Navios de Guerra - Juneau

Depois de um tempo, mais uma postagem sobre o tema de navios de guerra, que eu sei que muita gente não deve curtir muito, mas eu insisto em colocar aqui. Mas essa será bem peculiar, pois trata de um episódio que foi muito marcante durante o conflito da Segunda Guerra Mundial, sob o ponto de vista humano. Mostrando que a guerra nunca é algo bom, que milhões de pessoas passaram pela dor e tristeza sem tamanho ao perder seus entes queridos em combate... 

Talvez até possa aparecer alguém me chamando de canalha e desalmado por fazer postagens sobre o assunto, sejam as "biografias" de navios de combate, sejam as sátiras e comentários sobre jogos de videogame e computador que trazem o tema de guerra (tenho uma postagem no forno debatendo sobre o tema). Talvez até pelo fato de que em algumas ocasiões eu tento trazer uma visão um pouco mais leve do assunto, tipo quando citei colisões de navios. Não duvido que deve ter gente achando que é muito mau gosto de minha parte fazer piada com situações que estão associadas a conflitos onde pessoas perderam suas vidas. Mas eu não vejo que eu esteja sendo desrespeitoso ao fazer isso... trata-se da minha forma de falar de certos assuntos sob uma ótica mais dos veículos e embarcações, os quais sempre admirei pela questão tecnológica. O que não significa que eu menospreze o fato incontestável de que tais tecnologias foram usadas para combate, para atacar e matar os inimigos. Enfim, sei que se trata de um tema delicado, mas tenho a minha consciência tranquila ao saber que em nenhum momento estou minimizando o sacrificio que muitos fizeram por conta de um dos mais sangrentos conflitos da história.

Enfim, passado esse preâmbulo, vamos entrar no tema da postagem, que hoje será sobre o cruzador leve norte-americano USS Juneau.

Segundo navio de um total de oito que constituíam a classe Atlanta, que foi desenvolvida para servir de escolta anti-aérea, o Juneau recebeu a denominação CL-52, sendo batizado com o nome de uma cidade do estado do Alaska. Na prática, essa classe se dividia em dois grupos, sendo que ele fazia parte do primeiro, juntamente com o Atlanta, o San Juan e o San Diego, este último que foi um dos navios mais condecorados na marinha norte-americana, com 18 estrelas de batalha (perdendo apenas para o Enterprise, que recebeu 20). 

Cada navio tinha cerca de 160 metros de comprimento, deslocando aproximadamente 7000 toneladas quando totalmente carregados, com uma velocidade máxima de 32,5 nós (ou cerca de 60 km/h). Como o propósito da classe era liderar escoltas das esquadras e apoiar na proteção anti-aérea, seu armamento principal foi pensado nisso, com um total de 16 canhões de 5 polegadas (equivalente a 127 milímetros), organizados em oito torres duplas, sendo três na proa, três na popa e uma de cada lado da sua superestrutura traseira. Estes canhões eram de dupla função, servindo para disparos de superfície contra outros navios e também podendo ser usados para ataques anti-aéreos. Isso sem falar de diversos canhões e metralhadoras de menor calibre, além de lançadores de torpedos.

Apenas como curiosidade, o segundo grupo (ou sub-classe) Oakland era semelhante, mas sem as duas torres laterais, porém carregava quase o dobro de armamentos secundários. Tanto o Oakland como o Reno viram algum tipo de serviço no conflito, enquanto que o Flint e o Tucson ficaram prontos já no apagar das luzes da Segunda Guerra.

Vamos focar no Juneau, que é o protagonista deste post. Sua construção começou no dia 27 de maio de 1940, momento que é tipicamente conhecido como o "batimento de quilha". Foi efetivamente lançado em 25 de outubro de 1941 e comissionado na marinha em 14 de fevereiro de 1942. E sim, os mais puristas vão se perguntar o que significa a loirinha triste abaixo, e o que diabos tem a ver com a postagem. Quem conhece o meu site sabe que em alguns momentos eu recorro às meninas-navio do jogo Azur Lane, já que fotos históricas dos navios de verdade são muitas vezes raras. 

E admito que tem uma razão por eu ter escolhido falar desse navio em particular, que tem a ver com o curioso jogo de celular. Mas isso será mais no final da postagem.

Durante os primeiros meses de operação, o Juneau esteve no oceano Atlântico, apesar do conflito contra o Japão já ter iniciado. Sua primeira missão foi patrulhar territórios franceses no Caribe, onde alguns navios da França Livre (ou França de Vichy) estavam ancorados. Cabe lembrar que nessa época a Alemanha nazista já tinha invadido a França, de forma que os aliados temiam o risco que esses navios franceses passassem a alegar fidelidade aos alemães. Neste território em particular, patrulhado pelo Juneau e outros navios norte-americanos, estavam o velho porta-aviões Bearn e dois cruzadores leves. Apesar de alarmes falsos, nada demais aconteceu com os franceses.

