Navios de Guerra - Akagi e Kaga

E lá vamos nós com mais uma dessas postagens um pouco mais sérias, remetendo àquele tema que eu imagino que quase ninguém por aqui se interessa, mas que mesmo assim eu insisto em fazer. O que me faz pensar, tem horas que eu sinto que faço esse blog muito mais pra mim do que para os outros. Claro, não quero que os visitantes se sintam ofendidos, mas percebo como falo de coisas tão diversas, que às vezes me pergunto se o público está gostando. Mas, enfim... enquanto isso me divertir, eu continuo.

Hoje volto ao tema de navios de guerra. E faço jus ao plural, pois dessa vez falarei aqui de dois navios que tiveram histórias bem entrelaçadas, incluindo suas origens e os destinos fatídicos. Vamos conhecer um pouco dos porta-aviões japoneses Akagi e Kaga.


E eu sei... muita gente vai achar graça desse nome "Kaga", que remete ao ato de cagar. Tá bom, muito engraçado... posso continuar?

Estes eram dois dos mais importantes porta-aviões da marinha do Japão durante a Segunda Guerra. Tanto que eles representavam a 1ª Divisão de Porta-Aviões, o que provavelmente era algo muito prestigioso. Mas os dois não foram construídos originalmente como porta-aviões...

Aí é que temos uma parte bem curiosa da história do Akagi e do Kaga. Ambos foram planejados para serem navios de guerra convencionais, o primeiro um cruzador de batalha e o segundo um encouraçado.

Mas, e afinal de contas: qual é a maldita diferença?


Pois é, a definição das classes de embarcações de guerra costuma ser bem mais complexa do que temos num joguinho de Batalha Naval. Encouraçado é fácil, são aqueles navios mais fortes, com canhões fuderosos e bem blindados, que costumavam na época serem os mais importantes da esquadra. Por sua vez, os cruzadores de batalha poderiam ser considerados como encouraçados "nutella": geralmente tinham um armamento menos poderoso e blindagem mais fina, mas isso era compensado por uma maior velocidade do que os vagarosos encouraçados. Tipo, alguma coisa intermediária entre um encouraçado e um cruzador...

O Akagi fazia parte de uma série de cruzadores de batalha que sucederiam os quatro navios da classe Kongo, que estavam operacionais e cuja primeira embarcação havia sido construída pelos ingleses. Teriam cerca de 250 metros de comprimento e pesando aproximadamente 47 mil toneladas completamente carregados. Seriam navios rápidos, chegando a 30 nós (ou cerca de 56 quilômetros por hora) e carregando dez canhões de 41 centímetros em torres duplas, sendo duas na frente e três atrás. Quatro navios foram planejados, com o Akagi e o Amagi, "líder" da classe, iniciando sua construção em 1920, enquanto que os irmãos mais novos Atago e Takao "nasceram" no final de 1921. A previsão de término dos dois primeiros era para 1923 e os dois últimos em 1924.


Por sua vez o Kaga, juntamente com seu irmão Tosa, foram desenvolvidos como encouraçados posteriores à classe Nagato, até então os mais poderosos encouraçados japoneses. Curiosamente, eram menores que os cruzadores de batalha Amagi, com 230 metros de comprimento e deslocando 44 mil toneladas, mas eram dotados de blindagem mais espessa. Poderiam chegar a 26 nós de velocidade (equivalente a 50 quilômetros por hora) e tinham um armamento equivalente aos Amagis, com dez canhões de 41 centímetros em torres duplas, seguindo a mesma disposição com duas na frente e três na retaguarda. A construção dos dois começou em 1920, com previsão para terminar em 1923.


Mas aí veio o tal Tratado de Washington pra fuder com tudo...

Já falei sobre esse tratado em várias ocasiões nessas postagens sobre navios. Foi assinado em 1922 e envolveu a participação das cinco nações com as marinhas mais potentes na época: Estados Unidos, Inglaterra, Japão, Itália e França. A Alemanha ficou de fora pois como "inimigo" derrotado na Primeira Guerra, não tinha direito a ter navio de guerra nenhum. O tratado determinava alguns limites em termos de tonelagem, armamentos e quantidade de navios de guerra que cada nação poderia ter.

