Colisões de navios

Vamos lá de novo insistir com esse tema, que eu imagino que muita gente não curte, mas que insisto em escrever. Mas, como está escrito lá em cima, eu escrevo sobre os assuntos que eu gosto, é o que me motiva a dedicar um tempo livre para colocar no papel (ou melhor, na tela) algo que me interessa, e que talvez outras pessoas gostem. Claro que não dá pra agradar a todos, e se o assunto de navios de guerra não é a sua praia, fique à vontade pra fechar essa página e ir pra outro lugar.

Enfim, o assunto que eu vou falar aqui tenta ir um pouco mais na zoação, embora seja baseado em acontecimentos reais: colisões entre navios de guerra. 

Bom, neste mundo em que vivemos, que está cheio de gente politicamente correta e que se ofende com qualquer coisinha, acho que vale um comentário inicial antes que apareça alguém aqui em chamando de sádico, por estar "fazendo piada" com eventos que certamente resultaram em vítimas. Não estou celebrando isso, nem achando engraçado. Afinal de contas, era uma guerra que estava acontecendo, e não sou um ser insensível que fica dando gargalhada diante de episódios onde pessoas perderam as suas vidas. Embora ache difícil que alguém venha me criticar, sabemos que existe de tudo, e não estaria surpreso em ver alguém me chamar de monstro por estar escrevendo o que eu vou escrever. Mas, muito provavelmente as críticas quanto a minha pessoa, se vierem, provavelmente serão de indivíduos que comemoraram a facada que Bolsonaro levou e torceram para que ele morresse por conta do corona vírus...

Estou divagando... voltemos.

O que me motivou a escrever sobre esse assunto foi em parte a curiosidade histórica, ao perceber que esse tipo de acontecimento não foi tão raro assim. E o que me leva a em certo ponto achar isso absurdo (e em algumas situações até um pouco cômico) é que na minha cabeça precisa ser muito azarado e/ou ruim de timão pra bater um navio no outro. Uma batida de carro, é algo infelizmente muito comum; um choque entre dois aviões, até que tem suas probabilidades altas quando eles estão voando próximos. Mas um navio, que geralmente se move relativamente com uma menor velocidade e em um espaço imenso como o oceano... 

Eu pessoalmente acho que é algo mais fácil de se evitar, e para que duas embarcações, mesmo pequenas, consigam bater uma na outra é necessário que haja uma combinação de muitos erros e uma pitada de azar. Claro que, se por um lado os navios de guerra sejam relativamente mais lentos do que um carro de corrida ou um avião, existe toda uma questão de inércia e tempo de resposta, que são muito maiores. Tipo, para desviar um navio imenso de um obstáculo ou reduzir sua velocidade leva mais tempo. E, considerando uma situação de combate, em que muitas decisões são tomadas de forma rápida, ou mesmo em condições climáticas desfavoráveis, há mais chance de alguém fazer uma lambança. Mas, mesmo assim... eu acho que é algo muito mais difícil de acontecer. 

Independente de minha percepção estar certa ou errada, decidi pesquisar um pouco sobre casos em que houveram esse tipo de colisão, para comentar deles aqui. Infelizmente, nem todos tem fotos reais do ocorrido, mas vamos conhecer algumas dessas situações inusitadas, se concentrando em navios de combate que batalharam na 2ª Guerra Mundial.

E não dá para começar com outro que não seja o cruzador japonês Mogami, do qual eu já falei em um post exclusivo, e que foi o grande motivador desta postagem em particular. Isso porque ele provavelmente foi o navio que mais se envolveu em colisões. A mais famosa no final da Batalha de Midway, ponto de virada da guerra no Pacífico, onde o Mogami encheu os cornos no seu irmão Mikuma, após uma trapalhada desde último que virou demais.

