Os outros Road Rash

Eu pensei muito se faria essa postagem, mas acabei não resistindo. Tenho que trazer assuntos mais divertidos para este blog que ainda resiste, apesar de anônimos questionarem a sua existência. Mas já disso isso uma vez, escrever aqui funciona quase como uma terapia de relaxamento, algo que me dá uma satisfação e distrai um pouco a mente. Não menosprezando as poucas mas valiosas visitas que sempre serão bem-vindas, mas o público-alvo deste site sou eu mesmo, faço isso muito por mim, para minha distração.

E um dos temas que eu curto escrever e que acredito que até chame bem a atenção é sobre os videogames. Diversões eletrônicas que fizeram parte de minha infância e adolescência, e até mesmo na vida adulta contribuem também para o meu divertimento e lazer. Tem horas que nada melhor que ligar um videogame, emulador ou jogo de computador para relaxar. E dentre os vários jogos que eu gosto, tem a sensacional série Road Rash, com suas motos velozes e porradaria desenfreada em corridas alucinantes.

Há algum tempo eu fiz uma daquelas longas postagens de review da trilogia original de Road Rash, que ainda sobrevive como uma série de jogos que jogo de vez em quando. Não pretendia continuar com as outras continuações por diversos motivos. Primeiro, eu não tinha jogado a maioria deles; e em segundo lugar, o pouco que joguei eu achei meio ruim. Mas recentemente, tendo finalmente conseguido arrumar um computador capaz de rodar os emuladores de consoles mais potentes, tentei dar uma olhada em alguns deles. Além disso, penso que também vale a pena dedicar alguns parágrafos a um outro jogo, em nada associado ao Road Rash original, mas que pode ser considerado como um "sucessor espiritual". 

Bom, acho que é o suficiente para justificar uma outra postagem. Não pretendo falar de todos os jogos e tampouco entrar no nível de profundidade que dediquei à série original, que ainda vejo como superior. Mas vale o registro de mais alguns jogos da família "Racha de Rua", como um babaca no colégio chamava.

A primeira das continuações é até relativamente antiga e da mesma época dos três títulos originais, tendo sido lançada na verdade um ano antes de Road Rash 3 no console 3DO, e que teve versões para o Mega CD, Saturn, Playstation e até mesmo para os computadores. Batizado simplesmente como Road Rash (embora alguns o conheçam como Road Rash 32), foi outro da série que eu joguei bastante e que achava legal, principalmente por manter boa parte do estilo que tornou a franquia famosa.

Em sua essência não era muito diferente do que estávamos acostumados: cinco fases com cinco pistas, chegando entre os três primeiros você se classificava para o nível seguinte, com corridas mais longas e difíceis. O objetivo era ganhar dinheiro para comprar motos novas, ao mesmo tempo que tinha que driblar a polícia pra não ser preso e ter que pagar uma multa. Sobre as duas rodas, além de acelerar era necessário se defender, na base de socos, chutes e tapas, podendo contar com as armas que existiam na época de Road Rash 2 (ou seja, o porrete ou a corrente). E não dava pra dar mole, pois bater em carros e obstáculos te fazia voar longe, tendo que depois correr de volta pra sua moto... se ela não tivesse quebrado de vez.

A mesma fórmula de sempre... o bom é que funciona.

O grande diferencial desse Road Rash era sem dúvida o visual. Por mais que o jogo ainda usasse estilos de sprites como seus antepassados, o maior poder computacional permitiu que a qualidade gráfica melhorasse de forma absurda, incluindo o uso de 3D de verdade para os cenários. Tudo bem que de vez em quando dava pra perceber algumas falhas de animação, e no momento de seu lançamento já tinham jogos aproveitando melhor a capacidade dos consoles mais novos... mas a verdade é que todos os títulos da época (especialmente os de corrida) tinham isso. Diria até que Road Rash conseguia ser bem fluido e rápido onde joguei, pelo menos essa é minha humilde opinião, que sei que não vai na linha do que muitos diziam.

