Táxi x Uber

Um dos assuntos nesses últimos dias foi sobre a costumeira disputa entre duas formas de transporte que temos à nossa disposição nas grandes cidades: de um lado os táxis, velhos conhecidos e que estão aí há bastante tempo, e do outro os aplicativos como o Uber, com uma nova tendência na maneira de ir e vir e que ganhou muito espaço. A discussão chegou até o Senado, onde recentemente foi aprovada a regulamentação dos serviços dos aplicativos, o que pode restringir seu domínio, embora teoricamente proponha uma competição mais justa com os táxis. O assunto caiu na boca do povo, cada um com sua opinião, uns defendendo os táxis e outros defendendo o Uber.


E quando o tema é polêmico, eu gosto de vir aqui pra falar, como vocês sabem...

Começo explicando a minha condição, digamos assim. Eu particularmente uso táxi com uma certa frequência, nada muito constante mais posso dizer que pelos menos duas vezes por semana. Durante um tempo, precisei usar por conta de ter machucado uma das minhas pernas, para não forcá-la na selva que é o transporte público. E admito que existem aquelas situações, depois de um dia cansativo de trabalho, que eu me dou o direito de voltar para casa com um pouquinho mais de conforto, podendo recostar num banco e aproveitar um ar condicionado. Mesmo assim, diria que são poucas as vezes que uso táxi.

E mesmo assim, sem ser pelos aplicativos: aqui no Rio, pelo menos nas regiões onde costumo frequentar, é muito fácil só estender o braço na rua e achar um táxi, bem melhor do que ter que ficar esperando o taxista que puxou minha corrida pelo app chegar.


Eu sei, vai ter gente dizendo que sou idiota, pois nesses aplicativos é possível ter desconto. Mas, digo de novo, uso táxi de forma esporádica, assim o quanto eu vou economizar não compensa o espaço consumido no meu já cansado celular...

Por sua vez, Uber eu nunca tive interesse. Pelas mesmas razões acima: pra mim é muito mais prático pegar um táxi na rua do que ficar esperando. E eu escutei muitas experiências ruins de colegas a respeito do Uber, o que me desmotivou a testar esse aplicativo. Como dizem, "em time que se está ganhando não se mexe", e os táxis atendem ao que eu preciso. Apesar de em diversas situações eu ter tido experiências ruins...

Aí alguém pode pensar: então eu estou do lado dos táxis?

Não, de jeito nenhum. Na verdade, não estou no lado de ninguém. Pois tanto os táxis como o Uber aqui no Brasil sofrem com um problema crônico: ficam na mão de brasileiros. Aí, não tem como o negócio funcionar bem.


Convenhamos... Começando com os táxis, eu posso dizer aqui com propriedade que é um serviço que muitas vezes deixa a desejar, especialmente quando falamos aqui no Rio de Janeiro. Eu já peguei carros mal conservados, fedendo, sem ar condicionado, sem cinto de segurança no banco traseiro ou com assentos rasgados. Sem falar em várias vezes onde o taxista tenta convencer o passageiro a pegar uma rota mais longa, para faturar mais na corrida. E tem os casos de taxímetros certamente adulterados: já percebi situações onde faço o mesmo trajeto, nas mesmas condições de trânsito, e o preço chega a variar em torno de 40%.

Cabe dedicar um parágrafo aqui para falar de outra coisa péssima: as máfias de cooperativas de aeroportos e rodoviárias. Verdadeiros antros de bandidos, crápulas e filhos das putas. Já começa com a estúpida regra de que essas cooperativas têm exclusividade, e dessa forma podem praticar preços abusivos para se aproveitar do consumidor. Isso quando não estão agredindo taxistas "rivais", que não fazem parte do bando.


Conto aqui um caso que observei há muito tempo, antes dessa dos aplicativos. Estava no Santos Dummont, chegando num vôo de noite, e você tinha duas opções: ou arriscar de pegar um táxi no desembarque, onde havia o risco de ter um malandro lá com taxímetro adulterado e uma manjada história de que a tarifa tinha sofrido reajuste naquele dia (pra pegar turista trouxa), ou recorrer à cooperativa, que foi o que eu fiz. Naquela noite, por algum motivo quase não haviam táxis da cooperativa, e dessa forma os carinhas lá estavam autorizando outros táxis passarem ali pra desafogar a demanda. Uma atitude sensata, mas lembrem-se de que estamos falando de criminosos que só pensam no benefício próprio.

Pois muito bem. Estava ali esperando na fila, e percebia que o velho suado e de camisa aberta no início da fila perguntava pra cada um qual era o bairro de destino. Foi quando percebi logo na frente um casal com dois filhos pequenos e várias malas. E quando eles chegaram lá, pude escutar o pai dizendo que eles iam para o Recreio.

Ora... que você acha que o puto fez?

Ele pediu para a família ficar ali do lado, que logo estaria chegando um táxi da cooperativa para levá-los, usando o argumento de que seria mais confortável um carro maior... como os vários, de outras cooperativas que estavam passando. Tava na cara que o interesse era não dar aquela corrida de mais de cem reais (sem contar a taxa de bagagem) para outra cooperativa. Acabou que eu, que estava atrás daquela família, iria embarcar antes deles. Algumas pessoas até comentavam lá com o controlador da fila, mas a grande maioria dos passageiros estava pouco se fudendo, afinal cada um estava ali pensando em chegar logo a suas casas. Eu mesmo comentei isso, e o canalha respondeu que era pra eu cuidar de minha vida.


Mais um exemplo de como os táxis têm muitos problemas. Não são todos, lógico. Já peguei táxis aqui onde tive um serviço muito bom, coisa de primeiro mundo. Mas não foram poucas as oportunidades em que a qualidade não valeu o que se paga (que é muito).

