo-Wren), que provavelmente foram produzidos aos montes e muito possivelmente sejam os últimos exemplares em funcionamento. Assim, seria esperado que eles pudessem ser mais novos.

Só que novamente eu fico tentado em dar uma chance para a interpretação da versão americana. Pois se Mieu e Wren tivessem mais de 1000 anos, isso quer dizer que não apenas eles conheceram Orakio, mas possivelmente lutaram ao lado de Miun e Siren. O que torna certos momentos do jogo mais emblemáticos, como quando Mieu encontra Miun vagando pelo deserto (em que Mieu certamente demonstrará fortes emoções pela sua "irmã" quase destruída), ou quando Wren ajuda a equipe a enfrentar Siren na segunda geração. Além disso, tal hipótese indicaria que o próprio Orakio tivesse ordenado que os dois ficassem nos seus esconderijos, aguardando até o momento em que um de seus descendentes os encontrassem, mil anos depois.

Por mais que essa não seja uma interpretação muito canônica, sem dúvida cria um cenário interessante...

Bom, acho que é uma boa deixa para falar dos outros dois androides que estampam a imagem do título. Até o momento eu foquei apenas nos personagens principais, mas tem dois NPCs que tem a ver com o tema. 

Da mesma forma que Mieu e Wren acompanham o protagonista no jogo, um milênio antes eram Miun e Siren quem ajudaram Orakio, o sujeito de espada preta, enfrentar primeiramente Laya e depois o vilão Dark Force. Mas eles seguem aqui no jogo, cada um de sua maneira. E também com diversas interpretações sobre o que de fato aconteceu com eles. 

Vamos começar falando como que eles participam de Phantasy Star III. Siren é um dos vilões da 2ª geração, mais especificamente o inimigo que deve ser derrotado por Ayn (quem não sabe das gerações, vai lá na postagem inicial do jogo que fiz). Ele é movido por uma sede de vingança contra os layanos que o mandaram para uma das luas, e com isso comanda uma horda de robôs e cyborgues para matar seus inimigos. Por sua vez, Miun vive vagando no deserto do mundo de Aridia, severamente danificada e repetindo sem parar que deseja ver Orakio pela última vez, e que se lembrava da sua espada preta.

Os dois acabam contribuindo para o final no jogo na 3ª geração, independente de quem seja: Siren cai na real e se arrepende do que fez, fugindo para uma ilha até morrer de remorso (pois é, um robô com remorso), enquanto que Miun finalmente desliga ao ver a espada de Orakio, recuperada pelo jogador. E quando os dois morrem, são conseguidas duas das armas lendárias necessárias para acabar com Dark Force: o canhão de Siren, que passa a ser equipado por Wren, e a garra de Miun, que passa para sua irmã mais nova Mieu. 

Sim, a imagem é gerada por IA... Minhas habilidades de desenho são péssimas, mas decidi arriscar. Por mais que a garra tenha parecido mais uma faca, acredito que saiu uma imagem razoável. Mesmo vendo que Miun ficou sem pernas... Continuemos.

Essa é uma das tramas que eu acho mais marcante no jogo. Pois são cinco armas lendárias de 1000 anos, que passam para os seus descendentes diretos: além dessas, tem a espada de Orakio, empunhada pelo princípio da 3ª geração, o arco e flecha de Laya, arma usada pela sua irmã mais nova, também chamada Laya, ou por sua filha Gwyn em uma das gerações, e o bumerangue de Lune, general de Laya e que é herdado por sua filha, Kara. Acho a ideia bem legal e marcante, especialmente no caso de Miun, que resiste ao longo de séculos só para (supostamente) ver seu mestre centenas de anos depois, antes de desligar para sempre. 

O que acontece é que não é muito claro como que Siren e Miun chegaram onde estão no jogo. E aí tem algumas teorias de fãs, juntamente com ideias sugeridas por Toyo Ozaki e algumas interpretações de falas do jogo.

