"Liberdade de Expressão"

São tempos bem estranhos mesmo... Queria escrever aqui sobre certos temas mais amenos e divertidos, tenho até algumas postagens prontas para colocar no ar, mas infelizmente a realidade e as notícias atuais acabam sempre interferindo, e me vejo na obrigação de exercer o meu direito de expressar minha opinião, enquanto ainda posso. Pois são tempos muito estranhos em nossa "democracia", em que vimos a liberdade de expressão ser mais uma vez atacada...

O dia 22 de outubro de 2021 ficará marcado em nossa História como o dia em que vimos um meio de comunicação ser anulado, destruído por completo, depois de uma decisão da Policial Federal que teve o "dedo" do ilustríssimo ministro da foto acima. Neste dia, o Terça Livre, maior portal conservador de jornalismo do Brasil (provavelmente de todo hemisfério sul) encerrou as suas atividades. Foi o ato final de uma semana onde vimos também o ministro Alexandre de Moraes pedir a prisão e extradição do jornalista Allan dos Santos, um dos fundadores do portal, e que hoje se encontra nos Estados Unidos. Chegou-se ao ponto da solicitação de que ele fosse incluído da lista de Difusão Vermelha da Interpol, o que possibilitaria a sua prisão mesmo fora do território nacional, algo reservado a criminosos de alta periculosidade. 

O pedido de prisão veio depois que o canal do YouTube do Terça Live teve o seu acesso desabilitado em território nacional, a mando do Alexandre de Moraes, fazem algumas semanas. Poucos dias depois, os direitos de transmissão de seus principais programas (três diários durante a semana e um no domingo) foram cedidos a um outro site, de nome Artigo 220, em referência ao item de nossa Constituição que fala a respeito da liberdade de expressão:

"A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição."

Nesta sexta-feira, atendendo às exigências do ministro Alexandre de Moraes, a conta do YouTube do Artigo 220 também foi bloqueada para brasileiros, isso algumas horas antes do programa noturno. Isso depois de seu perfil no Twitter ter sido também bloqueado, como já havia acontecido com as contas do Terça Livre e do Allan dos Santos. Mais tarde, foi feito o anúncio do encerramento das atividades do portal.

Alguém poderia "romatinzar" e dizer que o Supremo Tribunal Federal, que tem como função primordial defender a Constituição, cancelou o Artigo 220, ao se referir ao canal bloqueado. Como dizem, toda brincadeira tem um fundo de verdade... seria irônico se não fosse trágico.

Começo fazendo um breve relato da minha experiência pessoal. Acompanho o Terça Livre tem quase dois anos, passei a conhecer o portal conservador após ver muitas críticas negativas que eram feitas pela grande imprensa ao Allan dos Santos, a quem sempre se referem como "blogueiro bolsonarista". E sou alguém que costuma formar uma primeira impressão a respeito de algo quando vejo quem são os seus detratores: se Globo, Folha de São Paulo, UOL e outros meios de comunicação "tradicionais" só falavam coisas negativas a respeito do Terça Livre, provavelmente queria dizer que era algo bom. Comecei a assistir os vídeos, e gostei muito. 

Não apenas por ser uma mudança de ares muito bem-vinda no que diz respeito à sua posição ideológica, voltada aos valores conservadores com os quais eu me identifico, diferente da "velha imprensa" que adora uma pauta politicamente correta e progressista (tipo linguagem neutra), e também, desde as últimas eleições, se dedica a falar mal do Bolsonaro 24/7, por qualquer coisinha irrelevante. Mas um dos pontos que me chamava a atenção no TL era que via fatos que normalmente eram ignorados pelos demais meios de comunicação, ou relegados a uma mera notinha de rodapé que passava despercebida. Pelo Terça Livre eu ficava sabendo de altas canalhices que ocorriam pelo Brasil, com decisões criminosas de certos políticos, que eram esquecidas (convenientemente esquecidas, diga-se de passagem) pela "grande imprensa", que estava mais preocupada em condenar o Bolsonaro por comer cachorro-quente sem máscara. Com a chegada da pandemia do vírus chinês, onde vimos uma guerra de narrativas sem precedentes que foi promovida pela Globo, IstoÉ e afins, ficou claro que seria muito mais fácil encontrar informação de qualidade nos boletins da manhã e da noite do Terça Livre, apresentados pela competente equipe do canal.

