Os Heróis Japoneses da Manchete - Parte 4

Decidi escrever mais um pouquinho sobre os heróis japoneses por aqui. Pois eu imagino que mesmo os poucos mas leais visitantes daqui podem ter ficado chateados por eu não ter sequer mencionado outros heróis que apareceram na televisão lá pelos anos 80 e 90. Embora realmente os outros das postagens anteriores fossem meus preferidos, não nego de que vez em quando eu cheguei a assistir um pouco algumas das outras séries, incluindo outros quintetos de heróis coloridos e solitários de armadura metalizada. E é por isso que eu vim aqui, para falar um pouco sobre outros seriados do gênero.

Mas não espere algo tão detalhado como fiz antes. Pois ou são séries que eu não curtia assim muito, e consequentemente limita a minha motivação em escrever demais, ou porque eram mesmo programas que não fizeram muito sucesso e assim há poucas referências a respeito. Vou focar somente naqueles que eu cheguei a ver de alguma forma, assim tem alguns clássicos como Ultraman, Godzilla e etc que não vão aparecer por aqui.

E adianto: não, não vai ter Kamen Rider. Lamento, mas simplesmente esse era um personagem que eu não gostava. Nada contra, se você gosta, sem problemas. Mas eu pessoalmente nunca me animei em assistir, talvez a ideia de um homem-gafanhoto me parecia meio sem graça. E ainda penso assim.

Vamos começar lembrando o pioneiro de todos os heróis japoneses nas telinhas brasileiras, que chegou aqui na década de 60. Claro, eu sequer havia nascido ainda, mas ele acabou passando alguns anos mais tarde na Manchete, para que toda uma geração que cresceu com Jaspion e Changeman conhecesse aquele que iniciou tudo. Com vocês, o primero e único, mais rápido que os aviões a jato, mais forte que o aço, supera o impossível... National Kid.

Eu acho que não teve herói mais tosco, ainda mais com essa roupinha bizarra. Na prática ele nada mais era que o garoto-propaganda da empresa National, que depois viria a ser conhecida como Panasonic. Ou seja, merchandising descarado. National Kid vinha de outro planeta por algum motivo, assumindo o alter-ego de professor Massao Hata e adotando um monte de crianças órfãs, pois todo herói japonês é amigo das criancinhas (não pensem bobagem). Nem faço ideia dos nomes, mas me lembro que tinha a moça mais velha que acabava bancando a babá dos outros cinco pentelhos que andavam uniformizados. E que você já imagina que aprontavam as merdas em todos os episódios, especialmente o baixinho que tinha a voz do Cebolinha.

Vale citar um dos melhores aliados do National Kid, o velho professor Mizuno. Que era o sabe-tudo, aquele que descobria todos os planos dos vilões, que construía máquinas absurdas na maior facilidade e conseguia decifrar todos os enigmas. E que tinha uma nareba de respeito, mega ladrão de oxigênio...

Eu vi National Kid quando a Manchete decidiu transmitir os episódios do primeiro herói japonês que passou pelo Brasil. Claro, temos que levar em consideração que eram os anos 60, a série era estrelada por um monte de atores novatos e os efeitos especiais beiravam o ridículo... tipo as pistolas laser do National Kid eram apenas lanternas que acendiam e apagavam, e quando ele estava debaixo d'água soltava aquelas bolhinhas de aquário... Mas era uma série que chegava a ser boa por ser tão tosca.

Especialmente por conta dos vilões. Afinal de contas, dá pra pensar em algo mais absurdo que os Incas Venusianos?

Puta que paril... Incas Venusianos?! O que mais falta agora? Astecas Marcianos? Maias Jupiterianos? 

Eu não consigo imaginar de onde tiveram essa ideia tosca. E era muito tosco mesmo, os sujeitos com esses pijamas pretos e orelhas pontudas, que voavam que nem uma barata e tinha a saudação "Awika". Foram os primeiros vilões que o National Kid enfrentou, além dos Seres Subterrâneos, os Zarrocos do Espaço e os Seres Abissais. Que se vestiam com um capuz que parecia a KKK e tinham o Celacanto que causava maremotos...

