Uma criativa referência histórica

Com toda a lamentável situação política que estamos para presenciar durante o governo do presidiário que acabou de começar, tem horas que eu penso que é melhor escrever sobre coisas mais interessantes e que me divirtam um pouco mais. Não dá para ficar dedicando um tempo precioso de minha vida para falar de algo que já comento quase que diariamente com meus amigos e conhecidos, e que me enche de revolta e preocupação. Assim, decidi começar esse ano com uma postagem diferente, onde vou trazer dois temas que já apareceram várias vezes aqui no meu blog, que embora estejam relacionados de alguma forma, nunca dediquei algo mais combinado. Sei que são assuntos que provavelmente não vão interessar à maioria, mas o que vale é falar sobre algo que eu gosto, e que diria até que mesmo aqueles que não curtam muito um dos temas (ou ambos) podem se distrair e gostar do que vou escrever.

Venho para falar de um joguinho que eu tenho jogado há algum tempo de forma quase que religiosa, todos os dias. Um jogo de celular (que, na prática, eu rodo em um emulador no computador) que é bem curioso, pois conseguiu unir animação japonesa com navios de guerra, um tema que todos que já passaram por aqui sabem que eu acho interessante de ler. O jogo em questão é Azur Lane, o qual eu já mencionei faz um tempo, um típico joguinho estilo gacha, onde o principal objetivo é colecionar centenas de personagens, que são as meninas-navio que representam embarcações que combateram na Segunda Guerra. Bom, não vou explicar mais, quem quiser saber sobre o jogo, vai lá na postagem que eu indiquei. 

Bom, eu sei que nesse momento vai ter muita gente me sacaneando, dizendo que é um jogo escroto e sem graça, talvez até duvidando de minha masculinidade; afinal de contas, não estou do lado "ideologicamente certo" da sociedade, e nesse caso ofensas desse tipo são toleradas e incentivadas. Na boa, estou cagando e andando para quem pense assim. Pois gosto não se discute, cada um é livre para curtir o que quiser. 

Eu gosto de Azur Lane por vários motivos. Para começar, é um jogo relativamente simples de jogar, mesclando bem uma ação descompromissada de combate de tiro (que pode ser feita em modo automático quando não temos como dar muita atenção) com uma modalidade de gerenciamento de recursos, porém sem ser extremamente entediante e complicada. Além disso, é provavelmente um dos jogos de celular mais amigáveis com o jogador free-to-play, onde é relativamente fácil conseguir itens, e além disso constantemente os desenvolvedores distribuem moedas premium. Diferente da maioria dos jogos que só permitem o progresso se você gastar grana de verdade. Além disso, Azur Lane traz personagens muito carismáticas e divertidas, que fazem referência ao tema de navios de guerra, com representações de porta-aviões, encouraçados e cruzadores que deixaram sua marca nos sete mares. 

E é esse um dos pontos focais da minha postagem. Como eu já falei um catatau de vezes, uma das coisas que eu gosto sobre navios desse conflito é ler sobre suas "biografias". Já fiz várias postagens aqui que mostram isso, como que certas embarcações tiveram um histórico marcante, com eventos curiosos, heroicos, surpreendentes e até mesmo curiosos e engraçados. 

É como se cada navio fosse uma pessoa, que "nasce" no momento em que leva a garrafada de batismo no casco, passando por diversos eventos ao longo dos anos e encerrando sua "vida" de diferentes maneiras, uns afundando em combate, outros sendo desmontados e alguns sortudos que foram preservados como museus. E esse resgate de acontecimentos históricos e reais é uma das coisas que Azur Lane faz com suas meninas-navio, onde cada uma delas traz de uma forma ou de outra diversas referências à biografia do navio de verdade, como em suas frases quando interagem com o jogador ou até mesmo com algum detalhe visual em suas roupas e armas. Um toque especial que não passa despercebido por aqueles que conhecem um pouco da história dessas embarcações, ou até mesmo que incentiva jogadores que não sabem a pesquisarem sobre o assunto.