Depois de uma passada no estaleiro para algumas modernizações, o Juneau se juntou a uma esquadra americana no Atlântico, com o principal objetivo de patrulhar a costa leste contra a ameaça de submarinos alemães, que estavam à espreita para afundar os navios mercantes que iam e viam da Europa. Apesar de alguns contatos que indicavam a presença de inimigos, no final o cruzador não se envolveu em situações críticas durante estes meses de trabalho no Atlântico, que teve até mesmo uma rápida passagem por Fernando de Noronha.

Em meados de agosto, o Juneau atravessou o Canal do Panamá, rumo ao Oceano Pacífico, que seria sua nova zona de atuação. Infelizmente, não por muito tempo...

Inicialmente ele foi alocado para a Força Tarefa 18. Melhor falar o termo em inglês, Task Force, já que "força tarefa" é uma expressão que se banalizou nas empresas, se unindo a outras palavrinhas de contra-capa de livro de educação corporativa e que são repetidas pelos gerentes e diretores de empresas. Assim, o Juneau se uniu a TF18 em setembro, da qual fazia parte o porta-aviões Wasp, para auxiliar no transporte de aviões para a ilha de Guadalcanal. Apesar de contar com diversas escoltas, o porta-aviões foi torpedeado por um submarino japonês. 

Coube ao Juneau circundar o navio, para evitar novos ataques de submarinos ou mesmo de aviões, enquanto os destróieres cuidavam de resgatar os sobreviventes. Como aconteceu em suas patrulhas no Atlântico, o cruzador até lançou cargas de profundidade após fazer um contato de sonar, mas no final sem nenhum sucesso. O Wasp acabou afundado, e o Juneau levou os sobreviventes para uma ilha próxima.

O Juneau foi realocado para a TF17, liderada por outro porta-aviões, o Hornet, e seguiu com o apoio nas operações no sul do Pacífico. Foi quando ele veio a participar de seu primeiro combate de "grande porte", naquela que seria depois conhecida como a Batalha de Santa Cruz, em outubro. Enquanto os aviões americanos estavam atacando a frota japonesa, os aviões japoneses foram para cima dos navios norte-americanos. Embora o Juneau tenha lutado bravamente, usando seus canhões anti-aéreos juntamente com os demais navios de escolta, isso não impediu que o Hornet fosse bombardeado. Por mais que fossem feitos vários esforços para salvá-lo (como na foto abaixo, onde vemos o cruzador Northampton tentado rebocar o porta-aviões, enquanto o Juneau patrulha o perímetro), o Hornet veio a afundar.

Provavelmente alguém poderia imaginar que o Juneau estava ficando com fama de "pé-frio". Afinal de contas, em questão de praticamente um mês, dois porta-aviões que o cruzador estava escoltando vieram a afundar.

Depois de atuar um pouco no grupo do porta-aviões Enterprise, o Juneau retornou para a base depois dessa série de batalhas, onde havia participado efetivamente da defesa anti-aérea, derrubando vários aviões japoneses. Em novembro, ele foi mais uma vez relocado, desta vez para a TF63, juntamente com outros cruzadores e destróieres, com o objetivo de auxiliar na escolta de transportes de tropas em direção a Guadalcanal. E neste princípio de ação com seu novo grupo, o Juneau colaborou bastante, derrubando torpedeiros japoneses que ameaçavam os transportes.

Na madrugada do dia 13 de novembro, a TF63 veio a "esbarrar" com uma forte esquadra japonesa que se aproximava da ilha de Guadalcanal para bombardeá-la, que contava com dois encouraçados, um cruzador e uma dezena de destróieres. Como a noite estava muito escura, com quase nada de visibilidade, as forças inimigas se encontraram de forma repentina, e aí iniciou o fuzuê. Sem entrar nos detalhes, a primeira batalha naval em Guadalcanal foi uma grande confusão, com os navios chegando muito próximos uns dos outros no meio da escuridão, até fogo amigo rolou nesse combate frenético. 

E nesta disputa o Juneau foi seriamente danificado, após ser atingido por um torpedo lançado por um destróier japonês. O cruzador perdeu controle de sua trajetória, quase se chocando com outro cruzador americano, mas ele conseguiu se afastar da zona de combate. O seu irmão mais velho Atlanta não teve a mesma sorte: por ter sido o primeiro navio a ser iluminado pelos holofotes inimigos, o cruzador levou uma surra e ficou à deriva, até afundar algumas horas depois. 