Pois é, muito bizarro. Aliás, me lembro de um episódio absurdamente hilário, que preciso registrar. Nessa série cada vilão tinha um nome que era "Peixe" e um número. Tipo, Peixe 1, Peixe 2 e assim por diante. Mas também cada um tinha um nome secreto.

Aí teve uma vez que o National Kid se disfarçou de Ser Abissal pra investigar o QG dos vilões, e o chefão de capuz branco desconfia. Com isso, ele mandava todos os seus capangas se alinharem e dizer seu nome de código. Não me lembro exatamente os nomes, mas era alguma coisa assim:

"Peixe 8, Tubarão"

"Peixe 5, Anêmona"

"Peixe 12, Truta"

"Peixe 24, Pacu"

"Peixe 19, Estrela-do-Mar"

Até que chegava a ver do National Kid disfarçado, de capuz e tudo. E ele, com toda a sagacidade de ter visto os outros bandidos dando esses nomes, se apresentou da forma abaixo, com esse nome mesmo, que é o único que me lembro.

"Peixe 15, Sardinha"

Nessa hora, o chefão da KKK, quero dizer, dos Seres Abissais, dava uma gargalhada, e falava uma das coisas mais sensacionalmente absurdas que já passou na televisão:

"Hahaha. Você errou, National Kid. Pois somente aqueles de números pares têm nome de peixe."

Sinceramente... não sei porque isso me marcou tanto. Mas eu me mijei de rir com a cena. 

Vamos parar por aqui. Era pra ser uma postagem sobre diversos heróis japoneses, e já fiquei muito tempo falando do National Kid. Tudo bem que o sujeito merece. Por mais que seja a coisa mais ridícula que já se tem notícia, mas sem ele provavelmente Jaspion, Changeman e companhia não chegariam aqui tão cedo.

Vamos ver se os próximos eu falo de forma mais resumida. E começaremos com o Goggle V.

Não, não é Google V. Goggle com dois G's. E que na verdade não se encaixa muito bem no título do post, pois ele nunca foi exibido pela Rede Manchete, aparecendo por aqui na Bandeirantes e na Record. Me lembro vagamente da série, e principalmente pelo fato dela passar em outros canais e ter uma qualidade de áudio e vídeo péssima, eu achava que era uma cópia pirata dos Changeman, tipo uma versão chinesa falsificada. Mas era uma série de verdade, que foi predecessora do Esquadrão Relâmpago, estreando alguns anos antes. 

Como de costume, nessas séries de heróis coloridos existia sempre um tema, e no caso eram civilizações antigas. Assim, os personagens vermelho, preto, azul, amarelo e rosa representavam as civilizações de Atlântida (como assim?), asiática, egípcia, muçulmana e inca respectivamente. E por algum motivo eles faziam muita referência à ginástica artística, como era possível ver por suas "armas"...

E sim, você que não via muito essa série como eu pode estar reconhecendo o sujeito que fazia o Goggle Black, o segundo da direita pra esquerda (por mais que seja difícil reconhecer japonês). Sim, era o cara que fez o MacGaren do Jaspion. Que atuou numa porrada de séries.

Aposto que deve ter gente duvidando da minha hombridade por dar destaque a um marmanjo cabeludo da série, quando temos a gracinha da Goggle Pink, de shortinho e penteado de colegial. Interpretada pela atriz Megumi Ogawa, é outra que fez falta naquela postagem das mais bonitas da séries japonesas, com esse rostinho cuti-cuti. Curioso comentar que ela só entrou pra série a partir do quarto episódio, substituindo outra atriz.

Pra fechar a participação do quinteto, não podia deixar de destacar como Goggle V tinha uns vilões escrotos pra cacete. O chefão parecia um sarcófago chifrudo, uma vilã que lembra um palito de fósforo e o outro que parecia um Darth Vader depois da gripe.

