Mais uma de preconceito

Recentemente, logo após as eleições vencidas pela dentuça, uma notícia começou a circular pela Internet, provocando a revolta dos defensores dos "bons costumes". A estudante paulista de Direito Mayara Petruso colocou frases no Twitter e no Facebook, criticando os nordestinos pela eleição da Dilma. Entre alguns de seus comentários, ela dizia que deveriam tirar o direito de voto dos eleitores do Nordeste, que estariam sendo responsáveis por afundar o país. Ela chegou até o ponto de dizer que para fazer um favor ao estado de São Paulo, cada um deveria matar um nordestino afogado. Mais detalhes podem ser vistos aqui nesse link do IG.
Claro, não demorou para que muita gente ficasse revoltada com isso (leia-se, Viva-Rio, esquerdistas e advogados), condenando as frases racistas e preconceituosas da garota. No momento a Justiça quer processá-la, foi mandada embora de seu estágio em um escritório de advocacia e ainda está sendo alvo de uma ação promovida pela OAB que pode colocá-la na cadeia por até 5 anos. Difícil não comentar tal episódio... Mas, ao contrário da maioria que quer crucificar a garota, eu analiso essa situação sobre uma outra ótica, tentando entender como que o racismo e o preconceito são tratados nesse país. E antes que venham a me chamar de racista, em nenhum momento eu considero que ela agiu certo, sou contra qualquer tipo de preconceito sem exceção. Mas por outro lado, será que os críticos dela estão tão certos assim? A primeira coisa que penso é que houve um certo exagero por parte das pessoas e da mídia, ao enxergar tais declarações como fruto de racismo. Sim, é exatamente isso que eu disse, acho que as pessoas estão se doendo demais por uma questão bairrista que é comum no Brasil faz tempo. Afinal de contas, em nosso país continental, sempre houve esses regionalismos, são os paulistas falando mal dos cariocas e vice-versa, os gaúchos achando que são melhores que o restante do país e querendo ser independentes, e assim por diante. Se formos pensar nisso como racismo, então temos que processar também qualquer paulista que diga que carioca é tudo vagabundo que não quer saber de trabalhar, ou prender aqueles que dizem que quem nasce em Pelotas é viado... É estupidez tapar o Sol com a peneira, temos que encarar os fatos... É fato que a região Nordeste apresenta uma série de índices baixos se comparados com as regiões mais desenvolvidas do Sul e Sudeste. Consequência de um total desinteresse de nossos governantes em proporcionar desenvolvimento sustentável para a região. Em vez disso, nosso ilustre presidente prefere investir em políticas assistencialistas, como o Bolsa Família, política essa que sim, é sustentada pelos impostos que a população paga, e que só resolve o problema de pobreza e miséria de forma paliativa. É como diz aquele provérbio, "dê um peixe para o homem e você mata a fome dele de um dia; ensine ele a pescar e ele não terá mais fome a vida inteira". Só que essa pessoa vai levar tempo para aprender a pescar, isso não vai resolver o problema imediato... Aí ela ganha um peixe de graça e vê que esse é o caminho mais fácil: aqui no Brasil, a continuação do provérbio seria "pra quê aprender a pescar, se posso ganhar o peixe de graça?". O povo brasileiro em geral, seja nordestino, gaúcho, carioca ou paulista, gosta de levar vantagem, gosta das coisas fáceis. Exemplos disso são o Bolsa Família, a política de cotas raciais nas universidades... O povo quer é moleza. Isso que o governo de Lula e em breve o de Dilma vai querer, manter essas políticas populistas que são usadas para ganhar votos e assim garantir a manutenção de uma "democracia" de esquerda. Para eles, não é de interesse resolver de vez os problemas da população mais necessitada, como dos nordestinos. É muito melhor inventar um "Bolsa-qualquer-coisa", que será pago pelos elevados impostos que eu e você pagamos, para agradar o povão. É mais rápido, mais fácil e mais eficiente do que resolver a pobreza de vez. É o voto de cabresto do século XXI. Com isso retorno à questão das declarações da garota. Embora ela não tenha escolhido a melhor forma de expressar a sua opinião (que é algo que ela, eu, você e todos nós temos direito de fazer , pelo menos por enquanto), ela não está tão errada assim, pelo menos em suas motivações. Dilma ganhou os votos da classe mais pobre, não só do Nordeste mas de todo o Brasil, porque o Lula fez toda uma propaganda de dizer que com ela todos esses projetos assistencialistas como Bolsa Família seriam mantidos. Ora, não foi à toa que nosso magnânimo presidente decretou que a Dilma era a "Mãe do PAC". O povão do Brasil elegeu Dilma por essa razão, pois sabem que com ela como presidente eles continuaram tendo o governo passando a mão nas cabeças deles, dando tudo de graça às custas dos impostos da população que trabalha de fato. E não sou eu quem estou dizendo isso... Antes de me chamar de racista, experimente perguntar para o povo nordestino ou mesmo para a população mais humilde de sua cidade o porquê deles terem votado na Dilma... Pode apostar que a maioria não votou nela pois considera que ela é uma governante experiente, ou porque acredita que ela vai ser fundamental para o desenvolvimento econômico de nosso país. Essa turma votou na Dilma porque foram doutrinados a pensar que só ela vai