E todo ese avanço gráfico não serviu apenas para gerar imagens maiores e mais bem feitas, mas também deixou o jogo mais bonito e agradável de se jogar. Por exemplo, cada um dos motoqueiros tinha suas próprias cores, o que dava uma maior sensação de se tratar de uma corrida fora-da-lei, diferente dos primeiros jogos onde todos tinham o mesmo uniforme. Os pedestres eram mais detalhados e se movimentando mais ativamente, os carros um pouco mais realistas (embora de perto fossem meio toscos), e principalmente vimos um tratamento melhor com as pistas, trazendo maior diversidade de visual e da própria estrada: não eram apenas vias de mão-dupla estreitas, nesse novo Road Rash tinham rodovias largas, com muitas pistas, como se espera na realidade.

Falando das pistas, o jogo é ambientado na California, como o título pioneiro. Além de resgatar as corridas originais em Sierra Nevada e Pacific Coast, esse Road Rash trouxe também pistas novas, com os nomes The City, The Peninsula e Napa Valley. O legal é que as pistas possuem visuais bem peculiares, incluindo trechos no meio de cidades, auto-estradas no campo e trajetos sinuosos nas montanhas. Muito curioso ver até alguns pequenos detalhes, como a pequena pista de terra no meio de uma fazendo no Napa Valley, além do fato da estrada no Pacific Coast ser de fato na costa... com o detalhe que se você ou sua moto caísse no mar, fim de corrida na hora.

Outra coisa legal que esse Road Rash trouxe é que nas pistas há algumas bifurcações, como no Out Run, dando opções de outros caminhos. No final das contas não eram caminhos distintos, simplesmente duas rotas (aparentemente com a mesma distância) que depois voltavam a convergir algumas milhas mais tarde. Mas isso dava uma sensação de variedade, sem falar que tinha sempre o caminho mais fácil e o mais complicado...

Um dos pontos que deixava a desejar, pelo menos nas versões que joguei, era a música nas pistas, que não passava de uma melodia bobinha e sem graça, longe das trilhas empolgantes dos jogos do Mega Drive. O que eu nunca entendi, pois esse novo Road Rash vinha em CD, proporcionando mais espaço em memória para armazenar coisas... e entendia menos ainda pois o jogo tinha músicas de verdade, de bandas de rock badaladas como Soundgarden, mas que só tocavam nos menus do jogo. Vai explicar...

Já estou me estendendo muito, embora esse foi o Road Rash que mais joguei, excluindo a série clássica. Ele contava com dois modos de jogo, sendo que o Trash Mode era simplesmente escolher um nível, uma pista e correr sem compromisso. Achava até legal, para aqueles momentos que você só queria uma rápida distração. Mas a modalidade principal era o Big Game Mode, que era exatamente como o modo principal de jogo dos outros Road Rashes, correndo ao longo dos níveis, ganhando dinheiro para comprar novas motos e faturar ainda mais. Mas que trazia uma sutil (e na minha opinião, chata) mudança...

Diferente dos outros jogos, onde você corria como você mesmo (ou como Player A, se estivesse com preguiça de mudar o nome), nesse Road Rash a gente tinha que escolher um dos rashers para competir. Se por um lado isso tirava um pouco da imersão da sensação de você estar "dentro do jogo", tal abordagem era até interessante em certo ponto, pois cada rasher tinha algumas características particulares, embora não fossem tão facilmente percebidas. Por exemplo, alguns eram mais ágeis nas manobras, outros davam porradas mais fortes, tinham aqueles que eram mais resistentes às pancadas e até mesmo alguns que iniciavam a competição com mais dinheiro no bolso. Sem falar que alguns deles já começavam com um porrete ou corrente, e também tinha a questão de amizade e inimizade com outros corredores: tipo, um determinado rasher começava com alguns dos outros como amigos, que dão dicas antes de corrida e não te incomodam, e outros como inimigos, que além de te xingar antes da prova seriam também agressivos e partindo para a pancadaria.

Uma coisa que eu achava escrota era que o visual dos rashers era muito caricato, como você vai ver abaixo. Confesso que dava até um certo desgosto jogar com determinados personagens, por conta de serem tão abismais. Cada um tem três versões: a expressão normal, uma mais alegre quando são seus amigos e outra com cara de ódio para os inimigos. Curiosamente, nenhum dos rashers mais importantes dos jogos originais, como Natasha, Biff e Ikira, deram as caras por aqui... assim, são apenas caras novas e alguns rashers que já conhecíamos dos jogos originais mas que não tinham destaque nem fotos. 

