Navios de Guerra - Navios-museu

Vamos mais uma vez puxar o tema de navios de guerra, mas dessa vez vou fazer algo um pouco diferente do que de costume. Em geral eu escolho algum navio (ou classe de navios) e falo a respeito de sua história, desde quando foi lançado até ser afundado ou desmontado. Mas alguns poucos navios que navegaram pelos mares durante a Segunda Guerra Mundial, ou mesmo em conflitos anteriores, tiveram destinos mais nobres, algo como "finais mais felizes". Me refiro aos navios que foram preservados e se tornaram museus.

Quando falamos de máquinas de guerra, sempre costumo classificá-las em três grandes grupos, sendo aquelas que operavam na terra, no ar ou no mar. Como já cansei de falar, nunca me interessei muito pelos tanques e aviões, pois eles eram construídos em larga escala, e assim tinham um grande nível de "impessoalidade". Apesar de existirem exceções, tipo o avião que jogou a primeira bomba atômica, o tal do Enola Gay (que, não, não era "gay" no sentido homossexual da palavra). Por sua vez, navios de guerra, principalmente os maiores, eram em menor quantidade, e assim cada um deles tinha seu histórico de operações. E é uma das principais razões pela as quais me interesso pelo tema. 

Mas, por outro lado, essa diferença acaba tendo uma influência decisiva sobre a preservação de tais máquinas após o término do conflito. Guardar um avião ou um tanque é algo mais fácil de se fazer, pois eles são menores, ocupando menos espaço, e demandam menos manutenção, mesmo naquelas raríssimas situações em que ainda sejam funcionais. O que não falta são aviões da época que ainda voam, e que geralmente se apresentam em shows ou coisa parecida. Por sua vez, guardar um navio é um pouco mais difícil, estamos falando muitas vezes de milhares de toneladas e uma grande quantidade de equipamentos que fazem parte de sua estrutura. Além de serem imensos, não dá pra colocar no canto da garagem ou em um descampado, precisa ter um porto ou pelo menos algum lugar perto da costa para ancorá-lo.

Dessa forma, nada de se surpreender que manter navios de guerra ainda inteiros seja algo muito difícil, às vezes guardam apenas uma pequena parte (tipo, um canhão ou outro pedaço). Geralmente o destino desses navios é virar sucata. Ou até mesmo ser afundado propositalmente em algum lugar para ajudar na recuperação da fauna marinha, servindo de ambiente para a formação de corais. 

Mas alguns navios ainda foram mantidos, e se tornaram navios-museu. Que hoje podemos visitar, andar por dentro e conhecer um pouco da história de quase um século atrás. E nessa postagem eu vou falar de alguns desses navios que tiveram a grande sorte de sobreviverem. Tentarei ser breve, o objetivo não é destrinchar suas carreiras, e vou focar em navios um pouco maiores, de cruzadores pra cima, e tentando agrupar por países, focando somente naqueles que combateram na Segunda Guerra, com algumas raras exceções 

Não poderia começar com outra nação que não fossem os Estados Unidos. Afinal, eles tinham navios para cacete e ganharam a guerra. Sem falar de terem mais essa cultura de preservar o legado histórico, vide a quantidade de museus que tem lá. Alguns deles permaneceram em operação por mais alguns anos e participaram até de outros conflitos mais recentes, mas agora servem como museus.

E isso inclui até mesmo porta-aviões. São quatro ao todo, todos da classe Essex, que foi a última a ser lançada durante a Segunda Guerra e que ainda participou de alguns conflitos posteriores, após ganharem uma modernização, como o convés em ângulo. Além do Lexington, Yorktown e Hornet (que foram batizados em homenagem a porta-aviões com os mesmos nomes que afundaram no início da guerra), o destaque fica para o Intrepid, que fica na cosmopolita Nova Iorque e abriga um museu aeroespacial, que inclui até mesmo um ônibus espacial.

Os americanos também guardaram vários encouraçados, acho que eles lembram mais navios de guerra do que porta-aviões, com seus canhões imensos e sua postura imponente. Curioso ver como eles acabaram priorizando os navios mais novos, a começar com o North Carolina, que depois da guerra ficou parado esperando o seu destino, até virar museu no estado de mesmo nome. Pelo que vi, ele ainda tinha alguns pequenos danos provenientes da guerra, e que foram reparados recentemente.

