A insanidade dos bebês reborn

Eu não sei se estou ficando mais rabugento por conta da idade. Não vou dizer quanto anos tenho, mas considerando que tenho esse blog aqui desde 2009, qualquer um pode afirmar que se passaram 16 anos que todos nós acumulamos desde então. Mas eu imagino que a minha consternação e surpresa não se devem aos anos acumulados, mas sim ao perceber como que a sociedade está indo para o brejo. Sei lá, me surpreende e até me assusta ver certas coisas que estão acontecendo recentemente, conceitos absurdos e inconcebíveis como dezenas de orientações sexuais que inventam a cada semana, as pessoas de personalidade frágil incapazes de escutar uma piada ou mesmo uma crítica sem cair em prantos, a turminha de alimentação alternativa que daqui a pouco vai dizer que comer merda faz bem à saúde e o egocentrismo desenfreado de gente superficial que vive para compartilhar tudo que está fazendo nas redes sociais. 

Imaginava que não ia ter como piorar... até inventarem essa história de bebê reborn que está saindo do controle.

Para a posteridade, vale registrar primeiro do que se trata. O bebê reborn nada mais é que uma boneca hiper-realista de um bebê, geralmente recém-nascido ou de poucos meses, que as pessoas colecionam. O realismo em muitos casos chega a impressionar, usam materiais e técnicas de produção que em alguns casos fazem um boneco muito próximo da realidade, desde a textura macia da pele até os fios de cabelos. O termo "reborn" é usado no sentido de ser um "resgate das brincadeiras de criança", embora tem situações onde essas bonecas são criadas para representar um filho que morreu ainda bebê, como uma forma de lidar com o luto e manter viva a memória da criança que partiu tão cedo.

Bom, vamos por partes. Se realmente a intenção principal é resgatar o tempo de infância, eu até digo que não tem muito problema que mulheres (ou mesmo homens) queiram brincar de boneca de novo. Por mais que algumas pessoas discordem, acho válido mantermos certas coisas de nosso passado ainda vivas, revivendo memórias de tempos mais simples, como as brincadeiras de criança. Não é muito diferente de um adulto que volta a colecionar carrinhos Hot Wheels ou figuras de ação como G.I.Joe, ou mesmo de quando ligamos aquele emulador para jogar joguinhos de videogame de quando éramos mais jovens (eu mesmo faço isso). Tem até aquela questão de que muitas vezes a gente não tinha certas coisas quando crianças, e ao crescer temos condições financeiras de ter algo que a gente sempre queria. 

Pessoalmente, não vejo nada demais nisso. 

Sobre a questão de pais enlutados que buscam em um bebê reborn criar memórias do filho que morreu... é, acho que é algo bem mais complicado... É um tema mais delicado sobre o qual não posso falar muito por nunca ter tido a experiência da paternidade. Mas penso que isso já pode ser um pouco mais complicado sob o ponto de vista psicológico, creio que possa até ser algo pior para certos pais ao tentar viver uma fantasia desse tipo, personificando em uma boneca o filho ou filha que perdeu, criando uma experiência que não é real. De qualquer forma, é algo mais profundo que não é o meu objetivo falar aqui.

Na verdade, a motivação da minha postagem vai em uma outra linha, onde a moda dos bebês reborn vem ultrapassando os limites da sanidade. Onde não se trata de reviver brincadeiras de infância ou buscar apoio emocional após perder um filho, mas sim agir de forma absurda e anormal ao enxergar aquele boneco como um ser vivo.

Como o tema começou a virar modinha, e considerando que a maioria das pessoas vive para buscar afirmação e aprovação nas redes sociais, começou a aparecer gente usando esses bebês reborn de tudo quando é jeito. E para isso decidem "causar", fazem algo polêmico e que certamente vai chamar a atenção, postando no "Feice" e "Insta". Pior de tudo é que me parece que em algumas vezes isso não é motivado apenas em conquistar mais views e likes, mas se apresenta mesmo como uma demonstração de loucura, ao ver nos olhos e na expressão desses indivíduos como que eles parecem mesmo enxergar que aquela boneca é de verdade, igual a uma criança.