Tudo bem que isso não é algo novo... Sendo bem sincero, já falei que esse tema de jogo com representações antropomórficas de navios se tornou bem comum ultimamente, como disse nessa outra postagem. Assim, é bem comum que todos esses títulos façam a mesma coisa, criando personagens que possuem referências históricas aos navios de verdade, embora eu não tenha jogado muitos jogos desse gênero para fazer essa afirmação: fora Azur Lane, eu apenas joguei Kantai Collection, que honestamente perdeu muito de seu encanto por conta de ser um título apenas em japonês (que exige algum tipo de plugin de navegador para traduzir alguma coisa), pelo gerenciamento excessivo que se sobrepõe a uma ação mínima e por ser extremamente difícil para aqueles que começaram a jogar algum tempo depois de seu lançamento.

Aliás, um breve parênteses: talvez alguém se lembre que eu fiz as minhas "sátiras" da série animada e do filme de Kantai Collection. E não é que eu descobri agora que finalmente a sua segunda temporada foi lançada? Que será baseada em um dos derradeiros combates da esquadra japonesa, a Batalha do Estreito de Surigao, o que promete ser bem dramático... Só para você ter uma ideia, no combate de verdade apenas um navio japonês sobreviveu.

Ainda tem horas que eu acabo revisitando um pouco as meninas-navio de Kantai Collection (que são personagens bem construídas e que fazem uma boa referência histórica), mas Azur Lane se destaca muito mais para mim como jogo neste momento. Não só por trazer uma diversidade maior de meninas-navio (diferentemente do Kancolle, que é majoritariamente focado em navios japoneses), mas por ter criado eventos e histórias recentemente que são muito legais, e que conseguem criar um fantástico paralelo com os acontecimentos históricos que marcaram a biografia dos navios de guerra de verdade.

Por isso essa postagem, onde vou comentar um pouco sobre um recente evento do jogo, que me impressionou muito pela forma (extremamente bem-feita) de como os desenvolvedores conseguiram associar alguns acontecimentos históricos à trama, em particular que aconteceram com navios americanos na guerra no Pacífico.

Bom, tentarei ser bem sucinto em uma primeira introdução da história do jogo. Não para evitar um possível spoiler (pois acho difícil que alguém que joga Azur Lane venha por aqui), mas para resumir mesmo. E também pelo fato da história ser bem longa... 

Basta você saber o seguinte: do nada, apareceram algumas alienígenas chamadas Sirens, que tentam controlar o mundo, começando pelos oceanos. Como elas são muito fortes e os navios convencionais não são capazes de enfrentar a ameaça, os humanos conseguem desenvolver uma tecnologia de última geração (sempre é esse discurso, eu sei...), por meio de cubos mágicos chamados Wisdom Cubes, que permitem criar as meninas-navio, com base nas memórias históricas de navios de guerra que combateram no passado. Acabam surgindo várias "nações", baseadas em países de verdade, e que se dividem em duas facções: uma chamada Azur Lane, que faz referência aos Aliados, como Estados Unidos e Reino Unido e pretende enfrentar os Sirens apenas com suas próprias forças, e a outra que é o Crimson Axis, equivalente aos países do Eixo, como Alemanha e Japão, que aproveitam da tecnologia dos Sirens para tentar destruí-las. Essa diferença ideológica gera um conflito entre as duas facções, que começou lá no início da trama, e "reproduz" de certa forma o conflito real da Segunda Guerra Mundial.

Ao longo dos anos, várias reviravoltas ocorreram, chegando ao ponto que todas as nações começam a apaziguar suas diferenças e seguir em uma coexistência relativamente pacífica. Tudo isso graças à figura do Comandante...

Não, não é o Comandante Cobra! Pois ele é um merda incompetente que só se dá mal e conversa com feijões gigantes. O Comandante em Azur Lane é na prática o jogador, que atua com todas as nações, buscando uní-las contra o inimigo comum. Logicamente que há o "fator emocional" em Azur Lane: afinal de contas, todas as meninas-navio admiram muito o Comandante, algumas de forma bem afetiva. Praticamente todas, na verdade. E justamente esse carinho especial delas pelo jogador é que faz com que todas, independente da facção de origem, sejam amiguinhas, atuando de forma fraterna e conjunta contra as alienígenas de cabelos brancos. 