Seguindo, já que eu falei do ator que interpretou o MacGaren, podemos lembrar um pouco do Jaspion. Especialmente pelo fato de que aqui no Brasil nós tivemos uma série que foi malandramente divulgada como Jaspion 2. Tudo jogada de marketing pra enganar os trouxas que estavam com saudades do paraíba japonês e seu robôzão Daileon, como este texugo aqui que caiu direitinho. Embora tivesse um visual muito parecido, Spielvan não tinha nada a ver com Jaspion, a não ser o fato de também fazer parte da série de Metal Heroes.

Tá, tinha outra coisa a ver com o Jaspion: pois o protagonista da série era o mesmo cara que fez o Boomerman. É ele aí embaixo, fazendo pose com a garota sapeca que se transformava em Lady Diana (alguma inspiração na princesa britânica?) e ajudava Spielvan em algumas lutas.

Comentei isso já, e adianto que depois vou fazer uma postagem mostrando os atores que apareceram em mais de uma série japonesa, acho que não vai faltar nomes.

Aliás, cabe comentar que a série Spielvan também apareceu aqui no Brasil de outra forma, na americanizada VR Troopers que foi transmitida pela Globo. Da mesma forma que os Power Rangers, fizeram uma adaptação ocidental, com o curioso fato de que juntaram Spielvan e Lady Diana com o personagem Metalder de outra série.  

Já que puxamos a Globo (e me dou conta como o que menos tem aqui até agora são heróis da Manchete), vale citar uma outra série que passava nas tardes da rede do Plim-Plim, em uma outra época em que a ideologia politicamente correta não estava enchendo o saco e não tinha Malhação de tarde. Uma série que eu me lembro de ter visto de vez em quando era Bicrossers.

Não, eles não eram cross-dressers bissexuais, mas sim uma dupla de irmãos que se transformavam em heróis metalizados com capacetes sorridentes e que andavam de moto. Aliás, se me lembo bem tudo na série referenciava a motos, até mesmo a bazucona pra matar o vilão convidado do episódio era... uma moto.

Não sei de onde tiram essas ideias...

Seguindo, vale lembrar outra série que passou na Bandeirantes e que tem um pouco a ver com o tema de máquinas. Tá até no nome, o Machine Man era um seriado mais bobinho e infantil, trazendo o herói espacial que veio para nosso planeta para fazer um trabalho de escola (como assim?) sobre o sistema solar, mas fica por aqui para proteger a Terra dos vilões dos grupos chamados Tentáculo e Polvo... que devem ser parentes dos Seres Abissais do National Kid. Tosco, especialmente por conta do capacete dele, que parece a traseira de uma moto com esses dois pisca-alertas como orelhas.

De fato, era uma série que por algum motivo tinha uma pegada mais infantil, com vilões bizarros como múmias ou palhaços. Quase não assisti aos seus episódios, até pelo fato de passar em outro canal que não era a Manchete, mas que eu me lembro bem de ter visto algumas vezes por dois motivos principais. O primeiro é que quem estava nessa série era a atriz Kyomi Tsukada, a eterna gracinha Anri do Jaspion, que interpretava uma repórter que se tornava amiga do alter-ego do Machine Man, e logo depois se apaixonava pelo herói.

Claro... descaradamente copiando a relação entre Lois Lane, Clark Kent e o Super-Homem...

E o segundo motivo que me lembra dessa série era que o maior aliado de Machine Man era... uma bola de baseball falante! Que fazia um monte de carinhas e chegava a ser arremessada contra os bandidos, em um dos golpes especiais do protagonista.

Pode apostar que certamente rolou um merchandising, com a garotada louca pra comprar uma bolinha de baseball igual da série.

Vamos voltar para a Manchete e lembrar de mais algumas séries. E aproveitar o gancho para comentar sobre mais um quinteto colorido que passou pela emissora do M dourado, os Maskman. A série era sucessora direta dos Flashman, e estreou na mesma leva do Spielvan. 

