Sereia Politicamente Correta

Tenho a consciência de que eu estou um pouco atrasado no assunto. Mas tem horas que os compromissos da vida real tomam bastante tempo, e com poucas postagens de rascunho prontas na manga às vezes demora pra eu aparecer aqui e falar sobre mais um tema polêmico. Tanta coisa que eu queria escrever aqui e pouco tempo... Mas o que vale é não deixar o assunto ser esquecido. E apertem os cintos, pois hoje é mais uma daquelas postagens pra deixar meio mundo revoltado.


Ultimamente a Disney decidiu revisitar antigas produções animadas, talvez em uma demonstração de falta de originalidade e novas idéias. Porém, com uma grande sacada que foi fazer versões realistas, com atores de verdade. Não é uma idéia nova, se formos ser justos lá nos anos 90 já fizeram o filme dos 101 Dálmatas e tantos outros, como baseado na Alice e o País das Maravilhas e Cinderella. 

Acontece que ultimamente está tendo uma overdose desses filmes, imagino que por conta dos avanços tecnológicos que permitem as coisas mais fantasiosas de muitos dos filmes da corporação do rato orelhudo. Só nesse ano já tivemos o Dumbo, trazendo de volta a história do elefante voador, e Aladdin, com a proeza de colocar o Will Smith como o gênio da lâmpada.


Puta que pariu... Quem diria que o sujeito que começou na televisão como o Fresh Prince of Bel-Air iria virar gênio?

Não termina aí. Logo mais vão estrear o filme do Rei Leão, com direito a animais realistas mas que certamente falam como se fossem os personagens do desenho original. Vão lançar a continuação da saga da Bruxa Má, novamente com a Angelina Jolie e certamente veremos cachorrinhos realistas comendo macarrão na versão live-action de A Dama e O Vagabundo. Tudo isso somente em 2019, sem falar outros filmes que estão sendo anunciados, como as versões com personagens de carne e osso de histórias de animações como Mulan.

Sei que já escolheram a atriz que vai interpretar a personagem... mas bem que podiam ter colocado aquela que fez o filme A Grande Muralha, chamada Jing Tian. 


Digo isso simplesmente como desculpa para dizer que, depois de ter visto esse filme outro dia (não sei como que eu não vi antes), eu fiquei apaixonado por essa chinesinha cuti-cuti. 

Mas voltemos à programação normal, depois desse meu momento deprimente. Em breve, teremos também outros filmes com atores reais a serem lançados pela Disney, sendo que um deles é o que motiva essa postagem. Estou falando da Pequena Sereia.


Até aí nada demais, era de se esperar que Mickey e cia. iriam fazer o remake dessa produção que marcou época, contando a história da sereia Ariel e as demais criaturas do fundo do mar, como esse caranguejo tarado. Não duvido que deve ter muito marmanjo que até ficou animado com a notícia, sujeitos que eram moleques lá no início dos anos 90 e que "descascaram a banana" em homenagem à meia-mulher, meio peixe ruivinha da Disney. Confesso que esta criatura que aqui escreve tinha uma certa paixonite pela Ariel, logicamente que algo mais inocente, pois eu era um texuguinho inocente e bobo na infância.

Vai explicar... deve ser por conta do fascínio que as sereias exercem sobre o sexo masculino desde o início dos tempos. Talvez por conta da cauda de peixe ou devido ao biquini de conchas, sei lá. Embora tenha gente que ache que a sereia invertida seja mais funcional.


Já comentei isso na postagem que eu fiz sobre as princesas da Disney, tinha um colega da faculdade que achava melhor a sereia com a parte de cima de peixe e a parte de baixo humana, por ter "fendas".

Mas a grande questão não é por conta do filme... o que gerou uma grande repercussão e bombou nas notícias foi a escolha da atriz que vai interpretar a Ariel.


Pois é... o nome dela é Halle Bailey, e ela é negra.

Começando pelo o começo, eu não digitei errado não, e tampouco coloquei a foto trocada. Você que acha que seria a famosa atriz Halle Berry, aquela que fez a Tempestade dos X-Men, está enganado. Até porque ela já está nos seus cinquenta e poucos anos (quem diria?) e não tem mais idade pra bancar princesinha da Disney.

