Jogos Clássicos - Pressure Cooker

Certamente muita gente mais nova deve achar graça de quando eu faço postagens sobre jogos de Atari. Me dou conta de como a idade está pesando, e em uma realidade onde o pessoal só curte jogos como The Witcher, Red Dead Redemption e outras superproduções de videogame, eu por aqui ainda fico me divertindo com joguinhos de poucos pixels de mais de 30 anos, como o clássico de hoje, Pressure Cooker.


Podem me zoar. Mas o Atari tinha algo que eu arrisco dizer que nenhum console ou plataforma mais recente conseguiu trazer: jogos desafiadores e divertidos, incluindo uma diversidade tão grande de títulos, com as temáticas mais diversas. Afinal, em que outro jogo você pode ser algo como um cozinheiro do McDonald's ou Burger King?

Pressure Cooker é mais um dos grandes clássicos do Atari, lançado em 1983 pela Activision. Com uma jogabilidade bem interessante e intensa, e gráficos que, para os padrões da época, eram muito bem feitos, era outro joguinho que eu curtia muito. Ele fazia parte dos jogos de "maior qualidade" do console, com uma generosa memória de 8 Kbytes, algo que na época era raro e apenas jogos mais avançados tinham. Pra se ter uma ideia, era o dobro do River Raid, que falei na última postagem. Há mais de um ano... preciso realmente escrever sobre jogos com mais frequência.


Como era comum na época, esse foi outro jogo criado por um homem só. O programador se chamava Gary Kitchen (com um nome desses, era realmente um predestinado para ser o "pai" de Pressure Cooker), que já havia criado outro fenômeno do Atari, Keystone Kapers, aquele jogo do guardinha perseguindo o ladrão, o qual eu certamente vou falar aqui. E ele ainda veio a participar de outros jogos em consoles mais recentes. Por exemplo, ele fez parte da equipe que desenvolveu o jogo do Bart Simpson versus os Mutantes Espaciais, para o Nintendo. 

Chega de introdução, e vamos ao jogo! Pressure Cooker tinha uma pequena historinha, colocando você na pele do mestre-cuca Short-Order Sam. Por algum motivo, ele é o único cozinheiro da lanchonete The Grille, talvez porque o dono estava cortando gastos, ou quem sabe Sam foi o único que não participou do bolão da Mega-Sena que seus colegas de trabalho ganharam, e depois largaram a labuta. Mas não adianta reclamar, os clientes estão famintos por hambúrgueres, e você precisa ajudar Sam a preparar e organizar os pedidos.

A sorte é que a lanchonete é toda high-tech, com diversos equipamentos automatizados. Por exemplo, a carne vai pra grelha sozinha, percorrendo uma esteira e depois é lançada sobre uma fatia de pão, indo na sequência para a zona de preparo onde Sam trabalha. Lá, máquinas automáticas disparam os acompanhamentos disponíveis para o sanduba: tomate, cebola, alface e queijo, além logicamente da fatia de pão de cima. Até mesmo o empacotamento é automático, com máquinas que embrulham o sanduíche e separam de acordo com o freguês, em três esteiras diferentes.


Assim, Sam só precisa olhar os pedidos no painel eletrônico, montar os sanduíches e entregá-los na esteira correta. Parece fácil, mas o restaurante é frenético e os ingredientes chegam sem parar, e se você não fosse ágil o suficiente, melava tudo.

Os controles de Pressure Cooker são relativamente simples. A haste do joystick é usada para controlar Sam, que pode correr nas oito direções e com bastante velocidade. O botão vermelho tem dupla função, dependendo do ambiente onde você esteja: na sala de preparo, ao manter o botão apertado, Sam rebate o ingrediente de volta para a máquina (já vou explicar melhor); por sua vez, na sala de empacotamento, apertar o botão solta o hambúrguer, idealmente na esteira correta. Pressure Cooker possuía oito variações de jogo, selecionadas pela chave Game Select, com diferentes velocidades iniciais e com opções para um ou dois jogadores alternados. Além disso, uma das chavinhas de dificuldade podia ligar ou desligar a música durante o jogo... eu acho que nunca joguei sem música, pois ela dá mais ambientação à partida.

Os controles são simples, pois o jogo era foda! Vamos lá explicar um pouco de como era a jogabilidade de Pressure Cooker.


