Um dia na PF...

Segue aqui mais uma daquelas postagens estilo diário, narrando um acontecimento de minha vidinha sem graça. Nessas horas fico pensando em como tem dias que me sinto como se estivesse em um filme, normalmente daquelas comédias de frustração... Você sabe, aqueles onde o personagem busca durante todo o filme alcançar um determinado objetivo, mas vão acontecendo várias coisas pelo caminho para atrapalhar, algo como "Férias Frustradas" ou "Antes Só Que Mal Acompanhado"... Como daquela vez que fui comprar um MP3 em pleno Carnaval, que contei nesse post.

Enfim, dessa vez a missão parecia ser boba e mais tranquila, dar entrada em meu passaporte. Meio que de última hora surgiu uma oportunidade de eu viajar para os EUA pelo trabalho, mas para isso é necessário providenciar uma série de documentos, e entre eles eu precisaria fazer meu passaporte, para depois poder solicitar o visto. A viagem é daqui a um mês, imagino que não devo conseguir, mas não custaria nada tentar...

Para tirar o passaporte, fui no site da Polícia Federal, órgão responsável pela emissão desse documento. Após apanhar bastante de um sistema sem informações e confuso, consegui registrar o pedido e emitir o boleto para pagamento da taxa de 150 e poucos reais. Detalhe que essa acabou sendo a única parte fácil de todo o processo, afinal de contas a PF não iria criar dificuldades para receber dinheiro. O grande problema é que o agendamento que eu consegui para ver o passaporte ficaria lá pro início do mês que vem, impedindo completamente a viagem. Logo restava a mim tentar passar na PF para pedir um adiantamento do processo. Conversando com colegas que já haviam tirado o passaporte mais recentemente, decidi ir no posto da Polícia Federal no aeroporto do Galeão, menos procurado que o do centro e do Rio Sul.

Uma rápida pausa: sim, aeroporto do Galeão. Acho uma babaquice essa idéia de mudar os nomes de ruas e locais públicos, mesmo que seja para homenagear alguém. Quer fazer algo para lembrar o Tom Jobim? Em vez de mudar o nome já conhecido de um aeroporto, inaugura uma estátua pra ele! Voltemos à programação normal...

Combinei com o pessoal do trabalho que ficaria o dia fora (algo muito bom, diga-se de passagem), e acordei cedo para ir ao aeroporto. Essa foi a única parte tranquila do dia, o trajeto foi bem sossegado e logo estava lá no terminal 1 do aeroporto. Eu sabia que a Polícia Federal era no terceiro andar, peguei as escadas rolantes e logo estava diante de uma placa. Aí veio a primeira pisada de bola: por algum motivo estranho, imaginei que o posto da PF seria próximo aos caixas eletrônicos e virei para a direita. E isso mesmo depois de ter visto uma placa apontando para a esquerda com os dizeres "Polícia". Acho que eu imaginava ser um posto de polícia comum. Precisou eu chegar até o final do corredor para perguntar para um segurança, descobrindo da pior forma que o posto da PF era na outra ponta do terminal. Me xingando por ter sido tão cabeça-dura voltei todo o corredor. Antes fosse a única vez que eu iria andar de uma ponta à outra do terminal...

Finalmente, depois de um rápido pit-stop para dar uma mijada, localizei o posto da Polícia Federal. E como de costume, não havia nenhum tipo de informação para orientar as pessoas. Havia uma fila razoável, era a única existente, fiquei nela por alguns minutos, chegou a minha vez e disse que precisava antecipar o passaporte, e ela me disse para sentar e ficar esperando pela delegada. Bom, sentei e fique ali na minha, esperando... Daqui a pouco surgiu uma mulher vestida de uniforme, parecia fugida do seriado Chips, e ia atendendo as pessoas em um balcão. Chutei o balde e perguntei pra ela se ali era a fila para pedir o adiantamento, e ela disse que não, que era para checar os documentos, e ela disse para eu esperar a delegada. Nessa hora várias pessoas que estavam sentadas aparentemente me escutaram e reclamaram, dizendo que estavam esperando e não havia nenhuma ordem de atendimento. Meio que houve um princípio de tumulto, mas logo todas as pessoas se organizaram, e eu, babaca como sou por não ter perguntado antes, acabei caindo no final da fila...

Fiquei esperando alguns minutos mais, estava logo atrás de uma garota que teve seu passaporte roubado e um carinha que ia viajar pela faculdade. Conversa vai, conversa vem, alguém comenta que era necessário trazer também cópias xerox de todos os documentos, fato esse que não era mencionado no site da Polícia Federal. Claro, eu não tinha nenhuma xerox comigo, e então decidi tirar umas cópias. Não precisa dizer que a lojinha onde tiram cópias fica convenientemente localizada no outro extremo do terminal...

