Bolsonaro x Moro

Confesso que eu não esperava escrever uma postagem dessas. Uma semana depois do Mandetta, que estava a frente do ministério da saúde, pedir demissão, nessa sexta-feira tivemos algo que pegou muita gente de surpresa, com o Sérgio Moro, ministro da justiça, também pedir as contas e sair do governo. Apesar dos indícios nos últimos dias, por conta da troca do chefe da Polícia Federal, eu não esperava que o Moro fosse tomar essa atitude tão drástica.


Não vou entrar nos detalhes da saída do Moro, tá cheio de jornais falando do seu discurso da manhã e do discurso de Bolsonaro à tarde, ao lado dos demais ministros. Por um breve momento, as notícias do vírus chinês ficaram em segundo plano no noticiário. Mais importante do que os casos de coronavírus, é falar sobre as acusações de Moro contra o presidente, relatando influência política nas decisões do ministério, enquanto que do outro lado temos as palavras do Bolsonaro dizendo que seu ex-ministro estava arquitetando uma nomeação ao STF. 

Pessoalmente, digo nesse momento que estamos ainda no disse-me-disse... É a palavra de um contra a palavra de outro. Algo que fica ainda mais sensível ao considerar que as reuniões eram geralmente entre Bolsonaro e Moro somente. 

Tentarei ser breve aqui... até porque meu blog tem ficado cheio de assuntos políticos ultimamente, e prefiro escrever sobre outras coisas...

A começar pela pergunta que muitos devem estar se fazendo: de que lado eu estou?

Honestamente, eu ainda estou digerindo tudo isso, e acho que mais provas precisam vir à tona para vermos quem é que tem razão (ou ao menos quem tem mais razão) nessa história toda. Em parte, eu acho que a atitude de Moro, de chamar uma coletiva de imprensa e "jogar a merda no ventilador" foi um pouco exagerada na minha opinião, acho que ele poderia ter saído com mais classe, como a que sempre demonstrava ao lidar com o "nove dedos". Não estou desmerecendo as acusações dele, que são graves e devem ser investigadas (e que eu não duvido que sejam verdadeiras), mas acho que ele poderia ter pensando um pouco mais na situação do país nesse momento e ter colocado essas cartas na mesa em um momento certo. Afinal, já estamos vivendo uma crise sanitária e financeira por conta do vírus chinês, não precisávamos de uma crise política...


Mas, em outra parte eu acho que Bolsonaro também agiu de forma errada na maneira como discursou hoje. Especialmente ao se referir ao Moro da forma como ele fez. No mínimo, ele cometeu um suicídio político ao atacar o ex-juiz, que é visto pela nação como exemplo no combate à corrupção. Tampouco estou negando os pontos em que ele está certo: afinal, a lei diz sim que cargos como do chefe da PF são de nomeação do presidente, ele não estaria fazendo nada ilegal. Mas, para alguém que sempre enalteceu a confiança em que tinha no Moro, um ministro que teria "carta branca" para montar sua equipe (nas palavras do próprio presidente), acho que faltou um pouco mais de jogo de cintura em Bolsonaro. É só ver como muita gente que votou nele hoje declara abertamente que não o apóia mais, e que em 2022 votará em Moro, caso ele seja candidato.

Aqui, eu digo o seguinte: não me arrependo de ter votado no Bolsonaro nos dois turnos nas eleições. No primeiro turno, até pensava em votar no João Amoêdo, me pareceu um cara sensato. Mas o risco de uma decisão entre PT e PDT, entre o "poste" e o "coroné", que traria mais quatro anos de atraso esquerdista ao nosso país, me fez votar em Bolsonaro. Repito o que eu falei na época: ele representava (e diria que ainda representa, em parte) o que temos de mais anti-petista e anti-esquerdista na política. E depois de quatro mandatos do PT, que arrebentou nosso país, eu via como a melhor opção para "tombar" a nação um pouco mais para a direita, dando uma melhor equilibrada.

E não me arrependo. Na época era o que eu achava melhor. Não vou ser hipócrita como muitos estão sendo, e negando o voto do passado. Ou como aqueles esquerdistas que dizem que não são apoiadores do Lula, pois ele é corrupto... mas que votariam nele de novo, como fizeram duas vezes no passado.