Pois é, esse simplório cruzador japonês teve um histórico bem peculiar. A batida acima pode não ter sido causada por uma lambança do Mogami, mas é sem sombra de dúvida um dos eventos mais inusitados dos combates navais naquele conflito. Até podemos dar um certo desconto, pois tudo pode ter sido influenciado por um momento de afobação ou desespero (os quatro cruzadores estavam fazendo manobras evasivas para fugir de um submarino), e num momento como esse é até compreensível que enganos desse tipo ocorram. Pior para o Mikuma, que foi afundado depois, enquanto que o Mogami sobreviveu.

Como falei na outra postagem, o tal cruzador japonês foi muito pé-frio. Após reparos, ainda se envolveu na colisão contra um petroleiro, isso enquanto manobrava no porto. E alguns anos mais tarde, veio a se envolver em outra colisão, dessa vez sendo atingido em cheio pelo cruzador Nachi. Depois dessa pancada, o Mogami levou a pior, pois a batida fez explodir um monte de torpedos. O cruzador tentou fugir, mas foi praticamente estuprado por sucessivos ataques norte-americanos, mas teimou em não ir pro fundo. Apenas depois de ser sacrificado por um destróier japonês é que o navio azarado finalmente pôde descansar em paz.

Antes fosse o único caso de batida que ocorreu na marinha japonesa. Na mesma campanha em que o Mogami foi afundado, outro navio oriental sofreu uma colisão, e que foi fatal. Foi o destróier Shiratsuyu. 

Nomes complicados esses japoneses. Apenas como curiosidade, seu nome significa "orvalho branco", lembrando que os destróieres do Japão eram tipicamente batizados com referências a fenômenos meteorológicos, como falei nesta postagem.

No final da guerra, o Shiratsuyu estava escoltando uma frota de abastecimento composta por vários petroleiros. Provavelmente em um momento de descuido alguém no navio fez uma manobra errada e o destróier acabou colidindo contra o petroleiro Seiyo Maru (sim, esse era o nome do navio, parem de pensar bobagem, seus pervertidos). Não é difícil imagina que entre um petroleiro grande e um pequeno destróier era provável que o Shiratsuyu ia se dar mal. A porrada foi tanta que ele começou a afundar, e para piorar algumas cargas de profundidade que ele levava explodiram, aumentando ainda mais a contagem de vítimas...

Mas não pensem que apenas os japoneses batiam seus navios. Os americanos também tiveram um episódio desses, onde pelo menos os dois navios sobreviveram pra contar a história. E navios grandes, os encouraçados Indiana e Washington.

Neste episódio os navios navegavam no escuro, para não chamar atenção de submarinos japoneses. O Indiana fez uma curva bem torta e acabou cruzando na frente do Washington que vinha logo atrás. Apesar deles terem percebido o choque iminente, eram dois naviozões gigantescos que não tinha muita capacidade de manobra, de forma que o Washington acertou o Indiana em cheio. Este sofreu os danos mais severos, ficando com sua lateral toda arrebentada, levando embora a blindagem e a proteção de torpedos.

Mas o Washington também se estrepou, e seus danos foram sem dúvida visualmente mais chocantes, já que sua proa foi destruída. Imagina quase 60 metros a frente do navio terem sido simplesmente amassados depois da pancada, como se fosse massinha de modelar. 

Menos mal que ambos os navios conseguiram ir para um porto para reparos temporários, e depois retornaram ao Havaí para a reconstrução. 

Hora de ir para o outro lado do mundo, para ver alguns casos de colisões que ocorreram no conflito no Atlântico. E houveram muitos casos, mais do que no Pacífico. Começamos com o trágico destino do cruzador leve inglês Curacoa. Construído na Primeira Guerra, ele recebeu vários canhões anti-aéreos para auxiliar na escolta de comboios e outros navios que chegavam na Inglaterra.

E um dos navios que ele ia escoltar era o transatlântico Queen Mary. Quem viajou para os Estados Unidos, mais especificamente na California, deve ter visto esse navio que hoje é um museu e hotel, ancorado no porto de Long Beach. Lembrando o visual do Titanic, mas com uma chaminé a menos, foi construído para transportar passageiros entre Europa e Estados Unidos, e durante a guerra ele foi pintado todo de cinza e atuou como transporte de tropas.