Em cada fase, Sam tinha que preparar doze sanduíches, a serem divididos entre três esteiras de empacotamento (que eu imaginava serem para clientes específicos). Como disse acima, a cozinha é toda automática, mas é bem maluca. Começando com os hambúrgueres, que são preparados na parte superior da tela, e depois descem por uma esteira no lado esquerdo. Enquanto isso, as máquinas à direita lançavam os ingredientes de forma aleatória. O objetivo era olhar no painel de pedidos, localizado na parte inferior da tela, identificar os ingredientes corretos e colocá-los no sanduíche. As marquinhas abaixo do tomate, da cebola, da alface e do queijo indicavam quais eram os ingredientes de cada um.

Assim que um ingrediente era lançado, você tinha que correr com o Sam para pegá-lo. Bastava deixá-lo bater em seu barrigão mole para segurar o ingrediente. Dava até pra fazer pose, ficando de frente ou de costas para a tela, e dessa forma pegando o item "de ladinho". O que não dava era pra pegar o ingrediente com as costas ou com a cara, nessa situação ele explodia numa meleca colorida. 


Com o ingrediente na mão, bastava correr até o hambúrguer na esteira para depositá-lo ali. Feito isso, outro ingrediente era disparado das máquinas. Não tinha como largá-lo no chão ou devolvê-lo para a máquina, uma vez Sam pegava um ingrediente, ele só podia ser colocado no hambúrguer. O que fazer então, se viesse algo que não estava no pedido?

Pra isso servia o botão vermelho. Se ele estivesse apertado quando o ingrediente se chocasse com a barriga de Sam, ele era rebatido de volta pra máquina, e outra delas disparava. Assim, nessa etapa o jogo se resumia a pegar somente os ingredientes que interessavam para o sanduíche em preparo, o que não fosse útil era pra ser devolvido pras máquinas. Observando que as máquinas contavam com algum tipo de inteligência artificial, interrompendo o lançamento de novos ingredientes se Sam estiver segurando alguma coisa.

Tudo isso rolando até o momento em que você tinha todos os ingredientes de um dos pedidos. Geralmente nessa hora a última máquina disparava a fatia de pão do topo. O processo era o mesmo, pegando o pão com a barriga e levando para o hambúrguer na esteira. A diferença é que nessa hora Sam pegava o sanduba pronto, e era hora de levar pra sala de empacotamento, localizada logo abaixo da cozinha.


Se você percebeu, na lista de pedidos cada barrinha tem sua cor de fundo, que pode ser azul, verde ou vermelha, e que piscava para indicar qual era o sanduíche que você estava carregando. Essa cor indicava em qual das esteiras você tinha que largar o hambúrguer, indicadas por setas com a respectiva coloração. Era necessário estar relativamente alinhado com a esteira e apertar o botão pra soltá-lo. Se Sam não estivesse bem alinhado, ou se por ventura largasse o sanduba na esteira de cor errada, ele explodia. Independente do que acontecesse, Sam tinha que correr de volta pra cozinha, pra preparar o próximo hambúrguer.

Ufa! Corrido, não? Acredite, tem mais...

Logicamente que não dava pra ficar fazendo cagada eternamente, desperdiçando ingredientes e comida. Para isso, havia em Pressure Cooker um contador dos chamados "pontos de desempenho". Era como se fosse a energia de Sam, ou mesmo podia indicar o dinheiro do restaurante. A cada coisa errada que você fizesse, pontos eram descontados desse placar. Um ponto era perdido para cada ingrediente desperdiçado, seja um que tenha se espatifado em Sam ou na esteira ou que tenha sido repetido em um sanduíche (por exemplo, colocar uma cebola em um sanduíche que já tivesse cebola). Os hambúrgueres que fossem perdidos na sala de empacotamento, por terem sido colocados na esteira errada ou fora de posição, descontavam cinco pontos, independente da quantidade de ingredientes. Por fim, para cada hambúrguer que chegasse ao final da esteira e fosse perdido, preciosos dez pontos de desempenho eram debitados.


