Carnaval Politicamente Correto

Que eu odeio o Carnaval, vocês que acompanham o blog aqui faz algum tempo já sabem... Nem vou falar aqui os motivos pelos quais eu detesto essa festa, não sei se começo pela putaria desenfreada, pela mijação liberada pelas ruas, pelas músicas escrotas ou pela bagunça que a cidade fica. Não tem nada que eu goste nessa festa... Nem mesmo ver as mulheres com seus trajes sumários, prefiro muito mais ver uma modelo desfilando alguma roupa de grife do que uma qualquer uma com os peitos de fora, coberta de purpurina e cheia de penas.


Mas, tem outra coisa que eu odeio que é a aura politicamente correta que está cada vez mais forte. Eu diria que essa é uma das grandes mazelas da sociedade moderna, preocupada em ser "certinha", em evitar qualquer coisa que possa ser interpretada como ofensiva por pessoas exageradamente sensíveis. Hoje em dia, qualquer argumento pode ser transformado em algo criminoso e inaceitável, principalmente se é direcionado a uma das minorias escolhidas pelos politicamente corretos. Pois, claro... sabemos bem que toda essa preocupação em não causar nenhum tipo de constrangimento só vale para algumas minorias vítimas de preconceito, enquanto outras são esquecidas mesmo que sejam também vistas de forma preconceituosa, e se você faz parte da "maioria opressora", será sempre visto como um criminoso, independente do que faça ou deixe de fazer.

Na boa, hoje em dia parece ser um péssimo negócio ser um homem branco, heterossexual e adulto...

De qualquer forma, deixo esses devaneios para outro momento. Hoje aqui venho só pra comentar rapidinho a respeito do ponto até onde a onde de politicamente correto está chegando: ela está conseguindo censurar o Carnaval.

Aí quero ver como é que vai ser... Afinal de contas, segundo a mesma sociedade, o Carnaval é a festa tradicional do Brasil, um evento "cultural". Será então que vão mudar mesmo o Carnaval?

Isso foi percebido por dois acontecimentos que eu li em notícias e percebi na mídia. Começo pelo mais recente, que vi nessa notícia no site do Globo, dizendo que algumas marchinhas estão sendo banidas do repertório de alguns blocos de rua, por serem consideradas preconceituosas.


Tudo bem que marchinha de Carnaval pra mim é algo tão agradável quando cair em uma piscina cheia de vômito, e não reclamo se não tiver mais que escutar o bar da esquina tocar "Olha a cabeleira do Zezé / Será que ele é? / Será que ele é? / Bicha!" sem parar. 

Mas, na boa... Acho já um certo exagero. Afinal, não dizem que o Carnaval é folia, é brincadeira? Mesmo eu odiando essas marchinhas, sem exceção, é indiscutível que elas fazem parte da história da festa, sendo cantadas por décadas em bailes e blocos. Por todas as pessoas, independente de cor, sexo e idade. Tem homossexual cantando sobre a cabeleira do Zezé, negro dançando ao samba do crioulo doido e índio pedindo apito, por anos e anos, sem nenhum problema, sem ninguém se sentir ofendido.

Só que a polícia do politicamente correto não aceita. Não pode. Pois são marchinhas ofensivas, contra os negros, as mulheres e os homossexuais... E assim, como verdadeiros defensores da liberdade de expressão, querem banir as marchinhas que eles consideram preconceituosas. 

Sério, tanta coisa mais importante pra se preocupar e estes filhos das putas ficam aí de viadagem com isso? Puta que pariu, por que esses cretinos não usam todo esse empenho pra protestar contra a criminalidade, contra as filas nos hospitais públicos, contra a impunidade que coloca bandidos perigosos nas ruas, contra coisas que realmente importam? Parece que esses desocupados estão mais focados sobre em como uma marchinha de Carnaval qualquer possa ser ofensiva para um negro, para um homossexual. Isso é mais importante?