Mesma sorte tiveram o Massachusetts (que nome difícil de soletrar!) e Alabama, da classe posterior. Eram quatro navios, que ficaram na reserva até os anos 60, quando então saíram de serviço. Esses dois tiveram melhor sorte do que o South Dakota e o Indiana, que viraram sucata, restando apenas pequenos pedaços deles como lembrança. Estão também nos estados que remetem aos seus nomes, como o Massachusetts na foto abaixo.

Mas nenhuma classe de encouraçados (e diria até mesmo de navios) foi mais felizarda do que os quatro navios da classe Iowa, os maiores construídos pelos Estados Unidos no período de guerra. Eles seguiram em operação por vários anos, participando de conflitos na Coréia e até mesmo na relativamente recente Guerra do Golfo. Embora os quatro encouraçados ficaram um certo tempo "de molho", de forma a estarem prontos para entrar em operação em um eventual conflito, eles finalmente foram desligados da Marinha e se tornaram museus: o Iowa está em Los Angeles, o New Jersey no seu "estado-natal" de mesmo nome, o Wisconsin fica em Virginia e o Missouri, navio onde a rendição dos japoneses foi assinada, está preservado no Havaí.

Terminei com o Missouri não foi à toa, pois ele se encontra em Pearl Harbor, o lugar onde a esquadra americana foi atacada de surpresa pelos japoneses, iniciando a participação dos Estados Unidos na Segunda Guerra. E ele está lá juntamente com outro encouraçado que virou museu, embora o mais correto seria dizer que se trata de um memorial: o Arizona, do qual já falei nessa postagem, foi destruído no dia 7 de dezembro de 1941, e ainda repousa no fundo das águas de Pearl Harbor. Sobre ele foi construído um memorial em homenagem aos americanos que perderam a vida neste dia fatídico.

Por fim, o último encouraçado americano que virou museu que veio nesta postagem é também o mais antigo de todos. O Texas foi lançado em 1912 e participou das duas guerras, atuando principalmente no Atlântico, inclusive contribuindo no desembarque do Dia D. Com mais de um século de vida e apesar de inúmeros problemas de manutenção ao longo dos seus anos, ele permanece no estado de seu nome, como um dos mais antigos navios de guerra norte-americanos ainda preservados.

Outros navios americanos ainda servem como museus, mas acho que está na hora de mudar de país. Embora outras nações não guardaram embarcações tão grandes como as que vimos.

Por exemplo, os britânicos possuem vários navios pequenos, sendo que o maior e mais significativo deles é o cruzador leve Belfast, ancorado no rio Tâmisa e fazendo parte do cenário londrino. Curioso que foi outro navio que teve uma certa sobre-vida, participando da guerra na Coréia nos anos 50. 

Como era de se esperar, as nações do Eixo não possuem praticamente nenhum navio grande que tenha sobrevivido à guerra, os poucos que restaram foram desmontados ou viraram alvo de bomba atômica, como comentei na recente postagem do encouraçado japonês Nagato. No máximo, devem ter alguns submarinos ou navios menores que sobreviveram.

Mas os japoneses podem dizer que têm até hoje um navio-museu que pode ser considerado de grande importância. O Mikasa foi o líder da esquadra japonesa na batalha de Tsushima, principal embate na guerra com os russos no início do século XX, e nos anos 20 foi preservado como navio-museu. Por sorte ele não foi atacado pelos americanos durante a Segunda Guerra, e depois de algumas ações para manter o museu em funcionamento, o Mikasa segue lá até hoje, como um dos mais antigos navios ainda preservados.

Coincidência ou não, o próximo navio-museu da lista tem uma certa relação com o Mikasa acima. Isso por ter participado do mesmo conflito, mas do lado perdedor. O Aurora é um cruzador protegido russo e um dos poucos que escapou do massacre dos japoneses. Depois de uma breve participação na Primeira Guerra, o navio ainda protagonizou a revolução comunista, dando um disparo a esmo que marcou o início da invasão do palácio do czar. Não fez muito na Segunda Guerra e se tornou um monumento em homenagem à revolução, tornando-se navio-museu em 1957.  

