Que Diabos é #TBT?

Eu me considero um texugo equilibrado no que diz respeito às redes sociais em geral. Uso de forma moderada, confesso que até mais para ver algumas notícias e piadas, e também para lembrar dos aniversários. Meu Facebook é aberto em média uma vez por dia, mais do que isso só se estou preso em algum lugar como esperando no médico pra ser atendido ou preso em um engarrafamento. Isso quando abro, pois não é difícil ficar alguns dias sem visitar o site do F azul. Twitter, acho uma babaquice; Instagram, uma futilidade. E o Orkut, se ainda existe, deve estar com mais teia de aranha do que a cueca do Homem-Aranha depois de atingir a puberdade.


Por conta disso, eu estou totalmente por fora das modinhas estúpidas que inventam no "Feice" ou no "Insta". Como, por exemplo, as tais das "hashtags", como eu escrevi aqui nessa postagem de seis anos atrás. Aliás, digo com orgulho que durante essa mais de meia década nunca recorri ao uso do "jogo da velha" em nada que eu escrevo, até mesmo aqui no blog. 

Sério, não tem nada que eu odeie tanto como o uso exagerado das hashtags. A pessoa vai na descrição de sua foto e escreve cinco palavras e dezessete temas precedidos do jogo da velha, sendo que metade corresponde a assuntos que são úteis, e a outra metade corresponde a baboseiras sem sentido, como um longo testamento depois da cerquilha.

Pois é... como eu sei que você não olhou o post anterior, eu digo aqui de novo. O nome do "#" não é jogo da velha e nem mesmo hashtag, esse símbolo se chama cerquilha. Agora você sabe, e saber é metade da batalha.


"O correto é cerquilha, se você fala hashtag, você não sabe nada. E não saber é nada da batalha."

E como eu sei que você não viu o post anterior, também não vai se dar conta que eu fiz a mesma piadinha dos Comandos em Ação.

Enfim... mas parece que tem algo que está me deixando mais enojado do que o singelo símbolo de cerquilha, embora ele esteja presente nessa modinha mais recente e que só agora eu decidi expressar a minha raiva por ela: o tal do #TBT.

Mas que pôrra é essa?


A sigla significa Throwback Thursday, que traduzindo seria algo como "quinta-feira do retrocesso". E se tornou viral nas redes sociais, especialmente no Instagram, em que as pessoas postam alguma foto antiga na quinta. Tipo, uma foto de quando eram crianças, ou de uma viagem realizada há alguns anos ou de uma ocasião qualquer do passado. 

E pra marcar a postagem nostálgica, coloca-se o #TBT.

Não se sabe muito bem como que a expressão surgiu. Se a Wikipedia é uma fonte confiável, dizem que o termo "Throwback Thursday" surgiu graças a um site de um desocupado que tinha uma tara por tênis, em especial aquelas lanchas exageradas que os jogadores da NBA usam. E toda a quinta esse maluco colocava a foto de um tênis velho. 


Outros atribuem as origens a uma postagem no Twitter de uma moça, que usou o termo para expressar sua nostalgia por uma música da cantora Lil' Kim... O que eu acho meio estúpido, ao considerar que Lil' Kim seja uma cantora...

E há também aqueles que consideram que a grande repercussão do #TBT veio no Instagram, depois que um carinha usou a expressão ao mostrar alguns carrinhos Hot Wheels de sua coleção.


Rápido parênteses para uma confissão: até hoje tem vezes que eu me vejo inclinado a ir numa Lojas Americanas pra comprar um carrinho Hot Wheels para colocar numa estante aqui em casa. E se você acha isso estúpido, não estou nem aí. 

Seja como for, hoje em dia é quase lei: todo mundo aguarda a chegada da quinta-feira pra postar aquela foto antiga que está perdida no celular ou numa pasta do computador, geralmente acompanhada de uma frase de efeito nostálgica. E, claro, com o #TBT obrigatório para acompanhar a multidão.

Sério, o nível de escrotidão é tanto que eu nem sei por onde começar...

As pessoas conseguiram encontrar um novo limite para a futilidade. Pois na minha opinião essa babaquice de #TBT é algo extremamente desnecessário e fútil. Pois parece que não basta postar uma foto escrota por dia, é necessário dar um destino para aquelas centenas de fotos antigas que ainda estão no telefone. Dessa forma, inventou-se essa mediocridade, de resgatar nostalgia e mostrar para os seus amiguinhos, só pra ganhar likes.


Pra mim, não passa de uma idiotice.

Eu não estou criticando aqui o sentimento de nostalgia em si. O que eu acho bom, inclusive eu mesmo me considero um texugo que olha com carinho ao passado. Vide o monte de postagens em que relembro coisas de antigamente. Na minha opinião, a vida há alguns anos atrás era mais saudável e honesta, diferente de nosso presente onde existem coisas deprimentes como o politicamente correto desenfreado, o culto à imagem exagerado e a banalidade das redes sociais.