Se aproximando da Inglaterra durante uma dessas viagens, o Queen Mary encontrou o Curacoa, que viria a proporcionar proteção anti-aérea na última etapa da viagem. Para evitar ataques de submarinos alemães, o gigantesco transatlântico vinha executando manobras em zigue-zague, enquanto que o cruzador vinha seguindo reto ao seu lado. Zigue pra cá, zague pra lá... e num zague muito pra lá, o Queen Mary acabou virando demais e se dirigiu na direção do pobre Curacoa, que foi literalmente cortado ao meio pela proa do grande navio.

Bizarro! Pior que o Queen Mary não pôde parar pra resgatar ninguém, pois podiam haver submarinos inimigos próximos, e mesmo com a proa arrebentada ele prosseguiu. Quanto ao Curacoa, foi para o fundo do mar.

Curioso ver como nessa questão de colisões os ingleses tiveram vários episódios "covardes" como esse, onde um navio gigantesco trombou contra um que era bem menor, que se deu mal e afundou. Como o pequeno destróier Duchess...

... que foi atingido pelo velho couraçado Barham, veterano da 1ª Guerra. No meio de uma neblina (na época não existiam radares como hoje em dia), o grande navio acertou em cheio o destróier, que emborcou e afundou, depois que suas cargas de profundidade detonaram. 

O Barham "pagou o preço" alguns anos depois, e foi afundado por um submarino alemão, explodindo pelos ares em um vídeo raríssimo, que mostra o momento em que o navio encontrou seu fim quando o paiol de munições detonou. 

Outro destróier que foi vítima de um couraçado desembestado foi o Punjabi. Enquanto escoltava um comboio, um de seus vigias imaginou ter visto uma mina, e com isso o capitão ordenou uma manobra evasiva de emergência...

... e com isso ficou bem no caminho do couraçado King George V. O grande navio cortou o pobre destróier no meio, deixando sua proa danificada. Mas este conseguiu sobreviver à guerra, pra virar sucata alguns anos mais tarde.

Curioso comentar que na época o couraçado americano Washington, no qual falei acima, estava no mesmo comboio, e vinha logo atrás do destróier, tendo que passar no meio de suas duas metades.

Ainda na Europa, outro caso de colisão relativamente bem conhecido e documentado foi protagonizado por dois cruzadores alemães. Mais uma vez, um episódio que aconteceu no meio da neblina, mostrando como a falta de visibilidade era uma causa muito frequente de choques entre navios. Um deles era o Leipzig, cruzador leve que fazia algumas operações de menor severidade como escolta e lançamento de minas.

O outro participante da lambança era bem mais conhecido, o cruzador pesado Prinz Eugen, que tinha em seu currículo a parceria com o couraçado Bismarck, em um dos combates mais famosos da Segunda Guerra, em que o orgulho da marinha alemã foi perseguido e afundado pelos ingleses.

A cagada foi homérica, exatamente no momento em que o Leipzig estava alterando seu sistema de propulsão. Pode parecer meio estranho, mas o cruzador tinha um sistema baseado em diesel e outro com turbinas a vapor, e justamente naquele momento os marujos estavam trocando a conexão dos eixos, deixando o navio à deriva e no caminho do Prinz Eugen, que vinha em alta velocidade. O Leipzig foi atingido bem no meio do casco, perto de sua chaminé, e quase foi cortado ao meio pelo Prinz Eugen. Não sei se ele reduziu a velocidade, ou se o aço alemão era mais resistente que o inglês, mas o Leipzig conseguiu resistir à pancada, e os dois navios ficaram assim juntinhos, como fotografaram.

Bom, antes que apareça algum politicamente correto pedindo a minha cabeça por conta dessa foto, eu digo: É APENAS UMA FOTO HISTÓRICA, POMBAS! Não venham aqui dizer que eu sou nazista por que tem uma suástica ali na proa do navio. Não é apologia ao nazismo, é apenas o registro de um fato que aconteceu, mostrando a colisão entre dois navios. Enfim... os dois navios ficaram engatados por um dia, quando finalmente o Prinz Eugen conseguiu se soltar. Por sorte (ou talvez graças à engenharia alemã), ambos conseguiram sobreviver ao encontrão. 