Pode-se dizer que foi uma vitória estratégica dos Estados Unidos. Apesar de naquele momento terem perdido o Atlanta e quatro destróieres, além de ter ficado com três cruzadores seriamente danificados (entre eles, o Juneau), os japoneses perderam o encouraçado Hiei, que foi violentamente alvejado pelos navios americanos e depois atacado por bombardeiros, até afundar. Além disso, a força japonesa não conseguiu chegar até Guadalcanal para realizar o ataque. 

Depois da batalha, cada um dos lados ordenou que seus navios danificados se afastassem. E assim foi formado um pequeno comboio com os cruzadores Juneau, San Francisco e Helena, todos eles danificados depois do confronto, e acompanhados por três destróieres. O objetivo era navegar até Espírito Santo (não, não aqui no Brasil, mas uma ilha com o mesmo nome no Pacífico), onde iriam ser reparados. Seria uma viagem tranquila... se não fosse o submarino japonês I-26 que estava por perto...

O submarino estava seguindo os navios danificados, se aproveitando que eles estavam com uma velocidade mais baixa que o normal. Por exemplo, o próprio Juneau estava conseguindo fazer cerca de metade de sua velocidade máxima, por estar com a propulsão danificada. Quando chegou o momento ideal, o capitão japonês ordenou três disparos de torpedos, mirando no cruzador San Francisco, que era o maior do grupo. Os três erraram o alvo principal, mas um deles que passou pelo cruzador pesado e foi bem na direção do pobre Juneau, que foi atingido exatamente no mesmo local em que havia sido torpedeado algumas horas antes. Mostrando que aquele ditado que diz que "um raio não cai no mesmo lugar duas vezes" é uma boa duma furada.

Como o Juneau já estava danificado, o torpedo certeiro foi fatal: poucos segundos depois do impacto, o cruzador explodiu de forma estrondosa, seu casco partiu no meio e em apenas 20 segundos ele desapareceu no mar. Os demais navios decidiram por seguir viagem, com base na provável hipótese de que não havia nenhum sobrevivente depois daquela explosão catastrófica. Além disso, certamente aquele submarino japonês ainda estava por perto, e dessa forma não se arriscaram para ver se alguém tinha sobrevivido. Naquele momento, tinha 693 tripulantes a bordo do Juneau, mas milagrosamente cerca de uma centena havia conseguido sobreviver à explosão, e tentaram se organizar em botes salva-vidas e escombros.

Nessas horas é que temos que nos dar conta dos dramas da guerra, pois em questão de poucos segundos centenas de pessoas perderam suas vidas de forma repentina, quando o cruzador foi atingido pelo fatídico torpedo. E a história se tornou ainda mais dramática quando podemos dizer que talvez eles foram aqueles que tiveram "sorte": pois os demais sobreviventes não tiveram um resgate oportuno. Mesmo depois que um bombardeiro localizou o grupo no dia seguinte ao naufrágio, foram vários dias de espera até que efetivamente fossem resgatados. Mas infelizmente foram poucos que conseguiram sobreviver todo esse tempo: cinco foram salvos por um hidroavião no dia 19 de novembro (ou seja, seis dias depois do Juneau afundar), outros dois foram encontrados no dia seguinte por um destróier. E ainda tiveram três outros que nadaram até uma ilha próxima, onde foram recebidos por nativos e depois voltaram para casa. Ou seja, apenas dez náufragos viveram para contar a história (sem contar quatro tripulantes que haviam sido mandados antes para o San Francisco, para ajudar com os feridos); os demais acabaram morrendo por diversas causas, incluindo afogamento, desidratação, insolação, choque por conta dos ferimentos e até mesmo alguns foram atacados por tubarões que infestavam a região.

Talvez alguém possa imaginar que foi um crime deixá-los tanto tempo à deriva, até mesmo é possível que se responsabilize o capitão do grupo onde estava o Juneau e que decidiu seguir viagem. Na verdade, no início ele foi repreendido pela decisão pelos seus superiores. Mas o fato é que aquela ainda era uma zona de conflito, nos dias seguintes outros embates entre as forças americanas e japonesas ocorreram ali perto. Uma operação de resgate seria muito arriscada nessas condições, podendo colocar ainda mais vidas em risco. Por mais que o afundamento do Juneau tenha sido uma tragédia, infelizmente há momentos durante um conflito em que é necessário frieza por parte dos tomadores de decisão. E que certamente sofreram bastante ao tomar uma decisão desse tipo, ao postergar o resgate dos sobreviventes.

