Cartuchos multijogos do Atari

É hora de lembrar mais uma vez dos bons tempos do videogame, voltando à época do clássico Atari. Sei que assim entrego minha idade, e provavelmente posso ser zoado por aqueles mais novos que acham que o console é "coisa de velho". Mas eu não canso de repetir que muitos jogos do Atari são significativamente superiores a muitos que existem hoje em dia em aspectos que são realmente importantes, como a jogabilidade, diversão e a vontade de querer jogar de novo. Certos jogos atuais possuem gráficos incríveis, músicas perfeitas e muito mais, porém são ou muito sem graça ou ridiculamente difíceis, sem falar que alguns são aqueles que você dedicará semanas e nunca mais jogará. Podem falar o que for, mas para mim o jogo é bom quando diverte.

Claro que os jogos eram bem simples na época. Tinha alguns que possuíam cerca de 4 kilobytes de programa. Para ter uma ideia de ordem de grandeza, 1 gigabyte é equivalente a 1 milhão de kilobytes. Ou seja, um DVD poderia comportar mais de 4 milhões de jogos de Atari deste tamanho. Jogos que vinham em um pequeno chip dentro de um cartucho de plástico, como nos acostumamos a ver até a época do Mega Drive e Super Nintendo. 

Aliás, os cartuchos de videogame foram uma grande sacada na época, sabia? Pois dentro daquele invólucro de plástico era possível incluir outros chips, adicionais ao padrão que trazia o jogo, permitindo assim incluir algum recurso mais avançado que o console podia não ter de fábrica. Por exemplo, o Phantasy Star do Master System vinha com um cartão de memória interno para guardar o progresso do jogo, e até mesmo alguns títulos do Atari vinham com chips extras, como Pitfall II que trazia um destinado à música que tocava durante a partida.

Mas, antes mesmo desses recursos mais avançados, o pequeno tamanho dos jogos e a possibilidade de incluir múltiplos chips dentro da carcaça do cartucho e mesmo o avanço tecnológico dos mesmos nos trouxe algo bem particular da época: os cartuchos com múltiplos jogos.

Era exatamente o que o nome sugere. Normalmente o cartucho vinha com um jogo só, e para jogar outra coisa era necessário desligar o aparelho e trocar por outro. Com o cartucho multijogo, era possível ter acesso a mais de um título em uma mesma fita. O mais interessante é que no início a seleção do jogo era feita de forma mecânica, por meio de uma ou mais chaves disponíveis no corpo do cartucho. 

A maioria era de cartuchos com dois títulos apenas, com a chavinha localizada na frente da carcaça, como na foto acima, ou então no topo do cartucho, como a próxima imagem. Por serem dois jogos, geralmente era fácil localizar qual posição era para cada um. Tipo, o seletor na posição A ou "jogo 1" era o primeiro da lista. 

Acho que não precisa lembrar que a troca do jogo devia ser feita com o videogame desligado. Eu pelo menos escutava muito o pessoal falando que mexer na chave com o Atari ligado podia queimar a fita.

Eu me lembro de ter vários cartuchos de dois jogos como esses. Me lembro até de alguns que tinham um botão em cima um pouco diferente, parecendo um interruptor de luz de parede, em que os nomes dos jogos vinham em cada um dos lados, colados em uma etiqueta. Acho que era uns lançados pela Fotomania. Faz a gente lembrar como aqui no Brasil tinham várias "produtoras" que lançavam fitas de Atari, que na verdade poderiam ser consideradas como versões piratas dos cartuchos oficiais. Só de bate-pronto, me lembro também das fitas da Dactari, Digivision, CCE, Videospot, Apple Vision (nada a ver com a empresa do Steve Jobs, apesar de copiar descaradamente a maçã mordida) e TRON, mais baratos e acessíveis do que os originais da Activision e similares.

Acho que um dia vou até fazer um post sobre isso. Pois algo curioso era como tais cartuchos "piratas" geralmente tinham artes nada a ver, iguais para todos os jogos que faziam.

Voltando ao tema, não demorou para que começassem a aparecer as fitas que vinham com quatro jogos. Para isso, bastou duplicar a quantidade de chaves: afinal de contas, com duas chavinhas de duas posições cada, era possível formar até quatro combinações diferentes, uma para cada jogo.

