Assento Preferencial

Eu sou um texugo que se vê todos os dias obrigado a usar o transporte público, normalmente andando em ônibus e em algumas poucas vezes no metrô. E como você sabe, em todos esses meios de transporte existem sempre alguns assentos que são destinados a pessoas especiais, como idosos, deficientes físicos, mulheres grávidas ou com crianças de colo e até mesmo obesos (embora os gordinhos muitas vezes são esquecidos em algumas ocasiões). Ultimamente tenho observado um pouco mais tudo que acontece ao redor desses assentos preferenciais, muitas vezes com situações embaraçosas ou constrangedoras.

O que me levou a fazer esse post foi depois de observar os novos ônibus da linha 121 - Central x Copacabana, que uso com muita freqüência para ir e vir do trabalho, por ele normalmente estar bem vazio. Pelo menos até algum tempo atrás, pois esses novos ônibus tem uma configuração interna muito estranha e, na minha opinião, pouco efetiva. Não se trata apenas pelo fato da maldita maquininha de cartão ser do lado oposto da catraca, obrigando um contorcionismo imprevisto ao pagar a passagem. Mas por se tratar de um veículo que conta com uma área para uma cadeira de rodas e 3 portas, sendo a porta central para a entrada de um cadeirante por um elevador, extremamente larga. Com isso, já começamos por uma razoável perda de espaço para passageiros, diria que só esse mega portão mata uns 4 lugares. Por que não manter o padrão usado por outros modelos, onde há apenas duas portas, sendo uma para uso geral, seja ela no meio ou no fundo.

A empresa é outra, mas o ônibus é o mesmo.

Sim, a porta é mesmo exclusiva, pois os motoristas não a abrem para a descida de passageiros sem necessidades especiais. Foram inúmeras vezes que vi pessoas pararem em frente à porta central e ficar ali, com cara de bunda esperando por ela se abrir, até o trocador avisar que é para descer na porta dos fundos. Claro, em algumas raríssimas exceções tem motoristas que abrem aquela porta (para uma mulher gostosa de mini-saia, por exemplo), mas a via de regra é realmente uma porta para uso exclusivo de cadeirantes. Será que é tão necessário assim que deficientes físicos tenham uma entrada exclusiva, que seja usada só por eles?

Pronto, já fiz uma declaração que deve trazer algumas reações mais severas, que vão achar que por causa desse meu comentário eu tenho preconceito contra os deficientes... Nada disso, eu estou apenas levantando uma questão prática sobre a eficiência desse ônibus com a tal porta exclusiva. Afinal de contas, em média quantos cadeirantes usam ônibus? É fato que não são muitos, logo a tal porta "exclusiva" é extremamente sub-utilizada. Não seria um melhor aproveitamento se essa porta pudesse ser usada normalmente pelos demais passageiros? Dessa forma, bastaria apenas uma única porta (de saída, para os passageiros comuns, e de entrada e saída para os deficientes de cadeira de rodas), e no lugar dessa terceira porta colocaria-se mais assentos. Repito, como alguns outros modelos de ônibus já o fazem. Fala sério, não há nada de discriminatório no que disse acima... Daqui a pouco vão dizer que acho que deficiente ocupa espaço...

Depois desse breve parênteses sobre as portas do ônibus, volto agora para o assunto em questão, os assentos preferenciais. Nesse modelo de ônibus em particular, são ao todo 6 lugares destinados a esse fim, diferenciados pelos ferros em amarelo, e trazendo colado na janela ao seu lado um aviso, dizendo serem assentos preferenciais para os grupos mencionados acima. Aí eu gostaria de deixar muito claro o termo preferencial: ter preferência não significa necessariamente ser obrigatório. Ou seja, se um idoso ou um deficiente não quiser sentar em tal assento, ele pode; da mesma forma, uma pessoa que não se enquadra nos grupos que tem preferência podem sentar ali também. Entendo que preferencial queira dizer que é preferível que idosos, gestantes, pessoas com crianças no colo e obesos usem tais bancos em relação aos demais passageiros, embora não signifique que outros passageiros estejam proibidos de se sentar nesses bancos.

Agora é que tenho certeza que vou ser xingado e criticado... Devem estar me chamado de folgado, dizendo que não tenho educação e respeito pelos mais velhos... Peço licença ao leitor comportado e educado, mas aqueles que estão pensando mal ao meu respeito tem mais é que tomar no meio da flor de oríba! Não me conhecem e vão ficar me julgando, tá de sacanagem... O pior é que tenho certeza de que esses falsos moralistas no fundo são pessoas sem-educação, que adoram criticar os outros mas fazem coisas piores...