Axle é um velho conhecido, tendo aparecido como rasher "pequeno" nos outros três jogos, e que aqui cumpre o papel do bom piloto mas que é violento e temperamental, especialmente quando ataca com sua corrente. Sua namorada é Pearl, que fez uma pontinha no Road Rash 3. Parece ser a substituta da Natasha pois costuma ser bem amigável, mas só mesmo na personalidade pois ela parece um cruzamento de Deus-me-livre com cruz-credo. Tão horrível como Rhonda, que também marcou presença no terceiro jogo da trilogia, uma punk violenta de cabelo azul e que gosta de bater em todo mundo, além de curtir os rashers mais violentos. Slim Jim é outro que participou de um nível em Road Rash 3, um corredor até bom mas que chama mais a atenção por ser um palhaço que adora fazer bobagens, curtindo a vida adoidado.

Milwaukee Jon é outro dos corredores talentosos e relativamente boa-praça, competindo pelo prazer da velocidade e só batendo quando provocado, pilotando de forma conservadora e geralmente disputando as primeiras posições. Parecido com Bose, um negão fortão que é considerado por muitos como o protagonista do jogo, que raramente parte para a porrada e costuma ser amigável com todos, apesar se ser um dos mais fortes. Seguindo, temos Cydney que não melhora o visual feminino das rashers, uma riquinha que decidiu virar punk e que embora seja relativamente pacífica com a maioria, costuma bater de forma alucinada em certos rivais que detesta por algum motivo. Por fim, temos Teflon Mike, que é o melhor rasher do jogo, sempre muito rápido e habilidoso nas ultrapassagens, mas que não confia apenas na velocidade e costuma ser bem agressivo, especialmente se alguém estiver tomando a sua liderança.

Existem logicamente outros rashers menores, mas que não fedem nem cheiram, apesar de terem também as suas personalidades. O curioso é que cada pista tem o seu plantel de corredores coadjuvantes, em vez de serem sempre os mesmos no nível. Além disso, todos os rashers ficam durante todas as fases, sem as substituições que ocorriam nos outros jogos. 

Claro que Road Rash não estaria completo sem a polícia. Mas aqui ela perdeu muito de seu protagonismo... Os motoqueiros da lei até tem os mesmos nomes dos outros jogos, como Rourke, O'Shea, O'Leary e assim por diante, mas sem ter mais as fotos e os recados para te assustar. Como acontecia em Road Rash 2, eles também dão porrada com seus cassetetes, mas podem ser derrubados.

Já estou me dedicando muito a esse jogo... mas deixei para o final a parte mais legal desse Road Rash: os vídeos do fim da corrida.

Você deve se lembrar na minha postagem sobre a trilogia original, em que mostrei como que a partir do Road Rash 2 colocaram pequenos desenhos animados engraçados para mostrar o final da prova, dependendo do resultado. Aquilo era muito hilário, com algumas ideias bem absurdas e sensacionais (tipo, os policiais pegando o rasher pra jogar dentro do furgão, eis que ele vai embora e o rasher se estabaca no chão). Pois muito bem, pelo menos aproveitaram a mídia de maior capacidade para incluírem vídeos como esses, só que eram vídeos de verdade, com pessoas de carne e osso encenando as situações mais engraçadas. 

Tem sempre os mesmos personagens, como a loira que só quer saber do vencedor, o punk mal encarado que dá os prêmios, o pivete que rouba as peças do perdedor e um bando de figurantes. Sem falar dos vídeos da polícia, com o clássico onde o guarda joga o corredor no porta-malas do carro.

Esse era o grande diferencial desse título, algo único em todos os jogos, mesmo considerando as versões posteriores. Era legal, pois mesmo depois de explodir a moto ou de ser agarrado pelo longo braço da lei, não tinha como ficar puto, o vídeo do final da corrida (especialmente nas situações em que você se dava mal) era garantido de te fazer rir.

