Explosão

Ando bem sumido daqui, sei disso... Esse ano tem acumulado muitas coisas em minha pessoal e profissional, e acaba que certos hobbies vão perdendo espaço na agenda. E infelizmente o site aqui foi um dos impactados. Sério, chega no domingo e estou sem gás, às vezes só com vontade de ver um filme, ler um pouco ou jogar um jogo, seja no computador ou algum de tabuleiro. Acredito que estou ficando mais preguiçoso, mas tentarei vir aqui com um pouco mais de frequência.

E também tem o fato que estamos cada vez mais caminhando para uma situação sem precedentes em nosso país (pois é, sempre tem espaço para um desabafo político). Daqui a pouco teremos assuntos que serão proibidos de ser ditos, especialmente na Internet, como vem acontecendo ultimamente. Aí, resta escrever sobre temas mais inocentes, que acredito que não trarão problema. Não apenas para evitar dores de cabeça, mas até para arejar um pouco a cabeça: afinal de contas, já bastam as desgraças promovidas por esse desgoverno, que vemos todos os dias no noticiário. Certamente é mais saudável vir aqui e falar de coisas que tragam pensamentos melhores...

Com isso, decidi apelar para a velha e boa nostalgia, para recordar de mais um jogo que muita gente curtia lá nos anos 90. A lembrança da vez é o jogo Explosão.

Mais um dos clássicos da Estrela, que está entre aqueles que voltou mais recentemente às lojas, com a difícil missão de enfrentar as diversões eletrônicas, o Explosão era mais um exemplo de joguinho que pode até parecer bobinho, mas divertia muito. Era outro que foi "importado" pela gigante de brinquedos brasileira, uma réplica do jogo Dynamite que foi lançado lá fora na mesma época. Aliás, vale o registro que a maioria das fotos aqui veio justamente da entrada do jogo gringo lá no Board Game Geek e da página do jogo na Ludopedia (que, na prática, replica um monte de coisa lá do BGG).  

O barato é que esse jogo era muito fácil de jogar. Ele tinha um tabuleiro plástico quadrado, com torres nos cantos e um acionador de dinamite no meio, igualzinho ao que a criançada via nos desenhos do Papa-Léguas. O caminho entre as torres era bem acidentado, com espaços para encaixar trechos de uma ponte, quatro em cada lado. Destinado para dois a quatro jogadores, cada um controlava um explorador, que deveria dar uma volta completa ao redor do tabuleiro. Aquele que conseguisse primeiro, seria declarado o vencedor.

Em um primeiro momento, pode parecer algo simples. O avanço do explorador se dava pela rolagem de um dado. Algumas faces vinham com um número de um a três, e essa seria a quantidade de trechos de ponte que deviam ser colocados. Se já tivesse algum pedaço da ponte na sua frente, dava pra avançar até o próximo vazio, e só a partir daí é que você construía mais um segmento da ponte. Não me lembro como que os espaços das torres eram contados (se entendi bem no jogo em inglês, você era obrigado a parar ali). E assim por diante, cada um rolando o dado e avançando pelo caminho.

Só que tinham outras faces do dado com o símbolo de uma explosão. Nessa hora, o jogador acionava o detonador no centro do tabuleiro. Sei lá como era a mecânica, mas ao apertar o detonador um sistema na base do tabuleiro fazia "explodir" uma das quatro pontes. Assim, voavam pedaços de ponte e qualquer explorador que estivesse ali em cima, que teria que voltar para a torre anterior. 

Esse é que era o ponto alto do jogo, pois o mecanismo era aleatório, sem uma sequência padrão. Qualquer ponte poderia ser destruída com isso, ou até mesmo os jogadores teriam a "sorte" da explosão ocorrer em um lado sem pontes ainda. Isso gerava um suspense, idealmente você iria mandar um de seus adversários pelos ares, mas havia sempre o risco de que a explosão fosse em sua ponte, um verdadeiro tiro saindo pela culatra. 

Isso mostra como que a garotada se divertia com coisas simples há alguns anos. Afinal de contas, Explosão era um mero jogo de sorte e azar, tanto na rolagem do dado como na hora de uma eventual explosão. Ou seja, sem nenhuma estratégia, sem a necessidade de pensar um pouco. Tipo, como em um Cara a Cara, onde você tinha que pensar qual a melhor pergunta para fazer e adivinhar o rosto certo, ou um mínimo de destreza como era o caso do Garçom Equilibrista, onde tinha que ter mão-leve e cuidado pra não derrubar a bandeja. Explosão não tinha nada disso, sendo totalmente baseado no acaso.

O que não tirava seu charme e diversão. Certamente por conta do efeito explosivo, que era muito hilário. Principalmente quando alguém bancava o Coiote e explodia a si mesmo. 

Era curioso como tinha até certas situações curiosas que aconteciam. Algo que era muito comum era ver o bonequinho voar pro alto mas acabar se agarrando em alguma ponte, algo muito comum por conta da pose do braço como se fosse um gancho. Embora isso acontecesse mais com os exploradores que estavam nas outras pontes e perdiam o equilíbrio por conta do tabuleiro tremer, me lembro de mais de uma vez que o boneco voava de uma ponte que explodia, mas acabava se salvando ao segurar em outra ponte ou em uma das torres. Eu costumava aceitar essa jogada como válida (entenda como se fosse um house rule), embora o formal seria retorná-lo para a torre correta. Sem dúvida, era um jogo bem legal.

Tudo bem que tinha o risco de ter um mau perdedor no grupo, uma coisa que prejudica em qualquer disputa. Me lembro de uma vez, quando era pequeno, estava jogando esse jogo no colégio, que um dos garotos da turma levou. E tinha um babaquinha arrogante que estava quase ganhando. Aí, quando ele jogou o dado, apareceu a explosão que foi bem debaixo do seu boneco. Ele ficou tão puto que saiu mandando ver na alavanca várias vezes seguidas, até explodir todas as outras pontes. E ainda se levantou, xingando todos os palavrões que sabia, chutando o jogo longe. Aí deu a maior merda, o dono do jogo começou a chorar, teve conversa com os pais e por aí vai.

Pois é, nada pior que um mau perdedor pra tirar a graça da brincadeira...

O interessante é que esse Explosão ainda existe hoje. Na minha opinião, fabricantes de brinquedos como a Estrela estão sem muita criatividade para criar jogos divertidos e que chamem a atenção da garotada, e aí tentam ressuscitar clássicos do passado. Virtualmente, o jogo é o mesmo, a única coisa que parece que mudou é o fato de que os bonequinhos dos exploradores foram trocados por um peão genérico, como aqueles que vemos em jogos mais convencionais.

Em tempos de impressão 3D, bem que podiam ter feito algo mais legal para representar os exploradores, né? 

Eu tive esse jogo quando criança, acho que foi daqueles que foi despachado nas costumeiras limpezas de fim de ano que tinham em casa. Por mais que fosse divertido, acho que logo enjoei dele, tinha jogos mais interessantes e que gostava mais. De qualquer forma, acho legal que ele ainda exista por aí, pois proporciona uma brincadeira mais "analógica" e longe das telas de celulares e tablets. Costumo sempre ressaltar como que a infância dos anos 80 e 90 era muito boa, com brinquedos criativos, inteligentes e divertidos que marcaram época. 

Vamos ver qual será o próximo jogo antigo que vou resgatar em minhas lembranças... Quem tiver sugestões de algum jogo do passado que vale a pena lembrar, é só colocar nos comentários.

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