Será então que esses bancos são de uso exclusivo para idosos, deficientes e gestantes? Brincadeira, tem muitas pessoas que se julgam "os decentes" que estão precisando consultar o Aurélio e aprender o que significa preferência. Preferencial não implica em ser exclusivo! Quer dizer que se eu entrar em um ônibus e só houverem os assentos preferenciais disponíveis, eu tenho que ficar de pé? O próprio aviso colado ao lado desses bancos diz que "na ausência de pessoas nessas condições, o uso é livre". Não sei, mas acho que não precisa ser grande coisa para entender dessa frase que não há uma proibição para que essas pessoas se sentem nos assentos preferenciais.

Digo isso pois em diversas viagens de ônibus percebo como que os tais assentos preferenciais sempre provocam situações polêmicas. Por exemplo, quando pego esse 121 novo, é bastante comum ver as pessoas se adentrando no veículo e evitando de se sentar nos bancos amarelos. Sério, a pessoa parece que fica sem graça de se sentar ali, como se fosse realmente proibido uma pessoa fora da condição preferencial pousar seu traseiro naquele banco. Em várias situações chega-se ao absurdo das pessoas ficarem em pé, e estão lá os seis lugares preferenciais vazios...

Já vi isso também no metrô, onde os bancos laranjas costumam ficar vazios enquanto as pessoas ficam de pé, ou se espremem nos bancos verdes. É muito engraçado, pois costumam ter 6 bancos virados de lado, os quatro mais extremos são laranjas, e os dois do meio são verdes, para uso livre. Muitas vezes ficam lá duas pessoas espremidas nos bancos verdes, com dois bancos vazios ao lado de cada uma delas. O único detalhe é que o metrô é tão cheio que não demora que alguém sente nos bancos preferenciais.

Isso ocorre por que muita gente tem receio de que no ônibus exista algum desses falsos moralistas, sempre vigilantes ao que não lhes diz respeito e criticando aqueles que consideram estarem errados. Nunca falha, quando um "não-preferencial" se senta em um desses lugares, não demora para aparecer algum chato que vai chamar a sua atenção ou vai ficar falando alto para ser ouvido por todos, dizendo que ele não tem educação, mesmo se não houver nenhum preferencial dentro do ônibus! Acredite, o que mais tem no transporte público carioca é gente chata que gosta de se meter na vida alheia...

Sério, já aconteceu comigo certa vez. Peguei um ônibus para voltar para casa, era um desses modelos que citei no início. Era bem tarde, quase nove da noite, e entrei no ônibus não muito distante do ponto final, logo era provável que não subiriam muitos outros passageiros. Fui me sentar em um dos bancos, como iria saltar logo, busquei um banco próximo da porta, que por coincidência era um dos preferenciais, confesso que só percebi depois. Me sentei, cansado depois do longo dia de trabalho, e quando estava colocando os fones no ouvido, alguém me cutucou no ombro: era uma senhora, devia estar com seus seus sessenta e poucos anos. Ela estava com uma cara de repreensão e me disse:

"Levanta daí, esse banco é pra idosos e deficientes!"

Observação: a foto acima não é da velha em questão, mas é bem parecida nos quesitos feiúra e rugas...

Em um primeiro momento, fiquei sem palavras, não esperava tal comentário, ainda mais considerando que ainda haviam outros 4 bancos preferenciais disponíveis, e nenhum outro "preferencial" ali perto precisando sentar. A velha repetiu a bronca, e como não estava afim de me aborrecer, coloquei os fones no ouvido e a ignorei. Mas a mulher continuava falando, cada vez mais alto, dizendo que eu estava infringindo a lei e que era uma pessoa sem educação e por aí vai. Aí me emputeci, arranquei fora os fones do ouvido e me virei para a velha. Foi uma discussão curta, perguntei se ela sabia ler e apontei para o aviso, ela se fez de desentendida e perguntei se havia alguma pessoa com preferência naquele momento (não havia, e mesmo que houvesse, havia outros bancos preferenciais livres). A velha continuou reclamando, dizendo que eu não tinha direito de sentar ali (que absurdo, não tinha direito?!), e nesse momento alguns passageiros babacas acabavam murmurando palavras de apoio para a velha. Sem mais paciência, mandei ela cuidar do resto da vida dela e coloquei os fones no ouvido. Quando desci, ainda escutei a velha reclamar, mas a ignorei...

