Respeito pela paz pública?

Eu sou um texugo que vive em Copacabana, e antes que venham a achar que estou morando bem, ledo engano. Já contei aqui uma vez como que é a baderna no prédio onde moro, um verdadeiro cortiço com empregadas de voz insuportável que cismam em falar no telefone com seus familiares do Maranhão a plenos pulmões (como se fosse necessário gritar para poder ser escutado tão longe) e com moradores que cismam em ligar a televisão no último volume às onze da noite.

Mas antes fosse só o barulho interno aqui no prédio... Hoje estamos tendo uma maldita duma Caminhada pela Liberdade Religiosa, se somando aos frequentes eventos que cismam de fazer na praia de Copacabana. Perdoem-me aqueles que têm suas crenças religiosas, em nenhum momento sou conta a liberdade de religião, mas este texugo está consumido pela raiva de não conseguir ver um filme na televisão por causa do barulho incessante vindo da praia, e é natural que eu venha a descer ao nível de uma gilette deitada nas próximas linhas.

Por que sempre inventam de fazer esses eventos (ou melhor, bagunças) sempre aqui em Copacabana? Eu não moro de frente pra praia, mas daqui dá para escutar algum vagabundo dum pai de santo berrando no microfone alguma merda dum canto de umbanda, fico imaginando o sofrimento daqueles que pagam um IPTU astronômico para morar na Avenida Atlântica e estão sendo obrigados a escutar essa bosta. Puta que pariu, dá vontade de pegar emprestado com o Schwarzenegger uma daquelas metralhadoras de helicóptero e passar fogo nessa cambada toda! Tenho a certeza de que nenhum dos moradores daqui foi consultado sobre a realização desse evento, simplesmente a necessidade de fazer uma passeata de religiões alternativas (e barulhentas) se sobrepõe aos direitos dos moradores do bairro, que nada podem fazer a não ser aturar o barulho que invade suas casas e acaba com a tranquilidade de seu domingo...

Isso sem falar na sujeira que deve estar lá. Não me entendam mal, mas nesse evento posso apostar que a imensa maioria dos participantes veio lá de Caxias e de vários cantos da Baixada, lotando aqueles ônibus de turismo piratas que devem estar estacionados sobre as históricas calçadas de pedras portuguesas, destruindo seus desenhos. Não querendo generalizar, mas é fato que essa turma é bem baixa, desordeira, e vai aproveitar pra fazer uma verdadeira farofada nas areias de Copacabana, com várias famílias trazendo isopores cheios de cerveja e aqueles embrulhos de papel alumínio com arroz, feijão, farinha e carne. Acontece que normalmente as pessoas desses lugares são verdadeiros maus visitantes e vão sujar tudo, seja largando lixo na praia ou mijando no lado dos quiosques e veículos estacionados. Afinal de contas, no final do dia eles vão embora, e não vão ter que aturar a sujeira e o mau cheiro. Deixa isso para os moradores daqui...

O que mais me deixa puto dentro das calças é como isso se repete sempre, todo ano começamos com a maldita festa de Reveillon, onde temos milhões de pessoas vindo para Copacabana ver os fogos. Claro que não é só isso, no fim da festa fica um lixo só, uma praia repleta de latas de cerveja, restos de comida e bêbados dormindo sobre uma poça de seu próprio vômito, sob um odor misturado de mijo, cecê e pinga que paira por sobre as areias de Copacabana. É de lei, o ano sempre começa uma sujeirada só para os moradores de um dos bairros com os maiores impostos do Rio. Mas todo ano são vários eventos, teve a zona que foi no show dos Rolling Stones (ou de qualquer outra banda que venha tocar aqui), de passeatas religiosas, desfiles de carnaval e até a Parada Gay. Aliás, essa é uma das piores, ano passado foi quase o dia inteiro sendo obrigado a escutar um trio elétrico berrando músicas como "I Will Survive" e "YMCA", sem falar das ruas, que ficaram repletas de viados vestidos com roupas de couro (quando não estavam com suas bundas de fora), fazendo baderna e mexendo com as pessoas.

Como se não bastasse a desordem e a baderna provocadas pelos eventos realizados na praia, várias vezes o "palco" das festas é a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, principal rota que leva da Zona Sul ao centro. Muitas vezes são procissões religiosas, mas no início do ano também é muito comum ter um bloco de carnaval passando pela rua. Com todo o respeito, mas tudo isso simplesmente fode com todo o trânsito, sempre atrás das pessoas desfilando tem um pelotão de ônibus e carros, impacientes por estarem presos atrás de uma procissão de um santo ou de um bloco sambando as mesmas músicas e marchinhas de carnaval insuportáveis. Eu se estivesse ali atrás ia passar por cima, independente de ser beata ou folião.

Sinceramente, tudo bem que a praia de Copacabana é um belo cartão postal, mas as pessoas e principalmente as autoridades se esquecem que aqui é um bairro predominantemente residencial. Vai aparecer algum filho da puta dizendo que "ah, mas nós temos o direito de fazer essa passeata, é pela liberdade religiosa". Me desculpe, mas tem o direito é a puta que te pariu! E o direito dos moradores, como é que fica? Ou eu tenho que ser obrigado a ceder espaço para essa turma fazer sua passeata? Eu pago imposto para poder morar aqui, e quando quero andar no calçadão não vou poder porque tem uma cambada de vagabundo cortando a cabeça de uma galinha preta e fazendo macumba, tá certo isso?

Existem outros lugares onde tais eventos de grande porte e concentração de pessoas podem ser feitos. Por exemplo, por que não usar o sambódromo? O espaço ali é muito amplo, com direito a arquibancadas de onde as pessoas podem assistir de forma mais confortável o show ou desfile, sem falar que fica em uma região menos residencial. Ou mesmo que fizessem tais paradas em avenidas do centro do Rio, como a Presidente Vargas (como fazem, por exemplo, a parada militar do 7 de setembro) ou a Rio Branco. São lugares de fácil acesso, bem amplos, e o principal, fora de uma região residencial, sempre desertas nos fins de semana. Mas, claro que tais eventos não vão ser feitos em tais lugares, algo como a Parada Gay e uma caminhada pela liberdade religiosa têm que ser em um lugar bonito, e principalmente se nesse lugar vão "marcar presença", mesmo que venham a incomodar as pessoas que não estão nem aí para o evento...

Bem, parece que não há nada que nós, moradores de Copacabana, possamos fazer. Além de termos que pagar impostos caros para morar legalmente em um bairro nobre da Zona Sul, dividindo espaço com favelados que em nada contribuem para a arrecadação pública e ainda recebem grana do PAC do governo, precisamos aturar gente de fora que vem sujar nosso bairro e fazer baderna em pleno fim de semana.

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