Sob um ponto de vista técnico e frio, entendo que essa abordagem foi uma boa saída para agradar a um maior público. Diferente do que acontece em Kantai Collection por exemplo, onde no início as personagens representavam apenas navios japoneses, enfrentando monstros que faziam uma descarada referência à marinha americana. Ou seja, era como um jogo onde só dá pra jogar com o Japão contra os Estados Unidos, o que poderia desmotivar aqueles que preferissem o contrário ou tivessem maior interesse no cenário europeu. Sem falar em toda uma possível reação politicamente correta daqueles babacas que achariam anti-ético controlar meninas-navio do Eixo, que na prática foi como o "inimigo" na Segunda Guerra. 

Falo sério, tem muita gente que verbalizou seu repúdio ao Kantai Collection por isso. Toscos que foram criados na base do leite com pêra e Danoninho esbravejando, pois era muito feio que um jogo estivesse "enaltecendo" personagens que faziam alusão a navios de nações que cometeram crimes de guerra hediondos. Uma verdadeira babaquice, na minha opinião. Afinal, trata-se de um jogo. 

Enfim, retomemos o foco. Embora Azur Lane não seja um jogo centrado em apenas uma das nações, a verdade é que não era bem assim no seu início, quando a única trama de destaque ficava por conta da campanha, que seguiu uma ótica inversa do seu rival Kantai Collection. Ou seja, embora as missões sejam também baseadas no conflito do Pacífico, em Azur Lane o ponto de vista fica nas meninas-navio americanas. Mas logo os desenvolvedores mudaram um pouco o rumo da história, trazendo eventos periódicos que evoluem com a trama e fazem com que todas as meninas-navio estejam em uma situação mais amistosa entre si, vivendo até na mesma base. Por mais que as facções tenham sim alguns resquícios das rivalidades históricas da época da guerra (que aparecem de vez em quando), no final do dia todas elas estão juntas e unidas contra um mesmo inimigo. Quando não estão disputando a atenção do Comandante ou brincando com os bichos estranhos que habitam a base.

Sem falar que isso dá espaço para estender um pouco mais a história, com eventos focados em uma determinada facção. Assim, os criadores do jogo podem trazer um mini-evento de algumas semanas, protagonizado por uma das forças, o que serve como "desculpa" para trazer novos personagens e incentivar os jogadores a colecioná-las. E o mais legal é que a maior parte desses eventos traz algum tipo de referência histórica. Por exemplo, baseado em uma operação real ou em um combate marcante. 

Bom, acho que para um resumo, eu escrevi bastante! E olha que eu não entrei em certos detalhes que são relevantes na trama, que descobriram origens dos Sirens (que aparentemente não são tão alienígenas assim) e revelaram outras meninas-navio de uma realidade alternativa (as chamadas META shipgirls), sem falar de alguns eventos colaborativos com outros jogos (até algumas lutadoras da série Dead or Alive fizeram suas aparições) e uma história que trouxe algumas meninas-navio alemãs da época da 1ª Guerra Mundial...  

É hora de focar um pouco mais no evento em questão. Ocorrido entre 22 de dezembro e 4 de janeiro, o evento Parallel Superimposition foi focado na Eagle Union, nação que representa os Estados Unidos. Tampouco vou entrar em muitos detalhes aprofundados da trama, que certamente não vão interessar muito ao leitor. Mas vou trazer aqui alguns pequenos detalhes da história principal, e que remetem a esse evento e à sacada genial dos desenvolvedores na hora de adaptar o que aconteceu no passado ao jogo. 

Como disse acima, Azur Lane começou a sua história com um certo enfoque na Eagle Union, de forma que as missões do modo de campanha são baseadas em conflitos reais da Guerra do Pacífico, vistos pelos olhos da marinha norte-americana. Por exemplo, as primeiras missões são justamente representando o ataque japonês em Pearl Harbor, em que vários navios foram afundados ou severamente danificados, com destaque para o encouraçado Arizona, a vítima mais marcante desse episódio, que explodiu de forma repentina.

