Mais um daqueles momentos em que eu faço uma espécie de desabafo, baseado em coisas da vida cotidiana, tanto aquelas que eu observo ao meu redor como as que acontecem diretamente comigo. Como é o caso de hoje. Acho que chega essa época de início de ano e normalmente passamos por uma reflexão sobre a vida, como uma forma de aprender sobre os erros e acertos e começar uma nova jornada no calendário com o pé direito. Claro que a maioria das resoluções de fim de ano não duram sequer a primeira quinzena de janeiro... mas mesmo assim acho válido pensar sobre certas coisas, como a falta de reciprocidade que muita gente pratica.
Como já disse em diversas oportunidades, eu procuro não entrar em muitos detalhes sobre a minha vida pessoal aqui. Não que eu tenha algo a esconder, mas acho que é necessário praticar um certo zelo por minha vida privada na internet. Não só para respeitar a minha privacidade e de outras pessoas com as quais eu convivo, mas até mesmo por uma questão de segurança, algo fundamental em um país como o nosso que tá cheio de pilantras, ladrões e salafrários. Vejo certos conhecidos meus que expõem toda a sua rotina nas redes sociais, colocam fotos de seus filhos na escola, ostentam as suas riquezas e assim por diante, como um grande convite à bandidagem. Pode parecer exagero de minha parte, mas como diz o ditado, "o seguro morreu de velho"
Enfim, mas venho para refletir um pouco sobre aquilo que eu estou chamando de falta de reciprocidade. Algo que eu tenho observado cada vez mais em minha vida, em diversas esferas: no trabalho, nos meus círculos de amizades (diria até "supostas" amizades em alguns casos) e até mesmo na família.
Antes de mais nada, cabe definir "reciprocidade", especialmente quando vivemos em tempos em que as palavras têm os seus significados alterados por interesses ideológicos e politicamente corretos. Desconsiderando a definição mais técnica de implicação entre duas proposições, entendemos como "recíproco" quando damos ou fazemos algo como recompensa ou troca por algo equivalente, de forma mútua. Embora eu particularmente acho meio forçado o conceito de "recompensa", pois isso pode muitas vezes induzir algo como uma espécie de prêmio, como se o primeiro a agir tivesse feito algo pensando em receber essa recompensa, o que nem sempre é verdade. Mas é o significado formal da palavra.
Esse conceito de reciprocidade se aplica em diversos aspectos de nossas vidas. Para citar um exemplo meio geral, e que acredito que muitos pensem logo de cara quando falamos nessa palavra, podemos considerar as relações diplomáticas entre dois países, em que é comum que o país A adote determinadas medidas em relação a um país B, depois que este país B agiu perante o país A de alguma forma. Lógico que há situações que isso ocorre de forma razoável e justificável, mas em outras não passa de mera represália infantil. Como naquela época em que o governo dos Estados Unidos começou a fazer um fichamento de brasileiros no momento em que entravam no país, algo justificado pelo risco, considerando que nosso passaporte já foi um dos mais falsificados do mundo, e por essa razão muito usado por traficantes e terroristas. E aí nossa "justiça" decidiu fazer o mesmo, fichando os americanos que chegavam, se baseando em um princípio de reciprocidade das relações internacionais, algo que foi aplaudido pela esquerda e pelos idiotas anti-americanos, como aquele antigo movimento MV-Brasil, aquele dos cartazes "Halloween é o cacete", que de patriota não tinha nada. Sem dúvida você deve se lembrar do piloto americano que, desconfortável com essa medida incabível e birrenta (afinal de contas, as fichas nunca foram usadas para nada), tirou a foto segurando o papel com o dedo médio.
Mas não vamos fugir do assunto, me refiro a um conceito de reciprocidade mais a nível das relações interpessoais mesmo.
Vale para qualquer relação entre duas pessoas, seja entre colegas de trabalho, entre familiares, entre amigos e nos relacionamentos amorosos. Naturalmente, nessas situações é comum que ocorra uma troca, em que o indivíduo A fará algo pelo indivíduo B e vice-versa. E esse algo pode ser qualquer coisa, pode ser uma ajuda de qualquer tipo, e qualquer tipo mesmo: como fornecer apoio emocional diante de um momento difícil, dar aquela mão na hora da mudança, ajudar na hora de dar referência no novo emprego, emprestar um livro, o carro ou uma caneta, assumir o papel de fiador no aluguel, cobrir o horário no trabalho por conta de algum compromisso, emprestar um dinheiro na hora do aperto, não faltam exemplos. Independente do que seja, uma das partes desse relacionamento fará algo pela outra, quando esta passa por necessidade.
E isso pode acontecer tanto de maneira solicitada como espontânea. Ou seja, em alguns momentos o necessitado vai chegar para o outro, seja seu amigo, colega de trabalho, familiar ou cônjuge, e vai pedir essa ajuda, explicando os motivos, pedindo desculpas pelo incômodo e coisas assim. Mas em outros momentos vemos que essa outra pessoa terá a iniciativa de ajudar, ao ver o necessitado passando por dificuldades e apuros. Ela vai oferecer seu apoio espontaneamente, talvez até aquele que precisa de ajuda vai negar a oferta, dizendo que não precisa, que não quer incomodar... mas no final é comum que aceite.
Independente da ajuda ter sido pedida ou oferecida, é ainda mais comum que o necessitado diga que está muito agradecido, que vai retribuir no futuro. Ou seja, que agirá de forma recíproca caso os papéis venham a se inverter. Pois é certo que aquele que ajuda hoje será o necessitado de amanhã, e nessas situações, se o relacionamento entre as duas partes for honesto e verdadeiro, aquele que foi ajudado antes vai ajudar agora, da mesma forma como foi. É a coisa mais natural, é o que se espera quando há uma relação equilibrada entre essas duas pessoas. E de novo, independente de qual seja a esfera onde isso acontece: seja entre amigos, seja entre colegas de trabalho, seja em uma família, seja em um relacionamento amoroso.
Diante desse conceito, eu comecei a refletir muito sobre minha vida, olhando para as pessoas mais próximas ao meu redor e pensando sobre a história compartilhada com cada uma delas. Algumas dessas histórias relativamente bem extensas, coisa de anos e até mesmo pouco mais de uma década. Olhei para trás, recordando o máximo que pude, puxando pela memória os diversos momentos, em especial aqueles em que uma das partes estava passando por dificuldades e precisava de algum tipo de ajuda da outra.
E cheguei à conclusão de que na esmagadora maioria dos casos, eu sempre era aquele que ajudava.