Bem, se antes não tinha nenhum "moralista" aqui me criticando, agora é que vai aparecer um monte deles, dizendo que eu estava errado mesmo, que desrespeitei a velha... Da mesma forma, mando eles tomarem suco de cajú, e vamos em frente.

Mas eu pergunto: será que eu estava sem razão? Não haviam pessoas com preferência para usar aqueles assentos, e ainda haviam lugares preferenciais disponíveis. Mesmo nessas condições eu "não tinha direito" de sentar naquele banco? Só pelo fato que me sentei ali vou ser julgado como mal-educado? O mais engraçado é que tenho certeza que muitos que acham que sou mal-educado não se levantam dos bancos normais para dar lugar a um idoso ou mulher grávida, quando os assentos preferenciais já estão ocupados. Fico puto dentro das calças quando estou agindo de maneira lícita e sou pré-julgado da pior maneira possível.

Na minha opinião, eu acho que essa questão de "direito" ao assento preferencial é uma grande baboseira. Sim, você leu direito: eu não concordo com toda essa questão de haverem bancos que são preferenciais para uso de pessoas com necessidades especiais. Acho que todos os bancos deveriam ser iguais, sem distinção. O que teria que acontecer é uma maior educação e bom senso por parte das pessoas, para entender quando o lugar deve ser cedido para uma pessoa que precisa mais, isso é que seria o correto. Claro, tenho a consciência de que não existe povo mais mal-educado, interesseiro e pilantra do que o brasileiro, mas essa seria realmente a condicão ideal.

E deixo claro o seguinte: quando disse que deve haver maior educação e bom senso, isso tem que ser não apenas com aqueles tidos como preferenciais, mas a recíproca também tem que valer. Ou seja, não são só os idosos, deficientes e grávidas que merecem ser tratados com educação, todas as pessoas devem ser tratadas assim. Afinal de contas, podem haver situações onde um jovem ou adulto podem precisar mais do assento que um idoso, por exemplo. É isso mesmo que você leu. E para isso, vou resgatar outro caso que aconteceu comigo, esse tem mais tempo.

Aconteceu na época que estava terminando a faculdade, e num dia eu tive que esvaziar o meu armário, que usava em um laboratório onde eu trabalhava, para ceder a outro aluno. Com isso, tive que trazer de volta para casa uma série de pertences meus, usados durante os estudos, na sua maioria livros e apostilas. Por sorte, consegui arranjar uma caixa de papelão para colocar tudo, mas naquele dia estava com pouco dinheiro no bolso e sem meu cartão do banco, logo não daria para aproveitar o conforto de um táxi e precisei pegar um ônibus. Imagina então, eu ter que carregar uma mochila nas costas e uma caixa nos braços, para voltar para casa...

Por sorte, ao entrar no ônibus haviam ainda uns poucos lugares vazios, e me sentei próximo à roleta em um banco no corredor. Logo o ônibus começou a encher e os lugares se ocuparam. E não demorou para um senhor, de cara zangada, subir no coletivo. Ele ficou então de pé, e olhou para mim com uma cara que dizia "não vai levantar não?". Reforço o detalhe que nesse ônibus os assentos preferenciais ficavam antes da roleta, e ainda haviam alguns deles vagos, mas o velho insistiu em passar pela roleta e se enfiar no meio das pessoas, e me "escolheu" como o sujeito que tinha que lhe ceder o lugar. Ele continuou me olhando, sem perceber que havia ainda uma caixa que estava no chão na minha frente, e então ele reclamou que eu não havia cedido o lugar para ele, me chamando de nomes não muito amistosos (me lembro que ele havia me chamado de "folgado" e "vagabundo"). Lógico, muitos outros passageiros idiotas, querendo parecer solidários ao "pobre" senhor (porém sem abrir mão de seus assentos, claro), concordaram que eu estava errado e deveria ceder o lugar para ele.

"Bleh! Levanta daí, seu m&%#@, o lugar é meu!"