Estados Unidos e Inglaterra, por atuarem no Atlântico e Pacífico, tinham uma certa vantagem no acordo, podendo possuir cerca de 500 mil toneladas cada um em navios principais. O Japão podia ter cerca de 300 mil toneladas e França e Itália apenas 175 mil toneladas. Havia ainda um limite para porta-aviões, sendo 135 toneladas ao todo para americanos e ingleses, 80 mil para japoneses e 60 mil para italianos e franceses. Além disso, haviam limites por navio: couraçados e cruzadores de batalha não poderiam pesar mais que 35 mil toneladas cada um, enquanto que porta-aviões não podiam passar das 27 mil toneladas.

Isso fez com que as marinhas tivessem que se livrar de muitos navios. Algumas desmontaram os mais antigos, mas muitas delas tiveram que interromper a construção de novas embarcações, ou por excederem individualmente o limite estipulado pelo tratado, ou por fazerem a soma de tonelagem passar do autorizado para cada país.

Nem precisa dizer que os japas ficaram putos com isso...


Não apenas por eles ficarem em desvantagem em relação aos americanos e ingleses, mas por conta do tratado ter literalmente acabado com seus projetos em andamento. Incluindo os navios das classes Amagi e Kaga, que passavam do limite de 35 mil toneladas especificado pelo tratado.

Isso significava que nenhum deles iria sequer ser terminado. Acontece que no Tratado de Washington havia ainda uma cláusula peculiar sobre os porta-aviões...


Cada uma das nações tinha o direito de usar dois navios, existentes ou em construção, para conversão em porta-aviões. E para esses era autorizado um limite de tonelagem maior, podendo chegar a 33 mil toneladas cada um.

Diante dessa situação, os japoneses escolheram o Amagi e o Akagi para serem transformados em porta-aviões. Afinal, eles estavam relativamente adiantados e daria pra aproveitar muita coisa, sem falar que eles eram embarcações relativamente velozes, o que era interessante para um porta-aviões. Os navios restantes, incluindo os encouraçados Tosa e Kaga, não tinham outra escolha a não ser virarem sucata.

Aí é que aconteceu algo inusitado. Não, não foi outro tratado. Mas sim um terremoto.


Em setembro de 1923 houve um puta terremoto no Japão, que chegou até a escala 7.9 com epicentro perto de Tóquio. Morreram mais de 100 mil pessoas e o país sofreu graves danos estruturais, como mostra a foto acima. E no meio de tudo isso, estava o Amagi.

Pois é, o futuro porta-aviões acabou tendo um tremendo azar e ficou severamente danificado após o terremoto, perda total mesmo. Como os outros dois navios da classe já haviam sido cancelados há tempo, os japoneses então desistiram do Amagi e escolheram o Kaga para ser convertido em porta-aviões. Era o que dava pra ser feito, embora o antigo encouraçado fosse mais lento e pesado do que o Amagi. Mas pelo menos ele estava inteiro, e serviria bem para o propósito de ser um novo porta-aviões.

Apenas como curiosidade, o seu irmão Tosa também estava bem adiantado. Mas a menor velocidade fez com que os japoneses preferissem manter o Akagi, não faria tanta diferença que os dois porta-aviões remodelados fossem diferentes um do outro. O Tosa serviu como navio-alvo, levando tiros e torpedos até dizer chega, e depois foi afundado em algum canto.


Continuando a história, ao longo da década de 20 foram feitos os trabalhos para converter os dois navios nos futuros porta-aviões japoneses. Cabe ressaltar que os nipônicos já tinham lançado um primeiro navio desse tipo, só que bem menorzinho, chamado Hosho. Serviu como experiência para o desenvolvimento dos navios maiores, pois ele provavelmente não viria a ser muito útil em combate, algo que de fato aconteceu.


Bom, coloquei a foto dele apenas pra você ver como era o primeiro porta-aviões japonês. Resumindo, com a cara de um porta-aviões mesmo, com um convés contínuo, sua ponte de comando e suas singelas chaminés, que podiam ser viradas para o lado pra que a fumaça não atrapalhasse os pilotos.

Isso me faz questionar o que diabos os japas estavam pensando quando concluíram o Akagi e o Kaga dessa forma abaixo. A começar com o Akagi, completado em 1925...


... e esse era o Kaga, cuja construção terminou em 1928.


What the pôrra is that?