O mais engraçado é que geralmente o politicamente correto nem se enquadra nestas tais minorias para saber o que é preconceito, mas mesmo assim fica ofendido com coisas pequenas como uma mera marchinha. Tipo, procurar pêlo em ovo. Fazem um estardalhaço por bobagem, coisas insignificantes, baseadas em sua mentalidade cega e parcial de achar que qualquer coisinha é ofensiva. São os defensores da moral e dos bons costumes, lutando pelos fracos e oprimidos.


Tá foda...

Pra você ver outro exemplo disso. Como eu disse, o Carnaval é conhecido por várias coisas, e uma delas são as mulheres nos desfiles em trajes sumários, muitas vezes com os peitos pra fora e até mesmo alguns casos mais extremos onde a cidadã veste apenas um tapa-sexo pra cobrir o parque de diversões. Por mais que possam pensar que eu estou de piada, eu acho sim isso meio exagerado, não vejo nenhuma justificativa para o cara inventar um tema para seu samba-enredo e ter ali alguma razão para que a mulher esteja dessa forma (sei lá, só se estiverem contando a história de Adão e Eva ou quiserem mostrar como Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil). Não tem putamente nada a ver uma escola de samba vir cantar sobre, sei lá, sobre as grandes navegações, e ter ali uma moça com suas tatas de fora, com direito a um timão de navio pintado em uma posição estratégica...


Não ficarei surpreso se nesse ano muitas escolas de samba mudarem radicalmente a sua filosofia, colocando as passistas e destaques mais comportadas, com seus seios cobertos. Pode apostar que será um Carnaval com menos exposição. Talvez até tenham algumas exceções, diria que nem talvez, mas certamente devem ter algumas que vão continuar com semi-nuas na Sapucaí. E serão certamente alvo de críticas ferozes dos politicamente corretos, principalmente das feministas exageradas. Aquelas que querem a igualdade de direitos, mas apenas para as situações onde os homens têm vantagem e não para as em que as mulheres levam vantagem. As mesmas feministas que adoram inclusive protestar fazendo topless.

É engraçado, sabe? Parece que para essas "feministas", tá tudo bem botar os peitos pra fora se é pra protestar; mas, fazer o mesmo pra ganhar dinheiro, ou mesmo pela simples vontade, é opressão da sociedade machista...


Enfim, e o segundo exemplo que eu ia citar sobre como o politicamente correto está mudando o Carnaval tem até um pouco a ver com isso. Quando a gente fala de Carnaval, a gente pode associar a várias coisas. E uma delas é a mulata da Globeleza.

Desde que me entendo como gente, quando chega a época de Carnaval a Rede Globo coloca lá as vinhetas dela, sambando ali no meio do nada e vestindo apenas uma cada de tinta. Ficou por vários anos com aquela Valéria Valenssa, a mais famosa, e recentemente veio sendo substituída por algumas desconhecidas ao longo dos anos, só pra justificar mais um concurso insuportável no programa do Luciano Huck.

Confesso que achava isso escroto para caralho, ainda mais acompanhada daquela música insuportável que o pessoal da Globo achava genial, mas enfim. Era algo como uma das marcas da festa, algo que sempre nos acostumamos a ver e que automaticamente fazia todos se lembrarem da festa, tipo como a árvore de Natal da Lagoa aqui no Rio.

Acontece que, da mesma forma que neste Natal a árvore não iluminou as águas da Lagoa, neste Carnaval teremos uma dançarina da Globeleza um pouco diferente. Digo dançarina pois politicamente corretamente falando não se pode mais falar mulata...


Sim, agora ela está totalmente vestida.

Não tenho dúvidas que foi iniciativa da Rede do Plim-Plim fazer essa mudança. Ainda mais considerando que a emissora é uma das defensoras da cultura politicamente correta, de sempre aplaudir de forma exagerada o que é "certo", muitas vezes até tentando influenciar as pessoas. Pode ter sido algo preventivo, para evitar as críticas e cair nas graças da sociedade, que cada vez mais clama por essa postura politicamente correta. Mas no fundo eu sei que a Globo é uma formadora de opinião que gosta de controlar as pessoas, e essa seria a sua colaboração para tornar as pessoas mais "corretas".

