E que comecem os Jogos

E finalmente chegaram os Jogos Olímpicos. Depois de muitos anos de preparativos, ansiedade e correria de última hora, tivemos nessa sexta a abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Serão duas longas semanas de competições de todos os tipos, reunindo atletas de todos os cantos do mundo, na busca pelo lugar mais alto do pódio. Algo que eu particularmente não vou conseguir disfrutar muito, pois como boa parte dos cariocas, vou ter que trabalhar normalmente, precisando encarar a zona causada por uma grande falta de planejamento dos organizadores.

Não vou aqui ser como muitos que atiram uma chuva de pedras nas Olimpíadas. Sei que tivemos muitos atrasos, muito gasto de dinheiro com obras enquanto serviços básicos estão caindo aos pedações, e estou ciente que talvez o único legado descente desses Jogos seja a floresta que será plantada pelos atletas (até que apareça um pessoal do MST pra botá-la abaixo). Não restam dúvidas que no atual momento, sediar uma competição desse porte era a última coisa que a gente precisava. Podem me chamar de pessimista, mas fico me perguntando como será o balde de água fria da realidade que será jogado na cabeça da população, assim que a pira seja apagada.


Enfim, a cerimônia de abertura foi dentro daquilo que eu imaginava, diria até que os primeiros minutos até foi legal. Aquela jogada com um monte de travesseiros de papel alumínio, e mesmo a parte em que se contava a história do Brasil, foram momentos bem executados da cerimônia. Até mesmo o toque do 14 Bis, que deve ter deixado os norte-americanos meio fulos, foi bem legal. 

Só que, como diria o ditado: se o brasileiro não faz merda na entrada, faz na saída. Sei lá, a qualidade despencou como o Coiote caindo no precipício. Parece que faltou dinheiro nesse momento, devem ter estourado as cifras pra pagar a Gisele Bündchen desfilando pelo palco, e aí tiveram que colocar Jorge Ben Jor, Regina Casé, Elza Soares, Ludmilla, Caetano Veloso e até uma garota que canta funk que não faço nem idéia de quem seja, deve ser a MC Pé-de-Moleque... Nessa hora, tive que fazer uma ligação pro Hugo lá no grande telefone branco que tenho instalado no banheiro.


Depois tivemos a parte que mais parece uma aula de geografia, com o desfile das delegações dos países participantes. Vou te contar, eu até gostava dessa matéria, mas a quantidade de países que temos hoje fez esse momento do desfile durar uma eternidade. Mas foi uma das partes mais divertidas e interessantes, embora os narradores conseguem estragar tudo. Tipo, com a manjada piadinha sobre a delegação de Bermudas desfilar de bermuda, ou outro cara tentando demonstrar o seu conhecimento sobre quais das bandeiras eram de ex-repúblicas soviéticas.

Bom, e me dou conta de que uma grande furada é basear seus conceitos de geografia no clássico jogo de tabuleiro War, o que teve de colegas meus perguntando quando vinham as delegações de Omsk ou Dudinka...


Teve de tudo... atletas africanos com trajes típicos, mulheres muçulmanas com véu na cabeça, um bombado duma ilha da Oceania vestido como guerreiro zulu, jamaicana com cabelo verde e amarelo, um anão levando uma muda de planta ao lado das bandeiras e venezuelanos felizes por estarem em um país com papel higiênico. Eu particularmente ficava encantado com a já conhecida beleza das atletas do Leste Europeu... Passava a delegação da Rússia, da Ucrânia, da  Bielo-Rússica (que os babacas do SporTV cismaram de chamar de Belarús, com sílaba tônica no "u"), e era só aquelas mulheres loiras, lindas, encantadoras e charmosas.


O que me deixou puto é que você chega hoje, vai procurar fotos do desfile das delegações, e não aparece NENHUMA foto legal que demonstre em sua plenitude a beleza dessas atletas. E independente da pesquisa, sempre aparece o bombadão besuntado de óleo de Tonga... Pombas. Tive que recorrer às suecas, que parece que saíram do treino horas antes da parada.


Aliás, cabe ressaltar que pela primeira vez tivemos um "time" de atletas refugiados, composto por competidores que fugiram de nações que estão em guerra. Como a nadadora Yusra Mardini, a morena sorridente que veio da Síria, e não apenas é uma gracinha, mas tem uma história marcante. Segundo as notícias dizem, ela nadou 3 horas no mar, puxando um barco com a ajuda de dois outros caras, onde tinham quase vinte pessoas, incluindo sua irmã. Algo a ser aplaudido.

Sobre a tocha, teve todo um suspense sobre quem iria acender a pira. Cogitou-se muito o nome do Pelé, mas ele estava ainda se recuperando de uma cirurgia, sem falar que o Rei do Futebol só fazia as coisas direito dentro das quatro linhas com a bola no pé. Com isso, a honra coube ao maratonista Wanderlei Cordeiro de Lima, aquele que foi atacado por aquele padre irlandês. Algo merecido... Embora essa pira pra mim foi muito escrota, parece um latão de lixo onde se faz churrasquinho de gato.