À primeira vista eles não pareciam porta-aviões. Isso porque os japoneses quiseram ser originais e inventar moda, e com isso decidiram criar embarcações que tinham três conveses... será que esse é o plural de convés mesmo? Onde está o dicionário nessas horas? Enfim... no início o Akagi e o Kaga tinham três pistas para seus aviões.


Pra que tudo isso?

Bom, temos que lembrar que na época não existiam porta-aviões, então estava todo mundo testando idéias. Por exemplo, os ingleses tinham convertido alguns antigos cruzadores de batalha também em porta-aviões e eles bolaram uma idéia peculiar, como podemos ver no navio chamado Furious abaixo (que não tem nada de Velozes e Furiosos, devia ser lento pra burro). Era como se fosse um navio normal, mas no lugar dos canhões haviam as pistas para os aviões, com a seguinte sacada: os aviões decolavam do convés na frente e pousavam no convés de trás.


Pode até fazer um pouco de sentido, mas eu sei o que você está pensando: e se o sujeito tentasse pousar e não conseguisse parar o seu avião? Ia dar com os cornos na chaminé do navio?

Acontece que a gente precisa lembrar também que na época os aviões eram bem mais lentos do que hoje. Na verdade, bem mais lentos até do que as aeronaves que vieram a combater na Segunda Guerra Mundial. Pensa que ainda nem faziam 20 anos desde que o Santos Dumont havia voado com o 14 Bis, pra você ver como que a aviação avançou tanto. Naquela época, os aviões eram bem mais simples, tipo o avião do Barão Vermelho que o Snoopy sempre enfrentava.


Assim, eu imagino que não tinha muito risco de ter um acidente desse tipo, pois as velocidades eram bem mais baixas. Só se o piloto fosse muito mané e confundisse o pedal do freio com o acelerador.

E, por favor, levem na esportiva. Sei que aqueles que conhecem de aviação devem estar tendo um treco depois de eu ter falado do avião como se fosse um carro. Liberdade poética para fazer uma piadinha, dá um tempo...

Enfim, essa era mais ou menos a idéia do design dos porta-aviões japoneses. O primeiro convés, o de cima, era o maior e destinado ao pouso dos aviões, tendo 170 metros de comprimento no Kaga e cerca de 190 metros no Akagi. Depois vinha um pequeno convés intermediário, que tinha cerca de 15 metros nos dois navios, e provavelmente só servia pra lançar aviões muito leves. Por fim, o convés inferior na ponta dos navios (com aproximadamente 55 metros de comprimento em ambos) eram também usados para a decolagem.

Curioso observar que os dois navios contavam também com dez canhões de 20 centímetros, sendo que quatro deles dispostos em torres duplas que ficavam nas laterais do convés intermediário. Os japoneses pensaram nisso como um recurso de auto-defesa, caso os porta-aviões tivessem que enfrentar navios menores que se aproximassem. Ninguém ainda tinha se dado conta de que porta-aviões geralmente não iriam navegar sozinhos e contariam com escoltas para evitar esse tipo de ataque de superfície, o que tornava tais canhões completamente inúteis.


E que só tornava esse visual ainda mais bizarro.

Detalhe que lá em cima do convés superior não são quadras de tênis, mas sim redes que eram usadas para segurar os aviões que não paravam.

Os dois começaram operações no início da década de 30, ajudando as forças japonesas em um conflito contra os chineses na região de Shanghai. Nessa época os japoneses começaram a ver como que os porta-aviões poderiam ser úteis em combate, atuando como força principal de ataque contra navios inimigos, especialmente se fossem porta-aviões também. O grande problema é que para isso dar certo, era necessário que os aviões pudessem carregar uma boa tonelagem de armas, como bombas e torpedos, além de serem mais rápidos. A aviação avançava a passos largos, e não demorou para que aviões mais potentes e com maior capacidade de carga fossem construídos.


Porém, o Akagi e o Kaga, com seu design peculiar com três pistas, não estavam preparados para esse tipo de aeronave... E assim eles voltaram para os estaleiros para serem modernizados.