Sei lá, acho que faz parte da minha natureza, da minha formação ao longo da vida. Sempre fui alguém muito solícito e prestativo, disposto a ajudar quando alguém precisa. Logicamente que com um certo limite: por exemplo, não dou esmola para morador de rua, pois sempre desconfio da honestidade dessas pessoas, já vi um sujeito usar a filha pequena para pedir dinheiro e depois ir pro bar comprar pinga. Esmola eu não dou mesmo, no máximo eu contribuo quando vejo que é uma pessoa humilde vendendo alguma coisinha e que inspira confiança, em que percebo que é alguém que está se esforçando. Tipo, eu ajudo de boa se ver uma velhinha que está vendendo pano de prato que ela bordou, mas me recuso a comprar chocolate e bala de camelô que muito possivelmente ele conseguiu de forma ilícita. Sei posso estar fazendo um pré-julgamento errado, já que é possível comprar no atacado e com isso baratear na hora de vender na esquina ou no ônibus; mas desconfio muito dos preços demasiadamente baixos, que gera a dúvida se não se trata de produtos que vieram de roubo de cargas, um mal constante nas grandes cidades. Podem achar que é exagero, mas é como penso, na dúvida prefiro não arriscar.
E até mesmo ajudo algumas instituições com doações, algumas delas com certa frequência. Embora eu não fico divulgando isso, como certas pessoas que correm para o "Feice" ou o "Insta" para postar aquela foto com uma frase de efeito, para mostrar para todo mundo que está ajudando um hospital de idosos ou canil. Já falei várias vezes aqui, tem gente com uma necessidade orgânica de ganhar a aprovação de seus amigos e conhecidos nas redes sociais, e é esse desejo que motiva tais "boas ações", pensando no que vai ganhar com isso. Eu não sou assim, ninguém nas minhas redes sociais e mesmo nos meus círculos de amizades sabe que instituições eu ajudo, nem mesmo aqui eu falo a respeito, até mesmo não comento isso em família. Se eu decidi doar algum dinheiro para uma instituição dessas, é porque me convenceram de que passam por necessidade e fazem um trabalho digno e louvável, que merece a colaboração da sociedade. Não faço com o objetivo de demonstrar virtude, como um bando de gente nojenta que existe hoje em dia, só para ganhar "likes" e posar de pessoa de bem.
Enfim, mas não vou entrar muito nesse tipo de ajuda, que já rendeu dois parágrafos. Nesses casos o apoio é direcionado a alguém estranho ou à uma instituição de caridade. Meu objetivo aqui é focar mais na ajuda que é oferecida às pessoas próximas, como citei lá em cima, como amigos, familiares e colegas de trabalho, onde faz mais sentido a existência do conceito de reciprocidade.
Nessas situações, eu ajudo sem maiores problemas. Não precisam nem pedir duas vezes, em todos os momentos em que um familiar, colega de trabalho ou amigo de verdade veio me pedir algum tipo de apoio, nunca neguei. Não importando o tipo de auxílio, que fosse algo que tomaria meu tempo ou mesmo consumir parte de minhas economias, sempre me coloquei de forma disposta a ajudar da melhor maneira ao meu alcance.
Mesmo quando isso envolvia algum tipo de sacrifício de minha parte. Por exemplo, tendo que postergar algum de meus planos pessoais por um tempo, ou dedicando um tempo que eu usaria para atender às minhas obrigações ou mesmo para disfrutar de lazer e descanso. Claro que houveram situações onde eu não tinha condições de ajudar de forma plena e imediata, mas ajudava sim, de alguma maneira: tipo, se aquela pessoa precisava de um valor X, fora da minha disponibilidade financeira, mesmo assim eu ajudava com, sei lá, um terço ou um quarto desse valor; ou talvez não teria condições de apoiar de forma imediata (por estar em viagem ou no trabalho), mas tão logo tivesse disponibilidade eu ajudava. Sei que é muito fácil vir aqui e falar coisas assim, mas eu tenho a consciência do que eu faço, e de tantas as vezes que eu tornei as coisas mais difíceis para mim, que deixei de fazer o que eu precisava ou queria e que aguentei problemas para ajudar alguém próximo em necessidade.
O que acontece é que durante muito tempo eu nunca parei para pensar em como apenas eu ajudava, como foram raríssimas as ocasiões onde o apoio veio na outra via. E não que não tenham havido oportunidades para tal, afinal de contas todos nós temos nossos momentos de dificuldades. Felizmente, eu nunca passei por problemas financeiros a ponto de precisar de que alguém me emprestasse dinheiro, pelo menos até o presente momento. Mas mesmo assim, mesmo estando no vermelho, dificilmente eu pediria, eu admito que sou muito orgulhoso para tal, jamais me sentiria confortável de pedir dinheiro emprestado enquanto adulto e empregado. Por outro lado, tive momentos difíceis em minha vida, situações onde o apoio emocional e conforto seriam importantes para ajudar na superação, assim como foram muitos episódios onde eu precisava de alguma ajuda para fazer algo, para cumprir um prazo ou resolver uma tarefa difícil, seja no trabalho ou mesmo em minha vida.
E eu acho que consigo contar nos dedos de uma mão quantas foram as vezes em que alguém me ajudou nesses momentos de necessidade...
Repito, não gosto de entrar em detalhes muito aprofundados de minha vida pessoal. Mas tentarei dar alguns exemplos, apresentando-os de uma forma mais geral para passar a ideia do que estou dizendo. Tipo, vejo isso acontecendo no meu emprego, onde sempre temos aqueles momentos em que uma ajuda é bem-vinda. Claro que cada profissional tem as suas tarefas e deve ser responsável pelas mesmas, não me refiro a fazer o trabalho do outro (algo que eu nunca fiz e jamais pedi). Mas, vou dar um exemplo que acredito que todos devem se identificar, que é quando temos que fazer alguma coisa nova, e nessas situações sem dúvida ajuda se alguém dá uma dica, se a pessoa já fez aquilo ela pode sugerir como começar, onde buscar as informações, coisas assim. Logicamente que tem horas que "quebrar a cabeça" faz parte do crescimento profissional; mas também temos que ser humildes diante de uma limitação a ponto de recorrer a alguém mais experiente para pedir uma sugestão ou conselho. É bom para o aprendizado e para a empresa que exista esse tipo de colaboração.
