Variguinho


Estava outro dia arrumando o meu armário, em mais uma daquelas típicas faxinas de fim de ano, quando aproveitamos o nosso tempo livre para lidar com os afazeres domésticos. Uma limpeza que era para levar algumas horas acaba se arrastando por dias, pois sempre acabo me esbarrando com alguma coisa antiga, que fico ali vendo e me lembrando do passado, e que normalmente acaba voltando para o armário... E dessa vez o que achei foram umas revistinhas em quadrinhos bem peculiares, as quais eu acredito que poucos devem se lembrar: o Variguinho.

É, essa eu desenterrei de longe mesmo... O personagem lançado pela Varig, ainda em seus tempos relativamente áureos, antes de desaparecer dos aeroportos de maneira bizonha e vergonhosa. Com a estratégia de atrair a garotada que gostava de aviões e os filhos dos funcionários da Viação Aérea Rio-Grandense, confesso que os quadrinhos do Variguinho eram um refresco bem-vindo em termos de produções nacionais, sempre dominadas pela Mônica e seus amigos.

Como era de se esperar, o Variguinho era um avião, seguindo os moldes humanos de tantos outros personagens da Disney, com suas asas como braços e a carinha de criança. Aliás, por algum motivo, ele de fato era um avião-criança, uma coisa bem bizarra... Pode me chamar de pervertido, mas essa idéia me leva a pensar como que os aviões então se reproduziriam para gerar um avião-criança...

Falando em crianças, na história havia a já manjada turminha de garotos, que inclusive encontrava o Variguinho dentro de um hangar (após invadirem o mesmo, um belo exemplo para a criançada). Como já podemos esperar das produções nacionais, há toda uma preocupação em ser politicamente correto, logo os cinco moleques foram idealizados de forma a abranger as etnias de nosso país.


Segundo a própria descrição dada pela revistinha, havia o Rubinho, representando o típico descendente de portugueses, que era o mais destemido do grupo; Déa era a loirinha com sangue alemão, toda meiga e delicada; Taka era o japinha, e como esperado o crânio da turma, sempre com comentários inteligentes; Nete era de descedência italiana, sempre brigando e nervosa; por fim, Juva representava os afro-descendentes, sempre brincalhão e fazendo merda.

As histórias eram bem bobinhas mesmo, apenas quando a gente é criança que se diverte com aquele tipo de coisa. Normalmente eram focadas em passar lições de moral, cívica e bons costumes, com aquelas mensagens tipo o He-Man falava no final dos episódios. Me lembro até hoje de uma das melhores, que contava a história da Varig, bem interessante...

Aliás, uma coisa legal na revistinha é que vinham vários encartes sobre os aviões que voaram pela Varig.


Outra coisa curiosa eram as propagandas dos produtos do Variguinho. Sim, nos anos 80 e 90 havia essa política sem-vergonha de incentivar as crianças a empentelharem seus pais para comprar os brinquedos que apareciam em suas revistas e desenhos animados de TV. Tinha até uma história de Natal, onde o Variguinho tentava descobrir quais presentes dar para seus amigos, e no final ele acaba dando os produtos com a marca dele. Sinceramente, acho meio boçal essa idéia, era como se o Pato Donald desse bonecos dele mesmo para seus sobrinhos.

Bons tempos... Acontece que passados alguns anos a Varig desceu a ladeira, e aparentemente o mesmo veio a acontecer com o pobre Variguinho. Sua revistinha acabou, e ele sobrou apenas como personagem em livretos que davam para as crianças nos vôos, inclusive já ostentando a pintura nova da Varig.


E assim ele se foi. Imagino que depois do fim da companhia mais famosa da história nacional o Variguinho deve ter arrumado emprego como avião da Webjet, mas acho que o destino dele foi bem menos nobre...


Comentários