O grande problema era que muitas fitas não mostravam uma informação intuitiva de qual combinação se referia a qual jogo. Por exemplo, se eu quisesse jogar o Keystone Kapers (o jogo do guardinha que todo mundo curte), como que as chaves tinham que ser posicionadas? Aí o sujeito precisava anotar diretamente na fita ou em um papel para saber.

Pelo menos em algumas situações a empresa pensava um pouco mais e indicava as combinações na fita, como o exemplo abaixo. Tipo, se em uma determinada hora eu quisesse descer a porrada numa luta de boxe, tinha que colocar uma chave na posição B e a outra na D.

Considerando as minhas lembranças da época, os cartuchos multijogos com chaves seletoras só vinham nessas duas modalidades, com dois ou quatro jogos. Mas parece que houve fitas que traziam mais chaves, e dessa forma possibilitavam mais combinações e com isso mais jogos. Como a atrocidade abaixo, com cinco chaves de seleção, proporcionando um total de 32 jogos. 

Puta merda! E sem nenhuma maldita marcação para dizer qual é a combinação de cada jogo. Sério, escolher o jogo desejado já era um teste de paciência, como abrir um cofre. 

Mas os cartuchos multijogos não apelavam apenas para chaves seletoras como nos exemplos acima. Uma solução alternativa para isso veio em outras fitas, por meio de um sistema de ligar e desligar o console. Assim, o cartucho no final das contas era normal, sem nada de diferente, mas trazia vários jogos em seu interior. Ligando aparecia o jogo A, desligando e ligando de novo vinha o jogo B, e assim por diante.

Vi em algum lugar que essa foi um método "inventado" aqui no Brasil por algumas dessas produtoras de títulos de Atari. Em vez de usar as chaves para indicar onde que na memória estava um determinado jogo, o cartucho incluía também algum tipo de chip contador, que era atualizado a cada novo pulso de energia, proveniente do ato de ligar o console. Acontece que, como a fita não tinha nenhum tipo de bateria, era necessário um capacitor para que esse contador não fosse zerado. Devido a sua carga pequena, era preciso que o "desligar-ligar" fosse feito de forma relativamente rápida, e dessa forma ciclando entre os diversos jogos.

Ou seja: uma verdadeira gambiarra. Uma saída meio porca não apenas pelo fato de que o contador podia não ser muito preciso, fazendo com que os jogos geralmente fosse selecionados de forma aleatória, mas também por ser evidente que todo esse liga-desliga não devia fazer muito bem para o videogame... Quem viveu essa época sabe como era, tantas foram as vezes que eu desistia de jogar o que eu queria, por já ter me enchido a paciência de ficar ligando e desligando o aparelho.

A única vantagem era que tal método permitia que o cartucho trouxesse uma quantidade maior de jogos. Embora o máximo que eu vi de verdade foram os com 16 títulos, além de alguns que traziam os mesmos dois ou quatro jogos que já existiam com fitas com chaves.

E essas eram as formas de selecionar jogos nesse tipo de cartucho. Na época não havia ainda a sacada de colocar um menu de seleção na tela, algo que veio nos videogames de 8 bits, principalmente no Nintendinho. Embora tenha gente que cria cartuchos para o Atari até hoje, usufruindo de recursos mais avançados de informática e que trazem uma tela de seleção, além de um botão de "reset" específico da fita, que retorna para essa tela em particular. Aí tem fitas com absurdos 480 jogos, o que deve ser toda a coleção do Atari inventada.

Bons tempos, é verdade... Mostra como o Atari trouxe uma imensa lista de títulos dos mais diversos, e na época era necessário a recorrer a esses cartuchos multijogos para tentar "compactar" um pouco o espaço ocupado dentro no armário ou na caixa de sapato onde a gente costumava guardar as fitas antigamente. Era o que se podia fazer naqueles tempos, em que era preciso um chip um pouco menor que uma caixa de fósforos para um título de 8 kbytes, devidamente montado dentro de um cartucho plástico preto.

Faz a gente pensar em como que a informática avançou... afinal de contas, não precisaram muitos anos depois do "fim" do Atari para podermos guardar praticamente toda a sua coleção em um disquete de 3½ polegadas.

Ah, não sabe o que é um disquete de 3½ polegadas? Bom, isso é assunto para outra história... ou outor post nostálgico que eu talvez escreva.

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