Você quer ver algumas fotos?

Aposto que você deve ter algum amigo, familiar ou conhecido que é louco por fotografias. Eu conheço vários, aqueles que não perdem a oportunidade de disparar suas câmeras e registrar fotos nas mais diversas ocasiões, como festas de aniversário, casamentos, formaturas e viagens de férias. Lógico, são situações que vale a pena tirar algumas fotos como recordação, para lembrar das semanas na Europa ou dos amigos de faculdade... Mas como tudo na vida, exagerar nunca é bom, e normalmente para esses "fotólatras" (nem sei se existe essa palavra) não há um limite, tudo tem que ser registrado, e tiram centenas de fotos. E coitadas das pessoas que vão ter que ver essas fotografias todas.

Para começar, eu acho ridículo tirar fotos de absolutamente tudo! Eu confesso que quando viajo (normalmente a trabalho), tiro fotos do quarto de hotel onde fico e de algumas coisas da cidade, mas também tem limite: já vi conhecidos que só do hotel tiram dezenas de fotos, registram o que comeram no café da manhã, as famosas fotos do "antes e depois" (tipo mostrando o quarto logo após fazer o check-in e depois no último dia), e assim por diante. Nas viagens de férias, então... Cada lugar visitado é fotografado nos mínimos detalhes, podem chegar a dezenas de fotos de um único ponto turístico, de todos os ângulos, com e sem a presença da pessoa. E não pára por aí: fotos são tiradas dentro e fora do avião, das malas indo pela esteira de bagagem, do carro alugado, das compras feitas, das roupas de frio...

O pior de tudo é que essas pessoas, após tirar centenas de fotos, fazem questão de mostrá-las para todos os seus conhecidos. Com isso, são pilhas de álbuns que são colocados em nosso colo quando visitamos esse amigo fotógrafo, quando não somos convidados para uma sessão de slides. Para os mais jovens, que pensam em Powerpoint quando menciono a palavra slide, vou explicar: os slides eram basicamente pequenos quadradinhos de plástico onde um quadro do filme era colocado, todos eles devidamente organizados em um grande carrosel que era montado em um projetor, usado para exibir na parede da sala as fotos em um tamanho imenso. Posso apostar que você, se está perto dos 30, já foi convidado para uma sessão de slides, com as cortinas da sala fechadas e o enjoativo barulho trek-trek do aparelho, enquanto eram passadas as fotos do casamento de sua tia ou da viagem da família. A única coisa legal era fazer brincadeiras com sombras, tipo fazendo chifres e bigodes nas pessoas ou um divertido monstro mordendo as imagens (como no filme Ace Ventura 2).

Por essas e outras é que eu me revolto com o avanço tecnológico. Permita-me explicar: até não muito tempo atrás, para tirar fotos era necessário comprar rolos de filme, o que provocava sempre um gasto. Ao terminar de tirar as fotos, o filme precisava ser revelado em algum laboratório especializado, o que levava algum tempo e custava mais um dinheiro. E se você quisesse fazer os slides, aí já morria mais uma grana. Enfim, tirar fotografias era uma brincadeira que não saía barata. Mas graças ao avanço tecnológico hoje temos câmeras digitais, que aposentaram de vez o filme, ao permitir guardar as fotos dentro de pequenos discos de alta capacidade ou na própria memória da câmera ou celular. Resultado: hoje os tarados por fotografias podem tirar uma quantidade absurda de fotos, sem precisar gastar muito com isso. As novas tecnologias também acabaram com o projetor de slides, hoje podemos ver as fotos no computador ou mesmo na televisão, por meio de um aparelho de DVD. Isso dificulta muito a se esquivar dessas sessões cansativas de fotos: agora, podemos em uma inocente visita à casa de um colega ser pegos de surpresa com frases do tipo "Ah, acabei de de gravar um DVD com as 5000 fotos da minha viagem, vou colocar aqui pra gente ver na TV" ou "Terminei de baixar as fotos que tirei da festa de aniversário do , está aqui no computador". Corremos ainda o risco de ganhar "de presente" um CD com todas as fotos, cujo destino muito provavelmente será ser perdido durante a próxima limpeza de fim de ano do seu armário.

Sem falar que as máquinas digitais de hoje eliminam do processo a figura do revelador, o sujeito no laboratório que recebe e revela os filmes. A existência dessa figura também inibia que o fotógrafo tirasse certas fotos mais incomuns. Ou será que alguém seria tão sem-vergonha de deixar um filme com fotos do colega vomitado depois da farra ou com fotos mais "à vontade" da namorada nas mãos de um estranho? Lembram daquele filme do Robin Williams? Talvez o revelador seja um psicótico homicida que iria saber de todos os seus segredos, ou no mínimo daria aquela risadinha amarela quando você aparecesse para pegar as fotos. Hoje não tem mais esse problema, e se você quiser tirar a foto de um "charuto" no vaso sanitário ou da sua prima vestindo o sutiã, pode fazer isso sem problemas de que algum estranho vá ver...

Eu pessoalmente não sou muito chegado à fotos, tanto em tirar como em ver, por isso a minha revolta. Mas acho que não devo ser o único a achar insuportável ser obrigado a ver centenas de fotografias. Registrar as lembranças em fotos é algo bem legal e natural, mas o que os fanáticos por fotos devem entender é que seus amigos e familiares podem não ter necessariamente o mesmo interesse em ver 954 fotos da sua viagem para o exterior ou da festa de fim-de-ano do escritório.

Comentários