Me expliquem a diferença

Começo o ano de 2024 com uma postagem curta mas polêmica, mostrando que parece que eu gosto de viver fortes emoções. Afinal de contas, para começar um novo ano falando do ilustre e magnânimo ministro do STF, Alexandre de Moraes, tem que ser ou muito corajoso ou muito louco. Mas vamos lá, até porque o que eu quero comentar aqui é na verdade uma grande dúvida que eu tenho a respeito de como funcionam as leis e a justiça em nosso país, ou pelo menos como deveriam funcionar.

Às vésperas do evento em memória aos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, quando vimos a Praça dos Três Poderes em Brasília se tornar uma zona de guerra, uma notícia que repercutiu muito na imprensa e nas redes sociais foi a tal entrevista do ministro do Supremo, em que ele alegou que havia uma série de planos para matá-lo, um deles envolvendo enforcamento em praça pública. A informação foi divulgada pela Globo, a atual agência de imprensa do governo, e depois replicada de forma integral pelo consórcio dos veículos de comunicação. Logicamente que todos os jornais dando a informação da mesma forma, seguindo o mesmo enredo de chamar os acontecimentos de atos golpistas, alguns arriscando algum tipo de associação com as forças armadas e com Bolsonaro, e todos usando o mesmo discurso de que a democracia nunca esteve tão ameaçada como naquele 8 de janeiro.

Sobre esse caso, apenas acho curioso onde é que estão as provas? Ou será que basta a palavra do Alexandre de Moraes para determinar que algo é verdadeiro ou não? Baseado em que devemos acreditar incondicionalmente em qualquer coisa que ele diga? É uma pergunta sincera, talvez a toga de ministro do STF seja como o laço da Mulher Maravilha, que faz com que a pessoa diga a verdade não importa o que aconteça.

Afinal de contas, tivemos uma CPI dos atos de 8 de janeiro, que foi comandada pelo governo, direcionando o relatório contra os seguidores do Bolsonaro e a direita. Se realmente teve algum plano para assassinar o ministro, como que toda a investigação parcial promovida pela comissão não descobriu isso? Afinal de contas, isso jogaria a favor do governo e contra a oposição... Só agora isso está aparecendo? 

Bom, também não foi necessário apresentar nenhum tipo de prova para aquele caso do aeroporto, onde o mesmo ministro Alexandre de Moraes alega que ele e seu filho foram agredidos por três brasileiros. Até agora não vimos imagens que comprovem o que aconteceu, o tal vídeo que confirma a agressão ainda não veio a público para calar a boca dos céticos. Mas acho que não precisa, pois você se lembra que a Globo apresentou as evidências inquestionáveis que os "golpistas" chegaram até a dar um tapa na cara do filho do Xandão, a ponto de fazer seus óculos voarem de forma cinematográfica.

Precisa de mais prova do que isso?

Voltando ao caso do suposto plano de assassinato e enforcamento em praça pública, o que se tem de "concreto" até o momento é uma declaração do atual diretor da Polícia Federal, em que ele diz que isso veio de mensagens trocadas em redes sociais. Nenhuma outra "prova" além disso... Embora não tenha nada a ver, acho válido lembrar que este diretor é homem de confiança de Lula e já tinha trabalhado no governo Dilma, então dá pra "confiar". E mostrando que não valeu o mesmo conceito aplicado na nomeação de Bolsonaro há alguns anos, em que a proximidade do então nomeado com o presidente foi questionada. Aliás, adivinha quem é que foi responsável pela suspensão da nomeação do Ramagem, mesmo sendo a escolha do diretor da PF uma prerrogativa do presidente?

Mas isso não tem nada a ver, tá? Devia ter algo de diferente que expliquei porque lá atrás não valeu e agora sim...

Esse o principal ponto da minha postagem, pois eu sinceramente estou muito confuso sobre o que é certo e errado. Sempre pautei minha vida em agir da forma correta, em seguir as leis e regras, mas ultimamente tem sido difícil entender quando que algo é certo ou errado. E gostaria de usar a ameaça sofrida pelo Alexandre de Moraes como exemplo para que alguém me explique a diferença, quando comparamos com outras situações muito semelhantes mas que geraram uma repercussão distinta.