E quando pensamos que a tragédia não poderia ser pior... nos damos conta de como que o destino certas vezes organiza algumas situações inimagináveis, que alguns podem chamar de coincidência. Pois os misteriosos rumos da vida fizeram que, entre as vítimas, estivessem cinco irmãos. 

Todos os cinco irmãos Sullivan serviram juntos no Juneau (algo que não era muito bem-visto pela marinha, mas não havia uma regra contra isso), e estavam a bordo do cruzador no fatídico 13 de novembro de 1942. Segundo relatos dos demais sobreviventes, três deles morreram durante a explosão do navio; o caçula se afogou no dia seguinte; e o irmão mais velho sobreviveu por mais quatro ou cinco dias, até não suportar de desidratação que o levou ao delírio, a ponto de se atirar para fora do bote salva-vidas. Embora alguns dos sobreviventes que estavam com ele alegam que muito desse delírio foi na verdade um desespero por ter perdido seus irmãos mais novos... 

Não tem como mensurar a dor que a família dos cinco irmãos passou, depois dessa tragédia sem tamanho. Não tem como imaginar como foi quando os oficiais da marinha chegaram para seus pais para dizer que todos os seus filhos tinham morrido em combate. Não que as outras vítimas tenham menos valor, não é isso; mas é sem dúvida muito trágico que cinco irmãos tenham perdido a vida ao mesmo tempo...

Você provavelmente deve estar se lembrando do filme "O Resgate do Soldado Ryan", onde uma temática semelhante é narrada. No filme, eram três irmãos que haviam morrido durante o desembarque na Normandia, e o governo ordenou que o último deles fosse resgatado e levado de volta para casa. O filme faz inclusive uma referência aos irmãos Sullivan, e não é à toa: a tragédia serviu como base para que o Departamento de Defesa dos EUA adotasse a política do "único sobrevivente", dispensando do serviço militar aquele que tivesse perdido todos os irmãos em combate. Embora essa política só viesse a entrar em vigência em 1948, na prática isso já era feito de maneira informal durante a Segunda Guerra Mundial, especialmente após a morte dos cinco irmãos Sullivan no Juneau. Sem falar na separação de membros de uma mesma família, evitando que todos estivessem em uma mesma unidade ou embarcação, o que poderia resultar em um episódio semelhante.

O legado dos irmãos Sullivan também foi perpetuado pela homenagem da marinha, que batizou um destróier em nome deles. Parte da numerosa classe Fletcher, o destróier The Sullivans foi comissionado em setembro de 1943 e serviu até 1974, tendo participado da Guerra da Coréia. E hoje ele ainda existe, como um navio-museu no estado de New York.

Se bem que podemos até dizer que por pouco... No ano passado o destróier afundou no pier onde está ancorado. Não está claro ainda o que causou, mas o rombo que foi aberto no casco foi suficiente para fazer com que o navio afundasse bastante, mas em alguns meses foi recuperado. Mostrando que mesmo em um país do 1º mundo como os Estados Unidos acontece esse tipo de desleixo com o patrimônio histórico...

O próprio Juneau foi homenageado de forma semelhante, seguindo uma espécie de tradição da marinha norte-americana de aproveitar o nome de um navio que tenha passado por uma história marcante, de forma positiva ou negativa. O Juneau II viria a ser o primeiro de uma nova classe de cruzadores leves multi-propósito, com um projeto muito semelhante à classe Oakland original. Três navios foram propostos, mas que ficaram prontos só depois do final da guerra. O Juneau II chegou a servir na Guerra da Coréia também, até ser desativado e vendido como sucata em 1960.

Como costumo dizer nessas postagens de navios, eu particularmente acho interessante como que é a "biografia" de cada um deles, apesar de muitas vezes as histórias serem um pouco tristes e trágicas. Repito, não me entenda mal e não pense que é uma postura de mau-gosto em escrever e falar a respeito, em alguns momentos tentando até trazer uma visão um pouco menos negativa destes eventos. Diria que é um pouco como se olha para a história do Titanic, que afundou em sua viagem inaugural depois de colidir com um iceberg. Acho que é algo normal que navios, por conta de seu grande porte e por serem relativamente únicos, fascinem as pessoas que se interessam em ler e escrever sobre suas histórias, sejam aquelas mais heróicas, sejam as mais dramáticas. 

Vale ressaltar que ao fazer isso não se está minimizando ou menosprezando a importância do fator humano nesses episódios. Afinal de contas, um navio é algo inanimado, e quando olhamos estes diversos episódios pelos os quais eles passaram, não podemos nos esquecer de suas tripulações. Por exemplo, citei lá em cima o porta-aviões Enterprise, um dos mais condecorados da marinha americana: logicamente que devemos nos lembrar e enaltecer sua tripulação que foi a grande responsável por essa conquista, tanto aqueles que sobreviveram como o navio, como aqueles que deram suas vidas ao longo de seus anos de serviço. 