Faço questão de enfatizar que em muitas oportunidades as notícias comentadas eram apresentadas de forma clara e aberta, as análises feitas de forma mais detalhada e demonstrando uma evolução do conhecimento. Tantas foram as oportunidades onde escutava o Allan dizendo "não acredite em mim, você pode ir no site XYZ, e consulte você mesmo". Ou seja, em vez de tentar enfiar a interpretação particular e parcial dos fatos no espectador, como o Bonner faz no Jornal Nacional, no TL eram apresentados os meios para que cada um aqui do outro lado da tela pudesse buscar as informações, vê-las com seus próprios olhos e chegar às suas conclusões. As explicações didáticas certamente eram consequência da origem do Terça Livre, focada em ensino, como podia ser visto nas dezenas de cursos disponíveis em sua página de assinantes, focados nos mais diversos temas, desde História do Brasil até idiomas.

Tudo isso sem receber dinheiro governamental, sem nenhuma verba proveniente de incentivos federais, estaduais ou municipais, sendo mantidos apenas com a venda de seus cursos e produtos. Diferente da "grande mídia", que precisa agradar aos interesses de seus patrocinadores e que conta com verba das comunicações. Uma verba que era muito mais gorda na época em que o partido da estrelinha vermelha estava no poder... certamente um dos motivos que leva esses meios de comunicação se oporem tanto ao Bolsonaro, que "fechou a torneira" deles.

Assim, era de se esperar que uma imprensa comprometida com a verdade, que não depende de verba pública e que promove valores conservadores que são seguidos pela maioria da população, viria a incomodar muito a "velha imprensa" progressista e politicamente correta. Especialmente ao ver que o Terça Livre estava conquistando uma grande audiência, sempre liderando na primeira posição de lives do YouTube, consideravelmente à frente de outros meios de comunicação mais badalados como CNN e Record. Vide o ranking de lives no YouTube na noite do dia 21 de outubro, em que a página do Artigo 220 contava com um público ao vivo mais de três vezes maior que o segundo colocado,

Destacando que ter uma vasta audiência no YouTube é, na minha opinião, mais expressivo do que a audiência da televisão, geralmente liderada pela Globo. Pois um vídeo do YouTube é algo que o espectador precisa acessar,  é necessária a iniciativa e o interesse da pessoa em entrar no link e assistir. Diferente da televisão, que normalmente fica ligada em um canal, que geralmente é a rede do Plim-Plim (muitas vezes por ser o canal com melhor qualidade de recepção, dependendo da localidade). É inquestionável, perceba na televisão que fica ligada na sala de espera do seu médico ou no salão do restaurante onde você almoça, quase sempre é a emissora da família Marinho. E mesmo em casa, ainda tem muita gente que curte assistir novela, e terminada a das sete, é natural deixar o aparelho ligado no Jornal Nacional até começar a novela das oito.

E não apenas o Terça Livre incomodava a grande imprensa e à esquerda, mas também os poderosos desse país. Pois faziam jornalismo de verdade, apontando os erros de todos, independente do partido. Inclusive criticando o presidente, como fizeram várias vezes (mas mesmo assim ganharam a alcunha de mídia "bolsonarista"). E inclusive de nosso Supremo Tribunal Federal, criticando decisões absurdas que foram tomadas de forma monocrática ou em plenário. Como o inquérito das fake news, uma evidente ação voltada para censurar e cancelar conservadores, visto que apenas quem é de direita é alvo dessa investigação, que por algum motivo ignora por completo as mentiras que são ditas pela esquerda de forma frequente. Bom... "algum motivo" é forma de dizer, pois sabemos muito bem o porquê.

Sem falar que o Terça Livre atuava não apenas com informação, mas também com formação. Suas análises eram frequentemente baseadas em citações de livros e outras referências. Nunca me esqueço da vez em que mostraram o site da Biblioteca Nacional, que possui scans digitalizados de jornais e revistas desde o século XVIII, permitindo que qualquer pessoa possa ler e ver como eram certas coisas no passado (algo que não é amplamente divulgado pela própria imprensa). Especialmente para vermos como que o jornalismo já foi mais audacioso e focado nos fatos, semelhante ao que o TL sempre fez. Diferente de outros telejornais, assistir a uma edição do Boletim da Manhã ou da Noite trazia sempre algum conceito novo, algo que fazia o espectador pensar e refletir. Um meio de comunicação fazendo o seu papel de instigar o senso crítico e de motivar a busca pelo conhecimento em uma população que estava acostumada a consumir notícias "enlatadas" pela redação do Jornal Nacional e similares, em que os fatos são apresentados da forma mais interessante a atender a algum interesse, em uma clara missão de doutrinação. O TL não estava apenas informando, mas formando cidadãos pensantes.