O primeiro foi o Kaga, pois os japoneses consideravam que ele exigia mais trabalho, começando em 1934 e terminando no ano seguinte. E de fato o velho ex-encouraçado foi o que mais sofreu modificações, especialmente na parte de propulsão para que ele ficasse mais rápido. Conseguia chegar a 28 nós, o que não era uma Brastemp mas já ficava um pouco mais perto do Akagi. Os projetistas deixaram de lado a idéia de três pistas, e o Kaga passou a contar com um único convés de 248 metros, com uma pequena ponte de comando do lado direito. O navio em si ficou com 247 metros de comprimento e deslocava 38 mil toneladas. Em relação aos aviões, podia carregar até 90 aeronaves, contando com hangares internos para armazenamento e armamento.


Agora sim, tem a cara de um porta-aviões, não acha?

E ele não demorou para ser enviado para a ação, participando do início do conflito contra a China, em 1937. Juntamente com o Hosho, aquele porta-aviões veterano lá de cima, e o Ryujo, outro que também era pequenininho, os aviões do Kaga apoiaram as tropas em terra com bombardeios sobre os chineses.

Só pra não deixar o pobre Ryujo sem aparecer, vai aqui uma fotinho dele. Até pra mostrar que ele também tinha um design meio diferente do que se espera de um porta-aviões. Ele não tinha uma ponte de comando como os demais, ela na verdade ficava na frente do navio, embaixo de seu pequeno convés. Embora não fosse tão bizarro como eram o Akagi e o Kaga, sem dúvida era um visual meio diferente, talvez só pra chamar atenção.


Por sua vez, o Akagi ganhou seu extreme makeover em 1935. A princípio ele receberia menos modificações do que o seu "meio-irmão", mas na prática levou mais tempo para terminar tudo, apenas em 1938 é que o porta-aviões foi finalmente terminado. Da mesma forma, ele ganhou um único convés para pouso e decolagem de aviões, com 250 metros de comprimento, carregando 86 aeronaves ao todo. O Akagi deslocava cerca de 40 mil toneladas e possuía 260 metros de proa à popa. Algo curioso é que ele também recebeu uma ponte de comando, mas que foi instalada no lado esquerdo do convés, uma tendência diferente do que seria comum nos porta-aviões em geral, nos quais a estrutura ficava do lado direito (somente o Akagi e o Hiryu, também japonês, eram "canhotos"). Dizem que a idéia de trocar o lado da ponte era ver se isso ajudava nas operações com os aviões, com essa estrutura longe de sua grande chaminé.


Em 1938 o Kaga também passou por uma pequena modernização, o que aumentou ligeiramente a sua capacidade de aviões, enquanto que o Akagi o substituiu nas operações contra a China, que foram até 1940. Nessa altura a guerra já tava comendo solta na Europa, e no início de 1941 o Akagi e o Kaga foram colocados na 1ª Divisão de Porta-Aviões. Juntamente com outras duas divisões de dois porta-aviões cada, eles formavam a espinha dorsal da marinha japonesa, a chamada Kido Butai.

A primeira grande operação em que os dois operaram foi justamente o pontapé inicial da guerra, com o ataque à base americana em Pearl Harbor, sobre o qual eu já falei aqui. Levando uma porrada de aviões de todos os tipos, o Akagi e o Kaga, juntamente com outros quatro porta-aviões, causaram um puta estrago na marinha americana ancorada no porto. São os dois na foto de baixo, o Akagi (que era o líder do grupo) lá na frente, e o Kaga logo atrás, fotografados do Zuikaku, outro porta-aviões que participou do ataque. Além deles, estavam o Shokaku, irmão-gêmeo do Zuikaku, e também o Soryu e Hiryu.


Um breve parênteses: talvez alguém esteja se perguntando nesse momento de onde vinham esses nomes engraçados dos navios japoneses. E talvez se questionando por que o Akagi e o Kaga tinham nomes relativamente diferentes dos demais, todos terminados em "u". Será que tem alguma coisa a ver?

Pior que tem. Por algum motivo, os japoneses colocaram nomes de animais para os porta-aviões. O Shokaku e o Zuikaku eram baseados em pássaros chamados grous, os quais eu nunca havia ouvido falar, mas que parecem serem primos distantes de gaivotas. Zuikaku queria dizer "grou próspero", enquanto que Shokaku significava "grou crescente", o que poderia ter uma conotação meio sexual na minha opinião.