Acontece que naquela época eu era uma pessoa muito mais bruta, não gostava de levar desaforo pra casa, independente de ser um velho desbocado e mal educado. Não me lembro de todos os detalhes, mas sei que levantei puto e com um sorriso amarelo no rosto, peguei a caixa e deixei ele sentar. Só que aí me posicionei bem ao lado dele, com a mochila nas costas e segurando a caixa na minha frente e na direção dele com apenas um braço, já que com o outro tinha que me segurar na barra de apoio. Sim, fiz questão de fazê-lo se sentir o mais desconfortável possível, com a caixa bem na cara dele. E ele ainda tinha que se afastar, pois quando alguém precisava passar pelo corredor atrás de mim, me curvava pra cima do velho. E o mais legal é que alguns poucos pontos depois ele desceu, não sei se porque era realmente o ponto dele ou se ele se sentiu medo de que a caixa caísse na cabeça dele.

Mais uma vez, tenho certeza que serei criticado pela atitude, chamado de mal educado e cretino. Mas honestamente eu vejo que nessa situação o velho estava errado, e que eu não tinha que levantar para ele. Primeiro, haviam lugares preferenciais antes da roleta, ele podia muito bem se sentar ali, mas preferiu expulsar alguém de um assento não-preferencial; segundo, eu estava ali com uma grande quantidade de volumes e ele não estava carregando nada, faz muito mais sentido que uma pessoa carregando uma grande quantidade de coisas tenha preferência para sentar; e terceiro, aparentemente ele ia descer logo adiante, quase nem "esquentou"o banco, não havia assim tanta necessidade dele se sentar. Sim, digo novamente, ele estava errado!

E existem várias outras situações onde os "preferenciais" não teriam tanta razão em exigir o lugar: por exemplo, uma pessoa que esteja com a perna quebrada ou passando mal de febre, uma criança pequena, alguém carregando algo grande ou pesado... Em outras palavras, o velho considerava que fazer valer o seu "direito" é mais importante que o bom senso.

Isso tudo porque o povo brasileiro tem duas características marcantes, presentes em 90% da população: são mal-educados e gostam de levar vantagem. E quando começamos a dar "direitos" para essas pessoas, me desculpe mas, fudeu. É o caso da maioria dos idosos que vejo por aí: sempre são grossos, arrogantes e estúpidos, e acham que só porque tem cabelos brancos ou a cara mais enrrugada que um maracujá de gaveta, podem pisar nos outros. Ficam achando que o Estatuto do Idoso lhes dá o direito de serem mal-educados com quem quiser, seguros que se alguém reagir será enquadrado pela lei. Exatamente como acontece com outros grupos sociais, como negros e homossexuais, exageradamente protegidos por direitos e que acham que por isso podem levar vantagem sobre os outros.

Enfim, os assentos preferenciais vão continuar por aí, sempre causando polêmica e discussões no transporte público. Nessas horas é que lamento pelo fato de eu não ter um carro, seria a única maneira de ter um banco sempre garantido para mim.

Comentários

Anônimo disse…
Achei o post bacana, mas vejo que muitas pessoas acham que são preferenciais.
Hoje no trem uma senhora que não tinha mais do que 55 anos disse que era preferencial e chamou a atenção da moça que estava sentada no banco preferencial, porque ela queria sentar.
Acho que essas pesssoas abusam, não concordo com a lei. Existe pessoa muito folgada.
No banco, há mulheres que levam crianças na fila do banco e não entende que a fila preferencial é para criança de colo e não criança no colo. Um absurdo!!!
Texugo disse…
Realmente tem muito disso também, o que não falta é gente abusada. Quantas vezes já não vi malandro que leva o avô junto ao ir no banco só para pegar a fila preferencia?

Obrigado pelao comentário!
Anônimo disse…
Rapaz, o que mais me deixa possesso é a falta de educação dos "preferenciais". Hj, ocupei um assento preferencial, mas não me dei conta, pois eu tava muito cansado, depois de um dia inteiro de aulas e trabalho. Um obeso-master apontou a indicação de assento e disse: "esse assento é pra mim!" Porra, custava dizer: "com licensa, esse assento é preferencial. Poderia ceder pra mim?" Sério, o cara perde a razão ao despejar toda a frustração de sua vida obesa em cima dos outros usando a "lei" como desculpa. Lamentável.
Texugo disse…
Sim, esse é o problema... Tá cheio de "preferenciais" que são acima de tudo mal educados, e ficam se achando superiores aos outros. Idosos então, nem se fala, tá cheio de rabugento...

O problema desse país é que tem muita gente que fica se protegendo com "leis" e acha que pode fazer o que quiser