Embora Azur Lane não faça uma referência muito direta à "morte" das meninas-navio, as cenas que aparecem na história dão a entender que sim, a história vai se repetindo. Tipo, na imagem acima que se refere justamente ao fatídico 7 de dezembro de 1941, vemos a menina-navio Arizona desacordada, nos braços de sua irmã Pennsylvania, que foi até o navio de grande porte que foi menos danificado durante o ataque. Porém, baseado no que vi na animação, imagino que Arizona não morreu, é como se essas meninas-navio "afundadas" estivessem desacordadas, como se fosse em um estado de coma. Pelo menos é a minha suposição a respeito dessa questão.

Quem conhece um mínimo da história da Segunda Guerra sabe que o conflito no Pacífico começou com japoneses impondo sua força de forma relâmpago. Mesmo sabendo que os Estados Unidos conseguiram uma vitória inacreditável durante a famosa batalha de Midway, fato é que essa reviravolta só foi possível com muito sacrifício, incluindo vários navios importantes que os americanos perderam durante essa primeira parte do conflito. Que é uma das temáticas centrais deste evento.

É necessário fazer mais um "desvio" para recordar alguns desses episódios, retratados nas primeiras missões da campanha, que traziam ilustrações para ambientar a trama. Algo que, infelizmente, se manteve apenas até a 3ª fase, focada no conflito em Midway. Depois disso, nem mesmo historinhas com os sprites das meninas-navio foram usados na campanha, uma decepção na minha opinião. Mas, enfim... depois de Pearl Harbor, os Estados Unidos perderam o porta-aviões Lexington na Batalha do Mar de Coral, e logo em seguida veio o confronto em Midway em junho de 1942. Se por um lado os quatro principais porta-aviões nipônicos foram pro espaço, os americanos perderam também o Yorktown, da mesma classe do Enterprise e Hornet, que também estavam no confronto. E esse episódio foi bem explorado em Azur Lane, em que a menina-navio Yorktown se despede de suas irmãs antes de afundar, mas não sem transferir sua fiel águia para Enterprise. Claro, uma águia careca americana, símbolo dos Estados Unidos, criando uma ideia de que Yorktown estava passando o comando para sua irmã.

Vale comentar que Enterprise é quase como a "protagonista" do jogo, pelo menos se consideramos a facção Eagle Union ou mesmo se assistirmos a série animada. O que não é à toa, pois o porta-aviões foi o navio que mais se destacou na marinha norte-americana (como já falei em uma postagem), participando de muitos combates e conseguindo sobreviver até o final da guerra, mesmo depois de ser seriamente danificado diversas vezes. Fato que é referenciado de certa forma no jogo, já que a menina-navio Enterprise tenta se demonstrar forte e resistente, mesmo carregando o peso enorme sobre suas costas de ter que substituir sua irmã e sofrendo bastante em todos os combates em que quase afundou.

E que é algo que acabou se tornando ainda mais difícil, pois em um determinado momento o Enterprise era o único porta-aviões dos Estados Unidos em operação. Excluindo o Saratoga, irmão do Lexington que passou boa parte da guerra em reparos, em um determinado momento os outros porta-aviões americanos também encontraram o seu fim. A começar pelo Wasp, torpedeado por um submarino japonês em setembro de 1942, e logo no mês seguinte foi a vez do Hornet, o outro navio-irmão do Enterprise, que encontrou o seu fim na Batalha de Santa Cruz.

Algo curioso de comentar sobre o jogo é que, embora exista uma missão na campanha que retrate o afundamento da menina-navio Hornet, a imagem acima só apareceu agora, no evento que eu estou contando. Sei lá se os desenvolvedores pediram para um artista criar essa cena somente agora ou se era algo esquecido nos arquivos...

Logicamente que não foram apenas porta-aviões que os americanos perderam, cabe ressaltar que diversos navios foram afundados, alguns até de forma dramática. Podemos citar o velho transporte de hidroaviões Langley, que havia sido convertido do primeiro porta-aviões americano e afundou no início da guerra. Outra embarcação que vale a pena lembrar é o destróier Hammann, que estava ao lado do danificado Yorktown e acabou sendo afundado junto com ele, depois de receber uma salva de torpedos de um submarino japonês. E vale citar o cruzador pesado Northampton, que tentou rebocar o condenado Hornet sem sucesso, e veio a ser afundado dois meses depois, ao ser torpedeado por destróieres japoneses.