Vamos partir do pressuposto que falar que o Alexandre de Moraes deveria ser enforcado em praça pública é algo errado e reprovável, que merece um repúdio pleno da sociedade, que corresponde a um crime e a um atentado contra as instituições e ao estado democrático de direito. Ou seja, desejar a morte de um ministro do STF é algo abominável, inaceitável, condenável e criminoso.

Não me lembro de ter visto o mesmo repúdio quando sugeriram que Bolsonaro fosse enforcado. No máximo vi um sujeito perder a conta do Twitter depois de dizer que "o brasileiro só será livre quando o último Bolsonaro for enforcado nas tripas do último pastor da Igreja Universal", mas não teve investigação nem nenhum outro tipo de ação mais enfática contra o indivíduo. Vimos até um boneco do Bolsonaro efetivamente enforcado em uma universidade, mas não me lembro de nenhum tipo de comoção quanto a isso.

Qual a diferença? Por que devemos repudiar o desejo de enforcar o Alexandre de Moraes, mas não tem problema desejar o enforcamento do Bolsonaro? Me expliquem, por favor.

Podemos lembrar também de um certo "jornalista" (entre aspas, pois o termo não se aplica a alguém como ele), chamado Helio Schwartsman. Você deve se lembrar que ele publicou um artigo nominal em que dizia abertamente que desejava a morte do Bolsonaro. Não precisou se esconder no anonimato, mostrou seu nome e rosto para fazer essa declaração em um jornal de grande circulação, desejando a morte do presidente.

Por que isso pode? Não tem problema alguém desejar a morte de um presidente? Achava que seria algo condenável... E o que aconteceria se alguém da imprensa falasse que alguém como o Lula ou o Alexandre de Moraes prestariam na morte o serviço que foram incapazes de ofertar em vida?

Ah, já ia me esquecendo... não veremos a imprensa "profissional" promover qualquer mísera fala contrária ao ministro do STF ou ao atual presidente... Especialmente se for um veículo que faça parte do consórcio de imprensa ou da banca virtual da Mynd...

Continuando, o que podemos falar dos "ativistas" que fizeram uma demonstração "artística" em que jogavam futebol com uma cabeça decepada do Bolsonaro? Por que isso não foi considerado uma afronta, algo repugnante e inaceitável? Por que não foi considerado um ato anti-democrático?

Conforme a própria matéria indica, tentaram investigar mas o MPF arquivou, já que a "Constituição Federal garante a liberdade de expressão da atividade artística"...

Será que se algum grupo de ativistas fizer um ato em que jogam futebol com a cabeça do Alexandre de Moraes, será também considerada uma atividade artística? Será que vai valer o conceito de liberdade de expressão? Ao ver que ninguém se arrisca a cogitar essa ideia deixa a resposta bem clara...

Podemos lembrar também de outro episódio interessante, ocorrido no ano de 2022. No sábado onde tipicamente as pessoas fazem a malhação de Judas, dando porrada em bonecos pendurados na rua e nas árvores, uma procuradora do Maranhão levou a "brincadeira" a outro nível, em que fez um boneco do Bolsonaro e desferiu várias facadas, possivelmente em uma alusão ao ataque que ele sofreu na eleição de 2018 pelo Adélio. Atentado que é inclusive chamado pela esquerda de mentira...

Nenhum problema, né? É apenas malhação de Judas, não tem problema em fazer um boneco de uma autoridade como um presidente, não é? Mas é curioso que no fim de semana de Páscoa do ano passado ninguém de arriscou em fazer isso com um boneco do Lula, não é mesmo? E do Alexandre de Moraes, então... nem pensar!