Nessas situações, se alguém vem me pedir uma dica sobre alguma tarefa, eu respondo. Não me incomodo de "perder" uns dez minutos para escutar e aconselhar aquele colega que me pede uma orientação. Tampouco tenho o senso de competição corporativa exagerado, de achar que é cada um por si dentro da empresa e que ajudar o outro pode prejudicar sua ascensão na empresa (como muitos "especialistas" costumam sugerir). Por outro lado, olho para trás e me dou conta de quando era eu nessa posição, sempre escutei respostas como "estou ocupado, não posso te ajudar", "fala com fulano, não tenho tempo" ou "se vira, tenho as minhas atividades para entregar"...
Perdoe o palavreado, mas é foda. No meu atual emprego eu já desisti de pedir qualquer tipo de ajuda, pois sei que a resposta é sempre "não". Se vem algo complicado, sei que não vou poder contar nem mesmo com uma pequena orientação, de quem quer que seja. Esse é o ponto que eu me refiro à "falta de reciprocidade". Pois eu sei como eu sempre ajudei (e ajudo) meus colegas de trabalho quando eles pedem algum tipo de ajuda. Por que então essa resistência e dificuldade em ajudar de volta?
Sabe o mais engraçado de tudo? De uns tempos para cá eu comecei a mudar minha forma de agir no trabalho, pelo menos com algumas pessoas. Agora, quando me pedem algum tipo de ajuda, eu dou as mesmas respostas que eu costumo escutar, digo que não dá, que estou ocupado, para falarem com outra pessoa. Aí os mesmos que cagavam na minha cabeça quando eu pedia apoio começaram a ficar chateados comigo por não estar ajudando-os mais, a ponto até de reclamarem com meu supervisor! Sério, escutei outro dia em uma reunião de avaliação que eu não trabalho bem em equipe, que não sou um team-player, que preciso me envolver um pouco mais na área de especialização dos outros, e para isso deveria estar sendo mais colaborativo quando pedissem minha opinião e ajuda...
Por que será que só eu que tenho que ajudar? Quando são os outros se recusando a dar uma mão, aí não tem esse tipo de crítica. Será que eu entendi errado, e realmente o tal "trabalho em equipe" envolve que apenas uma das partes contribua e a outra se acomode a ponto de só pedir e não ajudar? Isso pra mim não tem nada a ver com trabalho em equipe, onde no meu entendimento a colaboração deve ser mútua, e não apenas em uma via.
Isso para citar apenas o que acontece na vida profissional quando o assunto é reciprocidade. Na vida pessoal, nem se fala...
Pior coisa que tem para estragar qualquer relacionamento a nível mais pessoal, como em família, é o dinheiro. Vou dizer que tenho muitas dores de cabeça com esse tipo de questão, especialmente por conta de certos membros da família (de segundo grau para cima, como avós, tios e primos) que vivem com a conta bancária no vermelho. Como disse acima, eu nunca tive problemas com grana, justamente por ser alguém controlado em meus gastos, sempre tive uma educação e cautela financeira a ponto de nunca ter atrasado nenhuma conta, sempre tendo minhas reservas para momentos de necessidade e emergências, e também por fazer um planejamento prévio conservador quando pretendo fazer algo para mim que exija um investimento maior (como uma viagem de férias, por exemplo).
O grande problema é que tenho muita gente de minha família que percebeu isso, que eu sou financeiramente estável e tenho minhas reservas. E parecem me enxergar como se eu fosse um banco ambulante disposto a ajudá-los.
Perdi a conta de quantas vezes veio alguém me contar uma "história triste", contando seus problemas e suas dívidas, que está passando por dificuldades, acumulando juros no cartão ou devendo o aluguel. E aí depois partem para o jogo emocional, aquela conversa de "família deve estar unida", para então pedir um dinheiro emprestado. E pra não ficar preocupado, que eu ia receber de volta o mais rapidamente possível. Boa parte dos meus familiares de 2º grau pra cima são assim, arrumam dívidas desnecessariamente, desperdiçam dinheiro de forma irresponsável e não economizam nada para os momentos de necessidade. E quando esses momentos chegam, apelam para a família.
Eu acho engraçado como que é a "facilidade" de pedir dinheiro emprestado para membros da família. Pois não precisa comprovar crédito, não precisa pagar juros, não precisa apresentar documento. No máximo só dar o número do CPF para permitir uma transferência bancária ou o Pix. Diferente das exigências cobradas por um banco.
E principalmente pelo fato de que, uma vez tenham pego a grana, aí só pagam quando podem. Afinal, tá tudo "em família"... Se o seu familiar te der um prazo, pode esquecer, pois vai chegar na data combinada e nada de saldar a dívida. Aconteceu comigo várias vezes, "ah, ainda estou complicado", "puxa... eu já estava me esquecendo" e "pode deixar que eu estou resolvendo, te pago já" são alguns exemplos das respostas que eu escutei várias vezes. Chegou até ao ponto de uma pessoa da família, que já tinha pego dinheiro emprestado comigo há meses, me procurar para pedir mais dinheiro, tinha esquecido que estava me devendo!
Sempre é uma dor de cabeça. Tem empréstimos que eu já desisti e entubei o prejuízo, somando todos esses casos ao longo de minha vida, digo que deve dar mais de cinco mil pratas que "voaram" da minha conta bancária. Mas o mais revoltante é me dar conta que alguns desses devedores não fazem nenhum esforço para pagar suas dívidas. Um caso que me emputeceu demais foi um familiar que me procurou, ficou quase uma hora comigo no telefone chorando as pitangas, de que a vida estava difícil, que estava acumulado em dívidas, chegou até a soluçar ao falar que não estava conseguindo pagar o médico para a filha. Aí convenceu o babaca aqui a emprestar uma quantia de dinheiro substancial, a ponto que eu tive que abandonar um plano particular meu para o qual eu estava economizando aquela grana...
Tudo isso para eu descobrir dois meses depois que ele tinha viajado para Angra dos Reis de férias!
Cara, fiquei muito puto. Liguei no meio da viagem deles e taquei um mega esporro, que era uma putaria contar aquela história triste toda pra pegar dinheiro emprestado pra viajar. Se tinha bufunfa para bancar resort em Angra, então tinha pra pagar o empréstimo de volta, pôrra! Muito abuso, principalmente pelo fato de que eu abri mão de algo para mim para que esse membro da família sem vergonha pudesse curtir as férias. Acabou que ele pagou apenas parte de volta, que eu estava sendo muito grosso e impaciente, que não tinha nada demais nele ter viajado com a família dele... E ainda teve a pachorra de dizer que, pelo fato de eu ser solteiro, não ter mulher e filhos e estar "bem de vida", que eu devia dar dinheiro para o restante da família mesmo, que eu tinha que ajudar! Estou falando sério, na cabeça dessa criatura eu tinha a obrigação de bancar o restante da família! Que absurdo é esse?
