Navios de Guerra - Yamato

E aqui vamos nós, estreando a primeira postagem do marcador "navios"... Se bem que na verdade a primeira postagem sobre o assunto foi aquela em que apresentei a minha intenção de escrever aqui sobre alguns dos navios de guerra do passado, então na prática esse seria o segundo post. Mas, você entendeu o que eu quis dizer, e finalmente, depois de algum tempo, consegui aqui escrever o primeiro texto sobre um navio. 

Pensei muito sobre qual seria... E admito que optei pela decisão mais fácil: escolhi aquele que me chamou a atenção para esse assunto, há muitos anos. Venho para falar do couraçado Yamato, do Japão.


Eu já contei a minha história particular no post de abertura aqui. E acredito que não poderia ter escolhido navio mais icônico e famoso. O Yamato é tido por muitos como o mais poderoso navio de guerra que já existiu, mas que não teve uma carreira à altura de suas dimensões extravagantes. Sem entrar muito na história, a classe de couraçados do Yamato surgiu na década de 30, como uma clara afronta dos nipônicos aos limites que lhes foram impostos pelo Tratado Naval de Washington.

Você deve estar se perguntando o que diabos foi isso. Pois bem, esse tratado estabelecia alguns limites sobre a construção de navios de guerra para cada nação, em termos de quantidade, tonelagem e armamentos, e que era bem restritivo com o Japão. Na época havia sido um duro golpe para os japoneses, que se viram obrigados a cancelar uma série de projetos de novos navios de guerra possantes.

Mas, alguns anos depois o Japão saiu dessa "organização", não se sujeitando mais aos limites do tratado. Assim, a classe Yamato foi algo como um dedo médio para os outros países, um projeto que prometia ser superior a todos os navios de seu tempo, para que assim o Japão pudesse seguir com o seu plano de expansão territorial no Pacífico.


Veja bem aqui que eu me refiro à classe do Yamato. Embora ele tenha sido o mais famoso, ele teve alguns irmãos, sobre os quais vou falar um pouco aqui. Mas sem dúvida o destaque maior será para ele.

Na teoria cinco navios foram propostos para dar um upgrade na esquadra nipônica. Os dois primeiros, Yamato e Musashi, foram lançados ao mar em 1940, sendo que o Yamato entrou em serviço em dezembro de 1941, alguns dias depois do ataque japonês a Pearl Harbor, e o Musashi na metade de 1942. Foram na verdade os únicos dois que foram lançados conforme o previsto. O terceiro deles, Shinano, teve a sua construção interrompida no mesmo ano de 1942. Isso em função dos japoneses terem perdido uma porrada de porta-aviões naquele ano, e com isso ele foi convertido e terminado como um porta-aviões, somente no ano de 1944. Outros dois estavam planejados, denominados apenas por números, sendo que o navio 111 até tinha sido começado a ser construído mas foi desmontado e o 797 sequer existiu.


A classe Yamato era mesmo do caralho em termos de tamanho. Cada um tinha cerca de 250 metros de comprimento e pesava 75 mil toneladas com carga máxima. A blindagem variava para cada região, em alguma delas tinha pouco mais de 600 milímetros de espessura (ou 60 centímetros, para quem não sabe fazer conta e não sabe que 10 milímetros é igual a 1 centímetro). Sua propulsão era capaz de fazer o navio atingir uma velocidade de cerca de 27 nós, que é equivalente a mais ou menos 50 quilômetros por hora, e tinha uma tripulação de mais de 2000 pessoas. Para completar, o grande destaque era seu armamento principal, com nove canhões de 18 polegadas (460 mm), os maiores jamais embarcados em um navio de guerra, dispostos em três torres triplas, duas na frente e uma atrás. Cada canhãozão desses media pouco mais de 20 metros e pesava sozinho perto de 145 toneladas, capaz de causar um verdadeiro estrago com projéteis de uma 1,5 toneladas cada... Sem contar com o armamento secundário.

Sem dúvida um navio repleto de superlativos. Embora alguém possa até pensar que esse exagero de tamanho tenha sido influenciado pelo fato dos japoneses terem algum complexo de tamanho pequeno...


Brincadeiras à parte, o Yamato e seu irmão Musashi foram os maiores e mais poderosos couraçados do mundo. Na verdade, por mais que os Estados Unidos tenham feito navios que eram um pouco melhor projetados e que se mostraram mais eficientes, nenhuma outra embarcação chegou perto desses monstros em termos de poder de fogo e dimensões.

O grande problema foi que na prática eles eram navios fora de seu tempo...


