Rio for Partiers - Exagero?

Já tem algum tempo desde que eu vi uma reportagem sobre esse livro polêmico. Para quem está por fora, "Rio for Partiers" (algo como Rio para Festeiros) é um guia da cidade do Rio de Janeiro destinado ao turista estrangeiro que busca por uma diversão, digamos mais animada, focada realmente na vida noturna e nas festas que ocorrem todo dia na capital carioca. E esse guia provocou a revolta de muitas pessoas, principalmente da Embratur, alegando que o autor incentiva o turismo sexual com as suas sugestões de atividades no Rio. Mais sobre a acusação da Embratur, nesta notícia na página do JB, uma das referências que consultei para esse post.

Este texugo aqui, que não nasceu ontem, decidiu dar uma pesquisada, e logo achei o site do famigerado guia, onde inclusive há uma versão demo para download. É curioso como o autor (que é brasileiro) adota um linguajar bem mais informal ao mencionar algumas das atrações da cidade. Por exemplo, ao falar sobre o futebol, ele menciona que a maioria dos gritos envolve a mãe ou a bunda do juiz. E não pára por aí, ao sugerir ao turista corajoso que planeja visitar as favelas, que antes assista Tropa de Elite, ou como lidar ao ser assaltado.

Mas claro que o foco é na sacanagem, e mesmo no guia free fica evidente qual a intenção do livro. Ao falar dos bares, por exemplo, cada estabelecimento possui um approach index, que seria uma forma de dizer quais as possibilidades de você chegar numa pessoa para uma azaração casual. Quando fala do Hard Rock Cafe (que tem o maior índice), deixa claro que lá há uma grande quantidade de solteiros, e logo uma "Brazilian Connection" é bem possível! Sem falar nos rótulos usados para as mulheres... Talvez essa tenha sido uma das principais razões pelas quais o guia se tornou notícia. Segundo o autor, as mulheres podem ser definidas como:
  • Britney Spears : seriam as patricinhas, as meninas bem arrumadas da Barra, Leblon e Ipanema, que segundo o guia, são difíceis de se paquerar (ou será que não?).
  • Hippies : talvez se referindo às garotas de estilo mais alternativo, góticas talvez (ou quem sabe se referindo à maconheiras mesmo).
  • Balzacs : nada mais do que as mulheres de mais idade, estilo Sex and The City, que dão mais trabalho para se conquistar.
  • Popozudas : as "máquinas de fazer sexo", com bundas descomunais, onde o destino final (e bem provável) é uma cama de motel.
O mesmo tipo de rotulação é feita com os homens (embora as reportagens que apareceram na Internet e nos jornais não mencionavam nada sobre o isso, acho que para eles só é degradante quando a mulher é rotulada):
  • Bonitinhos : seria a contra-parte das Britney Spears, ou seja, os mauricinhos, que se vestem todos arrumados, verdadeiros metrossexuais (embora este texugo ache que o nome certo é viado mesmo).
  • Pitbulls : os famosos pitboys, que só pensam em jiu-jitsu e dar porrada nos mais fracos.
  • Hippies : a denominação mais "politicamente correta" para os maconheiros, vivendo no seu estilo Paz e Amor e queimando um baseado.
  • Jogadores : não, acho que ele não se refere aos jogadores de futebol, mas aos playboys da Zona Sul, que são os que "sabem tratar as mulheres" e são os mais desejados (o típico cafajeste, diria eu).
Este tipo de abordagem é que revoltou centenas de cariocas e a Embratur, que agora faz tudo para tirar o guia do ar. Dizem que o livro incentiva o turismo sexual e é degradante com as mulheres (e com os homens, não?). A dignidade do povo brasileiro estaria sendo atingida por essa publicação suja, ao mostrar uma imagem completamente falsa da cidade. Será mesmo?