Por sua vez, o Soryu e o Hiryu tinham nomes a ver com dragões, sendo que o primeiro era o "dragão verde" e o segundo o "dragão voador". E provavelmente deve ter gente agora tendo orgasmos ao se dar conta que tem tudo a ver com o nome do Shiryu do Cavaleiros do Zodiáco, que era o cavaleiro de dragão.


Então quer dizer que o Ryu do Street Fighter tem o nome de dragão? E é por conta disso que o seu golpe Shoryuken foi traduzido como Dragon Punch?


E sim, é o Ryu descendo a porrada no Mario. Mas chega de referências a personagens de desenho e videogame... voltemos aos navios.

Quanto aos dois porta-aviões da postagem, lembre-se que eles foram construídos com base em navios de outro tipo, que seguiam uma outra lógica de nomenclatura. Cruzadores de batalha como o Akagi eram batizados com nomes de montanhas, embora essa palavra também significasse "castelo vermelho". Por sua vez, encouraçados eram nomeados em homenagem a províncias, que foi o caso do Kaga.

Pergunto: quem nascia na província de Kaga, era o quê? Kagão ou kagado?


Eu sei, piadinha bem "inesperada" essa... Vamos parar com os devaneios escatológicos e voltar para a história dos navios.

Depois do ataque a Pearl Harbor, o Akagi e o Kaga "fizeram a festa" durante o início de 1942, realizando inúmeras operações de apoio a ataques japoneses em diversas ilhas do Pacífico. Tudo correu sem problemas, já que os americanos ainda estavam se recuperando da pancada que levaram, e assim a expansão japonesa correu sem dificuldades. A não ser pelo Kaga, que literalmente fez uma cagada (com trocadilho, por favor), ao bater em um recife de coral. Isso fez com que sua velocidade caísse para 18 nós, e dessa forma ele foi escoltado de volta ao Japão para fazer reparos.


Tava demorando... Você que acompanha o site devia estar esperando que eu colocasse alguma imagem do jogo/desenho Kantai Collection. Mas, me dá uma colher de chá: fotos reais dos navios japoneses são extremamente raras, ou pelo fato deles terem perdido a guerra e muitos registros desapareceram ou na época os nipônicos não tinham ainda a fama de tirarem foto de tudo. Aí eu tenho que recorrer ao desenho das meninas-navio.

Enquanto o Kaga ia pro estaleiro, o Akagi continuou com os demais porta-aviões a fazer outras missões, dessa vez indo até o Oceano Índico, onde os japoneses atacaram forças britânicas que estavam na região do Ceilão. A supremacia dos orientais continuava, deixando destruição por onde passavam, e o Akagi contribuiu com o afundamento de um porta-aviões e dois cruzadores ingleses.


Interessante observar essa foto acima. Os japas tiveram uma idéia bizarra, que foi amarrar um monte de colchões ao redor da ponte de comando do Akagi, para assim assegurar uma maior proteção. A menos que a lã japonesa seja igual ao kevlar, eu não consigo entender como que esses colchões iam impedir uma bomba ou tiro de canhão. O que posso ter certeza é que teve um monte de marujo dormindo no chão por conta dessa idéia estúpida.

Depois de voltar ao Japão para reabastecer, o Akagi ainda tentou caçar os porta-aviões americanos que bombardearam o país, em abril de 1942. Não adiantou nada, eles só encontraram água, mas isso fez com que os orientais se organizassem para enfrentar os Estados Unidos e destruir seus porta-aviões de uma vez por todas. Uma grande operação estava sendo planejada, e que envolveria toda a esquadra principal japonesa. Essa operação resultaria na Batalha de Midway, uma pequena ilha no meio do Pacífico, e que deveria ocorrer em meados de junho daquele ano.

E ela não tem nada a ver com aquela marca de suplementos...

Cabe ressaltar que em maio eles já haviam saído no braço contra os Estados Unidos, na Batalha do Mar de Coral, da qual os japoneses saíram um pouco chamuscados. Além de terem perdido um pequeno porta-aviões leve, o Shokaku ficou seriamente danificado, enquanto que seu irmão Zuikaku sofreu grandes baixas de pilotos. Não haveria como esses dois porta-aviões participarem da próxima batalha, de forma que o Japão destacou o Akagi e o Kaga, juntamente com o Soryu e Hiryu, para o conflito em Midway.