Algo que vale ser comentado é que a versão do Mega CD destoava bastante das demais. Por conta da conhecida menor capacidade do console, no final das contas era basicamente uma cópia do Road Rash 3, com as mesmas sprites do motoqueiro e estilo visual. O que mantiveram foram os modos de jogo, as músicas e os vídeos (embora em resolução bem menor). A única coisa que eu achei legal nessa versão é que a energia dos motoqueiros adversários aparecia colorida de acordo com sua amizade com eles, em verde, amarelo ou vermelho dependendo se eles fossem amigos, neutros ou inimigos. Mas a grande verdade é que essa versão é pouco conhecida, até pelo fato do Mega CD não ter vingado muito e esse Road Rash ter sido lançado quando consoles mais potentes já dominavam o mercado.

Foi apenas essa a outra versão de Road Rash que eu joguei nos meus tempos de pré-emulador, no computador e no Sega Saturn que um amigo tinha, mas dizem que a melhor delas foi a lançada para o 3DO.

Na sequência, muitos dos jogos da Electronic Arts começaram a migrar para o Playstation, que eu nunca tive fisicamente, apenas joguei via emulador mais recentemente. E o primeiro jogo da série a ser lançado nele foi o Road Rash 3D em 1998, usando polígonos em sua totalidade, para uma imersão tridimensional completa. 

Apesar de trazer de volta uma fórmula semelhante aos seus predecessores, a grande verdade é que esse jogo era uma boa merda. A começar pelo fato de que ele era muito mais focado na corrida, sendo praticamente impossível dar porrada nos adversários. E por mais que visualmente ele parecesse até bem bonito, o estilo simplesmente não passava a ideia de que era mesmo um Road Rash, parecia um jogo de corrida de moto genérico...

O jogo é praticamente a mesma coisa, com os mesmos modos Trash e Big Game, com a única diferença que na campanha não era escolhido um personagem. Fora isso, tudo igual, com a mesma mecânica de ganhar corridas, faturar dinheiro, comprar novas motos e ser o campeão. Road Rash 3D trouxe apenas a novidade de um modo de tempo, que permitia inclusive competição de vários jogadores, mas de forma alternada. O sensacional "mano a mano" do Mega Drive continuaria fazendo falta. 

Uma das coisas que na minha opinião caiu muito de qualidade é em relação aos personagens. Por mais que na corrida apareçam os nomes dos rashers, é apenas isso: nada de seleção de um personagem para jogar, como no Road Rash moderno, e muito menos ainda as mensagens com as fotinhos dos corredores com as quais nos acostumamos na série clássica do Mega Drive. Só existem alguns que são mencionados nas falas que aparecem antes e depois das corridas, que aparentemente substituíram as telas de mensagens.

A única coisa que tem de novo nesse aspecto, que é até um pouco interessante, é que foi adicionado o conceito de gangues. Cada uma delas possui suas próprias características, como região onde costumam correr, esconderijo e, principalmente, preferência de moto, de forma que a escolha de sua máquina determinava quem seria mais amistoso ou violento com você. Graficamente era até legal, pois as motos eram diferentes e tinham seus estilos de pilotagem distintos.

Os Kaffee Boys circulam pela zona sudeste, com base no Kaffe Koma, e provavelmente representa o estilo dos jogos anteriores, com corredores que gostam de motos de corrida e de zunir pelo tráfico, mas evitando brigas. Seus arqui-inimigos são o bando dos DeSades, que ficam na região sudoeste da cidade e se escondem no Le Deuce Café. Estes são os loucos punks, que parecem ter fugido do filme do Mad Max, com roupas de couro, piercings e cabelos coloridos, enquanto pilotam suas motos zoadas e feitas de restos de outras, sendo os mais agressivos. Outro grupo são os Techgeists, localizados na zona nordeste e que usam o Der Panzer Klub como ponto de encontro (que era inclusive o nome do lugar do outro Road Rash acima). São os metidinhos que curtem motos esportivas e caras europeias, que também se concentram mais na corrida de forma habilidosa, embora sejam geralmente meio frágeis. Por fim, temos os Dewleys, que usam o Chux Roadhouse como base na região noroeste. Pilotam somente motos americanas chopper, com suas barbas longas e estilo Harley, mostrando que são do estilo de dirigir sem muita velocidade e em grupos, embora sejam bem resistentes à porradas e não suportem o lixo europeu.