Já começa com a ideia de "parto" de bebê reborn...

Cara, que diabos é isso? Fazem como se fosse uma barriga transparente cheia de líquido onde colocam o boneco, com direito a cordão umbilical e tudo mais. Precisa criar toda essa experiência para ganhar o bebê reborn? Não podia simplesmente colocar numa caixa de papelão e abrir? E para quê a pôrra da máscara, cacete? É para não "passar uma doença" para o boneco? O mais absurdo é ver que toda a "cirurgia" de parto desse boneco é feita por uma médica. Coloco entre aspas pois eu quero acreditar que não se trata de uma profissional da saúde de verdade, seria realmente um absurdo imaginar que uma médica iria dedicar seu precioso tempo para fazer o "parto" de um bebê reborn, não é mesmo? 

Pois é, antes fosse somente parto. Até vacina querem aplicar em bebê reborn.

Justiça seja feita, a "mãe" estava querendo apenas simular a vacinação de seu bebê reborn para postar nas redes sociais. Mas o simples fato de achar que é normal pegar um lugar na fila para fazer um vídeo de uma boneca sendo vacinada, somando-se a isso o fato de que, diante da negativa dos agentes de saúde em atendê-la, a mulher ficou puta e reclamou... cara, só isso mostra o nível ao qual já se chegou a insanidade. O que é que passa na cabeça dessa imbecil ao achar normal a ideia de ficar numa fila para fingir que está vacinando sua boneca?

Sei que vão aparecer os chatos, tanto aqueles que se dizem puristas e "do bem" como os criadores de caso que contestam opiniões só pelo prazer de contrariar. Mas isso para mim é sinal de doença, de problemas psicológicos. Cito outro caso, onde uma mulher pegou um Uber de noite e foi para um pronto-socorro, desesperada pois sua "filha" estava tendo fortes dores. Aí foram ver que era um bebê reborn... Aí alguma alma ingênua pode se sensibilizar com a mulher, justificando que ela sofre de depressão e que o bebê lhe serve como conforto para lidar com sua condição, e que seria uma canalhice alguém como eu criticar. Sei que vai aparecer alguém dizendo isso.

Mas não pode. Ela estava errada. Não importa que ela tenha um quadro de depressão, permitir que ela crie uma percepção irreal de que aquela bebê reborn seja sua filha é algo que pode trazer mais malefícios do que benefícios. Só para citar algo concreto, pensa só a mulher desesperada pedindo pro motorista do Uber acelerar pela noite para levá-la para o hospital: imagina só o risco que os dois correram de se machucarem seriamente em um acidente de carro, só por causa dela achar que sua boneca está sentindo dores. Fico me perguntando como que o motorista deve ter se sentido ao perceber que estava fazendo papel de otário...

Já estou vendo, daqui a pouco vão inventar ambulância para bebê reborn.

Sabe o que é pior? Antes isso fosse apenas uma piada. Pois não duvido que um belo dia vão inventar isso, alguém empresário vai criar um serviço de emergência para bonecas, por mais absurda que essa ideia possa parecer.

Afinal de contas, já teve um "ixperto" que bolou a ideia de creche para bebê reborn

O melhor de tudo é a notinha no rodapé: "+ qualidade de VIDA para seu bebê reborn".

Cara, eu preciso citar algumas partes dessa matéria, sobre essa tal creche. Pois elas deixam claro o nível de absurdo do que está acontecendo. Por exemplo, logo no início falam que a creche foi tem o nome de “Hollow Head Daycare”, que traduzindo seria de fato "Creche da Cabeça Ôca"!

Tá, pelo menos no nome os caras que bolaram foram originais. E de quebra ainda conseguem se referir aos otários que devem estar pagando uma nota para matricular seus "filhos" nessa creche. Que não são poucos: segundo a reportagem, a creche "já está com todas as vagas preenchidas e uma fila de espera que jamais poderá ser atendida da Unidade 1, visto que os bebês não crescem e permanecerão lá por tempo indeterminado". 