Ao chegar próximo da ilha de Midway, os quatro porta-aviões lançaram um pesado ataque de bombardeiros, que causaram um estrago na base americana. Foram poucas baixas do lado dos nipônicos, que destruíram aviões, hangares e tudo mais que tinha naquela ilha. Mas não era a força total, pois os porta-aviões japoneses estavam com torpedeiros prontos para decolar e atacar os navios americanos. Mas seus aviões de patrulha não acharam nada.

Enquanto isso, a esquadra japonesa foi sofrendo alguns ataques picados. Tipo, uma hora apareciam alguns aviões americanos baseados em terra, que eram prontamente abatidos pelos caças que faziam a escolta, sem causar nenhum arranhão no Akagi, no Kaga ou em nenhuma das outras embarcações. Mas, por mais que esses ataques não causassem problemas, tudo isso atrasava os planos dos japas: naquele momento, o almirante liderando a força havia decidido trocar o armamento da segunda leva de aviões que eles tinham, colocando bombas em vez de torpedos, uma vez que naquela altura do campeonato eles não haviam encontrado nenhum porta-aviões norte-americano, e parecia ser melhor idéia continuar martelando a base de Midway.


Sim, as meninas-navio orelhudas do Azur Lane também vão dar o ar de sua graça aqui. Na ordem, são a Akagi, Kaga e Hiryu.

Enfim, nesse meio tempo, novos ataques de torpedeiros norte-americanos chegaram, mas não fizeram nada de mais. Porém, o fato de serem aviões da marinha fizeram os japoneses perceberem que haviam porta-aviões americanos por perto, e que estavam ao alcance, uma vez que estavam lançando aviões sobre a esquadra nipônica. Só que não deu tempo de nenhuma reação: enquanto os aviões eram preparados com munição, chegaram os bombardeiros de mergulho do Enterprise. Sim, ele mesmo, aquele porta-aviões que eu falei nessa postagem.

Praticamente todos os aviões mergulharam sobre o Kaga. O grande barato desses bombardeiros de mergulho é que eles (como o nome sugere) fazem um mergulho quase vertical para largar as suas bombas, contando com a ajuda de Isaac Newton e a gravidade pra fazer um estrago maior. Ao todo foram quatro bombas, com uma possível quinta que também possa ter atingido, sendo que quatro delas pesavam cerca de 200 quilos e teve uma criança de quase meia tonelada também.


Esse desenho aí em cima eu achei muito legal, veio deste site aqui. Ele mostra onde as bombas atingiram o Kaga. A de número 5 é a bomba mais pesada.

Os estragos foram catastróficos. Teve uma das bombas que atingiu a ponte de comando, matando o capitão e os oficiais que ali estavam. Mas o pior de tudo é que aquela bombona atravessou o convés de pouso e explodiu no hangar, onde os aviões estavam sendo armados e abastecidos. Já deu pra imaginar o tamanho da merdarama que deu... o pobre Kaga voou pelos ares, explodindo em uma enorme bola de fogo.


O curioso é que teoricamente o grupo de bombardeiros do Enterprise deveria ter se dividido, metade no Akagi e metade no Kaga. Mas, provavelmente por conta de algum engano ou falha de comunicação, a maioria deles foi pra cima do Kaga, despejando suas bombas de maneira impiedosa. Ou seja, houve uma cagada (de novo, com trocadilho, faz favor) e dessa forma apenas três bombardeiros se dirigiram ao Akagi, que tentava correr do caminho e se esconder.


O problema é que não dá pra se esconder no mar...

Aí é que são as coisas curiosas das histórias de guerra. Apenas três aviões contra um navio, as probabilidades não deviam ser muito boas para os americanos. Mesmo sem contar com quase nenhum avião de escolta, o Akagi provavelmente iria se safar dessa. Os aviões americanos, cada um com uma bombona daquelas de meia tonelada, tentaram o ataque.


Como dá pra ver na figurinha acima, dois acertaram muito perto, mas foi splash que nem errar tiro na batalha naval. E apenas um piloto acertou o alvo. Só um caboclo conseguiu jogar a sua bomba em cima do porta-aviões.

Acontece que o cara deu uma de Luke Skywalker atacando a Estrela da Morte: pois aquela única bomba foi suficiente pra selar o destino do Akagi.