Se você já leu algo sobre a Segunda Guerra Mundial, sabe que nela a aviação foi a arma mais decisiva e importante nas batalhas disputadas. Os aviões eram mais rápidos, podiam operar em qualquer região (pois, afinal de contas, ar existe em qualquer lugar) e tinham grande versatilidade. E em se tratando de combates navais, foi nessa época que surgiram os porta-aviões, que permitiam levar essas aeronaves pelos sete mares, proporcionando uma forma de ataque muito mais efetiva do que o duelo de canhões. Os próprios japoneses foram, no cenário do Pacífico, os grandes pioneiros disso, ao lançar o ataque aéreo ao porto de Pearl Harbor com a ajuda de seis porta-aviões. Verdade seja dita, foram poucos os casos de batalhas navais em que eram apenas navios atirando uns contra os outros, as grandes e principais operações envolviam sempre o apoio aéreo.

E justamente por essa razão é que eu comento que o Yamato estava fora de seu tempo. Em uma realidade em que os aviões eram a principal arma de combate, ele ficava ali escondido, nas últimas linhas de batalha, e raramente teve a oportunidade de disparar seus putas canhões. Se li bem, a única batalha de maior importância que ele participou no início da guerra foi em Midway, onde os japoneses levaram uma surra e perderam quatro de seus porta-aviões, e mesmo assim o Yamato não fez nada de útil. Pra você ver que em um determinado momento da guerra, ele e o Musashi atuaram mais como transportes de munição e tropas para algumas das ilhas sob controle dos japoneses...


Se por um lado eles ficaram um bom tempo sem fazer muita coisa, eles também não se expuseram muito aos americanos. Entre o final de 1943 e início de 1944 cada um deles sofreu um ataque de submarinos, mas coisa pouca, com danos que logo foram reparados, mas que já mostravam que os gigantes tinham uma certa fragilidade contra torpedos. Na verdade, havia uma união entre as blindagens que era muito fraca, que gerava uma zona extremamente vulnerável perto da linha d'água, exatamente onde os torpedos geralmente atingem. Resumindo, uma verdadeira cagada de projeto, e que se mostraria como decisiva para selar o destino dos três navios.

A grande operação em que o Yamato e o Musashi participaram foi o embate conhecido como a Batalha do Golfo de Leyte, em outubro de 1944, perto das Filipinas, e que consistiu de uma série de pequenas campanhas. Os dois gigantes faziam parte da frota principal que tentaria impedir o desembarque norte-americano nessas ilhas. E logo na primeira batalha, no Mar de Sibuyan, eles sentiram a força da força-aérea inimiga (com trocadilho, por favor). Foram vários ataques sobre a frota, e o Musashi foi o azarado escolhido como o alvo principal pelos pilotos.


Também, com todo esse tamanho, era moleza pros pilotos acertarem...

Segundo relatos, foram 17 bombas e 19 torpedos que atingiram o Musashi durante uma série de vários ataques promovidos pelas esquadrilhas de porta-aviões dos Estados Unidos, acredito que nunca na história um navio recebeu tanta bomba e torpedo. Embora não tivesse afundado depois dessa surra, ele sofreu danos muito severos. Sua proa estava quase afundando, e os danos foram suficientes para ele cair para uma velocidade de 6 nós (tipo, 10 quilômetros por hora), e lentamente começava a tombar para um dos lados. Todo arrebentado, ele foi deixado para trás pela sua frota, e tentou vagarosamente navegar até uma praia para encalhar, até ele adernar e encontrar seu descanso no fundo do mar. Um destino bem simplório, para um navio que não fez muita coisa de útil na guerra.


O Yamato ainda seguia nas batalhas, e também foi diversas vezes atingido. Mas pelo menos conseguiu finalmente atirar em um navio inimigo, um pequeno porta-aviões de escolta, contribuindo para seu afundamento. Mas foi só isso, ele meteu o rabo entre as pernas e se mandou dali, até finalmente voltar para o Japão para reparos.

Estou aqui e nem falei do irmão mais novo da classe, o Shinano. Como disse acima, ele seria o terceiro couraçado do grupo, mas a construção mudou de rumo e ele virou um porta-aviões. Logicamente que ele na época ganhou o título de maior embarcação do tipo, mas que não durou muito com a chegada dos porta-aviões modernos, verdadeiros gigantes dos mares. Sua conversão foi realizada em grande segredo, os japoneses não queriam que ninguém soubesse que estavam ali fazendo um imenso porta-aviões. Por esa razão que inclusive são raras fotos dele.


O curioso é observar que, apesar de seu imenso tamanho, o Shinano levava apenas cerca de 50 aviões. Pouco se comparado com os porta-aviões adversários, que podiam levar até 100 aviões cada. A verdade é que ele havia sido projetado não apenas para lançar ataques aéreos, mas também para levar em seus grandes depósitos aviões e peças de reposição extras, que poderiam ser usadas para reabastecer bases ou mesmo outros porta-aviões.

