Um veterano que ainda flutua

Esta será uma postagem bem curta, mas que achei interessante fazer para registrar uma pequena notícia. Uma que certamente passou batida na mídia em geral, acredito que até mesmo no noticiário dos Estados Unidos, onde certamente faria mais sentido. 

Como os raros leitores sabem, um assunto que acho fascinante é ler sobre a biografia de navios, especialmente as embarcações militares que combateram durante a Segunda Guerra Mundial. Já citei inúmeras vezes as razões, mas o que mais se destaca é que os navios são "únicos", diferentemente de tanques, aviões e carros, um navio é batizado e tem toda a sua história, desde o momento em que quebram a garrafa em seu casco até o dia em que encontram seu destino final. Em se tratando de navios de guerra, muitos terminaram suas jornadas no fundo do mar, outros tantos foram desmantelados e viraram sucata. E alguns poucos acabam sendo preservados, como citei nesse post sobre navios-museu

E a postagem de hoje é para registrar mais um capítulo de um veterano de duas guerras, o centenário encouraçado USS Texas.

Ele ficou em evidência recentemente pois o navio foi movido para uma doca-seca nesta quarta, 31 de agosto, onde passará dois anos em reparos para preservação. Tudo sob os olhares de entusiastas, alguns deles até com um pouco de preocupação que o velho navio pudesse afundar no caminho. Mas tudo correu bem, e o Texas chegou ao seu destino, onde passará por uma merecida recauchutagem.

O Texas teve a sua quilha batida em 17 de abril de 1911, sendo finalmente lançado em 18 de maio de 1912, entrando em serviço no dia 12 de março de 1914. A maioria dos historiadores considera essa data de entrada em serviço como o dia de seu "nascimento", embora eu acho mais correto que fosse a data de lançamento de fato. De qualquer forma, o encouraçado tem mais de cem anos, um dos mais velhos que ainda existe, por ter tido a sorte de ser preservado como um museu.

Algo que sempre me deixa pensativo... pois fico pensando em alguns outros navios que mereciam ter sido preservados. Como o porta-aviões americano Enterprise, que teve uma história tão (ou até mais) condecorada que o Texas, mas acabou virando sucata de metal, sendo transformado em panela, portão de ferro e calota de carro. 

Enfim... Vale uma breve descrição do navio, já que o Texas e seu irmão New York não foram mencionados naquela postagem em que falei dos navios de Pearl Harbor, afinal de contas eles estavam no ataque japonês que levou os Estados Unidos à guerra. Com cerca de 175 metros de comprimento e deslocando cerca de 27 mil toneladas, cada um dos navios contava com 10 canhões de 14 polegadas (equivalente a 356 milímetros), em cinco torres duplas: duas na proa, duas na popa e uma no meio do casco. O navio passou por uma reconstrução em 1925, quando teve suas caldeiras alteradas de carvão para óleo, removeram uma chaminé e trocaram os mastros treliçados por uma torre mais esbelta. 

O Texas participou da Primeira Guerra Mundial juntamente com a esquadra britânica, embora tenha atuado mais na escolta de comboios. E na Segunda Guerra Mundial operou no Atlântico, onde participou de diversas operações, incluindo apoio durante o famoso desembarque na Normandia, durante o Dia D. E ainda deu tempo para correr para o Pacífico em 1945, onde apoiou na invasão das ilhas de Iwo Jima e Okinawa. Ou seja, foi um encouraçado que, apesar da muita idade, participou ativamente de todas as frentes do conflito.

Talvez por isso houve uma grande motivação para que, em 1947, aparecesse uma comissão que o levou para seu "estado de origem", onde virou museu. Mas no início não tinha muito dinheiro, e consequentemente o Texas acabou se depreciando com o passar do tempo. Felizmente, o navio foi tombado pelo National Park Service dos Estados Unidos, o que proporcionou maiores investimentos para sua preservação. Incluindo a sua mais recente viagem, onde reparos serão feitos para corrigir problemas crônicos de vazamento que o navio vinha sofrendo ao longo dos anos.

Embora eu saiba que muita gente ache que seja um desperdício de dinheiro, e certamente deve ter alguns eco-chatos com mimimi sobre os impactos ambientais, eu acho muito válido que a história seja preservada. Como disse, navios têm a sua "biografia", e o encouraçado certamente passou por muita coisa ao longo de seus 34 anos de serviço. Não tive a oportunidade de visitar o navio, mas espero ter a chance de ir lá em uma viagem futura. Vida longa ao Texas, o mais velho encouraçado americano que ainda flutua, e que assim permaneça por muitos anos.

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