Nem preciso dizer que eu cortei relacionamento com esse familiar. Tem gente que diz eu exagerei, mas não vou ficar ralando e me esforçando para conquistar o meu dinheirinho suado e depois dar de bandeja para um adulto abusado e desorganizado curtir a vida às minhas custas, pombas!
Babe o que me deixa ainda mais puto nesse tipo de situação? São familiares que não ligam para saber como estou, sequer me mandam uma mensagem em meu aniversário ou Natal, não me consideram como "família" nos momentos em que tudo está bem. Só sou da família quando têm contas a pagar...
E que tampouco ajudam em momentos que preciso, ou mesmo em que seria educado e cordial oferecer algum tipo de apoio não-financeiro, pelo menos em consideração familiar. Por exemplo, tenho muitos parentes espalhados pelo Brasil, e no meu trabalho eu costumo viajar com certa frequência. Embora eu preze pela minha privacidade e não goste de incomodar os outros, me lembro de certa vez em que estava conversando com algum familiar e contei que ia chegar na cidade onde ele morava. Arrumou desculpa pra me evitar, nem se ofereceu para ir me buscar no aeroporto! E tudo isso vindo de alguém que me pedia por dinheiro emprestado quase que de forma bimestral... Pôxa, não tem um pingo de decência em ajudar um pouco um parente que o apoiou em diversas oportunidades em que estava com dívidas?
Esse tipo de postura eu acabo vendo também em certos "amigos". Assim, entre aspas, pois eu sou muito criterioso na hora de assumir que alguém é realmente um amigo de verdade. Tenho muitos conhecidos e colegas, como gente da época de colégio e faculdade, ex-colegas de trabalho (tanto de empresas por onde passei como que saíram daquela onde estou hoje) ou que conheci em determinadas oportunidades mais pontuais, como cursos, viagens, eventos e mesmo nas comunidades online dessas redes sociais. Mas poucos eu posso chamar realmente de amigos.
E mesmo assim não é muita gente que faz parte desse meu círculo de "amizades": por exemplo, nas minhas redes sociais eu devo ter pouco mais de 100 pessoas ali na minha lista de conhecidos (desconsiderando familiares, com os quais não me misturo nas redes sociais). Justamente por ser bem criterioso, não fico adicionando pessoas com quem interagi por cinco minutos, como muita gente faz só para inflar o seu número, para parecer popular. Uma vez mais, é a necessidade quase que orgânica de fazer um marketing pessoal, de ter milhares de seguidores para assim massagear o seu ego.
Isso eu vejo muito forte especialmente no LinkedIn, que é uma rede social profissional e assim mais "séria", mas que a maioria das pessoas exagera na hora de convidar os contatos. Eu até entendo (mas não concordo) quando é um vendedor ou coisa parecida, que quer achar possíveis compradores de seu produto ou serviço; mas tem gente que passa dos limites, que sai adicionando qualquer um com quem mal interagiu uma vez na vida, só para poder dizer que é alguém engajado, que conhece as pessoas, que está inserido no mercado. Sério, a minha lista de requisições tem quase uma centena de pedidos, de gente que quer me adicionar só porque participou de uma reunião de 30 minutos comigo na qual entrou mudo e saiu calado, ou por curtir a empresa onde trabalho e assim quer seguir todos os funcionários dali. Até mesmo pessoas da minha empresa, mas que trabalham em outras unidades e áreas com as quais a interação é nula, me pedem para adicioná-los. Ignoro solenemente.
Alguém pode até me acusar agora de falta de reciprocidade, por não aceitar esse tipo de convite em uma rede profissional como o LinkedIn. Não tem nada a ver. Não apenas pelas razões acima, que para mim não justificam que eu considere essas pessoas como contatos profissionais (de novo, tem gente com quem nunca interagi, nunca troquei uma vírgula), mas por ficar evidente que o interesse maior é dessa pessoa, que ela está pensando somente em si mesma. O objetivo não é manter um contato profissional que possa ser benéfico para ambas as partes (ou seja, recíproco e mútuo), mas sim algo do interesse somente daquela pessoa: é para inflar sua lista de contatos na esperança de que isso ajude em sua vida profissional, ou é para tentar me vender algo que eu não demonstrei ainda interesse ou coisa do tipo.
Estou fugindo um pouco do assunto, mas deixa eu dar um exemplo nessa linha que mostra como que as pessoas estão mesmo muito egoístas, e isso tem muito a ver com o tema da postagem. É o caso dos bancos, que costumam ligar para seus clientes para oferecer algum pacote de investimento, upgrade na conta ou cartão de crédito. Aposto que você já deve ter recebido várias ligações desse tipo.
Tente se lembrar de quando você costuma receber essas ligações em maior número. Pelo menos comigo eu percebo um aumento enorme na frequência de ligações e mensagens pelo WhatsApp, de meu gerente do banco e de pessoas da área de investimentos, sempre nos últimos dias de um mês, em alguns casos no final do trimestre. Geralmente oferecendo uma "oferta imperdível", condições especiais para uma alteração em meu pacote para ganhar benefícios ou então a contratação de um investimento que vai me trazer muito lucro. Já salvei alguns números em meu celular, ignoro sem pensar duas vezes (até porque essas ligações inconvenientes e invasivas sempre chegam em horário comercial, quando estou ocupado trabalhando) e mesmo assim as tentativas são incessantes.
Agora, no restante do mês, nada. Nem uma chamadinha. Só no final do mês é que me procuram? Por que será?
Isso acontece porque no final das contas o objetivo não é me oferecer um pacote mais vantajoso ou investimento rentável. O que acontece é que o mês está terminando, e aquele gerente ou especialista em investimentos (cara, como odeio essa palavra "especialista"!) tem a sua meta para cumprir no final do mês, precisa atingir o número combinado com seu chefe. Esse é o objetivo final, se realmente aquela pessoa está pensando em seu cliente e quer oferecer o melhor, vai entrar em contato assim que essa boa oportunidade estiver disponível. Ou acham que eu acredito que elas só aparecem nos últimos dias do mês? Não sou trouxa...
