Garçom Equilibrista

Tem momentos que bate uma certa nostalgia por aqui... Fico lembrando de minha infância, de como a vida era mais simples e divertida. Sem ter que ficar ralando na labuta toda a semana, a única obrigação era a escola, que no meu caso ocupada apenas um dos turnos do dia. Assim, mesmo reservando uma parte do tempo em casa para revisar as matérias e dar uma estudada, ainda era possível fazer algo legal no restante do dia. Diferente de hoje, em que as obrigações da vida adulta não esperam, e o pouco tempo livre deve ser dividido com as obrigações e tarefas particulares. Bom, no meu caso particular, por ainda ser um texugo solteiro e sem filhotes, consigo ter pelo menos uma horinha por dia (quando dá) para meu lazer... Mas o pouco tempo faz com que eu tenha que me limitar a coisas rápidas, como jogar um joguinho no celular, ler um capítulo de um livro ou assistir um episódio de uma série.

Saudades do tempo de infância... quando dava pra se divertir um pouco mais. Dava para mais uma batalha épica com Comandos em Ação ou Transformers, depois assistir o Jaspion e os Changeman dando porrada em alienígenas com roupas de borracha e ainda sobrava tempo para algum jogo depois da janta. Não de videogame (que geralmente ficava restrito aos finais de semana), mas um jogo físico, daqueles que você tinha que pegar a caixa no armário, montar o tabuleiro e jogar os dados e cartas. 

E não me refiro aos boardgames necessariamente, que hoje voltaram de uma forma que eu particularmente acho exagerada. Me refiro a certos jogos infanto-juvenis, que ainda resistem nos dias de hoje, apesar da forte competição dos joguinhos eletrônicos de celular e tablet. Jogos que eram simples, alguns até bobinhos mas divertidos, exigindo destreza e habilidade. Como o Cara a Cara, do qual falei há mais de dez anos aqui no site, que existe até hoje (embora eu imagino que agora com uma roupagem mais "politicamente correta"), ou o Caça Monstro com sua máquina de criaturas aleatórias e as mãozinhas com ventosas que acabavam servindo como armas na porradaria que sempre ocorria no final das partidas. Eram alguns dos jogos da Estrela que eu tive, e que renderam muitos momentos divertidos de lazer, jogos esses que eu gosto de lembrar. E hoje é a vez do Garçom Equilibrista.

Sem dúvida um joguinho bem engraçado e divertido, remetendo à habilidade dos garçons que precisam equilibrar uma bandeja com um monte de pratos e copos. Foi uma grande sacada dos criadores desse jogo, exigindo muita habilidade e equilíbrio como o Jenga, mas com um toque mais divertido. 

Afinal de contas, em vez de uma singela torre com bloquinhos de madeira, no Garçom Equilibrista a gente tinha nada mais do que uma mão grandona, com uma mega mola, e que apoiava uma bandeja de plástico nos seus dedos, onde se devia colocar copinhos de plástico. A bandeja tinha duas regiões principais, a borda e o centro, embora o círculo central era uma zona proibida, pelo menos nas regras oficiais do jogo.

E a brincadeira era simples: cada um sorteava uma carta que dizia qual tipo de copo e em qual região da bandeja ele deveria ser colocado, assim como uma pontuação. Cabia então ao jogador posicionar o copinho com cuidado de manter o equilíbrio da bandeja. Conseguindo, a carta ia pra mão dele, passando a vez para o próximo. Por outro lado, derrubando a bandeja, game over para o desastrado, e a partida recomeçava com os participantes que haviam sobrado, até restar somente um, declarado o vencedor. Caso todos os copos fossem colocados na bandeja, ganhava então quem tinha acumulado mais pontos.

O legal é que haviam diferentes tipos de copos. Tinham as taças pequenas, os copos em forma de pirâmide (cada um desses com dois copos verdes e dois rosas), os copos grandes e as canecas de cerveja, com direito a uma espuminha pra representar o colarinho, sendo cinco de cada um desses. Lembro que eram os anos 80 e 90, não havia encheção de saco politicamente correta pra achar revoltante uma caneca de bebida alcoólica num jogo infantil. Claro que cada copo tinha um peso diferente, proporcional à pontuação, que sempre era mais elevada na borda do que no centro. 

Havia também as cartas de cafezinho. Essas não davam ponto nenhum e faziam você passar a vez. Embora não ajudasse na pontuação, era a garantia de que a bandeja não viria abaixo na sua mão.

Garçom Equilibrista era um jogo que a garotada curtia pois era muito simples de jogar e também exigia mais da habilidade do que raciocínio, mesmo os mais jovens conseguiam jogar. Sem falar do fator bagunça, pois era certeza de gargalhadas quando a bandeja vinha abaixo com todos aqueles copos, que se espalhavam pelo chão. Especialmente os copos amarelos, que tinham uma facilidade pra sair rolando pra debaixo de um armário ou estante. 

Mas havia também aquela sensação de triunfo do sortudo que conseguia colocar o último copo sem derrubar a bandeja. O cara se sentia como o Homem Aranha, naquela cena em que ele equilibra todo o almoço da Mary Jane que tinha voado pelos ares.  

Isso até o babaquinha do grupo dar um tapão na bandeja e jogar tudo abaixo. Afinal de contas, sempre tinha um babaquinha desses, que se achava engraçado. 

Sem falar que dava pra deixar o jogo ainda mais hilário, porém aumentando exponencialmente a bagunça. Como encher os copinhos com água de verdade. Além de aumentar o desafio, pois os copos ficavam mais pesados, gerava mais suspense na hora de colocar na bandeja. Afinal de contas, já dá pra imaginar a zorra que seria quando tudo caísse.

Ainda mais se você estivesse jogando na sala de estar... Imagina só a surra que muito moleque levou dos pais depois de encharcar o carpete ou assoalho, ao jogar essa versão hardcore

Curioso observar que tudo indica que Garçom Equilibrista foi um dos diversos jogos originais criados pela Estrela aqui no Brasil. Tinham aqueles como Cara a Cara, Banco Imobiliário e Detetive que no final das contas eram "traduções" do Guess Who?, Monopoly e Clue que já eram conhecidos no exterior. Mas não parecia ser o caso desse aqui, totalmente original. Ou então foi um jogo bem obscuro e pouco conhecido lá fora, pois não achei nada equivalente.

Bons tempos mesmo. Às vezes fico pensando na sorte que eu tive, pois fiz parte de uma das últimas gerações que pôde curtir certas brincadeiras mais "analógicas" como Garçom Equilibrista. Hoje em dia a criançada já está começando com joguinhos de celular desde seus poucos anos de vida, e acabam interagindo com uma tela somente. E fico pensando como que essa imersão precoce no mundo digital afeta a formação dessas crianças. Claro que por um lado devemos observar certas vantagens (por exemplo, um acesso desde muito cedo a outros idiomas), mas acredito que as crianças de hoje e amanhã vão perder muito dessa diversão lúdica que brincadeiras e jogos como Garçom Equilibrista proporcionaram para tantas outras gerações.

Enfim, o tempo vai dizer...

Fato é que eu me sinto muito feliz de ter curtido essa época, e olho com carinho nostálgico para tais jogos e brinquedos clássicos. Qual será o próximo que eu vou lembrar por aqui?

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