A ideia foi bem interessante, especialmente por criar diferentes grupos de rashers distintos, mas acho que foi muito mal executada. Até dá a impressão que tem os "chefes" de cada grupo que aparecem de relance nos vídeos entre as corridas, como o japa de cabelo oxigenado dos Kaffee Boys, o careca tatuado dos DeSades que parece aquele maluco do Mad Max novo e a loirinha enfezada dos Techgeists, mas é algo que passa de forma despercebida. Acho que nem nomes eles têm.

Outra novidade que até funcionou foi o estilo das pistas. Como mencionei, cada gangue costuma pilotar em uma das regiões de uma grande cidade fictícia, embora ela lembre Los Angeles ou outra metrópole da California. Diferente dos jogos anteriores, onde cada trajeto era um cenário independente, aqui há uma única cidade com pistas que de certa forma estão conectadas. Com isso, em diversos momentos você encontra cruzamentos e deve seguir por um determinado caminho para seguir na corrida. Errando a curva, nada impede que você continue; mas estará fora de rota e provavelmente terá que desistir da corrida. 

O legal é que a cidade é bem diversificada, então tem regiões de cidade, planícies, cânions e florestas. E conforme você avançava de nível, as corridas iam ficando mais longas, fazendo com que a prova passasse por mais cenários ao longo do percurso. 

Mas era um jogo que não tinha nada a ver. Não parecia ser Road Rash, sejamos sinceros... Joguei um pouco dele recentemente em emuladores, e embora tenha uma boa sensação de velocidade, parece ser mesmo um jogo de moto qualquer. Vamos deixar essa merda de lado e vamos para o próximo. Que também é uma merda.

No ano seguinte, apareceu mais um jogo da série: Road Rash 64 foi lançado para o Nintendo 64 (dããã), e confesso que esse eu sequer joguei, nem mesmo em emulador. E pelo que vi em fotos em vídeos, acho que não estou perdendo muita coisa.

O jogo é praticamente a mesma coisa do Road Rash 3D, porém adaptado para a capacidade do Nintendo 64. Se por um lado há quem diga que o jogo ficou mais ágil e com mais pancadaria, o visual muito colorido parece um desenho animado, com cenários pobres e sem muitos detalhes. 

A única coisa legal é que ele trouxe um modo de múltiplos jogadores que parece mais com o "mano a mano" dos primeiros jogos. Além de permitir até quatro jogadores simultâneos (um dos diferenciais na época do console), tinham vários modos para jogar com seus amigos. Além da corrida convencional, Road Rash 3D tinha provas em circuitos fechados com várias voltas, uma modalidade de pancadaria e até uma onde ganhava quem atropelava mais pedestres. 

Apesar de ter essa sacada legal de modos multi-jogador, eu não me empolguei muito. Talvez por ser um jogador solitário. E mesmo isso não tirava o desgosto de um visual que na minha opinião era muito escroto e destoava dos demais, mesmo do seu predecessor. Talvez pelo fato de ter sido publicado por outra produtora, e não pela Electronic Arts...

No ano seguinte chegou ao Playstation mais um jogo da série, que eu até digo que é legalzinho. Trata-se de Road Rash Jailbreak. Embora ele lembrasse um pouco o Road Rash 3D, trouxe muitas coisas novas que fizeram que ele fosse até relativamente bem avaliado pelos fãs. E eu até digo que simpatizei com esse jogo, após recentemente dar uma chance para ele no emulador, depois de algumas vezes nas quais não me dediquei tanto.

Mudaram os modos de jogo, sendo que o principal é o tal do Jailbreak, que é o modo de campanha. Em linhas gerais, continua a mesma coisa de sempre, envolvendo uma série de corridas em um nível, onde é necessário se classificar em todas elas para passar para a próxima fase, com pistas mais longas e difíceis. Mas você acaba se envolvendo com a história de dois rashers, os protagonistas do jogo. Spaz é dito como um dos melhores rashers de todos os tempos, mas que acabou sendo preso pela polícia, e seu amiguinho Punt, um anão com um capacete com chifres de veado e que tem pavio curto (com trocadilho, por favor), tenta encontrar um corredor que vai ser macho o suficiente para salvar seu chapa do xilindró.

