Videogames: culpados pela violência?

Recentemente foi lançado um jogo que estava sendo muito esperado, o GTA V, o mais recente da série de jogos onde você banca um fora-da-lei que pode fazer praticamente o que quiser, podendo cometer crimes que vão desde roubos de carros, espancar meros transeuntes passando pelas ruas, assaltar bancos e matar prostitutas. A versão mais recente apresenta um realismo surpreendente, confesso que quando vi o anúncio do jogo achei que era um filme que estava passando.


Só que não vim aqui para falar especialmente do jogo, até porque eu nunca joguei nenhum dos jogos da série, no máximo joguei por alguns minutos um demo do primeiro GTA que veio num daqueles CDs de jogos de computador que a gente comprava nas bancas, e por não achar ele grandes coisas logo o deletei. O real motivo para escrever esse post é devido a um fato bastante comum, devido às discussões calorosas que têm o costume de aparecer após o lançamento de um jogo controverso como GTA, todas elas que compartilham o mesmo mote: que os jogos de videogame incentivam a violência e por isso devem ser banidos.

É sempre a mesma história, sempre tem aquelas matérias que aparecem nos jornais, que seguem o mesmo roteiro, mostrando as cenas do jogo, depois a câmera foca em adolescentes ou crianças de olhos vidrados na televisão e manipulando o joystick de forma nervosa, depois mostram a mãe que acha o jogo revoltante, que não quer que seus filhos joguem tal atrocidade. Logo na sequência sempre vem um psicólogo defendendo a já manjada teoria de que tais jogos são responsáveis pelo comportamento violento, que os pais devem impedir que seus filhos tenham acesso a esses jogos, e chega lá e o repórter pergunta pros adolescentes o que acha, que dizem que é legal mas que sabem que é só um jogo, etc. Sempre a mesma baboseira...

Bom, mais uma vez venho aqui dar a minha opinião, e com poucas palavras, simplesmente digo para os defensores dessa teoria para tomarem dentro.


Acho tudo isso uma grande palhaçada! É simplesmente absurdo achar que jogos de videogame venham a incentivar uma conduta violenta em quem os joga. Como alguém já comentou certa vez, se os jogos de videogame tivessem tanta influência assim sobre as pessoas, toda uma geração que viveu sua infância e adolescência nos anos 80 (da qual este texugo que vos fala faz parte) estaria agora correndo por corredores escuros, comendo balas e fugindo de fantasmas...


Tomo eu mesmo como exemplo. Dentre alguns dos jogos que eu jogava (e ainda jogo de vez em quando) estão clássicos de tiro de primeira pessoa, como o famoso Doom, o enigmático Quake e o sempre divertido Duke Nukem, onde você podia pegar uma escopeta e estourar os miolos de um porco humanóide que está se divertindo com um filme pornô ou explodir a cabeça de um alienígena quando ele está soltando um barro...


Tinham também vários jogos de luta, indo desde uma porradaria de rua generalizada de Streets of Rage, lutas do submundo em Pit Fighter, a clássica peleja dos Street Fighters com seus Hadoukens, Sonic Booms e Tiger Robocops. Mas quando o assunto eram lutas, eu curtia mais era a série Mortal Kombat, com sangue jorrando a cada gancho desferido no queixo dos adversários e os sempre macabros Fatalities, como aquele que o Sub-Zero arrancava a cabeça do outro junto com a espinha.


Vai pra lista também inúmeros jogos de corrida, não somente aqueles mais "comportados" e dentro da lei, como os de Formula 1 ou rally. Meus favoritos sempre foram jogos onde se corre no meio das estradas, como a série Need for Speed, principalmente depois da injeção de "Velozes e Furiosos" que a série levou, ou então um dos meus favoritos, a série Road Rash, com as corridas de moto cheias de porrada.


E tinham outros vários jogos que envolviam violência, pancadaria, tiros, sangue, transgressão de leis e tudo mais. Sempre os joguei. Considerando tudo isso, eu deveria ter me transformado em um assassino psicótico facínora e alucinado, que pilota motos pelas ruas em alta velocidade derrubando outros motoqueiros, explodindo a cabeça das pessoas quando elas estão na casinha cagando ou arrancando as cabeças daqueles que me enchem o saco.  