Acreditem em mim, nos dias 30 e 31 são tentativas de ligação quase que de hora em hora. Uma vez eu atendi e foi bem grosso com meu gerente, dizendo que eu não podia falar naquele momento, que as constantes ligações estavam me atrapalhando no trabalho, que ele me passasse as informações por email para que eu pudesse estudá-las com calma e decidir no meu tempo, e não no dele. Eu até disse que sabia que ele provavelmente estava correndo atrás da meta de final do mês, disse que compreendia isso até pelo fato de ver o mesmo tipo de "desespero" em minha empresa. Mas não adiantou, deu um tempo e retornaram as ligações. Bastou virar o mês, e no dia primeiro o meu celular ficou quietinho... afinal de contas, já havia passado o momento que interessava para esse meu gerente, talvez ele já tinha conseguido atingir a meta com outros de seus clientes.
Desviei do assunto, mas acho que isso passa um pouco da ideia por trás dessa falta de reciprocidade. Tudo isso é fruto de um egoísmo cada vez mais inerente nas pessoas. O que mais tem é gente interesseira, que está pensando somente em si e pouco se preocupando com os outros. E isso é uma das principais causas dessa falta de reciprocidade na minha opinião, em que as pessoas querem ser ajudadas, querem receber apoio e atenção... mas são incapazes de retribuir o gesto.
Nessas horas é comum que algumas pessoas vejam essa minha postura e digam que o interesseiro sou eu, por estar pensando na retribuição de uma ajuda que eu ofereça para alguém. Digo que eu já escutei isso muitas vezes, tipicamente das pessoas que eu ajudava e depois as criticava por nunca retribuírem. Eu até entendo que se pense isso, se remetemos ao significado da palavra "recíproco" como mencionei acima, em que é apresentada a explicação de que seria uma recompensa a um ato ou gesto equivalente. Isso dá a entender que pedir por reciprocidade é querer ser recompensado, e querer recompensa seria pensar em si mesmo e ser egoísta. Entendo quem pense dessa forma; mas não concordo.
Não questiono que existam pessoas que sejam assim mesmo, que elas decidam ajudar alguém já pensando na retribuição, tudo com o objetivo de deixar o necessitado "em dívida", que será cobrada em seu momento. É como se fosse a máfia, que quebra um galho pra você hoje, mas amanhã vai te procurar para pedir um favor (e se você não fizer, eles te quebram). Tenho a consciência de que tem muita gente que é assim mesmo, verdadeiros interesseiros com segundas intenções por trás de sua suposta caridade e apoio.
É o caso que vemos muito com uma mulher bonita, por exemplo. Você já percebeu como que tem muito homem que faz tudo por uma mulher de boa aparência? Tipo, se ela pedir alguma coisa vai ter marmanjo se estapeando para atendê-la, se for uma colega de trabalho sempre vai ter um monte de caras dispostos a ajudá-la com o que quer que seja. Vão dar a passagem, vão segurar a porta, vão oferecer para carregar sacola, fazem qualquer coisa se for uma mulher bonita, é perceptível que a disposição para ajudar é diretamente proporcional ao nível de beleza dela.
Pequeno parênteses: desde quando que as historinhas da Turma da Mônica estão com essas piadinhas de duplo sentido?
Nesse exemplo em particular que citei, é indiscutível que 99% dos casos envolvem caras que acreditam que vão ganhar algum tipo de recompensa da mulher se ajudarem. Nem que seja uma bitoquinha no rosto, embora sabemos que muitos vão querer algo mais, mesmo que seja depois de um investimento de longo prazo. Ou seja, é uma ajuda com segundas intenções, nessas situações eu concordo que os caras estão agindo de forma interesseira e errada. Mas isso não se trata de um caso de pedir reciprocidade, mas sim de malandragem.
Se bem que não podemos nos esquecer que a malandragem também vem de muitas mulheres nessas situações. Aquelas que sabem que são bonitas e que a marmanjada fará qualquer coisa por elas, e assim usam de sua aparência para se aproveitarem desses interesseiros tarados. Ponto a favor que os babacas com segundas intenções quebram a cara; mas ponto negativo pois faz um Ctrl+C Ctrl+V da alcunha de interesseiro para a outra parte também. Voltarei nesse ponto daqui a pouco. Mas é fato que o mundo está cheio de canalhas, todo mundo pensando no que vai ganhar em cima da suposta caridade oferecida pelos outros.
Acontece que, imaginando ainda o exemplo da mulher bonita sendo ajudada, existe ali 1% de homens que não estarão pensando em segundas intenções. Não podemos ignorar que existem pessoas que possam ser tomadas por um sentimento de altruísmo, ou simplesmente de boa educação mesmo, a ponto de praticarem uma boa ação sem estarem pensando no que vão ganhar com isso. Por exemplo, seria o caso de um sujeito segurar a porta para uma pessoa, que naquele momento é uma mulher considerada bonita pelos padrões da sociedade. Isso não quer dizer que o cara está pensando em levá-la para cama, pode ser uma atitude que ele teria com qualquer pessoa, independente do sexo, idade ou aparência, por pura boa educação.
Apesar de que sabemos que, quando é esse 1% fazendo alguma coisa para uma mulher bonita sem segundas intenções (aliás, muitas vezes nem precisa ser considerada bonita pela sociedade), é justamente quando ela desconfia que o cara está sendo interesseiro... Sei muito bem o que é isso, foram várias as vezes que eu fui pré-julgado assim sem nenhuma razão.
A vida é assim: tem gente que confia nas pessoas que são interesseiras e desconfiam daqueles que ajudam de forma sincera e altruísta, sem pensar em ganhar nada em troca.
Mesmo assim, sei que tem pessoas que acham que não existe essa de ajudar sem pensar na recompensa, que todo mundo é interesseiro e mesquinho. Até compreendo que, em um mundo majoritariamente egoísta, alguém pense dessa forma, mas é errado generalizar a ponto de achar que todos são interesseiros. Isso me faz lembrar de um episódio do Friends, em que o Joey e a Phoebe discutiam sobre a existência de boas ações genuinamente altruístas, em que ele defendia a ideia de que não, que mesmo o "sentir-se bem" após ajudar alguém se trata de um sentimento egoísta. A discussão seguiu ao longo do episódio, com Phoebe querendo provar a existência de ações tomadas por altruísmo (falhando miseravelmente em todas elas), até que no final ela decide fazer uma doação para um canal de televisão que odiava, que estava apresentando um programa tipo um Teleton.
Mas a doação dela, a princípio altruísta pois ela não estaria ganhando nada e só perdendo dinheiro, ainda mais para um canal que ela detestava, fez o Joey, que estava no programa, aparecer na TV, deixando-a feliz. E, por essa razão, deixaria de ser uma boa ação altruísta... A princípio dando razão para a teoria do atrapalhado ator ítalo-americano.