Depois de tirar as cópias, voltei para o posto, agora haviam duas oficiais lá atendendo. E percebi que o carinha da faculdade estava na fila para falar com elas. Fui lá perguntar pra ele se a delegada já havia chegado, ele disse que não, que estava só para tirar umas dúvidas. Achei estranho e voltei a me sentar, a garota reclamando do meu lado do atendimento demorado. O pior era que algumas pessoas que estavam na frente estavam indo para uma outra seção do posto, para onde teoricamente os agendados iam. Nessas horas é que agradeço por ser teimoso, me levantei e fui até essa nova fila, falar novamente com a oficial. Aí me dei conta que eu tinha que solicitar pra ela o adiantamento. Me virei para carinha e seus dois amigos, e pensei "filho da puta, não disse nada". É foda, você vai num lugar desses deplorável, onde as pessoas estão cagando e andando pra você (emprego público é essa pouca vergonha), e muitos daqueles que estão em situação semelhante nada fazem. O babaquinha não podia ter dito pra mim para ir na fila mostrar os documentos?

Apresentei toda a documentação para a oficial, que logo me jogou um balde de água fria, ao dizer que o passaporte não ficaria pronto no mesmo dia, isso só era feito em situações muitos emergenciais (motivos de saúde com passagem já comprada, por exemplo). E ela questionou que não havia necesidade para o encaixe, pois o passaporte ficaria pronto à tempo para a data da viagem. Parece que a mulher nao pensava, tive que explicar que era por causa do visto, e precisei escrever uma carta rápida atestando a razão dessa urgêcia (não bastava apenas a carta da empresa, era necessária uma carta minha). Deixei a minha carta e agora era necessário aguardar a aprovação da delegada. Mais uma passada rápida no banheiro e me sentei para esperar, vendo que perderia o dia inteiro ali...

Cabe agora um comentário: tão logo me dei conta de que era necessário me registrar naquela fila, me virei e chamei a garota que estava lá sentada, disse para ela pegar aquela fila para mostrar a documentação. Acabou que o caso dela dependia do agendamento, ela fez o cadastro em um computador que havia ali. Tão logo ela terminou a solicitação dela, ela veio me agradecer, se eu não a tivesse chamado, muito provavelmente ela ficaria ali presa por um tempão. Tá vendo só? É o que eu digo, as pessoas precisam se ajudar. Eu podia ter ficado quieto e não ter falado nada, mas o que custaria ajudar uma pessoa necessitada? Pena que eu tenho a consiência de que faço parte de uma minúscula minoria...

Os minutos iam passando, e depois passavam-se horas ali no aguardo. Eu fiquei ali, escutando música, mas atento aos avisos da oficial. De tempos em tempos, ela chamava alguns nomes, das pessoas cujos encaixes haviam sido aprovados. Fiquei aguardando, vendo os diferentes tipos que passavam por ali, como uma bela garota ruiva e um casal americano, o cara parecia jogador de futebol americano e a mulher uma atriz pornô. Eu comecei a ficar preocupado quando chamaram o nome de uma senhora idosa que estava na minha frente, e depois um outro senhor que veio depois de mim: estava claro que a ordem dos encaixes não era exclusivamente pela ordem de chegada. Mas finalmente meu nome foi chamado, peguei a carta com a aprovação da delegada e dei meu nome para a outra fila, da entrada do visto. Eu era o número 21 na lista dos encaixes, exatamente no final da folha, e ainda estavam no número 5. Eram quase meio-dia, não adiantaria ficar mofando lá, era hora de comer alguma coisa.

Sabendo que toda aquela ladainha ainda ia demorar, voltei ao meio do terminal, onde ficava a praça de alimentação. Esperava encontrar um McDonald's por lá, mas me contentei com o Café Palheta, onde bati um sanduíche de frango. E já que estava na merda, por que não um agrado? Comprei também um brownie! Almocei tranquilo, sem me aborrecer... Eu era o último dos encaixes, então tinha que ficar na torcida da algumas pessoas terem faltado, ou mesmo algumas que adiantaram a solicitação de seus passaportes. Havia assim uma possibilidade de que eu não conseguisse entrar com o pedido. Terminei de comer, mais uma passada no banheiro (tem dias que mijo como um camelo), e voltei a aguardar...

Cara, passaram-se quase três horas desde que voltei do almoço, e comecei a ver que chegava na minha vez. Um pouco antes das quatro, finalmente fui chamado. Para variar um pouco, dei sorte: fui atendido por uma menina loirinha, muito atraente e bem meiga. Ali dentro não levei nem quinze minutos, era só conferir documentos, tirar as impressões digitais em um leitor ótico (com a loirinha segurando minhas mãos com delicadeza...), tirar a foto e assinar na mesa digital, e tudo estava pronto. Bem, quase tudo, ao tentar fazer o upload o sistema caiu, mas logo voltou. Finalmente, eu estava livre!

Eram quatro e pouca, mas tudo havia terminado. Comprei uns pães de queijo, algo que gosto muito de comer, e avisei ao trabalho que voltaria direto pra casa. Foi uma luta, ainda tenho que voltar daqui uns dias para pegar o passaporte, e logo em seguida vai ser a corrida para conseguir o visto. Me revolta como as coisas aqui não são simples, tem todo um sistema informatizado até para colher as digitais e somos obrigados a passar por esse sofrimento e demora. Um dia inteiro jogado no lixo... Quero só ver como vai ser no dia de pegar o passaporte, com a minha sorte posso me preparar para mais uma aventura dessas...

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