Como você verá, o fato de eu ter citado estes cinco navios em particular não foi por acaso. Por enquanto, neste momento vale comentar algumas das referências destes episódios em Azur Lane. Tipo, Langley tem todo o visual de professora, se apresentando como aquela responsável por formar os pilotos navais, em uma clara referência ao fato de representar o primeiro porta-aviões americano; Hammann é uma baixinha enfezada que responde de forma meio rude em alguns momentos, mas que sempre está do lado de Yorktown em qualquer circunstância, como o navio de verdade que protegeu o porta-aviões nos seus últimos momentos; e Northampton é bem esperta e animada, e também uma grande amiga de Hornet, com quem compartilha de tudo, lamentando que não conseguiu salvá-la quando foi preciso, como aconteceu com o cruzador de verdade, que tentou rebocar o Hornet de volta para casa em vão.

Outra imagem, bem enfática diga-se de passagem, que só apareceu no evento recente. E tem gente que diz que Azur Lane é um jogo bobinho e sem nenhuma carga emocional.

Voltemos então aos acontecimentos históricos. Com o passar do tempo, os Estados Unidos começaram a produzir navios de forma frenética, uma verdadeira linha de montagem que colocou dezenas de porta-aviões, encouraçados, cruzadores e destróieres (estes últimos na casa de centenas) no mar. Aliás, a enorme capacidade industrial norte-americana foi certamente o que lhes garantiu a vitória, já que o Japão não tinha tantos recursos assim. Por exemplo, só de porta-aviões da classe Essex, que sucedeu os três da classe Yorktown, foram 14 navios que viram combate, sem falar aqueles que foram completados depois do final do conflito. E com tantos navios, cada um deles precisando de seu nome, a marinha americana teve uma ideia que foi bem interessante e diria até louvável: batizar alguns deles com o mesmo nome de navios que foram afundados no início da guerra, o que serviu como uma espécie de homenagem.

Foram vários navios que carregaram o nome de veteranos que haviam afundado poucos meses antes, incluindo os cinco que eu citei acima. Os porta-aviões da classe Essex que originalmente se chamariam Bon Homme Richard e Kearsarge foram rebatizados como Yorktown e Hornet respectivamente (vale citar que a classe também teve "novos" Lexington e Wasp); o nome Langley foi reutilizado em vez de Crown Point, um dos porta-aviões leves da classe Independence, que foram convertidos de cruzadores; a numerosa classe de destróieres de escolta Edsall teve um navio que levou o nome Hammann; e teve um cruzador da classe Oregon City que recebeu o nome de Northampton, embora ele tenha sido concluído depois da guerra e como um navio de comando.

E isso serviu como inspiração para o recente evento de Azur Lane.

A história começa na verdade em um pré-evento, onde o Comandante se conecta a uma máquina bizarra, tudo isso para entender o que estava passando com Anchorage, uma das meninas-navio especiais, do chamado "priority type", que corresponde a navios que não foram construídos (logo, não possuem as memórias históricas). Aí tem uma pane que faz com que sua consciência seja levada para um universo paralelo no futuro, a mesma sacada manjada de diversas séries, filmes e quadrinhos, mas que aqui parece ser um mundo de sonhos, criado pela Anchorage (se eu entendi bem).

Sim, é a cidade de New York nos dias de hoje, com o detalhe para o novo prédio que ficou no lugar das torres gêmeas do World Trade Center. E nessa suposta realidade, o Comandante na verdade é reconhecido como um assistente de uma pesquisadora, chamada Dra. Anzeel. Provavelmente ninguém que joga fazia ideia de quem ela seria (vou dar o spoiler mais adiante), mas ela aparentemente tinha algo a ver com as origens das meninas-navio. Que também estão nessa realidade, e nesse evento o jogo foca apenas em cinco delas... Yorktown II, Hornet II, Langley II, Northampton II e Hammann II.

Para o bom entendedor, meia palavra basta. Ou, nesse caso, só um número em algarismos romanos basta.