Da mesma forma que no Kaga, a bomba atravessou o frágil convés e veio a detonar nos hangares internos, onde vários aviões estavam lá, recebendo combustível e munição. Tudo explodiu e incêndios começaram a se alastrar no navio, queimando tudo que havia pelo caminho.


Cabe ressaltar que outro porta-aviões, o Soryu, também foi atacado no mesmo momento, por aviões do Yorktown, outro navio americano que estava no combate. Foram três bombas grandes que o atingiram, e da mesma forma elas atravessaram o convés e explodiram os aviões, munição e combustível que estavam lá dentro.


Ele foi o primeiro a ser considerado perdido, logo depois do ataque os incêndios foram incontroláveis, e foi dada a ordem de abandonar o navio, mesma recomendação dada à tripulação do Akagi e do Kaga pouco depois.

Em questão de minutos os americanos tinham acabado com três porta-aviões japoneses. Era metade da frota que havia atacado Pearl Harbor meses antes. Como diz o ditado, "a vingança é um prato que se come frio".


Esse desenho aí está misturando Kantai Collection, com as meninas-navio japonesas estropiadas, com o Azur Lane com as que representam os porta-aviões americanos Hornet, Enterprise e Yorktown, que estavam em Midway.

Foi algo que ninguém esperava, tudo aconteceu de uma forma tão bem orquestrada que é difícil de acreditar. Passado o ataque, o Kaga e o Soryu tinham virado verdadeiras fogueiras e nada poderia ser feito para salvá-los, de forma que ordenaram que destróieres recolhessem os sobreviventes e depois torpedeassem os dois. Pode parecer bizarro, mas era prática comum uma frota mandar afundar seus próprios navios que estivessem sem condições de serem salvos, meio como fazendo o seu funeral.

O Akagi foi mais teimoso. Equipes de resgate tentaram apagar os incêndios em vão, mas o navio estava perdido também. Depois de tentarem durante toda a noite e madrugada, também foi ordenado o seu afundamento. Era o fim do Kaga e do Akagi, sendo que morreram 811 pessoas no primeiro e 267 no segundo, incluindo marinheiros, oficiais e aviadores.


Só pra não deixar o tema da batalha de Midway em aberto, os japonas ainda tinha um porta-aviões, o Hiryu, que milagrosamente conseguiu se safar. Depois dos ataque americanos era a hora de revidar, e seus aviões conseguiram causar um grande estrago no Yorktown. Porém, aí se percebeu a enorme diferença entre a qualidade dos navios americanos e japoneses, pois o gigante americano resistiu bem aos bombardeios, mesmo sendo alvejado por três bombas.


Além disso, a equipe de manutenção conseguiu conter os incêndios e fazer diversos reparos no Yorktown, deixando-o operacional de novo. Lembrando que ele já tinha tomado uma surra na batalha do Mar de Coral, e teimava em não se entregar.


Tanto que os pilotos da segunda onda de ataque do Hiryu, ao encontrarem o Yorktown algumas horas depois, achava que era outro porta-aviões, que o primeiro já tinha afundado.

Fico imaginando como que os japoneses deviam estar se achando. Provavelmente eles sabiam que haviam três navios da classe, e que um deles teria sido afundado alguns meses atrás na batalha do Mar de Coral, e o segundo fazia pouco tempo. Devia ter nego achando que só faltava um porta-aviões para acabar com as forças americanas, e nem se deram conta que o Enterprise e o Hornet estavam ilesos.

Porém, esse segundo ataque veio a causar um estrago maior, pois foram dois torpedos que acertaram a lateral do navio, fazendo com que ele inclinasse.


Aí não teve jeito. Apesar de todos os esforços, tal dano era demais e o Yorktown ficou todo estropiado. Tentaram fazer alguns reparos e mesmo rebocá-lo de volta à base, mas um submarino japonês enxerido veio terminar o serviço.

Pra fechar a conta, o Hiryu tentou mas não conseguiu se livrar do mesmo destino de seus outros três amigos. Na tarde do mesmo dia ele foi atacado por aviões do Enterprise e do Yorktown, que acertaram quatro bombas na frente do navio. Nesse caso não tinham muitos aviões, combustível e munição para causar explosões catastróficas como nos demais, mas foi o suficiente para inutilizar o navio.