Foi a última série de heróis coloridos que passou aqui na época, quando a televisão já estava ficando saturada de heróis de olhinhos puxados. Me lembro de ter visto alguns episódios, e digo que a série era até simpática, embora não tivesse o mesmo apelo de Changeman e Flashman na minha opinião. Aqui o tema era de artes marciais, com cinco adolescentes de roupas vermelha, preta, azul, amarelo e rosa como praticantes de karatê, kempo, kung fu, ninjitsu e tai-chi-chuan respectivamente. E que tinham como líder um maluco que fazia floquinho e flutuava que nem o Dhalsim do Street Fighter.

Uma breve curiosidade: o baixinho da esquerda (o tampinha tinha 1,56 m), que fazia o Blue Mask, viria depois a interpretar o Yanin Spyker em Jiraiya. 

Claro, você sabe que eu sou um texugo deprimente... e não poderia deixar de prestar uma breve homenagem às duas moças do grupo, cujos uniformes eram mais femininos, com saias e brincos (na época não existiam as feministas toscas pra achar isso ruim). A Yellow Mask, originalmente se chamava Haruka mas ganhou o nome de Sayaka aqui no Brasil (como a nossa eterna gracinha Change Mermaid), uma ninja enfezada, que ganhou vida graças à atriz Yuki Nagata. E a cuti-cuti da Pink Mask, que se chamava Keiko, praticante de tai-chi-chuan e interpretada pela atriz Kanako Maeda.

Embora Maskman não tenha me agradado ao ponto de estar na minha lista de séries japonesas favoritas, ela parecia ser bem interessante. Sem falar que foi pioneira em dois aspectos, nunca antes vistos em outros seriados de super sentai. A começar que cada membro da equipe tinha seu próprio veículo, e os cinco se juntavam para virar o robozão Great Five.

E também foi a primeira série a trazer um sexto membro, que aparecia no meio da temporada em alguns episódios. Na verdade, o Maskman verde, de nome Mask X-1, que parecia um gafanhoto, só apareceu em um episódio.

Vamos seguindo com mais seriados japoneses da Manchete. E como disse na minha postagem anterior, um que eu curtia muito era o Jiban, muito mais pelo visual bacana do personagem e menos pela série, que eu não acompanhei tanto como as outras mais clássicas. Tudo bem que era uma cópia descarada do Robocop, mas que criou um estilo de heróis orientais que se popularizou. Embora fossem oficialmente "metal heroes", como Jaspion e Jiraiya, parece que os japoneses curtiram a ideia de uma série com uma pegada mais policial, e com isso tivemos a chegada de Winspector, sucessor direto do Jiban.

Com a originalidade de não ter uma organização do mal principal, a polícia especial Winspector protegia Tóquio da criminalidade, com um trio de heróis metalizados. E outro ponto interessante é que apenas o da armadura vermelha que é humano de verdade, com o codinome Fire. Os outros eram robôs por completo: Biker é o robô amarelo com uma roda de motocicleta no peito e um guidão nas costas e Highter o de armadura azul que contava com asas para voar. 

Era engraçado como mesmo sendo robôs, Biker e Highter tinham suas personalidades, o primeiro fazendo piadas e o segundo que gostava de crianças (sem maldade, por favor). E era cômico como eles andavam, mexendo os braços de forma travada, cada um com seu cacoete. Como Jiban, eu curtia o estilo maneiro dos robôs, mas não cheguei a ver muito essa série.

Com o final desse seriado, os membros do Winspector foram pra Europa por algum motivo, e o chefe da equipe decide juntar um novo grupo para substituí-los. Nascia então Solbrain, continuação direta do programa anterior, seguindo com a linha de uma força policial high-tech, e que também passou na Manchete, sendo até um dos últimos transmitidos pela emissora antes de seu fim. 