Honestamente, acho muita babaquice... Mais uma vez digo, era algo como uma tradição, mas que foi facilmente esquecida por conta do clamor dessas pessoas frescas. Não estou dizendo que não se deva mudar algo... Apenas acho engraçado como tal mudança, buscando uma visão mais comportada, coincide com este momento em que estamos vivendo, do politicamente correto.

Puta merda... Estou escrevendo tantas vezes essa expressão "politicamente correto", que acho que preciso criar um atalho aqui. Ou mudar o nome do blog para Texugo Politicamente Incorreto. Só que acho que isso ia era arrumar merda pro meu lado, já ia aparecer gente querendo fechar isso aqui. E viva a liberdade de expressão...


Aí vai aparecer alguém dizendo "ah, mas a Globeleza antes fazia apologia à objetificação da mulher, enaltecia um físico difícil de se alcançar, promovia a prostituição, era degradante ao usar o termo mulata" e assim por diante. De novo, não estou dizendo que seja algo legal, repito que eu achava a Globeleza uma babaquice sem tamanho, até porque eu acho o rebolado de samba algo traumaticamente horroroso.

Acontece que até algum pouco tempo atrás a mesma sociedade que aplaude o politicamente correto também aplaudia (e até mesmo ainda aplaude) o Carnaval, incluindo aí toda a sua irreverência e o seu uso da sensualidade. Tá cheio de politicamente correto aí que vai se jogar em blocos de rua pra beijar na boca e trepar com a maior quantidade de criaturas que aguente. Tá cheio de politicamente correto aí que vai assistir os desfiles na Sapucaí ou pela televisão, dando jóinha pra foto dos atores e atrizes globais, mesmo aquelas que desfilem praticamente peladas. O que eu acho ridículo é essas pessoas sempre aplaudirem o Carnaval, e agora ficam com essa viadagem de querer mudá-lo para que atenda os preceitos da cartilha politicamente correta.

Proibir marchinhas de Carnaval não é combater preconceito, "vestir" a mulata da Globeleza não é acabar com a objetificação da mulher. São apenas exemplos da hipocrisia do politicamente correto, que antes nunca via problema nessas coisas, mas que com um estalar de dedos muda radicalmente sua opinião. Um politicamente correto que durante anos cantava a plenos pulmões "Olha a cabeleira do Zezé" e não via nenhum tipo de preconceito e agora subitamente acha a música ofensiva, um politicamente correto que durante décadas admirava a Valeria Valenssa sambando só com pintura corporal e que hoje diz que uma mulher nua em uma vinheta de Carnaval é degradante...

Digo novamente... Este mundo está ficando cada vez mais complicado, acho que tá na hora de eu me enfiar numa caverna e deixar essa merda explodir. 


Comentários

Achei legal vestir a Globeleza. Era esquisito ver aquela mulher nua, por mais que bela, muito bela, mas nua, se balançando toda, na hora do jantar, família reunida...
Não vou ser hipócrita dizendo que isso choca, porque nas Europas e Ásias também há coisas séquis. Mas ficou melhor assim.
=D
Texugo disse…
Obrigado pela visita Arne.

Eu particularmente não gostei ou desgostei. Por nunca ser muito chegado no carnaval, não me faz diferença. Mas realmente, era meio bizarro ali a mulher sambando só com pintura corporal.
Ciro disse…
Lembro que certa vez fizeram uma Globeza em 3D, bem bizarro!
Anônimo disse…
censurar marchinhas de carnaval por acharem ofensivas,cobrir a globeleza é tão incoerente quanto a valeska popozuda que se diz feminista e ganha a vida rebolando o rabo e cantando eu quero dar.