Jogos Clássicos: HERO

Como você já deve saber, passei minha infância nos anos 80. E devido a isso eu fui apresentado aos videogames na era do Atari, e vendo o que temos hoje em termos de jogos, fico extremamente grato por ter vivido nessa época, com os clássicos joguinhos do primeiro videogame de grande fama da história, incrivelmente divertidos, mesmo para os padrões de hoje...

Não me leve à mal, não estou dizendo que os jogos de hoje são ruins. Tem muitos jogos bons sim. Mas diria que hoje, com o grande avanço tecnológico da informática em geral, os jogos tem ficado cada vez mais e mais complexos, sob diversos aspectos. Graficamente, são mais bem-feitos do que uma produção do Spielberg, em termos de dificuldade também e complexidade de jogar: fico pensando, até algum tempo atrás eu achava difícil fazer o Pilão Giratório do Zangief no controle de arcade, mas agora um gamepad de Playstation tem mais botões que um jato comercial. Sem falar que os jogos hoje tem se tornado cada vez mais longos, ou então seguem aquela linha de multiplayer, onde temos que dividir espaço com canalhas que usam cheats ou fanáticos que ficam jogando 80 horas por semana sem parar...

Na minha opinião, bons eram os jogos mais de antigamente, onde tudo era mais simples. Podem ficar atrás dos jogos atuais em diversos aspectos, mas muitas vezes a simplicidade proporciona uma maior diversão ao jogador. Não precisa ser um jogo em 5 dimensões, com efeitos psicodélicos e detalhamento até dos pêlos do nariz do lutador para ser divertido. Felizmente, com os iPhones e tudo mais, cada vez mais a tendência é por joguinhos mais simples e cativantes, vide o sucesso do Angry Birds...

Pensando nisso, venho aqui relembrar um desses joguinhos de antigamente, esperando inaugurar aqui uma série de postagens sobre outros clássicos do Atari. E para começar, vamos com o meu jogo favorito desse console: HERO.

Sem dúvida um dos jogos mais originais e bem bolados do Atari, em HERO você personifica um inventor destemido que precisa resgatar mineiros dentro de um vulcão. Parece fácil, mas esse vulcão está em extrema atividade, repleto de criaturas e outros perigos. Para isso, você contava com um arsenal bem potente, incluindo um capacete com uma arma lases, bananas de dinamite e uma fantástica mochila voadora, com direito a uma hélice! Simplesmente maneiro pra cacete!


HERO se dividia em 20 fases, com dificuldade crescente. Em todas elas, você começava na entrada da galeria do vulcão, precisando ir cada vez mais fundo, driblando todos os perigos até chegar ao pobre mineiro, sentado lá no fundo da caverna. Após encontrar o mineiro, a próxima fase vinha, trazendo novos desafios.


Claro que não era um passeio no parque, a missão é bem mais complicada que o resgate dos mineiros do Chile... Um dos perigos mais frequentes eram criaturas que habitavam as cavernas: aranhas com teias penduradas no nada, morcegos que pareciam um português bigodudo, mariposas extremamente enjoadas e cobras venenosas, que entravam e saiam das paredes em movimentos pseudo-eróticos. Por mais que possa parecer bizarro, simplesmente encostar em um bichinho desses fazia você perder uma vida... Sim, naquele tempo os personagens dos jogos não tinham barras de energia, e tocar em uma mosca paraplégica era suficiente para o sujeito morrer...


Quem dera que fossem apenas os bichos, claro... A partir de certas fases, começavam a surgir alguns obstáculos mais perigosos também. Como as paredes de lava, piscando em vermelho e fatais com apenas um toque. Rios de lava também viriam a aparecer mais adiante, só encostar a ponta do pé e o carinha era tragado para as profundezas... Felizmente, em algumas fases havia uma balsa à prova de fogo (fielmente representada por um traço branco), que nosso herói podia usar para atravessar os rios de lava.


Ah, e como eu poderia me esquecer? Falando em rio de lava, lá nas últimas fases começava a aparecer um tentáculo doido, que ficava nos rios de lava, fazendo movimentos pseudo-eróticos como a cobra, tentando puxar nosso herói para a morte. Muito bizarro!


Isso sem falar nas famosas paredes de lava abre-e-fecha. Aparecendo a partir do nível 14, eram como uma mandíbula que abria e fechava, e você precisava calcular bem quando descer para não ser esmagado...


Realmente, a vida não era fácil, tendo que abrir caminho por todos esses perigos para salvar um puto de um mineiro... O que aliás me leva a pensar: como diabos os mineiros conseguiam chegar onde estavam? Quero dizer, o cara devia ter no máximo uma picareta, como que ele conseguia transpor todos aqueles perigos? Mais uma daquelas perguntas que nunca serão respondidas...