Algo que fica evidente é que as armaduras ganharam um visual mais diferenciado em relação ao Jiban. Dessa vez, é um casal de policiais humanos, SolBraver é o azul e SolJeanne a vermelha. E tinha SolDozer, que era o único robô, que parecia um trator truculento. Mas não consigo falar dessa série, menos que Jiban e Winspector, embora pareça ser legal. 

O curioso é que houve uma terceira continuação após essa série. Mas, dessa vez os membros não foram deslocados para outro continente: na verdade, a equipe Solbrain foi debandada pois estava custando muito caro aos cofres do governo, e a equipe seguinte usaria armaduras mais baratas. Foi a justificativa encontrada pelos produtores para explicar a pior qualidade das fantasias do seriado seguinte.

Muitos heróis... Mas essas aí até que eram tragáveis, dava pra assistir quando não tinha nada na televisão. Agora, houve algumas séries orientais que eu simplesmente achava absurdas, que ultrapassavam o aceitável do ridículo. Não me refiro aos montes de homens-gafanhotos do Kamen Rider, que embora eu não gostasse, mas pelo menos era algo normal, seguia o estilo de herói. Falo de algumas que eram verdadeiros absurdos, pelo menos na minha opinião. E cabe o registro.

A começar com Patrine...

Cara, tudo bem que ela era bonitinha, e é difícil resistir a uma adolescente com roupa de colegial e que parecia o Zorro... Mas, fora isso, que ridículo! Tudo bem que essa era uma série que tinha um público-alvo distinto, voltado para as meninas, mas acho que elas não deviam curtir muito essa tosqueira. Era uma história que não tinha tanta ação como as demais, voltada mais para a comédia que beirava o absurdo (tipo, se alguém descobrisse sua identidade secreta, ela viraria um sapo), incluindo sua irmãzinha mais nova, que se transforma na Pequena Patrine. Juntas, e tendo apoio de um bando de moleques da sua escola, elas tentam impedir que o Diabo... que, como qualquer vilão de araque, queria dominar o mundo.

Mas, pela cara de tarado dele, acho que também queria ver as calcinhas da Patrine. E ele me lembra um Inca Venusiano, lá do início da postagem, com uma máscara de carnaval.

Acontece que te juro que tem coisa mais ridícula do que Patrine...

Peço desculpas pelo palavreado... mas, puta que pariu! Que pôrra é essa? Era o Lion Man!

Também vou pedir licença para aqueles que por ventura curtiam esse seriado, sobre um ninja da época do Japão feudal que podia se transformar nessa criatura meio homem, meio leão. Que ultrapassa os limites do aceitável, pois o puto parecia um bicho de pelúcia! Estreou por aqui na mesma época do Jiraiya, mas na verdade era uma série lá dos anos 70. Por isso a qualidade de vídeo pior, e efeitos especiais piores ainda, tipo na abertura com um desenho hilário de tão mal-feito que era. Talvez por isso, e pelo fato de remeter a uma época mais antiga, que Lion Man não fez muito sucesso por aqui e logo saiu da programação.

Pior que tiveram dois Lion Mans (ou seria Lion Men?): além do laranja, tinha também o Lion Man branco. Mas tão ridículo quanto, e parecendo agora um daqueles tigres do Siegfried e Roy.

Curioso que por aqui ele passou depois do laranja, mas ele havia sido originalmente o primeiro. 

Pois é, muitas séries que passaram pela Manchete que marcaram época... Mas não podia deixar de citar mais uma, outra que não passou exatamente no velho canal 6 aqui do Rio, e que teve uma boa fama por aqui. Claro, me refiro aos Power Rangers.

Os originais. Depois tiveram uma porrada de outros, mas sem dúvida estes marcaram mais.

Eles foram um dos grandes pioneiros da chamada "sabanização", termo oriundo da produtora norte-americana Saban, que teve a ideia de pegar uma séria japonesa e adaptá-la para o público ocidental. Mas, em vez de simplesmente distribuir os seriados como eram feitos originalmente, tipos os clássicos da Manchete, eles gravaram as cenas dos personagens em trajes "civis" com atores americanos. Ou seja, na verdade era feita uma mistureba, mesclando uma parte que era nova, com personagens ocidentais, e as cenas de luta em que eles estavam mascarados vinham da série japonesa oficial. No caso, baseando-se em sua primeira temporada no seriado Zyuranger japonês, com o tema de criaturas mitológicas.