E essa foi a gota d'água, pois a última o establishment que deseja controlar a sociedade deseja é uma população pensante e capaz de formar a sua própria opinião. Desde então Allan dos Santos e o Terça Livre sofreram uma perseguição implacável de todos os lados. A Polícia Federal fez busca e apreensão duas vezes na sede, recolhendo computadores e anotações, além de realizar a quebra de sigilo bancário, sem encontrar nada de ilegal. Seu canal foi bloqueado em duas oportunidades pelo Google, por supostamente infringir os termos do YouTube ao apresenta notícias falsas (mas sem dizer qual vídeo e o motivo). Nas duas vezes o canal ganhou na justiça e teve o seu acesso restabelecido, algo sem precedentes no mundo. Sem falar em contas nas redes sociais, perdi a conta de quantas vezes eles foram banidos de Facebook, Twitter e Instagram. Todo um sistema organizado, como mostra a figura abaixo, trabalhando em conjunto para destruir o portal conservador que estava falando muito sobre a verdade e atrapalhando demais os interesses de certos grupos de nosso país...

Até chegarmos a este 22 de outubro. Eu confesso que imaginava que um dia alguma "força superior" de nossa política iria calar o Terça Livre, assim como outros sites conservadores e de direita. Mas esperava que isso fosse acontecer no ano que vem, mais perto das eleições, de forma a evitar a comunicação entre essas pessoas e influenciar os resultados (como aconteceu nos Estados Unidos). Significa que talvez o Terça Livre estivesse "passando dos limites" com algumas de suas notícias mais recentes, e assim decidiram cortar as suas asas logo. Talvez por dar maior destaque às declarações do ex-general de Maduro, preso na Espanha e em vias de ser extraditado para os Estados Unidos, e que para amenizar a pena está "cantando" de tudo. Como declarando ter informações sobre o financiamento da Venezuela destinado para líderes de esquerda sul-americana. Entre eles o ex-presidiário Lula, que é aquele que a mídia quer colocar na cadeira do presidente. Dinheiro esse proveniente do narcotráfico, atividade criminosa que envolve sequestros, mortes e corrupção. Narcotráfico que é uma das atividades do Primeiro Comando da Capital, o PCC, uma organização terrorista com tentáculos em todo o mundo. O mesmo PCC que mantinha um "diálogo cabuloso" com o Partido dos Trabalhadores, o dito "partido da ética" que fala que pensa no povo. E o mesmo PCC que tinha laços com uma empresa que foi defendida por ninguém menos que o atual ministro Alexandre de Moraes, que comanda o inquérito das fake news e determinou a prisão do Allan dos Santos...

Não é difícil entender, basta ligar os pontos...

Enfim... independente de tudo isso, nada muda o fato: o que vimos anteontem foi uma empresa de jornalismo encerrar suas atividades por conta de uma ação da Polícia Federal e do ministro Alexandre de Moraes. O Terça Livre não tem mais direito de falar, sequer tem o direito de existir digitalmente, até mesmo sua página foi removida. Contas bancárias foram bloqueadas, de forma que os seus funcionários não poderão mais ser pagos. E, para completar, há o pedido de extradição e prisão do jornalista e fundador do portal. Com isso, foi criada uma situação insustentável para a empresa, que chegou ao seu fim às vésperas de completar 7 anos de existência.

Eu fico pensando em como são as coisas, como é a postura do STF ultimamente. Não faltam juristas e advogados sérios condenando as suas ações, fora de suas prerrogativas, em um verdadeiro abuso de poder e desrespeito pelas regras constitucionais. Além do recente pedido de prisão do Allan dos Santos (que não faz sentido, pois o jornalista não tem foto privilegiado para ser julgado no STF), vimos o mesmo tribunal prender o deputado Daniel Silveira, mesmo sabendo que ele possui imunidade parlamentar, e o Roberto Jefferson, que embora presidente de partido não possui cargo público e assim deveria ser julgado pela justiça comum. 

