A Modinha dos Patinetes

Você já deve ter visto em sua cidade, e talvez tenha até usado. Afinal, eles estão em todos os cantos das grandes cidades brasileiras, tendo desembarcado há pouco tempo aqui no Rio de Janeiro para competir com as bicicletas laranjas do Itaú que nos acostumamos a ver. Estou falando dos patinetes elétricos, que explodiram por aqui.


Trata-se da nova idéia de compartilhamento de meio de transporte, uma das mais novas modinhas que caiu nas graças da população, tanto para fugir do trânsito como para puro lazer. Confesso que comecei a vê-los em algumas outras cidades durante as minhas viagens, mas imaginava que não iriam colocar patinetes no Rio tão cedo. Mas logo eu vi fileiras deles estacionados pelos cantos, geralmente na orla da Zona Sul ou no Centro da cidade.

Pelo que vejo aqui, existem duas empresas principais com essa iniciativa, a Grin com os patinetes verdes e a Yellow com os patinetes (adivinha!) amarelos. Embora na prática as duas se juntaram em uma única empresa, que agora se chama Grow, que nem aquela que fazia o War. Apesar da fusão que resulta em um completo monopólio do fornecimento de patinetes compartilhados, vejo que os veículos de ambas ainda coexistem.


Em ambos os casos a jogada para usar um patinete é a mesma. Primeiro é necessário baixar um aplicativo de celular e criar uma conta, vinculada a um cartão de crédito como ocorre nos programas de táxi e Uber. Em seguida, o próximo passo é encontrar onde tem um patinete, que é mais fácil do que parece, uma vez que cada um deles possui um GPS e basta olhar no mapinha apresentado no aplicativo pra ver onde está o mais próximo.

Encontrou o patinete? Está na hora de desbloquear, pois o bichinho fica travado e não vai a lugar algum, até que você use seu celular para escanear um QR Code fixado no guidão. Feito isso, você pode subir no patinete e sair passeando por aí, usando os botões de acelerador e freio.


Claro que não é de graça. Em ambos os aplicativos, são R$3,00 para iniciar a corrida e depois é cobrada uma taxa de R$0,50 por cada minuto.

A grande diferença é na hora de terminar a corrida, se comparamos com as bicicletas. Como já é sabido, com as laranjinhas é necessário encontrar um dos locais específicos para encaixar a bicicleta. Algo que faz sentido pra mim, é como se fosse uma estação ou ponto onde todas elas podem ficar armazenadas para os outros ciclistas.


Mas com os patinetes não é bem assim. Embora existam certos pontos fixos onde um monte de patinetes podem ser encontrados, na hora de terminar a corrida basta apenas largá-lo onde você quiser, dentro de uma zona ao redor desses pontos. Simples assim, basta saltar do patinete, encerrar a corrida pelo aplicativo e deixá-lo onde você quiser. Depois, outra pessoa o encontra, baseado no GPS.


Dizem que no fim do dia passam algumas picapes das empresas, para recolher os patinetes que tenham sido largados meio longe desses pontos, para assim retorná-los ao lugar de origem. E provavelmente para recarregá-los também.

Enfim, rapidamente os patinetes se tornaram populares entre os cariocas. Muitos os usam como forma de lazer, fim de semana está cheio de gente nas ciclovias e ruas passeando em patinetes pra se divertir. Mas existe uma grande parcela de usuários que os enxerga como um meio de transporte alternativo, especialmente para percorrer distâncias relativamente curtas sem ficar preso no trânsito dentro de um carro ou ônibus.

E claro, por ser um meio de transporte elétrico, tem vários metidinhos a Capitão Planeta que curtem os patinetes por não poluírem. Pra você ver que até mesmo o aplicativo de um deles informa ao final da corrida quantos gramas de dióxido de carbono você evitou que fossem lançados na atmosfera. Assim, o sujeito pode olhar para o céu com aquela expressão de bunda-mole, se sentindo realizado por ter salvo o planeta... para jogar lixo no chão ou usar sacola plástica dois minutos depois.