No caso de Miun, o que se sabe é que ela foi danificada pra caramba, a ponto de ter sua pele sintética rasgada em várias partes, incluindo no seu rosto, exibindo assim o seu endoesqueleto metálico. Algumas leituras dela dão a entender até que ela tenha perdido um dos braços, o que até explica o fato de Mieu conseguir apenas uma garra de Miun, faz sentido que a outra nem exista mais. E os danos não são físicos, mas também em sua memória (como se ela tivesse sofrido amnésia), de forma que ela não fala coisa com coisa, só desejando ver Orakio pela última vez. Mostra que ela provavelmente perdeu a noção do tempo, pois em condições normais ela provavelmente saberia que Orakio já estaria morto depois de mil anos... 

Esse desenho é muito sensacional... Até arrisquei gerar uma imagem de IA colorida, mas jamais iria chegar perto da emoção que essa transmite.

A pergunta que fica no ar é quando que ela sofreu esses danos severos? Teria sido durante o combate final contra Dark Force? Ou algum outro combate violento que tenha ocorrido antes ou depois do conflito final? Cito a minha hipótese mais adiante...

Quanto à Siren, no jogo ele está em uma das luas do planeta (ou, melhor dizendo, da nave), para onde ele foi enviado à força durante a época do conflito entre Orakio e Laya. O que parece é que ele foi também de certa forma danificado, pois fica a impressão que a cara metálica aparece porque a pele sintética (como Wren tem) foi arrancada ou desgastada. Provavelmente ele estava desligado ou em modo de economia de bateria, e quando as luas são reaproximadas para suas órbitas originais, parece que Siren acorda e decide tacar o zaralho e matar todos os layanos para se vingar. Mas, como que ele foi colocado lá? Ou, melhor dizendo: quando que ele foi enviado para aquela lua? 

E lá vou eu de novo, tentando usar bem a IA e falhando miseravelmente. Foi o melhor que eu consegui do Siren. Podem me xingar.

Muita gente acredita que ambos episódios ocorreram antes do conflito final, em que Orakio e Laya enfrentaram o Dark Force. Siren foi subjugado pelos layanos, que o mandaram para a lua azul onde não iria atrapalhar ninguém, de forma semelhante ao que aconteceu com Lune, o cabeludo que era general de Laya, que foi vencido pelos orakianos e colocado em sono criogênico na outra lua. Talvez até seja plausível imaginar que Orakio derrotou Lune, enquanto Laya venceu Siren. Quanto à Miun, provavelmente em um conflito com layanos muito fortes, talvez acompanhados por um monstrão, ela foi severamente ferida. 

Faz sentido... só que isso quer dizer que Laya e Orakio teriam enfrentado Dark Force sozinhos. E tira toda a justificativa por trás das cinco armas lendárias, concorda? 

Em parte eu gostaria de imaginar que os cinco combateram o vilão pela primeira vez. Dessa forma, no final do jogo veríamos os descendentes diretos daqueles que venceram Dark Force, usando as mesmas armas. Mas eu admito que essa hipótese deixa uma lacuna muito grande sobre como que Siren e Lune teriam ido parar naquelas luas, longe do conflito. Especialmente se vemos que ambos "acordam" mil anos depois ainda com o sentimento de ódio pela outra facção. Não faria sentido eles ainda pensarem dessa forma, afinal de contas é incontestável na história que Orakio e Laya se juntaram para enfrentar o mal. Logo, seria esperado que Miun, Siren e Lune saberiam que conflito entre orakianos e layanos era uma farsa, e os dois últimos não despertariam séculos depois com sentimento de vingança...

Pois é. Por mais que a ideia das armas lendárias terem sido usadas para vencer Dark Force pela primeira vez seja uma ideia legal, essa teoria é mais furada que um queijo suíço.