E tudo isso apenas associado às prisões ordenadas pelos ministros de toga, pois existem várias outras situações totalmente fora do previsto em que o STF interferiu nos demais poderes. Tipo a reunião entre Barroso e os presidentes de onze partidos, que em seguida trocaram os deputados que participavam da comissão pelo voto impresso, ou quando o mesmo Barroso determinou ao presidente do senado que a CPI da pandemia fosse instaurada. Apenas dois exemplos de como o Supremo Tribunal Federal ignorou a independência entre os três poderes e exerceu influência para fazer a sua vontade valer.

Vale destacar que tudo isso diante de uma total inação dos demais poderes. A Câmara dos Deputados poderia intervir e dizer que caberia a ela julgar o Daniel Silveira em um conselho de ética (que seria o correto), o Senado poderia ignorar a ordem do STF em iniciar a CPI, pois cabe aos senadores votar a instauração da mesma. Mas as duas casas simplesmente se curvaram em silêncio submisso diante dos mandos e desmandos dos ministros do Supremo... Talvez se houvesse um pouco mais de "pulso firme" por parte dos deputados e, principalmente, dos senadores, estaríamos em uma situação diferente. Pois os tiranos se criam quando os demais ficam em silêncio diante de suas ações.

Mas o mais impressionante é que este é o mesmo STF que soltou um dos líderes do PCC. André do Rap saiu pela porta da frente para sumir, depois de uma decisão monocrática do Marco Aurélio, e depois o plenário decidiu que não era para soltar um criminoso de alta periculosidade... mas que, para a surpresa de zero pessoas, não foi mais encontrado e está livre, leve e solto... Também foi o mesmo que há alguns anos proibiu a extradição do Cesare Battisti, criminoso italiano de esquerda, que matou pessoas inocentes, e ainda lhe conferiu asilo político. E nem precisamos lembrar do maior ato do tribunal, em que os ministros anularam a condenação do Lula, tudo com o objetivo de torná-lo elegível para as próximas eleições. 

Ou seja, o STF faz uma intepretação de nossa Constituição de forma que líder de organização criminosa, terrorista internacional assassino e epítome de corrupção merecem a liberdade... enquanto que jornalista deve ser preso por crime de opinião, por supostamente falar fake news...

Não seria necessário dizer isso, mas na atual conjuntura em que as interpretações de uma fala são feitas com base em quem está falando, é válido reforçar que não estou promovendo nenhum ataque à instituição STF. Ataque é uma palavra muito forte, se aplica a uma ação em que atos são de fato colocados em prática. Como o que o MTST fez na sede da Aprosoja, o que aliás não recebeu nenhuma crítica por parte dos onze ministros do Supremo. É necessário entender que nenhuma instituição age sozinha, as ações que são alvo de críticas são sempre de pessoas. Criticar uma decisão de um ministro do STF não significa condenar a existência da instituição. Da mesma forma que criticar o Bolsonaro não significa condenar a existência de um presidente. Não importa quem seja o ministro, um dia eles vão ter que passar a toga para outro. E, como seres humanos, são passíveis de virtudes e defeitos, podem acertar como podem errar, e podem receber tanto elogios como críticas. Principalmente pelo fato de serem figuras públicas, pois assim serão conhecidos por uma quantidade maior de pessoas que poderão elogiá-los ou criticá-los. É assim que funciona, e não sou eu quem estou dizendo isso: basta ver o que o próprio Alexandre de Moraes disse em 2018 em uma sessão do plenário:

Quem não quer ser criticado, quem não quer ser satirizado, fique em casa. Não seja candidato, não se ofereça ao público, não se ofereça para exercer cargos políticos. Essa é uma regra que existe desde que o mundo é mundo. Querer evitar isso por meio de uma ilegítima intervenção estatal na liberdade de expressão é absolutamente inconstitucional.”

O que será que mudou? Será que, sob a justificativa de combater as supostas fake news, a intervenção na liberdade de expressão se torna uma prática constitucional? 