Aí o que acontece é o seguinte: quando um determinado serviço é de má qualidade, abre-se espaço para que apareçam opções. Antes isso era mais difícil, os táxis detinham um certo monopólio do transporte individual, mais um motivo para que eles relaxassem na qualidade. Em uma situação dessas, surge uma opção como o Uber... e então a maioria dos taxistas fica putinho.


Embora eu diria que o Uber veio para atender um cliente diferente daquele que usa um táxi. Pelo menos se considerarmos o foco que ele tinha no início. A idéia era fornecer algo diferenciado, uma experiência muito mais focada no conforto da viagem. Em linhas gerais, no Uber você teria acesso a um motorista bem vestido, dirigindo um carro novo e confortável, com ar condicionado, com a corrida baseada em GPS e pagamento no cartão, e tendo até direito à uma aguinha. Diferente do táxi, onde muitas vezes você precisa encarar aquele Santana velho com aquele motorista desbocado e de camisa rasgada, tendo que se contentar com o vento que vem pela janela, seguindo por um trajeto mais longo só pra aumentar o preço da viagem, com pagamento somente em dinheiro, com direito ao "posso ficar devendo" e troco com aquelas notas amassadas e coladas com durex, e com água só nos dias de chuva...

Tem gente que não faz questão de todo esse conforto... Mas temos que ser sinceros: tem táxi por aí que é menos confortável que ônibus.

Na verdade, entendo que o Uber veio para atender uma demanda de quem é exigente quanto ao serviço de transporte, que não tolera o desleixo e a pilantragem que vemos em muitos táxis. Digo que ele não está fazendo algo muito diferente do que serviços de motoristas particulares, que existem por aqui há anos. Tudo bem que um motorista particular fica ali à disposição de seu cliente, no caso do Uber é toda uma frota com diferentes motoristas. Mas acho que não foge muito do conceito.

Logicamente que o Uber também tem os seus defeitos, possui uma série de problemas e até mesmo grandes riscos. Pra começar, muitos motoristas de Uber não tem tanta experiência ao dirigir, não conhecem as ruas e atalhos, os horários onde o trânsito fica ruim em determinados locais. Ele vai confiar apenas no GPS, e isso pode ser uma grande furada, tipo errar uma curva e parar numa favela. Embora cabe ressaltar que esse não é um problema exclusivo de Uber, vale também para táxis e motoristas particulares. Enfim, uma falta de experiência no trânsito que pode prejudicar o tempo de viagem, prejudicando o passageiro.


Outra questão é a segurança. Você sabia que, ao andar de táxi, você tem direito a um seguro caso se envolva em um acidente? Todo taxista é obrigado a ter um seguro desses, o que garante uma maior tranquilidade ao passageiro. No Uber, isso não existe, é como se você estivesse pegando uma carona com um amigo. Bateu, fudeu.

Por fim... sabemos que tudo aqui no Brasil é esculachado. E não seria diferente no Uber, pelo menos na categoria mais popular (não no Uber Black, onde aparentemente existe um rigor maior). Nele, qualquer um, não importa a sua procedência e conhecimento, pode trabalhar para o aplicativo, independente do carro que tenha. Basta ter um smartphone com GPS (algo que qualquer pé rapado tem hoje em dia) e já pode trabalhar para o Uber, mesmo se tiver uma merda como essa.


Na boa... Essa sucata não deve valer metade do preço do celular.

Resumindo... Não tem lado certo nessa história. Tanto nos táxis como no Uber vamos encontrar exemplos de mau atendimento e baixa qualidade, como também casos a serem destacados de forma positiva.

Acontece que a mídia e os meios de comunicação em geral tentam demonizar os aplicativos. Afinal de contas, pense comigo: diante de uma situação dessas, em que surge a competição, a classe de taxistas vai se revoltar. Logicamente, incentivados pelos inúmeros sindicatos da categoria, pois sabemos bem que sindicalista em geral tem uma mentalidade atrasada e egoísta. E que são todos (ou praticamente todos) simpatizantes do PT e da esquerda. E a mídia, que acha a esquerda politicamente correta, acaba indo na onda. É revoltante como que certos jornalistas se mostram extremamente parciais, ao criticar serviços como o Uber. Repito, existem sim coisas a serem corrigidas; mas tomar partido dessa forma descarada?

Por isso que tem muitos taxistas que se acham no direito de agredir. Vários casos aí em que eles descem a porrada em motoristas do Uber... ou mesmo em pessoas inocentes. Se o cara vai no aeroporto buscar um amigo em seu carro preto, tá arriscado a ser confundido com um motorista do aplicativo e ser agredido de graça...


Uma verdadeira palhaçada...

Por um lado, eu concordo que deve haver uma fiscalização maior desses aplicativos. Realmente, existem muitas coisas que não são bem certificadas, e é importante que os usuários do Uber e similares tenham seus direitos garantidos. Não rola de andar num carro desses sem seguro, por exemplo. Deve haver sim algum tipo de fiscalização e controle, para que os passageiros possam aproveitar o conforto de um serviço desse tipo, mas sem serem prejudicados em uma situação grave.

Mas, por outro lado... sou contra essa postura atrasada de taxistas mais revoltados, que dizem que o Uber é uma competição desleal e deve ser proibido. Vão tomar no cu, vai ver a quantidade de isenções de imposto que os táxis possuem, o que não vale para um carro comum. Os táxis durante muito tempo detiveram um controle total do transporte individualizado, o que deu brecha para uma queda da qualidade. A competição deve existir sim, o consumidor tem o direito de escolha. A existência do Uber não vai acabar com os táxis (como não acabou), mas vai exigir que os taxistas se adaptem e melhorem a qualidade de seus serviços.

Vamos ver o que vai dar disso tudo...

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