garantir o arroz e feijão na mesa... A estudante Mayara foi muito infeliz na escolha das palavras e na sua atitude agressiva, isso é verdade, mas sua revolta contra a forma como certos eleitores mais humildes foram induzidos a votar em Dilma não é de todo absurda... E agora passa a ser considerada a grande vilã de toda a história, por causa de seu preconceito. O que me leva a falar mais uma vez nessa questão de preconceito, que em outras oportunidades eu já havia comentado, como quando o nosso ilustre presidente atacou a gente branca, loira e de olhos azuis, e também quando o jornalista Boris Casoy fez uma declaração polêmica sobre os lixeiros. E em ambas postagens, sempre levantei esse ponto, de como no final das contas o preconceito no Brasil só vale para uma parte da sociedade, apenas alguns grupos é que parecem ter o direito de se sentir ofendidos por uma declaração preconceituosa. Vamos pegar o caso da estudante Mayara: será que se ela tivesse escrito as mesmas palavras, mas tivesse direcionado seu ódio contra cariocas ou gaúchos, haveria a mesma repercussão, a mesma revolta? Duvido! Houve toda uma comoção por parte da sociedade porque ela atacou os nordestinos, se ela falasse de outras regiões não haveria tanta reclamação. A impressão que dá é que o nordestino por definição é gente de bem, e falar qualquer coisa de mal deles é uma heresia. Vou até mais longe: se ela tivesse usado as mesmas palavras mas tivesse trocado o "mate um nordestino afogado" por um "mate um americano afogado", não iria acontecer nada, e muitos dos que hoje estão xingando a garota estariam a aplaudindo... E para completar, claro que apareceram logo depois várias pessoas do Nordeste que responderam às declaracões dela na mesma moeda, dizendo que os paulistas são arrogantes, preconceituosos, que não prestam e por aí vai. E agora, cadê a Justiça e a OAB para condená-los por crime de racismo também? Cadê? Ou será que podemos aceitar que o preconceito seja combatido com mais preconceito? Ou talvez devamos apenas condenar a ação e perdoar a reação, mesmo que ela seja na mesma intensidade. Agora, combater a violência da bandidagem com violência, isso não pode, é desumano e injustificável... Não dá para entender. Essa é a realidade desse mar de lama que é o Brasil, aqui combate-se o preconceito de forma parcial, apenas quando ele afeta alguns grupos de nossa sociedade, que são tidos por definição sempre como vítimas. Por exemplo:
  • Preconceito racial contra o negro é crime inafiançável e visto como algo hediondo, mas não há problema algum em chamar um oriental de "amarelo" e "china" ou um branco de "branquelo" ou "Galak";
  • O estrangeiro (principalmente o tão odiado americano) não pode fazer piada com o brasileiro, eles não têm esse direito, mas o brasileiro pode criticar e hostilizar os "gringos" à vontade (vide o nosso ilustríssimo presidente da República);
  • Criticar o pobre, morador de rua ou de favela é inaceitável, é falta de consciência social, mas chamar alguém de "burguês imundo" só por ter uma condição financeira mais estável ou morar na Zona Sul é tido como algo normal;
  • Gays e homossexuais não podem ser vítimas de nenhum tipo de hostilidade ou preconceito, mesmo que eles agridam as outras pessoas ou cometam atentados ao pudor em plena luz do dia, como na famigerada Parada Gay;
  • Não respeitar os idosos é também tido como preconceito, mas quando os idosos não respeitam os outros, não há problema, eles podem xingar à vontade.
Enfim, esse é o nosso Brasil, uma terra "mágica" onde a "igualdade social" reina... Se você é negro, nordestino, pobre, homossexual ou idoso, terá todo mundo te protegendo e defendendo, em qualquer momento que se sentir prejudicado ou mesmo se quiser apenas levar vantagem, basta gritar que está sofrendo de preconceito que logo alguém vai passar a mão na sua cabeça e condenar seus "agressores". Agora, se você é branco, morador da região Sul ou Sudeste, de classe média, heterossexual e de idade adulta, meu amigo, você está sozinho e não pode contar com ninguém... Podem te xingar, te ameaçar ou te excluir, não vai ter ninguém para te ajudar. E não venham com essas baboseiras de que tais grupos são vítimas maiores de preconceito e por isso merecem essa maior "proteção". Como aquela quadrúpede daquela ministra pensa, achando que os negros têm o "direito" de se revoltarem e serem preconceituosos contra os brancos por causa do passado. Isso não justifica nada, não é razão para que apenas o preconceito contra eles seja tido como algo que deva ser combatido e punido. Assim é muito conveniente... Uma vez mais, não sou a favor de preconceito ou racismo... Mas eu acho absurdo que a maioria das pessoas é extremamente hipócrita de apontar o dedo para a estudante e chamá-la de racista, quando no fundo todas essas pessoas também têm algum tipo de preconceito. Diria que chega a ser preocupante, ao ver vários grupos de nossa sociedade que querem condenar a Mayara mas que se calam diante de outras demonstrações tão ou até mesmo mais preconceituosas que as pessoas têm. Por que lutar apenas contra o preconceito contra determinados grupos da sociedade, em vez de lutar contra o preconceito em todas as suas formas? Mais uma vez, são coisas que só vemos no Brasil-il-il...

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