Faço também um breve parênteses: fake news não é um crime tipificado no Código Penal, mas mesmo assim vemos todo um discurso promovido de forma mal-intencionada pela imprensa, políticos e juízes, como se fosse a pior coisa do mundo. Por mais que eu não seja muito versado em questões legais, a mentira não é crime. Pombas, se fosse assim, todo mundo que blefasse no pôquer ia pro xadrez. Se há uma notícia falsa que venha a prejudicar uma pessoa de alguma forma, e essa forma for um crime, aí você pode ser enquadrado nesse crime em particular, não por fake news. Por exemplo, se um fulano cria uma mentira que caracteriza uma injúria ao siclano, então o siclano pode acusar o fulano pelo crime de injúria. Lembrando que quem julga não será o fulano ou o siclano, mas o beltrano que é parte independente... diferente do que acontece no inquérito das fake news

O que acontece é que essas pessoas querem controlar o significado das palavras, da forma que lhes seja mais conveniente e atenda aos seus interesses. É o caso das fake news, termo usado para desqualificar qualquer notícia que seja prejudicial àqueles que querem deter o controle da informação, independente se é verdade ou mentira. É que vemos na "grande imprensa" que fala mentiras diariamente mas que se auto atribui uma credibilidade desmerecida, enquanto que portais conservadores que falam dos fatos sem nenhum pudor e de forma honesta são taxados como propagadores de notícias falsas. Nunca é o ato em si, mas quem o pratica, o que torna uma notícia fake é quando ela pode ser benéfica ao Bolsonaro ou seus aliados, ou prejudicial aos formadores de opinião do sistema. Mesmo que seja totalmente verdadeira.

Acho que a melhor definição de fake news foi dada pelo Merval, aquele que ficou excitado com as coxas "saradas" do Lula, conforme citação dele em um programa da CBN (cheia de erros de concordância), quando se referia ao filme da Brasil Paralelo a respeito dos ministros do STF:

"Essa é tipicamente um exemplo de fake news, é porque não tem nenhuma mentira, porque tá tudo nos jornais e tal, mas a montagem é muito desfavorável aos ministros, é muito negativa..."

Merval é considerado jornalista de respeito que defende a verdade... e Allan dos Santos é blogueiro bolsonarista que propaga mentiras. É o que temos hoje.

Aliás, é mais um exemplo de como a esquerda progressista adora esse tipo de rótulo depreciativo, com essa estupidez de "blogueiro bolsonarista". Para começar, usam o "blogueiro" para se referir ao Allan dos Santos como forma de desqualificá-lo, para não se referir a ele como o jornalista que ele é. Algo estúpido, pois para começar ele não tem blog; e em segundo lugar, ser blogueiro não tem nada demais, falam como se fosse uma coisa ruim, como se fosse uma pessoa sem credibilidade, inferior. Eu tenho blog aqui, isso me faz menos do que os outros? Faz com que minha opinião tenha menos valor? Fala sério... 

Especialmente quando vemos que muitos desses pseudo-jornalistas que se acham donos da verdade possuem blogs. É só olhar na página principal dos blogs do Globo, onde estão Vera Magalhães, Miriam Leitão, Lauro Jardim, Guga Chacra e até o próprio Merval Pereira... todos com blog. Não adianta esconder, está escrito nas páginas. Mas ninguém se refere a eles como "blogueiros", mas sim como jornalistas. 

Ou seja, se você faz parte da patota da grande imprensa, você será jornalista mesmo que não passe de um mero leitor de teleprompter ou apenas um postador de Twitter. Do contrário, você é um blogueiro sem credibilidade e que não tem direito de falar. 

Mesma coisa com o apêndice "bolsonarista" atribuído a qualquer um que não seja crítico do presidente. Não tem apenas blogueiro bolsonarista, mas também empresário bolsonarista, médico bolsonarista, advogado bolsonarista, ator bolsonarista... Cria-se essa alcunha como se fosse um grupo organizado de pessoas que puxam o saco do presidente, também de forma a desqualificar esses indivíduos. Tipo, se você for um faxineiro bolsonarista, então automaticamente fará uma limpeza ruim e que, por mais absurda que possa parecer a ideia, vai promover o extremismo de direita em sua profissão. 

Interessante que não vemos a mesma "grande imprensa" falar de jornalista petista, empresário lulista ou coisa parecida, mesmo quando são declaradamente defensores do partido ou do nove dedos... Por que será? 

Repito, tudo não passa de uma tática para desqualificar os adversários e assim fugir do debate. Criaturas como o Merval, como a Vera Magalhães, como o Octávio Guedes, como o William Bonner e tantos outros "jornalistas", eles sabem que não aguentariam cinco minutos de debate sobre qualquer assunto com o Allan dos Santos. Então eles adotam essa tática de dizer que ele é um "blogueiro bolsonarista", e assim determinam que já ganharam o debate em cima dele só por essa razão, alegando que eles, como "jornalistas", não vão se "rebaixar" para debater com um mero blogueiro. É a saída dos covardes, que arrumam uma desculpa pois no fundo eles reconhecem que não têm argumentos para vencer numa discussão de igual para igual.