Pessoalmente, discordo desse tipo de interpretação, na minha opinião sentir-se bem e feliz após ajudar alguém ou realizar uma boa ação não caracteriza algo egoísta. Pois se trata de um sentimento que vem de dentro da própria pessoa que praticou essa ação, é algo construído de forma particular e pessoal, e não dado por alguém. A definição de "egoísta" envolve um indivíduo que está preocupado somente com seus interesses, de forma que a última coisa que um egoísta faria seria ajudar outra pessoa. Se é para sentir-se bem e feliz consigo mesmo e de forma egoísta, isso pode ser feito de outras formas que não envolvam ter que contribuir com os outros, fazendo algo que beneficie somente a si próprio. Ou seja, considero errado que alguém seja chamado de egoísta se ajuda uma outra pessoa e a única "recompensa" que espera seja algo imaterial como um sentimento próprio de felicidade e gratificação. Em outras palavras, as duas partes "saem ganhando"; em uma atitude egoísta, é apenas uma.
Sei que é muito fácil chegar aqui e simplesmente dizer algo e esperar que você acredite nas minhas palavras. Mas eu direi mesmo assim: eu tenho a consciência de que, em algumas situações, eu ajo de forma altruísta mesmo, sem pensar no que vou ganhar de volta, bastando somente o que eu sinto dentro de mim após ajudar alguém em necessidade. Repito, não é em qualquer situação, existem aquelas onde espero sim receber de volta: tipo, empréstimo de dinheiro para familiares, como a palavra "empréstimo" sugere é algo que deve ser retornado de alguma forma (preferencialmente de forma financeira, mas também seria aceitável por outros meios). Mas existem sim momentos em que vejo uma pessoa em necessidade e acabo ajudando pelo simples ato de ajudar, por saber que ela está precisando de verdade, e não a coloco em uma posição de débito comigo, esperando ser recompensado de alguma forma. Repito mais uma vez, não é sempre, não faço isso para qualquer um. Mas faço.
Entretanto, mesmo não ajudando com o objetivo de ganhar uma "recompensa", eu reflito sim sobre como que o apoio quase sempre é de uma via apenas. Pois eu fico pensando como alguém recebe uma ajuda minha (muitas vezes solicitada) e depois faz questão de negar qualquer tipo de apoio quando me vê em necessidade. Será que não bate nem um pouco de empatia nessa pessoa ao me ver em uma situação complicada, levando em conta que quando era ela em apuros eu ofereci minha mão para ajudar? Será que não fica nenhum sentimento de gratidão por eu tê-la apoiado em um momento difícil que a motive a retribuir a gentileza e consideração que eu tive? Pior ainda, já tive situações onde aquele que eu ajudei no passado se recusa até mesmo a ter um mínimo de consideração e respeito pela minha pessoa, agindo de forma grosseira e rude, às vezes até contribuindo em aumentar a minha dificuldade ao agir dessa maneira. Só faltando dizer um "foda-se que você está em apuros, não é da minha conta".
Novamente, eu sei que vão ter pessoas que vão dizer que eu estou exagerando e que na prática estou sendo interesseiro e até mesmo errado ao achar que essas pessoas devam me ajudar de volta. Já escutei uma vez de uma pessoa que ajudei, que não tinha que me ajudar se eu precisasse, pois ela já tinha dito "obrigado". Ou seja, defendendo um conceito de que basta falar uma palavrinha e está tudo bem, que isso a isenta de ajudar aquele que antes a ajudou.
Não estou menosprezando a importância das palavras, não é isso. Mas a vida me ensinou que muitas vezes as palavras não são ditas de forma sincera. É como quando alguém faz uma cagada homérica e pede "desculpas", achando que basta isso para ser perdoado. E aí passa um tempo e faz a mesma cagada de novo. E pede "desculpas" mais uma vez. Para passar mais um tempo e fazer a mesma cagada mais outra vez. Para pedir "desculpas". Pôrra, assim é mole, né? Quantas vezes vai pedir desculpas até tomar vergonha na cara e parar de fazer as cagadas? Pedir desculpas não vale nada se o sujeito não estiver arrependido de fato, se não fizer a sua parte para não pisar na bola de novo.
Mesma coisa eu penso da palavra "obrigado", simplesmente dizer essa palavra quando não se sente agradecido é para mim uma falsidade sem tamanho. Às vezes fico com a impressão de que ela é usada de forma muito aleatória, sem que a pessoa valorize o gesto de apoio oferecido, acho que até julgando que tinha a obrigação de ser ajudado, sem levar em conta que aquela pessoa que está ajudando possa estar fazendo algum sacrifício. Não interessa, é como se o necessitado visse que "merece" que alguém o apoie, e só isso que importa, que basta apenas agradecer e tudo bem. Acaba funcionando como um "ponto final": depois que o problema foi resolvido, basta dizer "obrigado" e pronto, volta tudo ao que era antes. Para a pessoa egoísta essa palavrinha já é suficiente para recompensar a ajuda recebida, não importando o tamanho dela.
De novo, não estou menosprezando a importância de um "obrigado" e tampouco estou achando que eu tenha o direito de exigir uma recompensa por uma ajuda que eu ofereci. Mas acho que mereço pelo menos um mínimo de respeito, um mínimo de consideração seria esperado se essa pessoa que eu ajudei estivesse realmente agradecida pelo o que fiz por ela. Quem se sente realmente agradecido tem noção do valor da ajuda recebida, sabe da dificuldade que passou, e assim terá um mínimo de consideração e empatia por aqueles que o ajudaram. Mas a verdade é que penso que muitas pessoas não são honestamente gratas pelo apoio que recebem, são apenas folgados que acham que somente eles merecem atenção.
Reflito sobre isso especialmente quando percebo um traço muito comum nessas pessoas interesseiras e egoístas: elas só me procuram nos momentos difíceis. Nos momentos bons, desaparecem.
Vou aqui citar superficialmente um caso, mesmo sabendo que vou admitir que fui um verdadeiro babaca na história, voltando ao tema de como tem mulher interesseira, como disse lá em cima. Trata-se de quando tinha uma garota de quem eu gostava muito, faz bastante tempo. E olha que ela não era assim tão bonita para os padrões definidos pela sociedade, embora eu a achasse charmosa à sua maneira. Eu tentava me aproximar, apesar dela ser muito reservada quanto a relacionamentos. Mas na época gostava dela, e não desistia. Até que chegou um certo momento que muitas coisas ruins começaram a acontecer na vida dela. Não vou entrar em detalhes do que foi, mas não importa. O que é importante saber é que foram muitas coisas negativas ocorrendo ao mesmo tempo, impactando tanto na sua vida pessoal como profissional. Fundo do poço mesmo.