A historinha que inventaram serve de pano de fundo para a campanha que segue a mesma premissa do Road Rash 3D, com uma série de corridas onde o objetivo é chegar nas primeiras posições. Também temos uma cidade grande, com diferentes terrenos, e as pistas são definidas em determinados trechos, com as mesmas bifurcações que podem fazer com que você perdesse o caminho. O jogo segue o padrão dos outros títulos do Playstation, com uso de polígonos para criar um ambiente tridimensional. e na minha opinião ficou um pouco mais com um estilo de Road Rash mesmo... mas ainda longe dos originais.

Uma das grandes diferentes é que Jailbreak voltou a personificar os rashers um pouco mais. Além de Spaz e Punt, que são meros coadjuvantes na história, há personagens com rosto e nome, como na série clássica. Na verdade, nesse título temos uma mescla de ideias, incorporando novamente o conceito de gangues do Road Rash 3D, a ideia de escolher um dos corredores como alter-ego, como no Road Rash 32 ou CD, e também tendo rashers que participam com você. Porém, apenas Spaz e Punt aparecem nos filminhos, que ocorrem entre as fases; todos os demais eram representados de uma forma caricata, com cabeças meio grandes, mas com um estilo mais tragável que no primeiro título da postagem.

O chato é que apenas duas gangues do Road Rash 3D permaneceram, creio que poderiam ter explorado mais. Voltam os Kaffee Boys com suas motos esportivas, e os DeSades com o visual pitoresco e motocas possantes. Cada uma disponibiliza três corredores que você pode escolher, e o legal é que cada um também tinha as suas características e armas iniciais, geralmente um mais frágil e ágil, outro mais pesadão e forte, e outro equilibrado. Dos Kaffee Boys, você pode escolher entre a baixinha Kat, o paspalho Dru e o estiloso Chops, enquanto que dos DeSades, a escolha fica entre o topetudo Switch, o mal-encarado Brick e o tosco Stacks.

Em relação aos demais corredores, cada gangue também tem três personagens principais, que são classificados com um ranking que lembra as patentes militares, em função de suas habilidades: começando com o "soldado raso" (grunt), depois o tenente e por fim o capitão e líder do grupo, são também as posições que você vai conquistando ao passar de fase. Claro que a postura deles depende muito da escolha de seu personagem, sendo amistosos se você escolher alguém de sua gangue, ou sendo agressivos caso você pilote pelo time adversário. O que não significa que um aliado não venha a bater em você, especialmente se for um dos principais defendendo seu posto ou se for algum outro que leve muitas porradas suas e uma hora decida revidar.

Na equipe dos Kaffe Boys, o peão é Jork, com uma queixada imensa e cabelo escroto, ruim de de roda e que fica se achando. Temos depois Tasha que é a tenente, e apesar do nome poder ser uma referência à Natasha da série original, essa aqui é uma cantora com cara de bunda e cabelo ruim. O líder é Helmut, também não tem nada a ver com o Helmut de Road Rash 3, um metidão risonho e que se acha o melhor. No grupo dos DeSades, o subalterno é Mongo, que apesar do tamanho é burro pra caramba e parece fazer parte de um circo de horrores. O tenente é Bull, que parece ter fugido da oficina do American Choppers e usa um penico como capacete. E o chefão é o tosco Draco, um ex-wrestler mal-encarado e violento que usa uma máscara de BDSM com zíper na boca.

Na boa, não tem como ter personagens mais escrotos que esses... e não podemos deixar de mencionar que o Draco lembra um pouco o Humungus, do Mad Max 2.

Road Rash Jailbreak trouxe várias outras novidades para a franquia. Por exemplo, acabaram com o conceito de comprar motos, em cada fase você teria como escolher dentre duas opções de acordo com a sua gangue, sempre com uma moto estilo arcade (geralmente mais fácil de pilotar porém com desempenho pior) e uma da simulação (mais desafiadora porém mais potente), trocas essas que podiam ser feita antes de cada corrida. 