O mais absurdo são os "serviços" que a tal creche oferece. Eu preciso muito comentar essas tosqueiras, não tem como passar batido. Os testos em itálico são da matéria, e vou colocando meus comentários na sequência.

"Ao serem matriculados, os bebês passam por uma triagem: os que mamam e fazem xixi são encaminhados para salas especiais, onde recebem seus “tetês” sob livre demanda e têm suas fraldas trocadas periodicamente."

Isso me faz pensar que se existem bebês reborn que mamam, pode apostar que deve ter muitas "mães" desses bebês que devem tentar dar leite para eles, será? Imagina só a cena ridícula, a mulher botando o peito na boca de uma boneca e querendo amamentar, vê se pode.

Nessa linha de necessidades biológicas, se tem bebê reborn que faz xixi, estou curioso para saber se tem os que cagam. Pois fazer uma boneca mijar é moleza, desde que o mundo é mundo que as meninas brincam com bonecas onde dá para encher de água e apertar algum botão para esvaziar a bexiga. Agora, para fazer cocô é mais difícil, aí eu já acho que é meio impossível...

Não, não é. Tem bebê reborn que não apenas caga, mas que até tem diarreia.

Na boa, puta merda! Eu vou ser sincero, pesquisei no Google para saber se isso existia, e fiquei aterrorizado ao ver o quanto que tem de vídeo de "papais" limpando a bunda de seus bebês reborn depois da caganeira! Não acredito. Pior de tudo é que minha curiosidade agora está a mil, pois estou perguntando como é que fazem a bosta do bebê reborn. Será que pegam uma barra de chocolate derretido e enfiam na bunda dele? Ou então precisa comprar algum produto especial (que deve ser uma fortuna" para fazer um tolete de mentirinha? Puta que pariu, pior é se for merda de verdade...

Vamos continuar um pouco mais com a descrição da matéria, pois depois dessa eu já perdi a fé na Humanidade.

"Os que têm olhinhos fechados fixos permanecem em bercinhos super confortáveis e jamais são incomodados em sua profunda “naninha”."

Repito, o sujeito que bolou essa ideia de creche reborn ou é um gênio ou um vigarista. Quanto deve ser a mensalidade para você matricular sua boneca para ficar "dormindo"?

"Os que vêm com acessórios como chupeta, pente e escova, adereços para o cabelo e roupinhas extras ficarão sob os cuidados de babás que hidratarão suas chupetas com fluídos em sabores variados, pentearão e enfeitarão seus cabelinhos e trocarão suas roupinhas para que os papais tenham verdadeiros ataques de fofura ao buscá-los no final do dia. A escolinha oferece vários aprendizados para os bebês como: nunca tentar falar, jamais levantar do berço e não chorar sob hipótese alguma, ainda que caia de cabeça."

Considerando que uma boneca dessa custa milhares de reais, quem vai chorar são os "pais" quando buscarem seus "filhos" e eles estiverem com a cabeça amassada.

Se você ainda não percebeu, aquele link que passei é de piada, onde exageraram bastante no descritivo. Mas como já dizia o poeta, "toda brincadeira tem um fundo de verdade", e eu não duvido que boa parte das atividades citadas deve ocorrer em creches de bebês reborn, que existem sim. E mesmo que não sejam atividades "escolares", são feitas pelos seus "pais". Os vídeos dos bebês cagados não são mentira, pesquise você mesmo no YouTube e verá adultos brincando de limpar a bunda cagada de bonecas. Se tem gente que acha isso normal, provavelmente iria matricular seu bebê reborn em uma creche, por mais absurda que seja a ideia.

Afinal de contas, já tem casais entrando na justiça pela guarda de sua bebê reborn.

Embora nossa "justiça" não tenha que ser levada à sério, depois de tantos exemplos de arbitrariedades e decisões absurdas e prejudiciais para a sociedade, eu fico pensando como que um advogado aceita atuar em uma causa dessas. Tudo bem que se tem duas criaturas idiotas a ponto de pagar honorários para advogados lutarem pela guarda de uma boneca, que assim seja. O que não deixa de ser ridículo, certamente tem muitos casos mais importantes do que um casal acéfalo que não percebe que basta comprar um outro bebê reborn igual e tudo se resolve. Vai sair mais barato que pagar os advogados.