O Leipzig só recebeu alguns remendos para que pudesse flutuar no porto e foi usado como artilharia em algumas situações, até ser sucateado no fim da guerra. Quanto ao Prinz Eugen, ele ainda atuou por mais um tempo depois de ser reparado, até o ponto de ser rendido para os aliados com o fim da guerra na Europa, terminando seus dias como alvo de testes atômicos norte-americanos no Pacífico.

Pra terminar, deixei um dos casos mais inusitados em termos de colisões de navios na Segunda Guerra. Como você percebeu, todos os episódios acima envolveram embarcações de uma mesma nação, que se chocaram por conta de algum erro ou acidente. Mas tivemos também um caso bem peculiar onde navios de esquadras adversárias de chocaram. E não por acidente.

Tudo começou com o destróier britânico Glowworm, patrulhando os mares próximos da Noruega em abril de 1940, quando se deparou com dois destróieres alemães. Apesar da inferioridade numérica, o pequeno navio inglês partiu sozinho para atacar os alemães, que meteram o rabo entre as pernas e fugiram.

Acontece que eles não estavam sozinhos, e logo o cruzador Admiral Hipper, irmão do Prinz Eugen e que estava próximo, veio para ajudá-los. Logicamente que agora a vantagem para os alemães tinha ficado bem favorável, e o cruzador mandou chumbo de 8 polegadas contra o Glowworm, que foi alvejado várias vezes, e se escondeu no meio da fumaça que ele mesmo estava soltando depois de ser atingido. Torpedos foram lançados contra o cruzador, sem sucesso, e o Hipper se aproximou para acabar com ele.

Os navios estavam tão próximos um do outro, e nesse momento o capitão do Glowworm deu uma ordem que alguns consideraram como loucura, mas outros certamente viram como a ação de alguém que tem colhões: ordenou que o destróier acelerasse na direção do Hipper para dar uma porrada nele!

Claro que o ataque não foi muito efetivo, quando levamos em conta a diferença de tamanho entre os dois navios. O Admiral Hipper não sofreu danos severos, mas a pancada foi suficiente para jogar um marujo pra fora do navio, que nunca foi encontrado, além de arrebentar sua lateral e fazer com que o cruzador fosse parcialmente inundado, embora o dano tenha sido rapidamente controlado. O Glowworm, por sua vez, levou a pior, arrebentando sua proa e incendiando navio, que explodiu após ter se afastado um pouco do Hipper.


Incrível, não? Sem dúvida a tripulação do pequeno Glowworm foi bem corajosa, enfrentando um adversário muito mais forte do que ele, e mesmo em grande desvantagem tentou de tudo, se sacrificando contra o Hipper na tentativa de fazer alguma coisa. Um gesto de grande bravura do seu capitão, que recebeu postumamente uma condecoração das forças armadas britânicas, como recomendado pelo próprio capitão do Admiral Hipper, em uma carta enviada aos ingleses em que enalteceu a bravura da tripulação com quem combateu.

Por isso que eu me interesso por essas histórias de navios, pois são verdadeiras "biografias". Claro que não podemos nos esquecer dos inúmeros marinheiros que ficavam nestas embarcações, muitos deles que deram suas vidas em um dos maiores conflitos que o mundo viu. Mas sem dúvida é interessante e curioso ver como cada navio desses teve sua história, diversos acontecimentos que foram acumulados desde o momento em que quebraram a garrafa em seus cascos até quando afundaram ou foram desmontados. E é mais curioso como aconteceu de tudo, como em todos esses episódios de colisões, mostrando que nem sempre as coisas funcionam como esperamos, e o mesmo vale para couraçados, cruzadores e destróieres que duelaram há mais de setenta anos atrás. Muito legal ler sobre esses acontecimentos na minha opinião, vamos ver qual será a próxima postagem que eu vou arrumar desse tema.

Comentários

Roger disse…
Fale sobre a bizarrice da moda de harmonização facial queria saber a tua opinião