Pois é, nessa realidade paralela somos apresentados às segundas versões dos navios americanos que afundaram. Elas possuem os mesmos traços físicos das personagens originais, mas obviamente possuem partes de navio que remetem aos modelos mais recentes, juntamente com um visual futurista. Afinal de contas, essa realidade alternativa era como um futuro, o que fica evidente com o monte de coisas high-tech que aparecem.

Na prática, essa versão modernizada era por conta de uma das invenções mais recentes que o Comandante/assistente do futuro tinha criado, que eram as "armaduras" tipo II, com capacidades mais avançadas e tecnológicas, em uma provável alusão aos navios de hoje em dia. 

Sem entrar em muitos detalhes da história, na verdade tudo aqui não passava de uma simulação que a mente do Comandante estava vivenciando, graças ao misterioso equipamento que eu citei lá em cima. Uma simulação que trazia referências de diversas realidades, incluindo o passado e a origem das Sirens e das meninas-navio. Que foram criações dos dois pesquisadores que aparecem nessa trama: a desleixada e enérgica Dra. Anzeel era quem tinha criado a ideia das meninas-navio (kan-sen, no jogo), com o auxílio dos tais cubos que materializavam as "memórias" dos navios de guerra de verdade, enquanto que o sério Dr. Aoste havia proposto uma forma diferente de uso desses cubos, com o auxílio de inteligência artificial e dando origem a criaturas sem sentimentos e que não dependiam de um navio de verdade do passado.

Sei que aqueles que nem fazem ideia do jogo devem estar se perguntando por que eu estou citando isso. Mas achei interessante como finalmente é dada uma certa "explicação" para a origem dos personagens. Ou seja, as Sirens não eram exatamente alienígenas, mas sim criaturas dotada de inteligência artificial que provavelmente se tornaram conscientes e se voltaram contra seus criadores. 

Qualquer semelhança com o Skynet do Exterminador do Futuro não deve ser uma mera coincidência...

Falando em filme, o evento faz uma referência cinematográfica bem interessante e que tem tudo a ver com o tema de navios de guerra: em diversos momentos Azur Lane resgata algo de um antigo filme chamado "The Final Countdown" (filme, não a música do Europe), que aqui recebeu a tosca tradução de "O Nimitz de volta ao Inferno". Nessa película, um moderno porta-aviões americano acaba atravessando algum portal maluco e vai parar lá no ataque japonês a Pearl Harbor em 1941. Ou seja, tinham tudo para mudar os rumos da História, pois um puta porta-aviões nuclear com jatos supersônicos e mísseis iria trucidar os seis porta-aviões japoneses que executaram o ataque, e assim o "dia da infâmia" nunca teria acontecido. Mas, antes de que qualquer coisa pudesse ser feita, o Nimitz é tragado de volta ao nosso tempo... ou seja, sem mudar pôrra nenhuma. Só dois Zeros que foram escorraçados pelos caças americanos.

As referências cinematográficas neste evento de Azur Lane são várias, como o título "The Final Countdown" ser usado em uma das missões, sem falar que no final de um dos capítulos a fala do comandante do filme é reproduzida na íntegra. E as meninas-navio assistem um filme estrelado por uma de suas amigas, cujo enredo lembra o filme acima (sob voltar ao passado e não conseguir mudá-lo). 

Voltando, durante a sequência do evento, o Comandante (ou melhor, sua consciência no "corpo" do assistente) passa a conviver com as cinco meninas-navio mais novas, participando de missões de treinamento em que conhece suas capacidades de combate. Além delas, ele conversa com a cruzador Memphis, que tem o visual original e em alguns momentos dá a impressão de conhecer a verdade sobre o Comandante. Até que somos apresentados a uma Siren desenvolvida pelo Dr. Aoste, embora ela seja diferente das inimigas que o jogador está acostumado. Por exemplo, em vez de ter cabelos brancos, ela tinha cabelos pretos. 

Afinal de contas, se tratava de uma simulação, nesse caso provavelmente se baseado em uma outra realidade, ou talvez se tratava de algum erro ou bug na mesma. Inclusive, descobrimos que a escolha da cor do cabelo é provavelmente por conta de uma preferência ou fetiche do pesquisador, que faz sentido quando vemos que todas as inimigas tem cabelos brancos. 

