Navios de Guerra - Sable e Wolverine

Hora daquela postagem do tema que sei que a maioria não se interessa em ler, mas que insisto em fazer. Afinal de contas, é um assunto que eu acho interessante, além de dar uma variada no estilo mais informal de outros posts. Embora na verdade, mesmo quando venho aqui para falar de navios de guerra, tem horas que cabe alguma piadinha ou zoação. De qualquer forma, hoje é dia de falar de mais algumas embarcações de combate... se bem que acredito que "combate" não se aplica a esses dois, os porta-aviões americanos Sable e Wolverine.

E antes que apareça alguém aqui querendo zoar, não tem nada a ver com o Wolverine e o Dentes-de-Sabre dos X-Men, apesar a coincidência nos nomes.

O "combate" vem entre aspas pois os dois navios não participaram de nenhum conflito naval na Segunda Guerra. Na verdade, eles sequer navegaram em um mar ou oceano de verdade. Os dois foram na prática porta-aviões de treinamento que operaram nos Grandes Lagos nos Estados Unidos durante o período da guerra, sendo usados principalmente para que os pilotos novatos treinassem operações em porta-aviões, como pousos e decolagens. 

Afinal de contas, devemos lembrar que esse tipo de embarcação havia surgido há muito pouco tempo, e os pilotos estavam acostumados a operar em pistas em terra, geralmente mais largas e compridas, dando maior segurança durante os sempre arriscados pousos e decolagens. Não era (e ainda hoje não é) fácil fazer tudo isso em uma pista pequena, em um navio que se move e está sujeito a condições ambientais muito mais severas, com pouco espaço para o erro. Guardando as devidas proporções, é como a diferença de um avião comercial da Gol ou LATAM pousar no imenso Galeão ou no pequeno Santos Dummont... que aliás é chamado por muitos de "porta-aviões" por estar no meio da água.

Pelo menos é mais seguro do que Congonhas... vamos em frente.

Claro que nos primórdios já haviam testes que eram feitos em porta-aviões ou navios adaptados. Na verdade, quando começaram com essa ideia de levar aviões em navios, vários designs foram testados antes de chegarem ao que conhecemos hoje em dia, com um convés plano como uma pista. Se você viu a postagem dos porta-aviões japoneses Akagi e Kaga, deve lembrar que eles tinham três pistas para diferentes operações. Outro exemplo disso foi o porta-aviões britânico Furious, que na verdade era um navio de guerra convencional, onde tinha uma pista na popa para pouso e outra na proa para decolagem. O que acabou não funcionando, depois derrubaram a estrutura e ele ficou com um convés simples.

Só que esses eram tempos de paz. Depois que a guerra começa não dava pra ficar usando porta-aviões para treinar pilotos. Já não bastasse o fato de que todos eles necessitavam sempre de um tempo para treinamento de suas tripulações, não dava para tirá-los da frente de batalha para missões de treino de pilotos novatos. 

E isso se tornava ainda mais crítico para os Estados Unidos. Embora nenhum de seus porta-aviões foi atingido durante o ataque japonês a Pearl Harbor, os americanos não tinham tantos à disposição para uso em treinamento: por exemplo, no Pacífico no início de 1942 eram cinco porta-aviões, mas em seis meses o Saratoga foi torpedeado e precisou de reparos, além do Lexington e Yorktown terem sido afundados. Não dava para parar o avanço japonês deslocando um ou mais porta-aviões para treinamento, tinha que ter outra solução. E é aí que entram o Sable e o Wolverine.

Alguns anos antes já tinha gente sugerindo pegar navios de cruzeiro e transatlânticos e convertê-los em porta-aviões de treinamento. Parecia uma ideia lógica, considerando a situação de conflito e observando que algumas nações já estavam fazendo o mesmo, mas para porta-aviões de combate (tipo, os japoneses e italianos tiveram essa ideia). Com o avanço da guerra, percebendo que os Estados Unidos precisariam de muitos pilotos para combater em duas frentes, finalmente a ideia foi aprovada e dois velhos navios que operavam nos Grandes Lagos foram escolhidos.

Comecemos com o primeiro deles, o Wolverine. Lançado originalmente como Seeandbee em novembro de 1912, ele era um navio a vapor de luxo que costumava operar uma rota entre Cleveland e Buffalo. Tinha cerca de 150 metros de comprimento e capacidade para 6000 passageiros e 1500 toneladas de carga, e vale ressaltar que ele usava um sistema de propulsão comum para os Grandes Lagos, com rodas de pás nas laterais, sendo capaz de atingir cerca de 19 nós (35 km/h).

Em março de 1942 o navio foi comprado pela marinha americana, que começou a fazer as mudanças. A grande vantagem é que transformar o Seeandbee em um porta-aviões não seria muito complicado: bastava derrubar a estrutura principal, deslocar as chaminés para um lado e instalar o convés de vôo, com 170 metros e feito de madeira. E assim, em agosto de 1942, ele foi comissionado como Wolverine.

História semelhante ocorreu com outro navio de passageiros que se tornaria o Sable. O Greater Buffalo foi lançado em outubro de 1924, e era também um navio a vapor com rodas de pás nas laterais, chegando a 18 nós (33 km/h). Embora fosse ligeiramente maior, com 160 metros de comprimento, devia ser de uma categoria "premium", com capacidade para 1500 passageiros, cerca de 100 veículos e 1000 toneladas de carga.

Sua aquisição foi um pouco depois, em agosto de 1942, provavelmente depois que viram que o Wolverine era uma boa ideia. A reforma foi semelhante, porém foi usado um convés metálico em vez de madeira, como teste de diferentes tipos de material. E em maio de 1943 ele foi comissionado como Sable. 

Claro que o Wolverine e o Sable só tinham uma aparência de porta-aviões. Fora o convés, que ficava relativamente perto da água e era mais largo que os porta-aviões convencionais, eles não contavam com diversos equipamentos típicos de uma embarcação de combate, como hangares internos, elevadores para mover os aviões e mesmo armamentos de defesa (afinal de contas, se precisassem de armas, era porque a defesa dos Estados Unidos já tinha ido pro saco). O que interessava era mesmo a pista, onde os pilotos podiam praticar pousos e decolagens.

Não há muito o que contar sobre a história dos dois navios, já que eles só atuavam mesmo para o treinamento de jovens pilotos da marinha americana. Mas isso não menospreza a importância dos dois "porta-aviões de água doce", como eram chamados: afinal de contas, eles contribuíram para a formação dos pilotos navais que viriam a ser fundamentais para a vitória no Pacífico contra os japoneses. Foram cerca de 18 mil pilotos que treinaram no Wolverine e no Sable, com aproximadamente 116 mil pousos e decolagens considerando as duas embarcações.

Claro que nem todos os pousos foram suaves... mas essa era a ideia do treinamento, melhor bater o avião nos testes do que no combate.

Os dois operaram até o final da guerra, em novembro de 1945. E como a grande maioria dos navios que lutaram na Segunda Guerra, o destino do Wolverine e do Sable foi virar sucata, quando foram vendidos em 1947 e 1948 respectivamente.

Apesar de serem pouco conhecidos, acho curioso em ver como que existiram navios assim que tiveram uma participação peculiar no conflito. Já disse e repito, por mais que tenham servido apenas para treinamento, o Wolverine e o Sable tiveram a sua importância para ajudar no desempenho dos Estados Unidos na guerra. Uma ideia bem ortodoxa, de construir porta-aviões improvisados em navios de passageiros, e que vale o registro. 

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