O repertório de armas ficou bem extenso, incluindo ainda golpes especiais que podiam ser aplicados com determinadas combinações de botões. Além disso, armas poderiam ser conquistadas se você acumulasse pontos na corrida (ficando em boas posições ou derrubando adversários), além de roubá-las dos outros. O mesmo valia para nitros, podendo ser acumulados ao longo das corridas. Por sua vez, ficando em posições ruins ou mesmo perdendo a corrida (quebrando a moto ou sendo preso), pontos eram descontados, o que poderia tirar alguma arma. 

E foi incluída a sacada de uma "corrida final" para passar cada fase: na primeira, é apenas uma corrida com limite de tempo, na segunda fase o objetivo é alcançar o pelotão de policiais e derrubar um deles em especial, e na terceira e última fase temos o verdadeiro "jailbreak", em que você deve ajudar Spaz na fuga e levá-lo para um lugar seguro... usando uma moto com carrinho lateral.

Essa é talvez a grande novidade de Road Rash Jailbreak, com uma moto que tem uma plataforma no seu lado direito, onde vai outro maluco. Muda completamente o estilo de jogo, a começar com a pilotagem que é mais difícil: virar para à direita é mais complicado, pois o carrinho impede que você vire muito a moto; mas virar para a esquerda é um grande risco, pois a plataforma sai da pista e pode desequilibrá-lo. Muda também o combate, pois o piloto só pode bater para a esquerda, mas o carona consegue dar porradas mais fortes para o lado direito. Pena que essa modalidade de corrida só ocorre no final do jogo.

Mas Jailbreak tem vários outros modos de jogo, para compensar a campanha relativamente curta (mas não por isso mais fácil). A modalidade Five-0 é a campanha da polícia, que embora não tenha personagens para escolher e nem vídeos, é algo novo e sem dúvida legal, colocando você do lado da lei. Segue a mesma ideia de fases baseadas em três rankings, sendo que em cada uma você escolhe um dos seis corredores das duas gangues. Para vencer, ou você prende o procurado em questão ou bate a sua cota de prisões, derrubando os rashers para isso, tudo com a pressão de um relógio que vai contando o tempo que resta. Vale a mesma ideia de motos arcade e de simulação e também de armas, só que nesse caso você já começa sempre com um cassetete.

Sem dúvida era legal jogar com a polícia. Mas diria que essa modalidade tendia a ser um pouco mais difícil e frustrante... Além desses dois modos de campanha, tinha também o típico time trial, dando a chance de escolher uma pista, fase e moto, só para treinar.

E Jailbreak estava recheado também de modos para múltiplos jogadores, que era provavelmente um dos pontos fortes do jogo, caso você tivesse uma galera que curtisse Road Rash. Além do já conhecido mano-a-mano (chamado aqui de skull-to-skull), tinha uma modalidade bem legal onde um joga como um rasher e o outro como policial. Simplesmente animal, trazendo um modo competitivo bem desafiador para dois jogadores.

Além disso, tinham duas modalidades de corridas de motos com o carro lateral, de forma cooperativa para dois jogadores ou competitiva para quatro jogadores, usando um periférico especial do Playstation. O mais absurdo desse modo é que permitia manobras mais ousadas, incluindo o piloto dar uma mega freada para lançar o carona à frente como uma bala de canhão, o que servia para derrubar os adversários ou até mesmo para cruzar a linha de chegada em uma final arriscada, já que ganha o primeiro corpo que chega no final, esteja ele montado ou não em uma moto.

Por mais que eu tenha conhecido Road Rash Jailbreak há algum tempo, só recentemente eu dei uma chance à ele, e diria que é até legal. Não se compara com os originais do Mega Drive, que sempre terão um lugar de destaque na minha lista de jogos favoritos, mas esse aí até que conseguiu representar bem o estilo de jogo, trazendo boas novidades e coisas novas.

Vale comentar que Jailbreak ganhou uma versão para o portátil Game Boy Advance também. Claro que a menor capacidade do portátil resultou em um joguinho mais simples, até mesmo se comparado com as versões originais do Mega Drive. Como o Road Rash 64, o visual é demasiadamente colorido, mas pelo menos o jogo tinha uma boa sensação de velocidade.