Halle Bailey é uma jovem artista, que embora seja bem desconhecida para a maioria do público, começou sua carreira na música juntamente com a irmã mais velha já há algum tempo, em 2008. Participou também de alguns filmes e séries, mas sem dúvida ela ganhou os holofotes ao ser anunciada como a atriz que vai interpretar a Ariel na versão live-action da Pequena Sereia.

Claro... era de se esperar que a sociedade politicamente correta viria a ter orgasmos múltiplos com a notícia...


Afinal de contas, nada mais legal do que ver a Disney quebrando tabus, ao incentivar a inclusão racial em um filme. Sabiam que isso tem até nome? Chamam de "colorblind casting", que poderia ser traduzido como "escolha de elenco daltônica", na qual a raça do ator ou atriz não é levada em consideração na hora de escolhê-lo(a) para um determinado papel.

Logicamente que isso só vale quando escolhem um ator negro para um papel que seria de um branco. Se é o contrário, aí é racismo...


Vamos nós de novo... Pois sempre quando o assunto é minimamente relacionado com uma questão racial e eu dou a minha opinião, que quase sempre é contrária ao que a maioria pensa, eu vou ser chamado de racista. Já estou acostumado... 

Não, eu não sou racista. Não sou a favor de preconceito. De nenhum tipo de preconceito, quero frisar. Pois na minha opinião a discriminação racial é uma via de duas mãos, e uma atitude racista de um branco contra um negro é na minha opinião tão reprovável como uma atitude racista de um negro contra um branco, algo que muitos dos politicamente corretos convenientemente se esquecem. Ninguém deve ser julgado superior ou inferior por conta da cor de sua pele, de sua idade, de seu sexo, de sua condição social, de sua orientação política, do time de futebol que torce ou da música que curte. 

Agora, eu acho que essa decisão da Disney é extremamente estúpida.


Eu não criticando a Halle Bailey. Eu faço até o seguinte comentário, tentando ir pela suposta lógica de "colorblind casting" que estão dizendo: em parte a escolha dela para esse papel tem sua justificativa pelo fato dela ser cantora. Afinal de contas, a gente sabe que os filmes da Disney são cheios de cantoria, e sob esse aspecto nada mais razoável do que escolher uma cantora para o papel, alguém que será capaz de fazer bonito na hora das canções. Isso supondo que ela cante bem, pois eu nunca ouvi um pio da menina.

Deixo bem claro que digo isso apenas como um comentário fora do tema principal ao redor da escolha de Halle (a cor de sua pele). Afinal, não me lembro de ter visto ninguém comentando o assunto com essa ótica. Toda a discussão, seja a favor ou contra a escolha, está girando ao redor do fato dela ser uma negra escalada para representar uma personagem originalmente branca.

Mas, em relação à questão racial, eu acho que foi mesmo uma decisão escrota por parte da Disney.


Permita-me explicar...

Eu entendo que alguns diretores de cinema defendam o que chamamos de "liberdade poética", de forma que eles possam mudar certas coisas em uma história ou filme escrito pelos outros. Muitas vezes essas mudanças são válidas e não distorcem as origens de maneira exagerada, e é legal ver determinadas histórias clássicas sendo contadas de uma forma um pouco diferente. Podemos citar até um exemplo do próprio universo da Disney, em que Tim Burton fez uma leitura bem particular do Alice no País das Maravilhas.

O problema é quando essa liberdade poética passa a ser guidada pela necessidade de "lacrar"...

Canso de dizer isso, os politicamente corretos vão fuder com a sociedade. Esses babacas ficam toda a hora patrulhando o que os outros estão fazendo, condenando qualquer iniciativa que não esteja alinhada com as suas opiniões, e por outro lado vangloriando qualquer bobagem que enfie o dedo na cara do pensamento conservador e enalteça as minorias e aqueles que quebram os tabus. Quando o assunto é cinema, esses panacas fazem uma jornada focada em criticar qualquer produção que não seja politicamente correta, mesmo que não tenha nada de errado, enquanto promovem qualquer filme ou série que seja lacradora, especialmente se dá destaque a mulheres, negros ou homossexuais.