Pra fechar, que tal lembrarmos de um "filme" que estavam fazendo às vésperas das últimas eleições, onde caiu na internet a gravação de uma de suas cenas, em que um personagem, em clara referência ao Bolsonaro, leva uma flechada no pescoço em um atentado sofrido em uma motociata

Talvez valia o mesmo conceito de liberdade de expressão... Foram mais além, onde a produção disse que a cena foi "tirada de contexto". Aliás, ultimamente tem-se usado muito a questão do "contexto" para justificar atos ou omissões, vide a inação das reitoras de universidades norte-americanas diante das manifestações antissemitas.

Fica a pergunta: será que existe algum contexto que permita que algum diretor faça um filme semelhante, retratando a morte de um ministro do STF? Aguardo comentários a respeito...

Enfim, trago todos esses pontos pois estamos vivendo em um momento em que uma mera mensagem na internet e nas redes sociais pode causar grandes e graves repercussões. Mais grave do que algumas mensagens mais exaltadas de gente pedindo o enforcamento do Alexandre de Moraes, foi o caso da jovem Jéssica, que se suicidou por conta de uma fake news propagada por páginas de fofoca, que fazem parte de um conglomerado comandado pela agência Mynd. Aliás, um tema que eu talvez venha a comentar por aqui. Em ambos os casos, vemos como que certas pessoas fazem um mal uso das redes sociais, promovendo discurso de ódio e mentiroso contra outras pessoas, o que traz à tona toda a questão de regulação das mídias digitais, que tanto se fala ultimamente.

Mas o meu grande questionamento é por que existe uma diferença de tratamento para alguns casos. Citei acima apenas cinco exemplos mais emblemáticos de discurso de ódio proferido contra o Bolsonaro, a maioria feito às claras, por pessoas que não se esconderam por trás do manto do anonimato. E ficou por isso mesmo, os mesmos que hoje condenam as ameaças ao Alexandre de Moraes não falaram nada a respeito, ficaram em silêncio, ou até mesmo defenderam o direito à liberdade de expressão. E o pior de tudo, ficaram também em silêncio diante do caso da Jéssica, sem sequer mencionar os responsáveis pelas mentiras que a levaram a tirar sua própria vida. É como se o suicídio dela foi uma mera fatalidade, e que Mynd, Choquei e as dezenas de páginas de fofocas não fizeram nada de errado, como se estivessem no direito de se expressar...

Ora bolas, nessas horas vale a liberdade de expressão? 

Estamos é precisando de um "manual" que diga quando que a liberdade de expressão é irrestrita e quando que ela não existe. Melhor dizendo, talvez precisemos é de um manual que indique quem é que tem esse direito e quem não tem, ou mesmo sobre quem se pode falar qualquer coisa, mesmo desejar a morte, e sobre quem não se pode falar nada. 

Bem... o bom entendedor sabe muito bem quem é que pode e quem não pode falar livremente, considerando o nosso atual momento político...

Se eu estou exagerando, gostaria que me explicassem. Falo isso seriamente, pois eu não consigo entender a diferença entre desejar que o Alexandre de Moraes seja enforcado e desejar que o Bolsonaro seja enforcado. Para mim, é a mesma coisa, mas parece que tem alguma diferença em que um dos casos é algo inaceitável que pode te colocar na cadeia e o outro é algo normal, sadio e talvez até uma coisa a ser incentivada e aplaudida. Por que isso? Por que essa diferença?

Afinal de contas, vivem dizendo que vivemos em uma democracia... E até onde eu entendo, em uma democracia a justiça e as leis são iguais para todos. A não se que tenha alguma letrinha miúda que eu não sei, que faça parte da tal "democracia relativa" citada pelo Lula, o atual mandatário "democrático" que se relaciona com países altamente "democráticos" como Irã, Cuba e Venezuela.

Enfim... passei os quatro anos do governo Bolsonaro escutando que vivíamos em uma ditadura, e que em 2023 a democracia voltou. Como dizem, para saber se você vive em uma ditadura ou não basta ver se você pode falar qualquer coisa a respeito de alguém: se tem uma pessoa sobre a qual você não pode falar nada, alguém que não pode ser alvo de críticas e ofensas sob o risco de ser caçado pela "justiça", provavelmente esse é o verdadeiro ditador...

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