Aliás, é por esse motivo que os mesmos "jornalistas" estão celebrando o fim do Terça Livre e o pedido de prisão do Allan dos Santos, tanto de forma silenciosa como descarada. Afinal de contas, a melhor forma de você vencer o debate contra alguém é impedir esse alguém sequer de abrir a boca. Pior de tudo é escutar esses mesmos cretinos falarem que são a favor da liberdade de expressão...

Esse aliás é um dos pontos mais graves de toda essa situação, pois toda essa ação promovida pelo Alexandre de Moraes e pela sua Polícia Federal é um indiscutível ataque à liberdade de expressão e opinião. Acho que nem no regime militar houve uma ação tão ostensiva como a que foi feita ao Terça Livre, em que a empresa foi banida por completo do meio digital, com bloqueio das contas e com pedido de prisão de seu fundador. Havia sim censura na época dos militares, mas não é de meu conhecimento que eles tenham impedido um jornal de existir, que eles tenham extinguido um meio de comunicação como vimos nessa semana.

O que torna tudo isso ainda mais irônico e trágico é que isso ocorreu algumas semanas depois de terem dado o prêmio Nobel da paz para dois jornalistas independentes. E sim, faço questão de pegar essa notícia do G1, já que a Globo diz defender tanto a liberdade de expressão, razão pela a qual os dois jornalistas ganharam o prêmio. Pois Maria Ressa e Dmitry Muratov foram laureados com o Nobel pela sua luta em defesa pela liberdade de expressão e pela democracia nas Filipinas e Rússia, respectivamente (detalhe que este último teve seis colegas jornalistas assassinados, provavelmente pelo governo do Putin). 

Faço questão de reproduzir o texto abaixo da matéria do G1, colocando as palavras do grupo responsável pela escolha dos vencedores:

"O jornalismo livre, independente e baseado em fatos serve para proteger contra o abuso de poder, mentiras e propaganda de guerra. O comitê norueguês do Nobel está convencido de que a liberdade de expressão e a liberdade de informação ajudam a garantir um público informado", afirmou a instituição.

O comitê disse também que "esses direitos são pré-requisitos essenciais para a democracia e protegem contra guerras e conflitos" e que o prêmio para os jornalistas "visa salientar a importância de proteger e defender esses direitos fundamentais [as liberdades de expressão e informação]."

Lindo, não? Deve ter escorrido uma lágrima dos olhos na redação da rede do Plim-Plim.

Fico pensando se a Globo e os demais meios de comunicação da grande imprensa acreditam nessas palavras de verdade. Se eles realmente entendem que o jornalismo deve ser baseado em fatos, e que deve proteger a população de abuso de poder e mentiras. Se eles realmente acham que é importante defender a liberdade de expressão e de informação, se essas liberdades são direitos fundamentais para eles. 

Será mesmo? Ou será que estão comemorando que um portal de notícias independente foi eliminado por conta de decisão de um ministro do STF, impedindo-o de expressar qualquer ideia ao mesmo tempo que seus milhares de leitores e espectadores foram desprovidos de ter acesso a essa informação? Queria ser uma mosquinha voando lá pela área de jornalismo da Globo para ver o quão extasiados ficaram os jornalistas e redatores após a divulgação do pedido de extradição e prisão do Allan dos Santos. 

Pois é, para a grande imprensa, para a esquerda e para os politicamente corretos, todo mundo tem direito à liberdade de expressão... desde que você fale o que eles querem. Fora disso, se pisar um centímetro fora do quadrado, é errado, é "abuso de liberdade de expressão", é fake news, é discurso de ódio...

Eu acho muito impressionante como que há essa postura parcial e hipócrita por parte daqueles que se dizem defensores do povo e de tudo que há de bom. Para os amigos, toda a tolerância e consideração; e para os inimigos, todo o poder da lei e nenhum direito. É assim que essas pessoas pensam. Pior de tudo é que isso não se trata de um traço da esquerda necessariamente, mas de qualquer um que não tenha um mínimo de ética, traço que independe da orientação política e ideológica. 

Digo isso ao ver que tem pessoas da direita que estão hoje comemorando a censura contra o Terça Livre e o Allan dos Santos. Tipo o Antagonista, que lá atrás teve sua revista censurada por conta de uma matéria sobre o "amigo do amigo do meu pai", sendo acusados de estarem propagando fake news. Pelo mesmo Alexandre de Moraes, diga-se de passagem. Na época, o "blog de três linhas" achou um absurdo, chamou de censura e contou com a solidariedade de diversas mídias independentes. Entre elas o Terça Livre. 