Dou um exemplo, que repercutiu bastante.


Quando eu ouvi falar que iam fazer um remake dos Caça-Fantasmas, eu fiquei empolgado. Clássico da Sessão da Tarde, toda uma geração cresceu assistindo o quarteto de cientistas, carregando os seus feixes de prótons para capturar fantasmas como o Geléia e o Stay Puft, o monstro de marshmallow. Só que aí surgiu a notícia que iria fazer o já manjado "gender swapping", outra terminologia que está cada vez mais comum em Hollywood, no qual iriam inverter o sexo dos personagens. No final das contas, criaram a história de quatro mulheres que seriam as novas Caça-Fantasmas, e chegaram ao ponto de aplicar a reversão de gênero até na secretária Janine do original, que passou a ser o Thor.

Aí é que fica o que eu acho escroto: o filme nem havia sido lançado, e a sociedade politicamente correta aplaudiu, já falou que era um filme maravilhoso, sucesso de bilheteria e por aí vai. Simplemente pelo fato do filme estar "lacrando", colocando mulheres na posição de protagonistas.


"Ah, seu machista escroto, opressor de mulheres! Mas você está criticando o filme só porque as mulheres são protagonistas!"

Eu não estou criticando o filme por ter mulheres como protagonistas. Ora, não faltam exemplos de filmes em que temos mulheres nos papéis principais, com personagens fortes e que tiveram grande destaque. Antes mesmo da Capitã Marvel e sua aura de feminismo que a rodeou. É só olhar filmes como Alien, Kill Bill e tantos outros, em que atrizes representaram e muito bem as personagens que lideraram essas franquias cinematográficas.

O que eu critico é justamente essa idéia lacradora de enaltecer um determinado filme somente por ser politicamente correto. Eu pessoalmente não assisti esse novo Caça-Fantasmas, justamente por ver nele uma produção que priorizou muito mais o objetivo de lacrar para a sociedade do que em fazer um bom filme. Talvez nem tenha sido intencional, mas os politicamente corretos fizeram tanto auê sobre essa questão que acabaram provocando um efeito contrário: se tivessem ficado calados em vez de exaltar como que o remake era um tapa na cara da sociedade machista e patriarcal, talvez não tivesse gerado tanto repúdio por parte das pessoas que não suportam essa baboseira de lacração...

E é algo que está acontecendo com essa escolha da Halle Bailey para o papel de pequena sereia.


Como disse acima, ela é relativamente desconhecida no meio artístico, aposto que muita gente que aprova a escolha nem fazia idéia quem era Halle. O filme nem começou a ser feito, mas os politicamente corretos já estão em euforia, dizendo que será um filme perfeito e maravilhoso, somente pelo fato de estar "lacrando". O simples fato de terem escolhido uma atriz negra para um papel originalmente branco é o suficiente para que essas pessoas bestas aplaudam a Disney.

Eu acho errado isso... dizer que o filme será bom só porque colocaram um artista negro no papel principal...

Repito que existe sim espaço para que o diretor dê o seu toque pessoal em um filme que esteja fazendo. Mas eu acho que deve haver um limite nisso, e não acho válido que essas decisões sejam motivadas por uma questão ideológica, com o objetivo de ser politicamente correto. Não há nada de errado em promovermos a inclusão de minorias, mas também vamos maneirar. Inclusão é mais importante em outras questões da sociedade, não há necessidade de descaracterizar a história de um filme de forma tão significativa somente para atender aos anseios de uma minoria politicamente correta que grita alto demais.

Sei que vão pedir a minha cabeça, mas repito o que eu já comentei aqui certa vez: tem horas que eu vejo a postura dessas pessoas quanto à questão racial, em especial negros, e como eles conseguem ser tão mais racistas. Vão me xingar aos montes, pois sabemos bem que na cabeça dos politicamente corretos os negros são seres perfeitos, desprovidos de qualquer pensamento ruim, e que o racismo só existe do branco contra o negro.

Nem perco tempo, só respondo assim.


Pior é ver como que esses politicamente corretos chegam até ao ponto de falar umas asneiras absurdas, por estarem cegos pela luta pela raça negra. Tipo, teve gente que achou que a série Chernobyl da HBO foi racista, por não ter nenhum negro no seu elenco...

