Preconceito

Além das palavras bizonhas citadas no post anterior, nesses dias o nosso ilustríssimo e culto presidente Lula fez um comentário bem incomum e que gerou uma grande repercussão, ao dizer que a crise econômica mundial era culpa de "gente branca, loira e de olhos azuis". Diria que é mais uma daquelas frases de cultura de botequim que apenas o nosso presidente é capaz de proferir, e vai se juntar a outras pérolas como "o Obama parece baiano" ou o singelo "sifu". Aliás, taí uma boa idéia, criar um livro com essas frases do Lula, resta saber se caberia tudo num volume só ou se seria uma coleção...

Porém o objetivo de eu resgatar esse comentário infame é para falar sobre a questão do preconceito racial em nosso país. Eu pessoalmente não vejo que as pessoas são dividas em raças diferentes, fazemos todos parte de uma raça só, a humana. Eu entendo que raça é algo mais aplicável a animais: por exemplo, falando em cachorros, um São Bernardo é uma raça completamente diferente de um Chiuaua, embora todos sejam cães. Mas convenhamos que a realidade não é assim, e todos nós somos identificados por raças baseadas nas origens e principalmente na cor da pele. E esse tipo de distinção acaba levando à discriminação e ao preconceito racial. E nesse momento eu levanto a seguinte pergunta: o que você pensa quando eu falo em preconceito racial?

Se eu fizesse essa pergunta em uma praça ou estação de metrô para os transeuntes (ou se pelo menos meu blog tivesse alguma visita sequer), posso apostar que a imensa maioria iria associar esta palavra composta com a discriminação aos negros, o que é uma visão comum de nossa sociedade. Por que isso? Será que preconceito racial é só contra o negro? Afinal de contas, entendo a palavra "preconceito racial" como julgar alguém pela sua raça, independente de qual seja. Mas aqui no Brasil é de um senso comum que apenas é errado quando o negro é vítima de algum tipo de preconceito ou discriminação. Vide a quase inexistente reação de entidades e organizações defensoras da igualdade racial diante do comentário preconceituoso de nosso presidente.

Por exemplo, até algum tempo atrás existiam várias piadinhas como "preto parado na esquina é suspeito" e "preto correndo é ladrão". Piadas estúpidas, extremamente preconceituosas e racistas, sem sombra de dúvida. Afinal, julgar uma pessoa negra que corre como um ladrão apenas pela cor de sua pele é preconceito racial. Mas pergunto: e dizer que branco, loiro e de olhos azuis é culpado pela crise, o que seria isso? É correto julgar a responsabilidade de um grave problema mundial em pessoas apenas pelas cores de sua pele, cabelos e olhos? Mesmo que a intenção do Lula não tenha sido essa, ninguém fala nada, comprovando que só se considera preconceito quando a vítima é o negro. Posso apostar que se em uma entrevista o Lula falasse que a culpa era dos pretos, ia aparecer um monte de gente chiando.

Você se lembra da tal ministra Matilde Ribeiro? Ela fazia parte da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial, até ser afastada por uso indevido do cartão corporativo, e ficou famosa por declarações como "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco". É mais um exemplo de como é vista a questão do preconceito racial. Eu não ignoro a História de nosso país, e reconheço o fato de que o período escravocrata foi responsável por uma série de problemas que atingiram os negros, como a exclusão social e a pobreza. Mas não é por isso que devemos só nos atentar ao preconceito contra os negros. Principalmente porque o branco, loiro de olhos azuis de hoje não tem culpa pela escravidão do passado, ao contrário do que pensa a tal Sra. Matilde, que o negro que "foi açoitado a vida inteira não tem a obrigação de gostar de quem o açoitou". Alguém precisa avisar pra ela que a escravidão acabou, e que o negro de hoje nunca foi açoitado, tampouco pelo branco de hoje. Claro que não podemos ignorar o passado, mas também perpetuá-lo não leva a nada, e culpar os brancos de hoje é irresponsável.