O estrago foi tremendo, a ponto de abrir um rombo no convés como se o navio estivesse gritando. Os incêndios não puderam ser controlados, e mandaram evacuar o Hiryu. Da mesma forma que os outros, destróieres dispararam torpedos para afundá-lo, mas ele acabou não sucumbindo de primeira. O pior é que tinha gente ali dentro ainda, marinheiros que não foram avisados e que provavelmente foram pro fundo junto com o navio, quando ele finalmente mergulhou no dia seguinte.


Que pancada! Acho que nem o japa mais pessimista poderia imaginar que eles perderiam quatro porta-aviões de uma vez. Foi o início do declínio do avanço japonês na guerra no Pacífico, depois desse confronto ímpar no qual o Akagi e o Kaga sucumbiram.

Muito curioso como que os dois navios compartilharam tantos "feitos" ao longo de suas vidas. Ambos surgiram de forma semelhante, sendo convertidos de navios barrados pelo tratado; os dois também participaram da mesma experiência de fazer um porta-aviões com três pistas, idéia logo abolida por não ser aplicável; ambos estiveram durante boa parte do tempo combatendo juntos, com exceção do período em que o Kaga teve que consertar os danos depois de bater un recife. E eles afundaram juntos, com diferença de algumas horas, na mesma batalha.


O Akagi e o Kaga eram considerados o orgulho da esquadra japonesa, tendo liderado o ataque a Pearl Harbor. Mas ao mesmo tempo compartilharam o mesmo destino, sendo mortalmente danificados e depois afundados após a batalha de Midway. Certamente a perda deles e dos demais porta-aviões nesse combate foi decisiva para a derrota do Japão.

O interessante observar é que as principais causas deles terem afundado foi por conta de falhas de projeto, comuns ao Akagi e ao Kaga. Pra começo de conversa, o convés de vôo tinha uma blindagem muito fraquinha, tanto que as bombas atravessaram direto e vieram a explodir dentro dos navios. Soma-se a isso o fato de que os japoneses tinham o costume de abastecer e equipar seus aviões nos hangares internos. Ou seja, muito material inflamável e explosivo debaixo de um convés com pouca proteção. Além disso, não havia redundância de sistemas de incêndio, o que significa se ele falhasse, já era. Isso tornava os dois porta-aviões muito frágeis, vide o exemplo do Akagi que precisou apenas de uma bomba pra ficar inutilizado...

Enfim, sem dúvida uma história interessante dos dois maiores porta-aviões que o Japão teve.

Mas antes de ir, uma pequena curiosidade: pouco mais de meia década depois a marinha japonesa tem agora um novo navio chamado Kaga. Lançado em 2015 e entrando em serviço em 2017, o Kaga é definido como destróier de porta-helicópteros, o que na verdade seria simplesmente um porta-helicóptero mesmo. Tem o mesmo tamanho do original, com 248 metros de comprimento mas com peso carregado de 27 mil toneladas, bem mais leve que o veterano da Segunda Guerra Mundial.


Pois é, podemos dizer que a herança do antigo porta-aviões japonês afundado em Midway permanece com essa embarcação da força de auto-defesa japonesa. Só que dessa vez imagino que o Kaga não deve ter sido tão mal projetado assim, e provavelmente ele não será usado para guerra.

Pra fechar... claro que os japas fanáticos pelo Kantai Collection não deixariam passar várias referências desse novo navio em relação ao jogo. O que me surpreendeu é saber que, aparentemente durante o lançamento do navio ou em algum evento no qual ele foi aberto à visitação, a própria tripulação usou a personagem do jogo/desenho em todos os cantos.


Eu não sei se isso torna os japoneses extremamente ridículos por colocar bonequinhas de um jogo de computador em seus navios de combate ou se na verdade é uma sacada fenomenal, imaginando o quanto isso poderia atrair mais visitantes para o evento. Em todo lugar do navio, você poderia ver a personagem Kaga do Kantai Collection, logicamente trajando uma roupa mais moderna, indo desde uma simpática comparação com o porta-aviões original...


... e chegando até mesmo ao banheiro, com as instruções de como dar a descarga! É mole?


Então quer dizer que no banheiro do Kaga tem um desenho da personagem Kaga ensinando como dar descarga depois de dar uma cagada?!


Depois dessa, acho que é hora de encerrar por aqui...

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