Claro que muitas vezes a posse de um bebê reborn acaba sendo motivada por aqui que melhor representa o povo brasileiro: a malandragem, a vontade de ser o "ixperto" e levar vantagem. Como uma influenciadora que usou sua "criança" para pegar a file preferencial no mercado.

Tá, se lermos a reportagem é possível ver que a influenciadora fez isso de brincadeira. Mas volto a repetir, toda brincadeira tem um fundo de verdade... E em se tratando de um país cheio de gente que adora levar vantagem, não ficaria surpreso de ter "pais" ou "mães" furando fila em mercado e banco, embarcando primeiro em avião ou sentando em banco preferencial de ônibus, só por estar carregando um bebê reborn. Tanto que até tiveram que propor projeto de lei para multar quem faça isso, já imaginando o que podemos esperar do povo brasileiro. 

Pior que tem o outro lado da moeda, que é o risco de pessoas se enganarem e acharem que um bebê de verdade é um reborn. O que já aconteceu, o sujeito deve ter ficado puto, achando que a mulher estava levando vantagem, e deu um tapão na criança. 

Pode apostar que isso vai acontecer mais vezes. 

Só sei dizer que toda essa história de bebê reborn está passando dos limites. Talvez tenham alguns casos em que seja apenas uma brincadeira, mas o que parece acontecer é que tem muita gente desenvolvendo uma afeição por uma mera boneca, tratando-a como se fosse uma criança de verdade. Digo novamente que isso não é normal, uma coisa é você gostar de ter um brinquedo pela razão que for (mesmo sendo adulto); agora, achar que aquele objeto inanimado é um filho de verdade, tratando-o como se fosse um ser humano, fazendo chá de bebê e festinha de aniversário, trocando fralda e limpando cocô, dando de mamar e outras coisas que fariam sentido para uma criança... sério, não dá. Quem faz isso tem algum problema.

Como disse lá em cima, vão aparecer os pentelhos me xingando, alegando que eu estou sendo insensível e que a pessoa tem o direito de ter o seu bebê reborn e tratá-lo como filho. Tais babacas vão dizer que não tem nada demais nisso, que é lindo e maravilhoso. Mas os mesmos babacas certamente vão falar que um sujeito se casar com uma almofada de sua heroína japonesa preferida é doentio...

Eu mesmo, tenho uma conhecida minha que certa vez disse como era ridículo os marmanjos se apaixonarem por bonecas de anime ou ter travesseiros com orientais seminuas. Hoje ela exibe sua bebê reborn nas redes sociais e acha a coisa mais natural do mundo, tratando como se fosse uma filha de verdade. Fala sério. Ou você defende ou você critica ambas as situações, não pode aplaudir uma e condenar outra.

A grande verdade é que toda essa questão de bebê reborn está mesmo passando dos limites. Seja por conta das pessoas que usam isso de forma exagerada só para ganhar curtidas no "Feice" e "Insta", seja devido a pessoas realmente problemáticas que enxergam essas bonecas como filhos. Se fosse algo pontual, alguns poucos promovendo essa ideia tola e fútil, vai lá... mas está saindo do controle. Toda hora tem alguém falando disso (e sim, sei da hipocrisia por eu também estar falando sobre o assunto), e o pior de tudo: sendo algo que na maioria das vezes é aplaudido, um comportamento claramente doentio mas que é incentivado pelas redes sociais e pela mídia. 

Fico me perguntando o que será que teremos depois da febre do bebê reborn. Será que vai ter o pet reborn?

Fudeu: já tem. E tinha que ter um do irmão menos famoso mas igualmente escroto do Felipe Neto... Puta que pariu.

Era só o que faltava... vai ter gente levando seu pet reborn no veterinário para tomar vacina ou para castrar, passeando na rua para mijar no poste e no pet shop para tomar banho. Sinceramente, o mundo está ficando louco... melhor parar por aqui antes que eu fique doido diante de tanta tosqueira.

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