Nesse momento difícil, para sua sorte ela pôde contar com o ombro amigo de algumas poucas pessoas ao seu redor. Pois nessas horas os egoístas pulam fora, aqueles que pensam somente em si mesmos não vão querer ficar perto de alguém cheio de problemas, pois as chances de ganhar algo com isso são mínimas. Foram poucas pessoas que a acudiram e a apoiaram, sendo que eu fui um dos que mais ajudou. Também não vou entrar no mérito exatamente de como ajudei, mas digo que envolveu não apenas um apoio moral mas eventualmente até mesmo uma ajuda financeira de forma pontual. Pra completar, nem foi como empréstimo, apesar dela insistir. Nunca cobrei o dinheiro de volta.
Pausa para responder àqueles que provavelmente estão me chamando de hipócrita, afirmando que eu estava fazendo tudo aquilo pensando na recompensa, com o objetivo de fazer com que ela gostasse de mim. Não, não fiz com essa intenção, embora eu admita que sim, a ajudei por gostar dela. Mas não por pensar em ser recompensado. Fiz o que fiz pois, por gostar dela, queria vê-la bem, queria que ela estivesse feliz. Estava fazendo tudo aquilo por ela e não por mim.
Se não acredita, se acha que eu sou um calhorda e estou mentindo, aqui pra você. Não vou perder meu tempo discutindo contigo.
Enfim... foram meses em que ela passou por esse momento difícil de sua vida. Mas ela sempre teve não apenas o meu apoio mas também de algumas outras pessoas. Todos nós estávamos preocupados com ela, fazíamos tudo que estava dentro de nosso alcance para apoiá-la. Passou o tempo, as coisas foram melhorando, os problemas se resolveram, sua vida começou a voltar aos trilhos, até chegar ao ponto em que ela esteve totalmente recuperada. Ela ficou muito agradecida a todos nós, dizia que não tinha palavras para descrever a sua gratidão. E, para mim, ela falava que estava muito feliz de ter alguém como eu em sua vida, e que seria eternamente grata por todo meu carinho e apoio naquele momento difícil que ela passou. Sempre dizia também que ela esperava retribuir tudo o que fiz para ela, se um dia eu passasse por situação parecida.
E aí é que as coisas começaram a mudar...
Hoje, olhando para trás, vejo que logo depois dessa garota ter saído de seu inferno particular, ela começou gradualmente a se afastar de algumas das pessoas que a tinham ajudado. Cito, por exemplo, uma com quem ela construiu uma forte amizade durante todo aquele período, e que aos poucos começaram a se distanciar, por iniciativa dela. Comigo até ela mantinha ainda um nível de intimidade bem alto, mas pouco a pouco ela começou a se distanciar das outras pessoas.
E vale citar que, mesmo depois de ter passado por todo aquele problema, eventualmente ela tinha algumas pequenas recaídas. Acontece que, com o passar do tempo, muitos daqueles que a haviam ajudado já não estavam ao seu redor, por ela ter se afastado daquelas pessoas. E aí acabava sobrando para mim. O que eu na época não via como problema, até pelo fato de gostar muito dela e não querer que ela voltasse àquela época de infelicidade e sofrimento do passado. Por um tempo foi indo assim...
Até que então aquela garota que antes estava no fundo do poço chegou a uma condição de vida muito melhor. Não me refiro financeiramente, sei que é a primeira coisa que se pensa quando alguém fala de "condição de vida". Embora ela esteja ok do ponto de vista de dinheiro. Me refiro à vida como um todo, ela estava não apenas livre de problemas mas também tendo bons momentos e oportunidades, com muitas coisas positivas ao seu redor, com muitos motivos para sorrir.
E nesse momento ela começou a me afastar.
Por exemplo, antes conversávamos com bastante frequência, compartilhávamos de notícias de nossas vidas, eu me interessando pelo que ela fazia e vice-versa. Mas aí a frequência de contato começou a reduzir, chegando ao ponto de que eu mandava uma mensagem para ela, para saber como estava, e a resposta só vinha quase que uma semana depois. Geralmente uma resposta fria, ou mesmo aquele retorno que chegava depois do momento ideal. Sabe, certa vez tentei ligar para lhe desejar feliz aniversário, o telefone tocou e nada. Tentei várias vezes no dia, sem sucesso, e para não deixar a data passar em branco, mandei uma mensagem... que só foi lida e respondida quase dez dias depois, de forma fria como o inverno na Antártica. Ora, quem não mexe em seu celular por dez dias? Estava claro que ela estava me ignorando...
Considerando os maus bocados que ela havia enfrentado no passado, até pensei o pior, que pudesse ter sido uma recaída severa a ponto de deixá-la em depressão profunda, se isolando do restante do mundo. Depressão de verdade, não essas frescurinhas tipo Felipe Neto que vai pro YouTube gravar vídeo tristinho e depois gasta dezenas de milhares de reais com roupa. Sério, não tem cada mais babaca que esse Felipe Neto...
Enfim, voltemos. A verdade é que essa garota não estava passando por depressão, ela estava bem, muito bem para falar a verdade. Tinha conseguido promoção no trabalho e estava ganhando bem. Conseguiu se mudar para um bairro mais sofisticado, com um apartamento de primeira. Fez viagens para o exterior com suas novas amigas, amizades essas recentes, construídas em uma época feliz de sua vida. Tudo indo de vento em popa. E cada vez mais o meu contato com ela se reduziu, hoje eu diria que todos aqueles que a ajudaram lá atrás foram excluídos de sua vida, ela não tem nenhum tipo de convívio com eles. Comigo, ainda restava um pouco... mas que ia se apagando a medida que ela ia me afastando, deixando de me responder.
Mesmo quando eu passei por um momento difícil em minha vida. Confesso que não a procurei, até porque sabia que se a procurasse a resposta seria tardia. Mas ela soube que eu não estava tão bem, sei disso. Acontece que ela, que lá atrás jurou que iria me ajudar se eu precisasse, nem me ligou, nem se importou. Preferiu dar atenção aos novos amigos, aqueles que conheceu quando a vida estava sorrindo para ela. Nesse momento, todo aquele sentimento que eu nutria por ela já tinha ido embora, fiquei muito decepcionado em como ela tinha mudado. Me pergunto até hoje se realmente ela mudou ou se estava fingindo, para que as pessoas a ajudassem no momento de dificuldade...