Pessoalmente, acho meio escroto. Primeiro, pelo fato de que dessa forma ficou um prato cheio para encaixar aquelas tramas adolescentes toscas, típicas de Malhação. Como as constantes cenas na lanchonete da escola da Alameda dos Anjos, onde a rapaziada sempre se encontrava depois da aula, com aquelas cenas típicas de seriado teen. Logicamente, com um elenco inclusivo, quase no estilo do Capitão Planeta, para que houvesse representatividade de todas as raças e gêneros. Pois havia o líder destemido Jason, o mano que curte dançar Zack, o nerd quatro-olhos tímido Billy, a asiática inteligente Trini e a patricinha bonitinha Kimberly. E depois apareceu o bad-boy Tommy, que era o Ranger Verde, que começava como bandido mas depois se aliava aos Power Rangers.

Não parece pôster de Barrados no Baile, Melrose Place ou outra série adolescente dos anos 90? Fala sério...

Curioso destacar que, apesar de trazer um elenco com grande diversidade racial e de gênero, na época não havia ainda a patrulha politicamente correta com marcação cerrada. Ou então provavelmente o ator negro não seria o Ranger Preto e a asiática não seria a Ranger Amarela...

Vale citar outro ponto que chamava a atenção: na série original, a equipe era formada por quatro rapazes e uma garota, como no Google V. Mas, para que não ficasse uma distribuição muito desigual entre garotas e rapazes, decidiram transformar o personagem amarelo em uma mulher. Tudo bem, entendo a motivação... mas ficava meio ridículo pois ficava muito evidente que a Ranger Amarela tinha uniforme e corpo masculino. 

Vale comentar ainda duas coisas sobre o/a Ranger Amarelo: no original o ator que interpretava esse personagem era o pirralho Manabu do Jiraiya. E a atriz Thuy Trang, que interpretava Trini, morreu após um acidente de carro em 2001... 

Voltando à série, outra coisa que eu achava sem graça era que a versão norte-americana apelou com a inclusão de dois personagens para servirem como comic-relief, os piadistas que sempre faziam alguma cagada, geralmente pagando um mico homérico no final do episódio enquanto os protagonistas caem na gargalhada. Esse papel serviu a Bulk e Skull, os punks gordo e magro que eram da turma dos adolescentes.

Claro, tinha que ser um gordo e um magro. Pois sabemos bem que há mais de um século a comédia em dupla só funciona quando tem um gordo e um magro...

Tiveram várias outras continuações, pois parece que o pessoal americano começou a curtir essas séries, e assim cada novo seriado japonês ganhava uma adaptação estadunidense, o que segue até hoje. Mas sem dúvida a série clássica marcou mais aqui no Brasil. Acabou durando três temporadas, misturando alguns outros seriados japoneses e com alterações no elenco. Apenas Billy, o Ranger Azul, e Tommy, que usou quase todas as cores do arco-íris, participaram de forma interrupta, todos os outros foram trocados em algum momento. Sem falar em alguns longa-metragens que foram lançados. Power Rangers fez (e ainda faz) muito sucesso, mas pessoalmente nunca superou os clássicos originais da Manchete. 

Não faltaram séries, isso é verdade... Um gênero de programa bem peculiar, com heróis japoneses de todos os tipos e cores, enfrentando vilões do espaço, ninjas e outros bandidos. Embora aqui no Brasil os seriados japoneses tenham perdido espaço, principalmente por conta de animes japoneses como Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball, ainda estarão na memória de muita gente. Admito que me deu uma certa felicidade nostálgica ao ver alguns desses velhos amigos de infância, quando a Band reprisou séries como Jaspion, Jiraiya e Changeman. Tomara que voltem um dia...

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