Apesar dessa inovação, o Shinano pouco fez na guerra. Na verdade, quase nada. Após ter o seu lançamento apressado para outubro de 1944, em sua primeira viagem ele já se deparou com um submarino americano. Manobras foram realizadas de forma inconsequente, e ele foi atingido por quatro torpedos, que causaram uma série de inundações em compartimentos de seu lado direito. Os destróieres que o acompanhavam tentaram rebocá-lo, mas eles eram muito fraquinhos para puxar o imenso navio. Algumas horas depois o Shinano afundou ali no sul do Japão, encerrando a sua muito breve carreira.


Enfim, só sobrava o Yamato... E o destino reservou para ele o final mais trágico, mas também mais marcante.

No início de 1945, os Estados Unidos estavam cada vez mais próximos do território japonês, tomando a ilha de Okinawa, que era praticamente no "quintal" deles. Diante dessa situação, o alto comando seguiu com uma operação extremamente ousada, que seria liderada pelo Yamato. Juntamente com alguns navios menores, ele tinha o objetivo de navegar até Okinawa e enfrentar os navios americanos que estivessem ali, para então encalhar na ilha e servir como um forte até ser destruído.


Em outras palavras, uma missão suicida, para a qual o Yamato levava combustível apenas para a viagem de ida.

Pra fuder de vez, os americanos interceptaram os planos dos orientais, e logo prepararam um mega ataque aéreo pra afundar o gigantesco Yamato. Era quase que uma questão de honra, pois o Yamato era considerado como o navio líder de toda a esquadra japonesa, e seu afundamento teria um grande impacto na moral dos orientais. Em um período de praticamente uma hora, foram três investidas de bombardeiros e torpedeiros contra o couraçado, danificando-o de maneira impiedosa. Chegou ao ponto em que o seu leme ficou travado e ele ficou navegando em círculos, que nem um bêbado depois da pinga.


O Yamato agonizou por mais alguns minutos, já estava quase virado de cabeça para baixo quando um de seus depósitos de munição explodiu. Pareceu um cogumelo de explosão atômica, fico imaginando o tamanho do esporro que foi quando os projéteis "pequenininhos" dele explodiram. Deve ter japa que escutou lá de casa essa explosão.


Foi o fim do maior navio de guerra da História, que agora descansa no fundo do mar perto do Japão. A explosão foi tão violenta que ele partiu ao meio, como mostra essa maquete.


Não tem como não ficar fascinado, ou ao menos um pouco pensativo, com essa missão fatídica do Yamato. Era uma clara ação desesperada e suicida, contra probabilidades extremamente desfavoráveis. Temos que tirar o chapéu para a coragem e determinação dos japoneses, acho que faz parte de sua cultura não dar para trás diante de uma missão, diante de seu dever. No final da guerra, eles já estavam partindo para essa postura suicida, como com os aviões kamikazes que causaram um grande estrago. E o Yamato foi, se não o único, o mais icônico dos navios que seguiu em uma missão suicida...

Alguns podem dizer que era burrice embarcar em uma missão dessas. Tem até gente que compara os kamikazes japoneses com os homens-bomba do Estado Islâmico, uma comparação infundada em minha opinião, pois os barbudinhos se explodem pra promover o terror, matando gente inocente. Por sua vez, os japoneses viam isso como um sacrifício em uma guerra para proteger sua nação, algo que pode ser tido até como honroso e nobre. Por isso é que o Yamato e sua tripulação sem dúvida merecem o respeito e a consideração, por esse gesto desesperado.

Não é à toa que o Yamato e a sua história ganharam um grande destaque para as gerações seguintes, sendo lembrada até hoje. Por exemplo, há pouco mais de 10 anos fizeram um museu em homenagem ao navio, incluindo uma imensa maquete em escala 1/10. Ou seja, é um monstro com pouco mais de 25 metros de comprimento! Veja só ele do lado das pessoas.


Além do museu e de vários filmes feitos sobre o navio, outra grande referência cultural é o desenho Patrulha Estelar. Obra prima que passava na saudosa Rede Manchete, como disse na postagem inicial dessa série, ali o Yamato era recuperado do fundo do mar e transformado em uma mega nave espacial. Um desenho marcante de toda uma geração, e que é tido por muitos como um dos grandes clássicos de animação japonesa.


Sem sombra de dúvidas, o Yamato foi um dos mais famosos navios de guerra da história, não apenas por ter sido de longe o maior e mais poderoso já construído, mas também por sua marcante missão suicida no final da guerra. Curioso ver como que são as coisas, como que o destino reservou ao gigante nipônico um final digno de cinema...

Espero que tenham gostado da primeira postagem de navios, agora é hora de escolher qual será o próximo...

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