Os exercícios continuam e bem neste momento a Siren sai do controle, e assim começa um conflito de verdade. Também descobrimos que Memphis na verdade é sua versão META, e que por ser uma fugitiva de outra realidade, sabe da verdade sobre as origens do Comandante. O confronto segue, com a chegada de cruzador Helena META, e ambas fazem tudo para salvá-lo dali. Nesse momento, as meninas-navio, em especial Yorktown II, se dão conta de que não passam de ilusões simuladas; mas, mesmo assim, se dedicam ao combate para proteger a fuga do Comandante.

E assim, ele desperta de volta ao seu tempo... mas ainda mantendo um monte de informações que foram obtidas durante sua estada neste "sonho", que estavam sendo gravadas pela máquina. Sendo que o principal era justamente o conceito dos equipamentos do tipo II, que a princípio poderiam ser usados para salvar as meninas-navio que foram afundadas. O que aparentemente funciona, pelo menos para as cinco que o Comandante encontrou na simulação. Imagino que o grande tempo de convivência com elas permitiu o desenvolvimento desses novos equipamentos.

O final da trama traz Enterprise... que encontra Yorktown II, juntamente com as demais meninas-navio que o Comandante encontrou em sua viagem psicodélica. E assim, finalmente as três irmãs porta-aviões estão juntas de novo.

Ainda não fica claro o que são essas novas "versões" delas. Há quem pense que tais equipamentos do tipo II têm a capacidade de despertar as meninas-navio em estado comatoso, mas na minha opinião eu imagino que elas tenham sido criadas como as outras, usando os tais cubos azuis mágicos, mas a adição do "ingrediente" adicional destas armaduras novas era capaz de dar vida a uma menina-navio que tinha também as lembranças daquela que tinha afundado antes. Ou seja, era como aconteceu na vida real, onde estes navios levaram o nome e o legado dos originais que foram afundados.

Mas a verdade é que não importa. Eu tenho que admitir algo que pode uma vez mais colocar em dúvida a minha masculinidade: caíram algumas lágrimas quando vi a cena final do evento, em que Enterprise encontra sua família.

Sei que pode parecer bobagem, mas eu me surpreendo frequentemente em como que essas animações orientais, sejam em desenhos mesmo ou em jogos como Azur Lane, conseguem criar personagens tão profundos e carismáticos que são capazes de prender a sua atenção, como se fossem reais. Estamos falando de um mero desenho 2D, mas que é traz traços de personalidade em suas frases e no seu visual, e neste caso em particular, de representações antropomórficas de navios de guerra, tudo isso é feito com uma atenção aos detalhes históricos. É muito criativo e incrível como que os desenvolvedores desse joguinho conseguem elaborar uma trama que consegue ser ao mesmo tempo interessante e fiel ao que aconteceu de verdade. 

Por isso que Azur Lane é um jogo que gosto e tenho jogado com frequência, por ser divertido mas também dramático, com referências históricas muito bem boladas.

Bem, vou ficando por aqui. Sei que é um assunto que não interessa a muitas pessoas, e talvez tinha gente esperando algum tipo de desabafo meu sobre a posse do presidiário... Mas, pelo menos nesse momento, entendo que é melhor que eu tente usar esse espaço para outros assuntos que não da política e do regime totalitário e vingativo que está iniciando. Até pelo fato de que, considerando a minha parte, esse "trabalho" de demonstrar a hipocrisia e a perversidade dessa organização criminosa que chegou ao poder pode ser mais importante em outros lugares. Por isso, por ora tentarei escrever aqui sobre temas mais amenos, e que me tragam um pouco mais de pensamento positivo. Afinal de contas, precisamos recarregar nossas baterias de vez em quando, e para isso devemos focar em coisas boas e que nos divertem e relaxam.

Comentários

Anônimo disse…
Poxa meu amigo não vai comentar dos atos de barbárie dos adeptos do bolivariano em Brasília ou vc acha que são militantes enrustidos de esquerda?
Texugo disse…
Tudo em seu devido tempo... Estou organizando sim um comentário sobre o que aconteceu no último domingo.

Dou apenas um spoiler: quem quiser entender o que aconteceu, procure pelo incêndio no parlamento alemão em 1933, e já vai entender muita coisa.