Culpar os videogames pela violência é a mesma coisa que dizer que o carro é culpado pelas mortes no trânsito na minha opinião. Ninguém vai chegar aí e querer proibir que carros sejam vendidos pois motoristas matam mais nas nossas estradas do que muitas guerras. Vou até mais longe, mesmo tendo a certeza de que serei criticado e mal interpretado por isso: é praticamente como querer culpar a violência pela existência de armas. Sim, a arma por si só não é responsável pela morte de inocentes, ela não é a causa a violência. Quem mata uma pessoa não é a arma sozinha, que sai voando e puxa o seu próprio gatilho, é quem a está empunhando e a usa com o objetivo de matar uma pessoa. Afinal de contas, um revólver pode ser usado pelo praticante de tiro ao alvo de uma Olimpíada, um rifle pode ser usado por um caçador, e etc. Mas não vou seguir por esse caminho, pois a questão de armas pode render um post inteiro, ainda mais com a mentalidade de desarmamento que muitos por aqui ainda acreditam que funciona.

Vou usar uma outra comparação, que acredito que seja até mais próxima: filmes em geral, também costumam ser vítimas dessa perseguição.Volta e meia aparece alguém querendo culpar a violência das pessoas por conta de filmes, em especial produções de Hollywood. Ficam esses críticos de meia tigela falando mal de filmaços como Comando para Matar, Busca Implacável, Robocop, Duro de Matar, Conan (o original, não o remake que fez transformou o cimeriano numa bichona), Rambo, Predador e muitos outros, dizendo que eles são filmes sem noção, sem história, sem profundidade, e que acabam incentivando a violência. Pôrra, fala sério, quer diálogos mais profundos que aqueles protagonizados pelo Schwarzenegger no Comando para Matar? Como quando a moreninha perguntava para ele onde estava o babaquinha tarado que ele tinha acabado de jogar de um precipício, e o Arnie respondia com um tranquilo "ele foi embora".


Isso que é filme!

Voltando ao assunto dos jogos de videogame, é muito comum que muitos pais, professores, psicólogos, defensores dos bons costumes e outros "entendidos" do assunto estejam cada vez mais pregando esse discurso de que eles incentivam o comportamento violento nas crianças, e que dessa forma devem ser banidos, devem ser tirados do alcance da molecada. Eles vêem que tais jogos possam causar na criança uma série de sentimentos agressivos, que vão levá-la a tratar mal os colegas, desrespeitar os familiares ou mesmo levá-la a se tornar um criminoso, podendo chegar ao ponto de matar pessoas e promover chacinas, como já vimos muitas vezes no Brasil e no mundo, eventos onde sempre se recorre à culpar os videogames.


Eu penso o seguinte quanto a esse assunto... De fato, crianças em determinadas idades são como esponjas, elas absorvem aquilo que elas vêem e muitas vezes acabam reproduzindo. Trata-se de algo natural, na minha opinião, considerando que a criança não tem ainda a experiência e o discernimento de um adulto, que já passou por muito mais e já sabe diferenciar o que é certo do que é errado, o que faz bem do que faz mal, e assim por diante. Crianças não sabem disso, e de fato é bem provável que se a criança, de forma desassistida, jogar um jogo violento, ela pode acabar reproduzindo aquilo que vê.

Mas da mesma forma a criança pode presenciar algo bom, positivo, e tentar reproduzir. Da mesma forma, ela pode ver um desenho animado que prega a amizade e respeito, ela pode jogar um jogo que incentiva a inteligência, e repetir tudo isso em sua vida. Claro, aí não tem problema...

Agora, se você percebeu ali em cima, eu grifei o "forma desassistida" quando falei dos jogos tidos como violentos. E minha opinião é essa mesmo, quando a criança fica largada e não tem ninguém para orientá-la, a tendência é que ela venha a absorver conceitos que são errados e violentos. E não só isso, deixando a criança solta, sem nenhum tipo de acompanhamento, mesmo que os jogos de videogame violentos sejam deixados fora do alcance, existe muito mais que pode ferí-la ou trazer consequências graves: ela pode pegar uma faca na cozinha e se cortar, pode abrir uma garrafa de detergente e beber, pode se pendurar na janela e cair do prédio...


Claro que os pais atenciosos, diante desses comentários, vão dizer que não tem problema: é só trancar as gavetas da cozinha, colocar o detergente em uma prateleira muito alta, travar a janela e botar uma grade...