E isso independente de nacionalidade: por mais que seja bem claro que havia um conflito entre Aliados e Eixo, eu pessoalmente creio que o drama humano não tem lado, especialmente quando nos referimos aos tripulantes de embarcações. Tipo, não podemos lamentar apenas o sacrifício de marinheiros de navios aliados, como é o caso do Juneau... mas também aqueles que, por exemplo, perderam suas vidas a bordo do encouraçado japonês Yamato, que foi afundado em uma missão suicida. Mesmo que exista a percepção do Eixo como os "bandidos" da Segunda Guerra, enquanto os Aliados eram os "mocinhos" (uma percepção razoável e diria até correta, considerando os interesses dos líderes, especialmente alemães e japoneses), eu pessoalmente acho que não podemos transferir essa percepção de forma imediata e inquestionável àqueles que estavam nas patentes mais baixas, efetivamente colocando suas vidas em risco enquanto que os grandes líderes estavam sentados em seus bunkers, fora de qualquer risco e dando ordens. Até porque certamente teve casos de pessoas do lado dos Aliados que cometeram atrocidades de guerra condenáveis, e pessoas do lado do Eixo que agiram de forma humana e empática com os inimigos.

A verdade é que um conflito das proporções da Segunda Guerra Mundial é algo muito complexo para que tenhamos uma visão binária e cartesiana. Vide o confronto entre Rússia e Ucrânia que está ocorrendo há mais de um ano, onde há esse tipo de situação dúbia... Mas, enfim... isso é assunto para outra postagem, pois certamente abre espaço para muita polêmica.

Nessa linha, de tentar olhar para os acontecimentos do conflito de uma forma particular e mais "leve", eu volto a citar o joguinho Azur Lane. Por mais que ele possa parecer meio bobo (e eu sei que serei zoado por isso), eu particularmente curto muito esse jogo, e um dos motivos é um grande cuidado e atenção com as referências históricas aos navios de verdade. Vide uma postagem recente que eu fiz, onde citei um evento do jogo que fazia referência a navios americanos que foram afundados e tiveram seus nomes homenageados em novas embarcações que combateram no mesmo conflito. Essas sutis referências aos fatos históricos, que afetam a "personalidade" das meninas-navio no jogo, as frases dubladas ou mesmo sua aparência, é um dos pontos que eu acho bem legal e original.

E esse tipo de referência é bem presente na menina-navio Juneau, que apareceu lá em cima. Por exemplo, em algumas de suas frases ela fala de que está com o pé esquerdo machucado, que é referência ao fato que o cruzador ficou com apenas um de seus hélices operacionais (e sim, é "um" hélice, quando nos referimos a navios). Outras se referem aos cinco irmãos Sullivan, sem citar seus nomes, e há aquelas que demonstram um medo de torpedos, que foram responsáveis pelo seu afundamento. Mostrando que as meninas-navio de Azur Lane trazem em suas personalidades as memórias dos navios de verdade.

Mas eu acho que não há referência mais emblemática, e diria até mesmo muito bem feita e tocante, do que a skin de um dos eventos.

Não entendeu o porquê de eu ter dito isso? Bom, você percebeu que tem cinco cisnes com ela? Pois é...

E não apenas isso, veja que três deles estão em uma piscina, outro está na frente em uma piscina menorzinha e o último está confortado em seus braços. Em uma clara alusão à forma como cada um dos irmãos Sullivan morreu, como mencionei acima. De quebra, ainda tem ainda a estátua do mascote do jogo com asas de anjo...

Tudo bem... imagino que, como aqui, deve ter aparecido um ninja do seu lado, cortando cebolas...

Por isso que digo mais uma vez: os criadores de Azur Lane (e até mesmo do concorrente Kantai Collection), embora tenham criado jogos que parecem bobinhos, deram uma atenção especial aos fatos históricos ao trazer esses pequenos detalhes particulares que marcaram a carreira dos navios. Não é à toa que existe até um número razoável de fãs da área militar que simpatiza com os dois jogos, por conta dessas referências muito bem feitas e até mesmo emocionantes.

Enfim, mais uma bibliografia de um navio que participou da Segunda Guerra e que vale a pena ser lembrada, apesar disso ser motivado pela trágica coincidência de cinco irmãos que pereceram no mesmo cruzador. Vamos ver qual será o próximo do qual eu falarei aqui.

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