Nada como um dia depois do outro para que as máscaras caiam. Pois quando chegou a vez do Terça Livre ser alvo de perseguição pelo Alexandre de Moraes e pelo inquérito das fake news, as antas aparentemente mudaram de opinião e passaram a aplaudir a censura de meios de comunicação. Não apenas isso, mas depois do caso todo com o Toffoli, percebeu-se que o volume de críticas do blog contra os ministros do STF caiu para quase zero... O que será que mudou?

O Antagonista é um caso que merece ser estudado a fundo. Olho para antes de 2019 e vejo como eles apoiavam o Bolsonaro, mas logo depois passaram a criticá-lo de forma tão dura como a esquerda fazia. Especialmente depois desse episódio do Toffoli. Repito, o que será que mudou lá? Fico às vezes pensando se as três antas esperavam algum tipo de recompensa por terem apoiado a eleição do Bolsonaro, me pergunto se eles não esperavam receber uma boa contribuição de verba do governo como os blogs esquerdistas recebiam nos governos anteriores (prática que era criticada pelo Antagonista). Como não ganharam um tostão, se sentiram traídos e passaram a fazer o papel de oposição. Não estou necessariamente fazendo uma acusação, mas para mim é uma explicação plausível para a mudança de discurso drástica do blog de três linhas... Não ficarei surpreso de vê-los apoiando o Lula contra o Bolsonaro em um eventual segundo turno.

Enfim, deixando as antas de lado, o mais assustador é mesmo ver o silêncio e mesmo a comemoração da imprensa, diante do pedido de prisão de um jornalista e do cancelamento de uma empresa de comunicação. Isso é o mais macabro de tudo, e o que não se esperaria de qualquer órgão de imprensa que diga ser defensor da liberdade de expressão.

As pessoas não percebem que ao celebrar a censura do Terça Livre elas estão legitimando a censura de qualquer outro portal de notícias, inclusive delas próprias. Cria-se um precedente, significa dizer que sim, a Polícia Federal e o STF podem ordenar a prisão de um jornalista, mesmo que isso desrespeite a Constituição do país. Aqueles que hoje estão rindo e celebrando podem (e serão) calados amanhã, talvez pelos mesmos tiranos que hoje aplaudem e consideram como defensores do estado democrático de direito. 

Esse é na minha opinião o ponto mais grave, pois a maioria da sociedade hoje tem uma visão corporativista, e dessa forma os valores ficam em segundo plano perante a posição política e ideológica. Repito, como o caso do Antagonista acima, em que só condenaram a censura quando foi com eles, enquanto aplaudiu a censura dos outros. Você pode até discordar do que o Allan dos Santos diz, pode achar que ele está falando bobagem, pode achar que ele passos dos limites com certas ofensas e críticas. 

... mas não deveria estar aplaudindo o seu silenciamento e sua prisão, simplesmente por ele expressar a sua opinião. Mesmo que ele fosse um blogueiro. Se você acha isso certo, então você acha que uma pessoa pode ser calada, censurada e presa pelo simples ato de se expressar. Você até pode achar que tem que ser assim mesmo, talvez tenha gente que ache que a Constituição está errada, que o certo é que certas opiniões sejam restritas e silenciadas. Não duvido que existam pessoas que pensem assim, que achem que o caminho é esse mesmo.

Agora, digo apenas duas coisinhas para essas pessoas: primeiro, não digam que vocês defendem a democracia; e, segundo, não reclamem quando vocês ou seus amigos forem censurados amanhã. 

Acho interessante como todo esse cenário lembra muito uma cena do Episódio III do Star Wars, algo que o próprio Allan dos Santos comentou faz alguns dias. Aquele momento em que o Palpatine (coberto por uma capa preta, diga-se de passagem) declara que, para garantir a segurança e a estabilidade de todos, a República seria transformada no Primeiro Império Galáctico, para garantir uma sociedade segura e protegida. 

Diante disso, a senadora Padmé lamenta, ao ver a liberdade acabar debaixo de aplausos estrondosos. Lembra muito a situação que vemos hoje, onde boa parte da sociedade celebra a censura de um meio de imprensa independente. Lamentável.