Eu não sei você, posso até estar falando besteira, pois eu sequer tenho uma namorada para começar a pensar em ter um filho. Mas... se é pra fazer isso, por que não colocar a criança em uma redoma de plástico e deixá-la isolada de tudo?


Não me leve a mal, veja só como o assunto aqui já saiu da questão dos videogames e está chegando em educação infantil. Claro que é necessário que se tenha cuidados, não deixando a criança exposta a coisas que possam causar problemas. Mas eu vejo que cada vez mais os pais e professores querem se envolver menos com a educação das crianças, parecem não querer dedicar tempo de suas vidas para ensinar o que é certo para seus filhos e alunos. E com isso, o que acontece é essa preocupação em blindar as crianças daquilo que acham que é errado, que pode fazer mal pra elas. Em vez de ensinar que aquele jogo é só uma brincadeira, que é um faz-de-conta, que não deve fazer o mesmo. É muito mais cômodo proibir o filho de jogar um GTA V, do que permitir que ele jogue mas também ensinando para ele que tudo não passa de um jogo, que não deve fazer o mesmo na vida real.

Essa é a geração que temos hoje, de pais que não dedicam o tempo que deveriam para educar seus filhos, e preferem que eles sejam educados pela TV, pela internet e por outras pessoas, como empregadas e babás, que no fundo não têm toda essa preocupação também na criação dos pimpolhos. Aí, para que os filhos não fiquem desvirtuados, a saída que encontram é banir totalmente qualquer coisa que achem errado, só permitindo que tenham acesso àquilo que os educadores e entendidos dizem ser aceitável para eles, para que assim se tornem adultos mais responsáveis e decentes.

Sim, deve funcionar mesmo... Eu, que cresci vendo desenhos "subversivos" como Pernalonga, Pica-Pau e Pápa-Léguas, brincava de Comandos em Ação, Forte Apache e espingarda de rolha e que jogava jogos de videogame como Mortal Kombat e Carmageddon, devo ser o pior ser humano possível, um assassino racista e criminoso. Enquanto isso, o garoto que hoje está sendo "protegido" dessas coisas horríveis, que só assiste Barney e Teletubbies e só pode fazer parte de brincadeiras lúdicas, depois crescem e viram isso aí...


Aí nessas horas provavelmente o coro dos críticos dos jogos violentos devem começar a enumerar uma série de casos de crimes hediondos, tipicamente aqueles massacres onde um adolescente louco descarregou uma metralhadora numa escola ou cinema, matando várias pessoas. Logicamente destacando que tais lunáticos jogavam jogos violentos, tipicamente aqueles de tiro de primeira pessoa. E somente isso já serve, na cabeça dessas pessoas estúpidas, para responsabilizar tais jogos pela violência.

Na boa, como insistem em dizer que os jogos têm todo esse poder, de influenciar as pessoas! Esses casos de adolescentes que perderam a cabeça e sentaram o dedo no gatilho são muito mais complexos, tem muito mais coisas que podem ter causado esse comportamento doentio, indo desde a problemas psicológicos até uma infância sofrida. Claro que um tipo de gente assim, com desejo homicida, vai gostar de jogos de tiro e violentos. Mas é o mesmo jogo que uma pessoa normal joga, um criminoso desse já está todo despirocado das idéias antes de arrumar um jogo desses. Mas, para justificar a crítica contra tais jogos, esses intelectuóides acham que a diversão eletrônica é a única causa de toda a violência.

Engraçado é como você vai nas favelas, tá cheio de "di menor", empunhando AR-15 e lança-míssil, que chega estupra e mata garotas, que queima dentistas, que mata pessoas que não esboçam nenhuma reação, e nenhum desses "di menor" colocou as mãos num controle de Playstation ou Xbox.


Realmente, são os jogos violentos os responsáveis pela criminalidade...

Comentários

Unknown disse…
Porra na capa do jogo diz que menor de 17 n pode jogar a culpa e dos pais desatentos
Texugo disse…
Obrigado pela visita. De fato, se os pais estão atentos à educação de seus filhos, não devem dar um jogo impróprio para eles.

Acontece que hoje em dia a criançada consegue ter acesso a tudo isso de uma forma mais fácil: eu sou do tempo que esperei ter 18 anos para comprar minha primeira Playboy, hoje moleque de menos de 10 anos já tá vendo coisa mais pesada. E a mesma coisa acontece com os jogos.

Mas aí vale mais ma vez o papel dos pais para explicar que aquilo é só um jogo, que não é real.