Outros complicadores vinham para tornar a missão mais difícil. Para começo de conversa, você estava limitado sempre a carregar 6 bananas de dinamite, cuja principal função era detonar algumas paredes mais finas para abrir caminho. Nas primeiras fases, era tranquilo, moleza chegar até o mineiro com dinamite sobrando. Mas nas fases mais avançadas, você usava todas elas. E isso era o complicado, saber quais paredes detonar: muitas vezes destruir uma parede iria levá-lo a um beco sem saída, com algum bicho no caminho, obrigando você a voltar e pegar outra rota. E com uma dinamite usada à toa, isso significava que uma bela hora fazia falta. Felizmente, o laser do capacete era capaz de detonar as paredes, mas depois de ficar atirando por alguns segundos...

E falando em tempo, quem disse que você tinha a vida toda para chegar até o mineiro? Uma barrinha de energia vinha descrescendo durante a missão. Se ela acabasse, fudeu... Uma vida era perdida, e você recomeçava do começo da fase...


Por fim, um outro toque bobinho mas genial, era que em cada tela havia sempre um lampião pendurado em algum canto, que como nosso herói era extremamente sensível ao toque. Bastava encostar nele para apagá-lo, o que deixava a sala toda na escuridão. Apenas os bichos e paredes e rios de lava é que continuavam visíveis, dificultando ainda mais a exploração.


Legal era que, ao detonar uma dinamite numa sala escura, ela ficava iluminada por poucos segundos. Como disse, essa jogada da sala escura podia parecer muito simplesinha, mas eram esses pequenos detalhes que tornavam os jogos do Atari tão cativantes...


Já dá para ver que HERO não era um jogo fácil. Eu, pelo menos, nunca consegui terminar esse jogo. Digo, chegar até a última fase, pois jogos de Atari normalmente não tinham fim, e depois de chegar no final ficavam repetindo e HERO não era diferente. Me lembro que na época quando era moleque mal chegava ao final da fase 18, onde os inimigos ficavam muito mais rápidos, sem falar com situações com teto de lava, intransponíveis para um pequeno texuguinho de menos de 10 anos. Mesmo hoje, após ter acumulado horas e horas de experiência com outros jogos mais modernos, volto ao meu emulador de Atari e consigo só chegar no meio da última fase...


Tinha até um detalhe legal que era o famoso nível de dificuldade 5... Para quem não lembra, no console de Atari havia uma chave de Game Select para que você pudesse escolher o nível, isso antes dos menus de tela que se tornaram padrão dos jogos. O nível 5 era animal pois você jogava as fases de maneira aleatória! Era muito legal, você no meio do jogo e do nada pintava aquela tela com as rochas cinzas e a passagem estreitinha do quase impossível nível 20, seguida de um sonoro "fudeu" após nos darmos conta que a partida acabava ali, ou então aquela sensação de alívio quando começava a fase laranja sem paredes de lava, indicando o boçal nível 1, que se resumia a detonar uma parede e matar uma aranha...

HERO era sem dúvida um grande clássico da época, tinha gráficos que para os padrões do Atari eram bem legais, e o desafio era incrível, muito maior que certos jogos atuais. Sem falar que trazia uma idéia super original e divertida, que empolga ainda nos dias de hoje.

Como saideira, você sabia que o HERO quase chegou a ser um jogo do Master System? Na verdade estou exagerando, mas fato é que o jogo foi lançado para o console SG-1000, que viria a se tornar a base para o videogame da Sega.


Bem legalzinho, conseguiu manter a essência do clássico do Atari, embora eu ainda prefira o original. A novidade ficou por conta da mudança do sistema propulsor do herói, deixando de lado a mochila helicóptero e passando para um jetpack... Além disso, a dificuldade ficou absurdamente maior!


Curiosidade interessante: nas fases onde você ganhava uma vida, o mineiro era substituído por uma menina, com direito a beijo e coraçãozinho ao salvá-la!

Comentários

Alôcka disse…
Adorei essa postagem!
Joguei muito Atari, mas o Hero, com certeza, foi o jogo mais emocionante de todos!Muitas madrugadas jogando escondida pra não mandarem desligar, eu tinha o cartucho!
Até hoje não sei ao certo quantas fases tem, lembro que estava na 4ª série e discuti com um coleguinha chato que dizia que tinha ido até o "nível 30".Ah, vá!kkkkk!!!

E essa parte aqui que vc escreveu:

"Realmente, a vida não era fácil, tendo que abrir caminho por todos esses perigos para salvar um puto de um mineiro... O que aliás me leva a pensar: como diabos os mineiros conseguiam chegar onde estavam? Quero dizer, o cara devia ter no máximo uma picareta, como que ele conseguia transpor todos aqueles perigos?"

...bom, vc transcreveu um dos dilemas da minha infância.E mais...eu me perguntava...tá bom...agora como eles saem dali?É só se jogar no caminho inverso?
Deixa assim, sem resposta, né?
^-^

E mais...tentei dia desses jogar com os controles de hoje...não gostei, achei ruim, fez falta o controle de Atari, é estranho, mas é assim.