Outra teoria que eu penso é que na verdade eles foram colocados nas luas pelos seus líderes, por mais absurdo que pareça. Mas acho que até faz um pouco de sentido: provavelmente Orakio e Laya perceberam que estavam sendo usados pelo Dark Force, mas seus respectivos generais Siren e Lune não aceitavam isso, insistindo que a guerra teria que continuar. Dessa forma, eles acabam sendo banidos para não atrapalharem, com Orakio desativando Siren e colocando ele na lua Azura, enquanto que Laya deveria ter colocado Lune em sono criogênico na lua Dahlia. E podemos imaginar que para mantê-los desligado e dormindo, era necessário afastar as duas luas. Sei lá, imagina que os dois ficaram em um freezer, que só funcionava enquanto as luas estivessem em suas órbitas afastadas.

Isso justificaria a 2ª geração do jogo, já que Rhys mexe naquele computador e aproxima as luas, fazendo com que os dois acordassem, ainda pensando que o conflito entre orakianos e layanos estivesse rolando. 

Acredito que essa teoria faça mais sentido. Até explicaria a irmã de Lune, Alair, ter sido congelada junta. Talvez Laya tivesse conversado com ela, explicando o que estava acontecendo, e assim a irmã do cabeludo se congelou junto para tentar avisá-lo quando ele eventualmente despertasse, mas acabava sendo sequestrada antes. 

Essa teoria apenas não explica bem o que aconteceu com Miun. Sei lá, chuto que ela, por ser uma androide dotada de sentimentos mais humanos e por gostar tanto de Orakio, foi a única a acreditar que ele teria que se juntar a sua antiga rival. Aí ela poderia ter ido junto com eles no conflito final, onde ficou danificada. Embora muitas leituras dela (inclusive no livro de Toyo Ozaki) a mostram segurando a bainha da espada preta de Orakio... o que gera outras possibilidades sobre o que aconteceu com ela

Por exemplo, ela pode ter ficado para trás, esperando por ele voltar do combate contra Dark Force. E pode ter sido danificada durante toda aquela espera por mil anos. Ou ela teria sido seriamente machucada antes do conflito, sendo deixada para trás por Orakio. A grande verdade é que será sempre um grande mistério sobre como ela ficou toda arrebentada e sem memória, esperando até finalmente encontrar a espada lendária, acreditando ser Orakio voltando.

Nessas horas eu fico dividido sobre como certos jogos, como Phantasy Star III, agem na hora de criar a história. Por um lado é frustrante que existam tantas lacunas inexplicáveis, mistérios sem respostas que deixam o enredo do jogo com a impressão de algo incompleto e "feito nas coxas". Algo que se aplica muito bem ao terceiro capítulo da saga, em que é evidente que vemos uma pressa e falta de cuidado para elaborar o jogo juntamente com as falhas na história, principalmente na tradução para o inglês.

Por outro lado esses vazios na trama servem como brecha para que surjam as diversas interpretações e teorias dos fãs, muitas delas bem criativas e interessantes. Por exemplo, uma das fanfics que já li mostra que Miun estava inteira, aguardando o retorno de Orakio, até ser emboscada por layanos que incluíam um sujeito que se transformava em dragão (possivelmente um dos antepassados de Lyle, da primeira geração do jogo), que após o conflito a danificou de forma crítica. 

Seja como for, a história de Miun sempre me cativou... Dava sempre a maior pena ver como a pobrezinha passou mil anos esperando por seu mestre, até finalmente desligar ao ver a espada. Sempre que jogava, falava com ela todas as vezes que passava pelo deserto...

E é por isso que eu me motivei a fazer essa postagem, que espero que seja a primeira de algumas. Pois cada fã do jogo tem as suas teorias, as suas percepções particulares e interpretações dos acontecimentos, e achei legal registrar a minha humilde opinião a respeito.

Acho que é isso, falei bastante a respeitos dos androides/cyborgs/robôs de Phantasy Star III. Mas ainda tem muitos temas interessantes sobre esse RPG que dividiu opiniões. Certamente voltarei (espero que mais em breve) para falar um pouco a respeito de mais algum assunto dele.

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