Pois é... afinal de contas, é de se esperar que andar em uma cidade na Ucrânia, em pleno Leste Europeu lá pelos anos 80, você veria um montão de negros como se estivesse na Nigéria... Como podemos ver nessa foto "real" tirada nas ruas de Kiev...


Fala sério, né?

Na boa... eu pessoalmente discordo dessa troca que foi proposta para a cor da pele da Pequena Sereia. Logicamente que vão dizer que eu sou racista por pensar assim, mas na minha opinião eu penso que se está descaracterizando demais a personagem.

Afinal de contas, quando nós falamos de um determinado personagem, certamente já aparece em nossa cabeça uma imagem mental. Se falo do Saci, logo você vai imaginar o negrinho de uma perna só, de short e capuz vermelho fumando um cachimbo. Quando falo do Papai Noel, certamente você vai pensar em um bom velhinho de longa barba branca, barrigão e vestido de vermelho,com um saco cheio de presentes e voando em um trenó. Se alguém falar do Super-Homem, certamente aparecerá na sua mente o cara branco, com aquele cabelinho arrumado, vestido de azul com uma sunga vermelha e o "S" no peito, com a capa tremulando ao vento.

E da mesma forma, quando se fala da Pequena Sereia, a imagem que vêm à mente é da menina branca, de olhos grandes e longos cabelos ruivos, com a cauda de peixe.


Há algo de errado nisso?

Certamente vão dizer que também não há nada de errado se a Pequena Sereia for negra... Então tá. Pergunto então se há algo de errado se alguém fizer um filme do Saci, e escalar um ator branco para interpretá-lo?

Ah... aí vai ser errado, né? 


É exatamente esse o meu ponto. Tudo aqui não passa de uma questão lacradora dos politicamente corretos. Não tem nada a ver com o tal "colorblind casting", isso só conta quando é para favorecer os negros. O que temos na verdade é algo que podemos chamar de "blacking casting", em que o objetivo é promover uma maior presença dos negros no elenco dos filmes, mesmo que isso signifique alterar as características do personagem por completo. Tudo isso "fundamentado" no conceito de incentivar a igualdade racial, mas logicamente que seguindo aquela premissa que alguns são mais iguais do que os outros...

Tornar a Pequena Sereia negra, aplausos. Criar um Super-Homem negro, sensacional. Fazer um Papai Noel negro, que lindo. Mas, um saci branco... aí é racismo, é inadmissível, não pode.

Pra você ver como isso é verdade, é só se lembrar da revolta dos politicamente corretos, quando descobriram que haviam alguns personagens negros do filme Pantera Negra que seriam dublados por brancos.


Eu acho tudo isso muito engraçado, mostra como a hipocrisia os politicamente corretos e esquerdistas é uma doença bizarra. Pois os mesmos que acham lindo a troca de etnia da Ariel de branca para negra ficaram desapontados ao saber que os personagens negros do Pantera Negra foram dublados por brancos. E viva à igualdade racial...

Pior que eu já estou vendo... provavelmente o live action da Pequena Sereia vai ficar como um episódio do Todo Mundo Odeia o Chris ou do Eu, A Patroa e As Crianças, com um elenco repleto de negros, só para agradar à sociedade politicamente correta. Tipo, vão colocar o Snoop Dogg pra fazer o peixe amigo da Ariel...


... e o Terry Crews vai ser o Netuno, pai da sereia. Aliás, ele se ofereceu pro papel. Se bem que esse até tinha que ficar só nas propagandas de Old Spice.


Bizarro.

Enfim, a verdade é que a decisão já está tomada, e mais uma vez teremos aqui um filme que já está querendo lacrar antes mesmo de começar as filmagens. O cinema não é mais como antigamente, agora há uma preocupação máxima em fazer produções que sejam politicamente corretas, priorizando questões que, embora sejam importantes, não deveriam influenciar características de histórias que já são conhecidas. Acho que o cinema perde e muito com isso...

Só sei de uma coisa: podem inventar moda, mas a Pequena Sereia pra mim dessa forma, branca e ruiva, como a original. Podem me xingar do que for, mas é assim que deve ser.


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