Sabe... Eu me lembro do final de outubro de 2018, quando Bolsonaro ganhou as eleições. Vi muitas pessoas da esquerda (entre elas muitos conhecidos meus) irem para as redes sociais em prantos, dizendo que a democracia estava ameaçada, que seriam tempos sombrios, que era o início de uma ditadura... Me lembro de um dizendo que com a chegada de Bolsonaro ao poder, veríamos a censura contra a imprensa, que jornais seriam fechados e jornalistas seriam presos.

Pior que hoje eu tenho que admitir que eles tinham razão... realmente estamos em tempos sombrios, de fato a democracia está sob ameaça. Vimos censura contra a imprensa, jornais sendo fechados e jornalistas sendo presos. Uma ditadura de fato. Eles tinham razão... só se enganaram sobre quem seria o ditador...

Bom, acho que vou ficando por aqui, se eu continuar daqui a pouco eu vou receber uma visita do Uber Black amanhã às seis horas. Afinal de contas, está cada vez mais claro que só podemos nos expressar dentro de um certo limite que é imposto, que não devemos abusar desse direito... a não ser que estejamos do lado "certo" da sociedade, ao qual tudo é permitido. Como desejar a morte do presidente ou jogar futebol com sua cabeça. O recado está dado, vivemos em uma "democracia" onde temos total e irrestrita liberdade de expressão... desde que ela fique dentro dos limites definidos pelos guardiões da Constituição.

Enfim, o Terça Livre deixará saudades... Foi bom enquanto durou, lamento apenas não ter conhecido o portal antes. Mas eu acho que ele deixou um legado que não será apagado tão cedo, pois muitas pessoas se tornaram mais conscientes da realidade, percebendo que há muito além do que é mostrado nos telejornais e impresso nos jornais e revistas. Muitos abriram seus olhos, percebendo que não são os únicos que vivem segundo valores conservadores, que fazem parte da maioria da população brasileira. Pode parecer pouco, mas as cerca de 10 mil pessoas que assistiam os programas ao vivo, fora os milhares que acompanhavam depois, representam uma importante parcela da sociedade que é capaz de multiplicar o conhecimento e o senso de cidadania que o portal conservador incentivou. Um trabalho de formiguinha sim, mas é isso que funciona de fato. 

O Brasil será um país melhor, com mais respeito aos valores que são corretos, a partir do momento em que cada um de nós comece a fazer a sua parte, mesmo que seja de uma forma mais pontual: não importa se seja apenas no seu trabalho, na sua escola, no seu condomínio, na sua vizinhança, tudo isso é um começo. É assim que outras pessoas começarão a abrir os olhos, percebendo que têm direito a formar a sua opinião, sem ter que ficar seguindo cegamente o que a Globo ou a Folha mandam pensar. É assim que as pessoas vão aprender que ideologia política é algo secundário diante dos valores que escolhemos para seguir em nossas vidas, que elas precisam saber que são livres para buscar a informação de onde quiserem, interpretá-la segundo sua própria percepção e assim formar a sua opinião de maneira embasada e consciente.

Esse é o maior legado deixado pelo Terça Livre. Que não seja visto como um portal que foi encerrado e acabou. Não, eles deixaram muitos ensinamentos para milhares (diria ate milhões) de brasileiros, que nenhum ministro do STF será capaz de censurar. Pois ainda não inventaram nenhum meio para silenciar o que tem dentro da cabeça das pessoas. Podem até limitar a liberdade de opinião com os cancelamentos e ações orquestradas que estamos vendo (a ainda veremos de forma mais severa, pode apostar); mas a liberdade de formar a própria opinião, essa ninguém tira.

Comentários

Anônimo disse…
Helinux: Não temos liberdade de expressão, a tv só tem hipócritas e interesseiros. Hoje em dia tudo é movido a dinheiro, reputação e esconder a verdade por trás disso!!!! Infelizmente existem muitos zumbis, sim aqueles zumbi com a perna acorrentada na Televisão como o símbolo da GLOB...lixo!!!! As pessoas são movidas a novelas, Big Brother e a falta de opinião, mudem de canal porr...!!!! falta atitude e falta auto senso crítico em termos de tudo!!!! Na pandemia quem mais ganhou dinheiro foram as tvs brasileiras, que se dizem passar informação e mostrar a verdade!!!! A verdade é que somos burros por que nao temos a coragem de mudar de canal ou ler um livro!!!! Nós somos os zumbis da vida real!!!!