Mas era apenas isso. Virou um joguinho de arcade, em que você corre contra outros três motoqueiros e uma sequência de pistas, incluido power-ups e dinheiro pelo caminho. Você começa com três personagens para escolher (a perua Lulu, o gordinho Tiny e o mal-encarado Ace, e ao longo do jogo você consegue liberar mais dois corredores, o asqueroso Hurl (o baixinho no meio, na tela de título) e o chefão Fat Hogie, um gordo chifrudo com uma serra-elétrica. 

Além da modalidade Wild Race, que é a corrida normal, você pode personificar o tira Marshall Eddie, onde você deve prender os corredores. Há também o modo de tempo e uma curiosa modalidade Survival. 

Já joguei um pouco dessa versão em um emulador há algum tempo. Mesmo sendo legalzinho e até divertido, é outro exemplo de um Road Rash que não tem cara de Road Rash. Pelo menos, é melhor que a versão do Nintendo 64, que na minha opinião é a mais escrota de todas.

E esses foram os outros títulos da série Road Rash. Pessoalmente, ainda prefiro a trilogia original de longe, por manter um estilo clássico e que inovou muito na época, sempre mantendo a mesma premissa e pontos que tornaram a série um diferencial. Desta postagem, apenas o Road Rash repaginado chega perto na minha opinião, com o Jailbreak do Playstation vindo em seguida com suas sacadas interessantes. Fora esses dois, os demais jogos não são grande coisa...

Como saideira, vale citar um jogo recente e que talvez possa ser considerado um sucessor do Road Rash. Em 2019 foi lançado Road Redemption, que é semelhante em muitos pontos aos jogos clássicos, com motos em alta velocidade, com muita porradaria e adrenalina em corridas alucinantes. Disponível no PC mas também com versão para celulares e no Playstation 4, eu joguei esse jogo no computador e digo que gostei, muito bom. 

Mas... também não é exatamente um Road Rash...

Começa que ele é ambientado em um mundo pós-apocalíptico bizarro. Se por um lado é até legal esse estilo Mad Max, com estradas desertas e cidades em ruínas, foge bastante do conceito de corridas fora-da-lei. Mas ele traz vários elementos que conhecemos, como as porradas, polícia e armas. Essas é que são alucinantes, pois Road Redemption inclui até armas de fogo: sem dúvida é um barato sacar uma doze nas costas de um corredor inimigo ou mesmo disparar uma granada para explodir uma viatura policial.

O jogo tem algumas outras sacadas interessantes, como o conceito de uma energia finita. O que significa que apanhar demais será game over. Outra coisa legal é o dinheiro serve para você comprar melhorias ao longo das provas, como mais resistência, recuperar energia, deixar a moto mais rápida ou mesmo munição para as armas. Para ganhar grana, não apenas a posição na corrida ajuda, mas também a quantidade de corredores que foram derrubados, com um bônus para aqueles que forem decapitados! Pura merda, isso é animal!

As corridas são bem distintas e com objetivos específicos, saindo da mesmice de correr e chegar em uma boa posição. Por exemplo, em algumas você precisa derrubar uma determinada quantidade de adversários, outras são provas de tempo, e tem também as disputas com os chefes das gangues. Sem falar que há o modo de sobrevivência, onde você corre até cair, e diversas modalidades em grupo de forma online, onde os jogadores se dividem em dois times. E Road Redemption tem uma boa motivação para o jogador seguir jogando, por conta dos diversos itens a serem desbloqueados de acordo com suas conquistas, como corredores e motos.

Por outro lado, repito: não é exatamente um Road Rash. O clima futurista inclui certas coisas doidas, como jatos que fazem a moto voar, e armas que são meio exageradas. Além disso, o fato do jogo focar em uma história pós-apocalíptica muda muito o estilo dos clássicos, que deixa claro que é um jogo diferente. Tá, faz sentido sob o ponto de vista de originalidade... Mas acho que isso não o qualifica como uma continuação de fato, mas sim um jogo que aproveita o estilo. Talvez eu faça uma postagem mais dedicada sobre ele a respeito, pois mesmo não sendo um Road Rash "raiz", é um jogo muito legal e divertido de se jogar.

E vamos ficando por aqui, muito bom fechar a série de corridas de moto alucinantes que marcaram a história dos videogames. Hora de pegar o meu emulador de Mega Drive e jogar um pouquinho da série original para matar saudades...

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