Seguindo com navios relativamente antigos, em especial para um país que não teve muita expressão durante a Segunda Guerra Mundial, mas que guarda uma longa história, a Grécia. E talvez por conta dessa tendência de preservar o passado, com seus monumentos milenares, eles preservaram o velho cruzador blindado Georgios Averof. Construído na década de 1910, participou de conflitos contra o Império Otomano, e na Segunda Guerra conseguiu até ajudar em escoltas de comboios no oceano Índico, e em 1984 se tornou um museu. 

Embora meu foco seja mais em navios que combateram em conflitos maiores e no passado, acho que vale a pena citar alguns outros, mais modernos e de grande porte que ao fim de sua vida de serviço se tornaram museus. Como é o caso de dois porta-aviões soviéticos da época da Guerra Fria, que foram comprados pela China e se tornaram atrações turísticas. O Kiev, antes orgulho da marinha da USSR, agora é um hotel em um parque temático militar chinês...

Por sua vez, um dos seus irmãos chamado Minsk também foi comprado pelos chineses antes de ser sucateado, e foi colocado em um outro parque temático que levava o seu nome, lá pelos anos 90. Acontece que a empresa responsável faliu. A partir daí, ele foi movido de um lado para outro na China, quase sendo usado em um novo empreendimento turístico, mas acabou sendo largado perto de um rio, onde vai se deteriorando a cada dia.  

Algo eu preciso dizer: esse navio era bem estiloso. Embora fosse na prática um porta-aviões, ele também tinha canhões e mísseis, um híbrido com um cruzador. Mas hoje ele está enferrujando e decadente... 

Antes de ir, não poderia deixar de citar dois navios de guerra brasileiros que se tornaram museus, localizados no Rio de Janeiro, no Centro Cultural da Marinha. Um é o contra-torpedeiro Bauru, originalmente o destróier de escolta McAnn norte-americano, que atuou no final da guerra no Atlântico até ser alugado para o Brasil em 1944, sendo permanentemente transferido em 1953. Atuou por mais alguns anos até virar navio-museu em 1982, estando lá em exposição desde então.

O outro navio de guerra brasileiro que virou museu foi o submarino Riachuelo. Construído pelos ingleses para nosso país, foi incorporado à Marinha no final da década de 70. Realizou diversas operações pelo litoral até o fim de seu serviço em 1997 e virou também navio-museu. Ou seria submarino-museu?

Acho que chega de listar navios. É bem interessante que embarcações que tiveram uma participação de relativo destaque na História tenham sido mantidas como museus ou memoriais. Embora eu ache que certos navios poderiam ter sido preservados como museus, considerando o destaque que tiveram em conflitos decisivos. Como o porta-aviões americano Enterprise, como citei na postagem dele, que participou de várias batalhas no Pacífico contra os japoneses, ou o couraçado Warspite, veterano britânico de duas guerras, só para citar alguns exemplos de navios que poderiam ter sido mantidos de alguma forma e viraram sucata. Mesmo navios do lado derrotado, apesar de representarem os "inimigos", mas que podiam ter sido preservados pelo aspecto histórico, como o cruzador alemão Prinz Eugen, famoso por ter acompanhado o Bismarck e que foi detonado em testes atômicos, ou algum navio japonês como o pequeno Hosho, primeiro porta-aviões construído como tal, e que também foi desmontado. 

Claro, como disse lá em cima, "guardar" um navio é algo caro, que ocupa espaço e demanda uma estrutura mais complexa, sem falar que o volume de aço e outros metais que pode ser obtido após o sucateamento é significativo. Tais fatores sem dúvida colaboraram para que não houvesse muito interesse de países, ainda se recuperando das consequências do conflito global, em manter embarcações gigantescas. 

E assim chegamos ao final desta postagem, que sei que não deve agradar a muita gente (ou talvez a ninguém). Claro que existem muitos outros navios-museu espalhados pelo mundo, de todos os tipos e tamanhos, desde navios relativamente modernos até veleiros como aquele dos Goonies. Caso tenha interesse, tem essa lista no Wikipedia, de onde eu pesquisei os navios que apareceram aqui.

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