Pra ganhar mais pontos de desempenho, tinha que fazer um bom placar. A pontuação podia ser acumulada de diversas formas. Durante a fase, cada ingrediente que Sam pegasse de maneira segura valia 5 pontos, colocá-lo em um sanduíche (desde que não fosse repetido) dava 10 pontos e lançar o hambúrguer na esteira certa dava mais 100 pontos. No final da fase, havia os pontos de bônus, para cada ponto de desempenho acumulado e para cada sanduíche entregue, sendo que o valor de cada um deles ia aumentando em fases mais avançadas. A cada 10 mil pontos, você e Sam ganhavam mais dez pontos de performance, até um limite de 99.

Tinha ainda o seguinte: em cada fase, o fogão só preparava doze hambúrgueres, tudo contadinho. Assim, se você perdesse sanduíches durante o preparo, as esteiras ficariam incompletas, afetando sua pontuação de bônus.

Pressure Cooker não tinha fim. Depois de completar uma fase, começava outra com maior dificuldade (pedidos mais difíceis com mais ingredientes e as esteiras ganhando velocidade), até que acabassem os pontos de desempenho. O que ajudava um pouco a equilibrar era que geralmente a progressão da dificuldade era escalonada: com um determinada velocidade, as fases iam ficando mais complexas, cada vez mais com pedidos maiores, e ao passar para uma nova velocidade geralmente os sanduíches voltavam aos tipos mais simples, com um ingrediente só, e assim por diante.


O aumento da velocidade se aplicava basicamente na esteira, movendo os sanduíches mais rapidamente, e consequentemente dando menos tempo para prepará-los. Quanto aos ingredientes, confesso que parece que eles ficam na mesma velocidade ao serem lançados da máquina. Quanto à complexidade dos pedidos, no início é molezinha, com apenas um ingrediente; mas em fases mais avançadas era possível chegar em um X-tudo completão com tomate, cebola, alface e queijo, uma monstruosidade quase do tamanho do Sam.

Curioso observar que em alguns momentos a barrinha de pedidos vinha vazia. Era isso mesmo, nesse caso é o hambúrguer simples, só com a carne. Tinha então que devolver um ingrediente qualquer para que a máquina de pão disparasse a parte de cima.


Além disso, nas dificuldades mais avançadas as máquinas automáticas parecem pegar algum vírus e começar a ser sacanas. Digo isso pois no início do jogo é comum que elas disparem ingredientes que te interessam (por exemplo, se na lista o tomate e a alface estiverem marcados, as máquinas geralmente lançam esses ingredientes), mas seguindo mais adiante começamos a ver como os ingredientes vem em uma ordem totalmente aleatória. Tem horas que até o topo do pão é disparado antes de ter um sanduíche pronto, e vice-versa (você já tem um preparado, e outro ingrediente que não te interessa é lançado). Bem frenético. 

Pressure Cooker é um jogo genial. E uso o verbo no presente não é à toa, pois eu sei que muita gente ainda se diverte com esse simpático joguinho, como eu. Além de trazer um tema bem original, o estilo de jogo é bem desafiador, muito mais interessante na minha opinião do que esses joguinhos de celular de restaurante que tem hoje em dia. Claro que ele tinha as suas manhas e dicas (tipo, ficar perto das máquinas pra rebater ingredientes indesejados o mais rapidamente possível), mas dependia muito de destreza e pensamento rápido, pra fazer uma boa pontuação.

Aliás, Pressure Cooker era um dos jogos do Atari que tinha uma certa "promoção", outra sacada sensacional na época. Era comum que os manuais indicassem alguns limites de pontuação que caracterizavam o bom jogador, e se você mandasse uma foto para eles, era mandado um emblema no formato de um distintivo, daqueles que dava pra colar na roupa em numa mochila, como aqueles emblemas de escoteiros. No caso de Pressure Cooker, fazendo mais de 45.000 pontos te dava o direito de ostentar o emblema de Short-Order Squad.


Bons tempos em que os jogos eram assim. Divertidos, bem bolados e até mesmo com promoções bem divertidas como essa.

Vou ficando por aqui, depois de mais este review nostálgico de um dos clássicos do Atari. Preciso realmente tornar isso uma rotina, o que não falta são jogos legais do velho console dos anos 80 que merecem ser lembrados. Na verdade, para que nunca sejam esquecidos, e possam ainda divertir muitas e muitas gerações de fãs dos videogames. 

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