Mas eu digo que sim, Bolsonaro caiu muito em meu conceito. Independente das acusações do Moro, nem estou chegando nesse ponto ainda. Digo isso baseado em sua coletiva à tarde, na forma como atacou o ex-ministro. Poderia ter sido um pouco mais político, no bom sentido da palavra, adotando uma postura mais serena, como ao falar da saída do Mandetta (esse, que eu não duvido que tinha sim segundas intenções e estava querendo se promover). Mas Bolsonaro preferiu um tom mais agressivo, desprezando o muito que Moro fez pelo nosso país, colocando-o como se fosse um inimigo do Brasil. E ao fazer isso, deu um tiro de bazuca no seu próprio pé.


Suponhamos que presidente esteja certo, que seu lado da história seja verdade, e Moro tenha sido mesmo um interesseiro que estava pensando na toga do STF: o Bolsonaro podia ter sido mais frio, sem apontar dedo e gerar polêmica, não haveria necessidade pois ele estaria do lado da verdade. Ele sairia até fortalecido, ao adotar uma postura assim. Mas, preferiu partir pro ataque e aumentar a polêmica... se colocando do lado oposto do Moro, que tem um dos maiores índices de aprovação no país. 

Repito, Bolsonaro cometeu suicídio político. E ainda vai se fuder nessa, pois deu mais munição aos seus inimigos, que estão loucos para instaurar seu impeachment. Se já haveria um risco após a saída do Mandetta, que era um zé ninguém antes da crise do vírus chinês e que rapidamente caiu nas graças do povão e da grande imprensa... imagina agora em que ele está em posição antagônica com o Moro, que todo mundo conhece e confia?

Agora, o que me diverte em tudo isso é justamente como que os inimigos do Bolsonaro estão quietos. Tipo, Rodrigo Maia nem falou nada ainda, o Alcolumbre idem. Pelo menos nas minhas redes sociais eu estou presenciando um silêncio por parte de meus "camaradas"da esquerda... 

Afinal de contas... esses esquerdopatas têm ódio mortal pelo Bolsonaro e pelo Moro.


Não duvido que os grupinhos vermelhos estão bolando neste exato momento algum tipo de discurso, que depois será compartilhado em massa pelos seus seguidores doentes. Mas a falta de uma reação imediata mostra como eles estão confusos, diante de um cenário desses, em que os dois maiores inimigos da esquerda da atualidade romperam. 

Diz o ditado "o inimigo de meu inimigo é meu amigo". O problema é que está difícil para a esquerda escolher qual será o inimigo que continuará sendo inimigo e qual inimigo passará a ser amigo...

Será que a esquerda, que jurava o Moro de morte por ter mandado prender o Lula, que sempre criticou o seu trabalho contra a corrupção... vai se esquecer disso tudo e apoiar o ex-ministro? Será que os petralhotários vão ter estômago para se solidarizar com o Moro, o mesmo Moro que colocou o sapo barbudo no xilindró? Será que a oposição pelo governo vai falar mais alto a ponto da esquerda passar a defender o Moro?

Ou será que dessa vez eles vão concordar com o presidente eleito? Será que vão chegar ao ponto de concordar com a posição do Bolsonaro, com a forma como ele está lidando com a PF (afinal, da mesma forma que Lula e Dilma tentaram no passado), pois o ódio pelo juiz de fala mansa da Lava-Jato é maior? Será que os amantes do Che Guevara vão se sentir felizes que Moro não está mais no governo, dizendo que o Bolsonaro está certo?

Sério... a esquerda deve estar mais confusa que uma pessoa que mandaram sentar no canto de uma sala redonda...


Enfim, vamos ver o que vai acontecer. Digo de novo, Bolsonaro se fudeu nessa, pois muita gente está mais inclinada a acreditar no Moro (incluindo este texugo). Mas acho que ainda tem muita água pra rolar debaixo dessa ponte, muitas coisas que ainda vão aparecer e que vão clarear mais o que aconteceu de fato. Até lá, que o país tente se organizar, ainda mais diante dessa pandemia do vírus chinês, que não quer saber de briguinha política e continua causando o seu impacto no Brasil e no mundo...

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