E ultimamente a sociedade tem ficado cada vez mais rígida com essa questão do preconceito contra os negros (sim, apenas com eles), o que em muitos casos chega a ser um exagero. Alguns exemplos:
  • Se você pegar um livro de piadas, todos os principais personagens ainda estão lá, como o português, o louco, a bicha e o papagaio. Mas agora as piadas de negro não tem mais, pois foram vistas como racistas. Tá certo, é preconceito quando na piada tem um negro se dando mal, mas aparentemente não é quando é o Manuel quem quebra a cara...
  • Criminalmente falando, uma pessoa pode ser até presa se cometer um ato preconceituoso contra outra, sem mesmo direito à fiança. Uma vez mais, aparentemente apenas quando o negro é a vítima (lembra do jogador argentino Desábato, que foi acusado de racismo pelo Grafite?). Chamar um negro de macaco, preto sujo ou crioulo pode te colocar atrás das grades; agora será que chamar um branco de branquelo, Galak ou leite azedo teria a mesma punição? Ou chamar um japonês de amarelo ou Jaspion, um árabe de Bin Laden ou um alemão de chucrute?
  • Até nos filmes, quem diria, existe toda uma preocupação para evitar a associação da palavra negro com algo ruim, o que poderia ser entendido como uma forma de racismo. Eu sempre me acostumei em escutar nos filmes do Guerra das Estrelas sobre o "lado negro da Força", mas para evitar problemas com os afrodescendentes agora Darth Vader precisa chamar de Lado Sombrio... Pessoalmente, perdeu a graça.
Coisas assim só comprovam que aqui no Brasil nada tem o menor risco de dar certo. Até concordo que os negros são os mais prejudicados pelo racismo e acho justa a luta pela igualdade, mas é uma grande insensatez usar um discurso de luta contra o racismo para levar vantagem. Adotar uma posição de vítima é sempre mais confortável, sempre é mais fácil justificar tudo como racismo para não sair perdendo. Certa vez vi uma reportagem de um negro que acusava uma empresa de racismo, que supostamente não o havia escolhido para uma vaga de emprego por causa da cor de sua pele. Em nenhum momento ele se perguntou se o seu currículo era o melhor ou se não havia outro canditado melhor. Para esconder a sua própria incapacidade, preferiu acusar a empresa de racismo, e desta forma ele sairia "bem na fita" e como vítima a ser amparada... Imagina se a moda pega?

Isso é resultado de um problema do brasileiro em geral: ninguém quer ficar na desvantagem, e tampouco busca condições iguais, todo mundo quer mesmo é levar vantagem sobre os outros. E os negros podem usar o preconceito como desculpa para se dar bem. Como propõe a estúpida lei de cotas nas universidades, uma das maiores atrocidades que eu já escutei. Os "defensores da igualdade" reclamam de uma distribuição desigual nas universidades, e buscam uma solução que descaradamente facilita e favorece um grupo racial, uma postura "exemplar" de igualdade. Em primeiro lugar, o vestibular é um processo perfeitamente justo por ser meritocrático, passam os melhores, e não existe uma prova para brancos e outra para negros. Mas em nenhum momento as pessoas focam na real fonte do problema, não se falou em nenhum momento em melhorar as condições do ensino público fundamental, de forma que as classes sociais de menor renda, onde estão muitos negros, tenham acesso a um ensino de qualidade. Será que é tão difícil de perceber isso?

Mas além de ser um problema mais caro de resolver e com prazo de resolução muito maior que a duração dos mandatos (afinal, nenhum governante quer começar uma obra para depois outro inaugurar), melhorar o ensino colocaria todos, brancos e negros, nas mesmas condições para disputar uma vaga. Mas isso não agrada aos negros, que se sentem prejudicados pelo período de escravidão, eles querem ser compensados de alguma forma, parece até que querem se vingar dos brancos e levar vantagem sobre eles. E assim com uma rápida e barata canetada, definiu-se que a divisão deve ser meio a meio, de forma que na atual conjuntura serão comuns situações onde um branco vai tirar 7 no vestibular e não vai entrar, mas um negro que tirou 5 vai passar. E boa parte dos negros certamente não reclama disso! Claro, (ironia on) chamar isso de desigualdade é errado, essa é a mais bela justiça social... (ironia off)

Enfim, eu acho muito legal a luta contra o preconceito racial, mas ainda fico na esperança de que essa luta tenha o objetivo de estabelecer a igualdade entre todos, e não de favorecer ou compensar apenas um grupo. E honestamente, se depender dos negros, veremos a grande maioria deles querendo apenas usar o preconceito para tirar vantagem com a cor de suas peles.

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