Eu pessoalmente diria que o guia certamente não retrata um lado da nossa cidade do qual devemos nos orgulhar, mas acho que em nenhum momento ele mostrou uma imagem falsa. Aproveitando o momento, tomemos como exemplo o Carnaval... No guia, definido como "festas ao ar livre com atividades de semi-orgia". Sejamos sinceros, aqui no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, o Carnaval é uma surubada generalizada, pegação geral pelos cantos. Veja o desfile das escolas de samba, duvido que a cada 10 minutos você não vai ver alguma mulher totalmente nua em um carro alegórico, alguma atriz ou modelo com os peitos de fora, ou uma passista rebolando freneticamente a bunda (normalmente a dois centímetros da cara de um folião com cara de paspalho girando um pandeiro nos dedos). Isso sem falar nas festinhas mais reservadas, nos bailes onde acontece de tudo. Fato, o Carnaval é a festa do sexo, até o próprio Governo reconhece isso, ao lançar sempre as conhecidas campanhas "nesse Carnaval, use camisinha". E agora eu pergunto: qual é a imagem que a Embratur usa para divulgar o Carnaval no exterior? Independente da imagem, pode apostar que pelo menos uma bunda deve ter...

E continuo levando pela questão do turismo sexual, dos rótulos que fazem dos cariocas. Será que não tem um pouco de verdade no que o autor menciona? Ora, vivemos na era das mulheres-fruta, dos bailes funk e da azaração na noite carioca, e não vejo ninguém reclamando disso, agora quando o cara faz essa propaganda para o gringo ver, aí vão condená-lo? O Rio de Janeiro sempre foi famoso por sua boemia, pela Garota de Ipanema e pelas noites nos bares, principalmente nos dias de hoje que a sociedade em geral está muito mais liberal, é só fazer um pequeno sacrifício e escutar o funk do momento, certamente falando de sexo e sacanagem, e sempre com alguma mulher rebolando como se estivesse no cio (e depois dizem que isso é cultura). É só ver os bares à noite, adolescentes que se conheceram a quinze minutos "ficando". Parece que a culpa é dos turistas que vêm para cá com essa intenção de turismo sexual. Acordem: é a velha lei da oferta e da procura, não discuto que tem muito gringo vindo pra cá querendo afogar o ganso em uma popozuda, mas eles vêm pra cá porque tá cheio de popozuda disposta a isso.

E termino ainda dizendo que é muita hipocirsia, em particular por parte das mulheres, que se revoltaram em ser rotuladas pelo guia. Lembro que vi uma reportagem sobre o guia onde entrevistaram uma menina na praia, certamemente moradora da Zona Sul, que disse achar um absurdo, que as pessoas não são apenas a beleza exterior, mas o que importa é a beleza interior. Tá certo! Quero ver se ela vai dizer isso ao ver na praia um sueco de dois metros de altura, loiro e de olhos azuis, duvido que ela não iria jogar um charme se ele estivesse próximo. Vai me dizer que o autor exagerou nos rótulos? Ora, patricinhas e pitboys, popozudas e maconheiros, todos eles estão aí na paisagem ensolarada do Rio de Janeiro já tem tempo, só não ver quem não quer.

Realmente "Rio for Partiers" é de fato degradante, e deixa aquela má impressão de que a cidade é um verdadeiro prostíbulo. Porém, antes de atirarmos pedras no guia, acho importante vermos que essa imagem é uma consequência da nossa cultura e do nosso povo: enquanto ainda existir Dança do Créu, enquanto o Carnaval continuar sendo uma festa onde seios e bundas desfilam abertamente, e enquanto a cultura da azaração e pegação nas noites foi incentivada pela sociedade, só podemos esperar que continuem surgindo guias como esse.

Em tempo: na Amazon tem esse livro à venda, e o mais curioso é que a edição lá é de 2004. Ou seja, esse livro está aí pelo menos uns cinco anos, mostrando para os gringos a realidade de um cotidiano que a imensa maioria dos cariocas vivencia, e a Embratur até agora nunca havia se pronunciado. Por quê?

Comentários

ts disse…
Sou autor do Rio For Partiers, e concordo em todos os pontos onde vc defende meu livro. Acredito que vc é um dos primeiros jornalistas a criticar o livro APÓS ter lido, e nao antes. De forma alguma fiz um livro que degrada o Carioca, e sim um que mostra o que é a cultura Carioca, que, as vezes, pode ser degradante, mas nunca monótona. Como escritor de um guia, nao posso dizer que o carnaval é comportado e purista, nem posso dizer que não há azaração. A azaração no Rio é gostosa, e tem seu protocolo. Isso é algo que tem de ser explicado num guia FOR PARTIERS, para festeiros, para os turistas nao chegarem com atitudes diferentes, sejam elas timidas ou agressivas. O guia visa melhorar a relacao entre Brasileiros e estrangeiros a explicar nossa cultura do romance.