E é bem isso que me leva a achar esse #TBT uma estupidez. Cria-se uma modinha que a maioria das pessoas segue de forma cega, só porque todo mundo está fazendo, só para ganhar curtidas e com isso se tornar popular. O sujeito não revisita o passado porque bateu aquela vontade de lembrar, ele o faz porque precisa relembrar alguma coisa para poder colocar uma postagem de #TBT. Conta mais o ato de mostrar para os outros uma lembrança de seu passado do que simplesmente recordar dessa lembrança.


Podem até dizer que algumas pessoas acabem fazendo isso. Mas o fazem de forma indireta, não é o que motiva a recordação. O objetivo no final das contas é postar na quinta-feira uma foto antiga para não ficar de fora da modinha.

Aliás, falando nisso, tenho que comentar sobre como o brasileiro em geral é uma besta. Pois tá cheio de gente que parece ter matado aquelas aulinhas básicas de inglês e sequer sabe que Thursday significa quinta-feira, ao postar a tal hashtag em outros dias da semana. Como sempre digo, brasileiro é foda, consegue passar vergonha até mesmo na hora de ficar fazendo bobagem.


Realmente a sociedade está seguindo por um caminho de grande banalidade e estupidez, em que se criam essas tendências sociais que não têm nenhum tipo de propósito. Já cansei de falar isso aqui, é como se as pessoas tivessem uma necessidade absurda de aparecer, de ir com a maré e fazer o que todos estão fazendo. Não existe mais a individualidade, o senso crítico, muita gente se torna parte de um rebanho acéfalo cujo objetivo principal é seguir as modinhas e aparecer nas redes sociais. O que se quer é ganhar um monte de joinhas ou coraçõezinhos e aumentar a quantidade de seguidores.

Coisas como o #TBT são vazias na minha opinião, não passa de uma "regra" social que as pessoas entendem que são obrigadas a seguir, mesmo não havendo nada que as obrigue de fato. Mas já virou algo quase que obrigatório, tem até site que explica tudo que deve ser feito pra fazer uma boa postagem nostálgica e ganhar mais curtidas, incluindo até mesmo dicas de frases de efeito e sugestões de memórias que são legais de postar.


Fico pensando como deve ter gente que chega na quinta-feira e pensa assim "puxa, hoje é quinta, então eu tenho que postar uma foto de #TBT"... Não, você não tem que postar uma foto de #TBT. Não precisa.

Essa necessidade patológica de compartilhar é doentia. Repito, parece que o mais importante não é a coisa em si, mas sim mostrar para os outros que se está fazendo aquela coisa. É que nem os adeptos da boa forma, em que os homens precisam compartilhar aquela foto deles erguendo pesos ou as mulheres precisam postar a manjada foto de frente ao espelho com a bunda empinada.


O mesmo vale para o #TBT. Tornou-se obrigatório mostrar para seus amigos alguma foto antiga na quinta-feira, lembrando de alguma coisa do passado. As recordações deixam de ser pessoais e passam a ser motivo para exibicionismo, para receber a aprovação dos amigos e conhecidos. Para esses boçais superficiais, o que vai tornar uma lembrança digna não é o significado dela em particular para si mesmo, mas a quantidade de curtidas e comentários que os outros vão fazer. Pois no fundo, todo mundo quer fazer um #TBT que marque, que chame a atenção, que seja aplaudido nas redes sociais.

Foi a mesma coisa quando inventaram aquela merda de "10 Year Challenge", o que aliás é praticamente a mesma coisa.


E quando envolve o Canarinho Pistola... aí não tem como ser mais escroto.

As pessoas precisam aprender que nem tudo precisa ser compartilhado. Você pode muito bem se recordar de uma boa lembrança do passado, mas isso não significa que você precise ficar restrito a ter nostalgia somente na quinta-feira, e tampouco precisa mostrar isso para os outros. Fala-se tanto de liberdade de expressão, mas o que vejo é um condicionamento à regras definidas nas redes sociais que não fazem o menor sentido...

A verdade é que as pessoas se acham muito importantes, que precisam ser vistas e admiradas por todos ao seu redor. Realização é ter centenas de seguidores, ter a curtida de vários "fãs", mesmo que seja uma pessoa totalmente irrelevante na sua vida, como a garota do cursinho de inglês que fez aula com o sujeito há anos ou o saradão que a moça fit conversou durante quinze minutos na academia por conta de suplementos. Há esse desejo em ser visto e amado por muitos, por uma legião de seguidores, e para isso é necessário acompanhar as modinhas das redes sociais como o #TBT.

Aprendam uma coisa, meus amigos: ninguém está interessado nisso.


Vamos ver qual será a próxima bobagem que vão inventar... 

Comentários

Vitorrodrigues38 disse…
Crítica social maravilhosa, concordo plenamente. Verdadeiramente, a necessidade de atenção dessa massa nas redes sociais é deprimente, essas pessoas nem devem dormir à noite se não estiverem participando de cada "modinha" existente na face da Terra.
Blog do doido disse…
Finalmente alguém pra dizer a verdade. Não se admire, daqui a pouco surge outra besteira dessas. O que eu acho pior é que sempre vem dos States, a gente nunca consegue criar uma besteira e mandar pra lá.