Depois ela subiu e ficou na frente de uma estrutura meio bizarra, simulando um sol. Gerou até um efeito bonito, mas confesso que esperava mais, parece algo que você fazia para o projeto de Ciências na escola, com material reciclado e latinha de refrigerante. Detalhe que essa pira não vai ficar acesa, pela primeira vez (brasileiro gosta de mudar as coisas...) ela vai ficar acesa na Candelária.


Bom, e mudando agora um pouco o foco, não podia deixar de destacar a homenagem bacana que fizeram para a Dilma. Pois, cada delegação era precedida por uma bicicleta. Já que ela gosta de dar pedaladas, acho que escolheram bem.


Aliás, como esperado não faltaram os babacas do "fora Temer". Nem vou me dar ao trabalho de comentar isso... O mais engraçado é imaginar um monte de pessoas que são tão conscientes com o povo, que pagaram uma nota preta para assistir a abertura, algo que o povo que eles tanto defendem jamais conseguiria, e ficam aí com esse discurso de merda de golpe, criticando um presidente em exercício que está lá graças ao voto deles mesmos...

Inclusive, vale a pena comentar a postagem do Fernando Meirelles, um diretor de cinema de "grande destaque" e responsável pelo show de abertura, enaltecendo o fato de que o Bolsonaro e o Trump iriam odiar o espetáculo, e dizendo que nisso eles acertaram...


Bom, Meirelles... Entendo que você deve estar putinho pelo fato de que agora vai ser mais difícil para você ganhar uma grana fácil do governo para fazer esses seus filmes de "grande renome". Só te digo que o Trump deve estar cagando e andando para que um pseudo-diretor com mania de grandeza pensa a seu respeito. E o Bolsonaro deve estar rindo à toa da propaganda gratuita que você e seus amiguinhos estão fazendo. 

Termino fazendo mais uma crítica, a uma das coisas que eu achei mais sem noção e hipócrita de toda a abertura. Como de costume, rolou aquela influência do politicamente correto, em ter aquele papinho de Green Peace de que temos que cuidar do meio ambiente e o caralho a quatro. Tudo bem, ninguém aqui está dizendo que não seja uma questão importante a ser debatida, e penso que divulgar essa idéia em um evento para o qual o mundo todo está olhando é algo válido. Inclusive, achei legal a idéia dos atletas plantarem sementes de árvores nativas em uns totems de alumínio, que mais pareciam aqueles raladores de cenoura...


Pois muito bem... Eu acho meio escroto esse pessoal vir com esse papinho de ecologia e tudo mais, quando não fizeram questão de, por exemplo, despoluir a Baía de Guanabara, que é uma verdadeira calamidade. Gastaram (e desviaram) milhões e ela continua como está, talvez até pior se comparada a sete anos atrás, quando conquistamos o direito de sediar as Olimpíadas e Lula, Sergio Cabral e Eduardo Paes bostejaram essa história de legado olímpico.

Sinceramente, eu procuro ser positivo quanto a esses Jogos Olímpicos, mas tem duas coisas que eu quero muito que saiam errado: primeiro, é a seleção de futebol passar mais um vexame e não conquistar o ouro, para ver se dessa vez a mídia e o povo largam de mão esses mercenários que ganham rios de dinheiro pra jogar uma bola murcha e sem graça, valorizando um pouco mais atletas que precisam fazer sacrifícios imensos para competir, sem nenhum tipo de incentivo e apoio. E segundo, torço muito pra acontecer algo bizarro nas provas de vela, tipo, um barco bater num sofá que emerja do fundo da baía, pra mostrar ao mundo todo a vergonha que é o nosso país, que esse papinho ecológico da abertura na prática não recebe nenhum tipo de atenção de nossos governantes e de nosso povo.


Por fim, para as raras visitantes do sexo feminino: não vou colocar nenhuma foto do sarado coberto de óleo de Tonga!

Comentários

A abertura foi simples e bonita.
Mas achei que forçaram demais algumas barras; dispenso comentar.
CAD MIRANDA disse…
Olá texugo! Estava lembrando memórias antigas do Rio, como a Praça XV, enfim, região centro da cidade. E toquei nos ônibus, eram muito diversificados, uma cultura, que logo se foi apagada, pela padronização. O que você pensa disso atualmente, junto a racionalização das linhas?
Texugo disse…
Obrigado pelas visitas, Arne e Gabriel.

Sobre os ônibus, realmente a padronização pra mim foi algo péssimo. Tanto do ponto de vista funcional, pois facilitava muito para identificar certas linhas pela cor, ainda mais à distância, como pela questão histórica. Sempre houve uma diversidade grande das pinturas dos ônibus, inclusive já falei aqui em algumas oportunidades. Foi uma grande furada, na minha opinião.

Sobre a racionalização... Acho difícil dizer. Eles fizeram uma mistureba mesmo. Eu agora não sei mais andar de ônibus, tem esse Troncal que sei lá para onde vai. Sem falar que agora parecem que eles ficam mais cheios.