Hoje, já fazem anos que não falo com ela. Sei pelas redes sociais e por alguns contatos em comum que ela continua bem, tudo ótimo na vida dela. Chegou a se casar com um dos carinhas que surgiram no momento "feliz" de sua vida com quem teve um filho... mas se separaram, dizem os boatos porque o cara pulou a cerca.
Além de atestar que eu fui um grande babaca por fazer tanto por ela, até dar dinheiro, relembrar desse episódio me faz pensar como que as pessoas podem ser tão egoístas e ter essa enorme falta de reciprocidade. Pois fica evidente como que esse tipo de gente age: nos momentos difíceis, quando estão fracos e desolados, conseguem ser afortunados a ponto de ter pessoas que os ajudam, que fazem sua parte para colaborar. Muitas vezes o indivíduo só consegue sair da situação ruim em que se encontra com essa ajuda, por estar sem forças para resolver tudo sozinho. Mas, tudo correndo bem, essa pessoa supera as dificuldades, e sempre agradece o apoio daqueles que a ajudaram.
Porém, depois que sai do fundo do poço, a impressão que tenho é que a pessoa quer deixar aquele momento difícil no passado. Até entendo, faz parte da superação, se livrar daquela "âncora" que o segurou durante um momento difícil de sua vida. Só que aí essa "faxina" acaba recaindo também sobre as pessoas que a ajudaram. É como se as associasse a esse momento ruim de sua vida, e assim prefere afastar essas pessoas, dando lugar a outras novas. O que eu acho errado, na verdade isso passa um sentimento de ingratidão.
Tenho a consciência de que alguém possa dizer que o errado sou eu, usando aquelas frases típicas de contra-capa de livro de auto-ajuda, como "não devemos nos prender ao passado".
Não é por aí. É necessário termos a consciência de que o que somos hoje é fruto do que aconteceu no passado. Mesmo as coisas ruins, pois elas nos trazem aprendizados que serão importantes. Concordo que não é saudável ficar olhando só para o que passou, pois assim não vivemos e não progredimos; mas tampouco devemos desprezar tudo que aconteceu antes em nossas vidas. Até porque não tem nada que diga que algo que fez parte de seu passado não possa estar também no seu presente e no seu futuro. Além disso, ignorar erros do passado é um convite a repetí-los no futuro: se você passou por problemas ontem, é importante saber o que os causou, para que você não passe pelos mesmos problemas amanhã. Ou no mínimo devemos olhar para trás e guardar a experiência adquirida, saber como que tais problemas foram resolvidos para que eles possam ser superados com maior facilidade.
Por isso que discordo dessa ideia de apagar o passado. E, considerando o tema da postagem, ao fazer isso representa não apenas um sentimento de ingratidão por parte daquele que foi ajudado, como se não valorizasse o apoio que recebeu (afinal de contas, o que é valioso nós guardamos, certo?). Mas também passa uma sensação de que todo aquele apoio foi algo descartável, que só tinha importância diante daquele momento de dificuldade. E isso acaba repercutindo em como o egoísta olha para as pessoas que deram esse apoio, é como se aqueles que ajudaram só servissem para isso, só foram importantes na hora que precisava, depois não precisa mais deles e os exclui de sua vida.
Sério, é a sensação que tenho quando me recordo desse episódio. Me sinto como se eu fosse um lenço de papel descartável, que depois de assoar o nariz é jogado no lixo.
Confesso que me senti meio mal com esse tipo de reação por parte dessa garota de quem eu gostava, algo que eu recebi também de outras pessoas em outros casos semelhantes sob o ponto de vista da falta de reciprocidade. Sei lá, dá uma sensação ruim de se sentir usado, de que as pessoas só querem se aproveitar dos outros. Repito mais uma vez, não ajudo pensando no que vou ganhar em troca, não sou mesquinho e interesseiro, e ainda tento acreditar que existam pessoas assim como eu. Porém, é lamentável ver como as pessoas que recebem qualquer tipo de ajuda não fazem nada, nem mesmo um pingo de consideração por aqueles que os ajudaram.
Não precisa retribuir na mesma moeda, não é isso que eu peço: mas pelo menos tenha um pouco de reconhecimento pela ajuda, que valorize de verdade o apoio que recebeu respeitando a minha pessoa. Sério, quando ajudo sou a melhor pessoa do mundo; depois que ajudei, me despacham como se eu fosse um leproso, desaparecem por completo. Essas pessoas egoístas só querem compartilhar os momentos em que elas estão na pior, nessas horas é que gente como eu é bem recebida; mas, para os momentos bons, de felicidade, aí preferem outras companhias, e desprezam por completo aqueles que cederam o ombro amigo quando era necessário. Sério... fico bem desapontado.
Eu confesso que eu estou ficando cada vez mais desanimado com esse tipo de postura, a ponto que não me motivo mais a ajudar. Sério, pode parecer exagero, mas tem horas que eu penso isso sim. Pois acho que mesmo toda a felicidade que eu possa sentir ao ajudar alguém próximo não compensa a dor, a revolta e o desapontamento que eu muito provavelmente vou ter com essa pessoa, quando ela terminar de se aproveitar de minha ajuda. De novo, não faço para ter uma recompensa, e ainda tento acreditar que existam pessoas altruístas e dignas. Mas tá difícil... estou num ponto da vida que reflito muito nisso, que talvez seja melhor direcionar minhas energias para mim mesmo, ter amor e respeito próprio do que arriscar a ser usado por alguém interesseiro e egoísta, algo cada vez mais comum, pelo menos no que percebo ao meu redor...
Sei que soa como a saída dos mais fracos... mas tá difícil encontrar pessoas que me convençam de que ainda exista altruísmo e reciprocidade. O tempo vai passando, e é cada vez menos pessoas que eu me disponho a ajudar, por imaginar uma postura egoísta como retorno.
Vou ficando por aqui, encerrando essa rara postagem de desabafo particular. Mas prometo que a próxima será um pouco mais animada, ou pelo menos não será meio depressiva como essa aqui. Afinal de contas, temos que tentar ser positivos e seguir sempre com esperança de que coisas boas virão, valorizando aquilo que temos em vez de ficar esperando por algo que não temos certeza se vamos conseguir.
Comentários
O mundo já tem muita coisa complicada para que a gente procure problemas adicionais para nós mesmos, essa é a verdade.
Mas realmente sempre me coloco a pensar nesse tema, pois vejo como tem pessoas que adoram fazer um discurso bonito, que pensam nos outros e etc, mas no fundo são aproveitadoras e egoístas.