Cara... eu preciso fazer sátiras do desenho do Capitão Planeta.

Venho agora ao meu costumeiro desabafo. Pois certamente vocês já imaginavam que eu iria falar algo de mal a respeito dos patinetes, não é mesmo? Tem horas que eu acho que estou virando um velho texugo ranzinza, reclamando de tudo pelos cantos. Mas realmente tem muitas coisas que eu acho escrotas sobre essa onda dos patinetes, e acredito que muita gente deve concordar comigo.

Pra começo de conversa, eu acho o preço meio alto demais. Vamos fazer algumas contas, e para isso vamos recorrer a um trajeto bem padrão, que seria o sujeito percorrer a orla da Zona Sul, do Leme até o Forte de Copacabana. Ou vice-versa.


São Google nos diz que de uma ponta a outra da praia mais famosa do Rio temos uma distância de cerca de 4 quilômetros. Embora a velocidade máxima do patinete seja de 20 km/h, vamos considerar uma média de 10 km/h, que é geralmente o mais indicado. E que facilita as minhas contas.

Assim, arredondando esse trajeto levaria cerca de 15 minutos. Considerando R$3,00 de taxa inicial e um custo de 50 centavos por minuto, você paga cerca de R$8,00 por esse trajeto.

Eu acho caro. Tipo, deve dar uns R$12,00 pra fazer esse trajeto de táxi em pouco mais de cinco minutos, ou até menos se pegar uma tarifa promocional. De ônibus, deve levar os mesmos 15 minutos, mas pagando metade do preço.

Além disso, pensando como um meio de transporte, com um patinete é impossível carregar qualquer tipo de volume, tipo uma bolsa ou mochila. Imagina então uma mãe que queira levar uma criança pequena? Não tem como, será necessário recorrer a um carro ou outro meio de transporte se os pertences que você leva consigo forem maiores que uma pochete. Tipo, sua coleção de patos.


Agora, o grande problema dos patinetes tem mais a ver com o tipo de estrupício que o estará guiando...

Pois sabemos muito bem que o brasileiro é desleixado, metido a "ixperto", egoísta e pouco de fode com os outros. Isso já acontece nos meios de transporte convencionais como carro e moto, em que os motoristas desrespeitam um monte de regras e agem de forma imprudente. Acontece também com as bicicletas, como já falei aqui, principalmente por conta de uma postura metida de muitos ciclistas que querem ser respeitados pelos carros mas que eles não fazem o mesmo com os pedestres. Não é de se surpreender que tal falta de noção venha a ocorrer com a turminha do patinete.


Da mesma forma que acontece com as bicicletas, não existe nenhuma regulamentação para orientar os direitos e principalmente os deveres dos condutores de patinete. Por exemplo, onde que eles devem ser usados? Na real, as pessoas usam o patinete onde der na telha: pode ser na rua, no meio dos carros, pode ser na ciclovia com as bicicletas ou brigando na calçada com os pedestres. Vale tudo.

Tudo bem que os patinetes não são tão velozes como as bicicletas elétricas, que eu considero um verdadeiro câncer da sociedade. Mas mesmo assim ser atingido por um patinete pode machucar muito, especialmente se o pedestre for uma criança ou pessoa idosa, algo que tem uma probabilidade elevada se considerarmos que a maior parte dos patinetes é usado na Zona Sul. Além de ser um risco para o próprio condutor, já que a maioria esmagadora pouco se preocupa em usar itens de segurança como capacete. Soma-se a isso o fato de que, por serem elétricos, os patinetes são extremamente silenciosos, e a pessoa só vai escutar a trombada antes de se dar conta do que aconteceu.


É bem parecido com as bicicletas. Qualquer um pode pegar um patinete e sair por aí, mesmo que tenha o equilíbrio de um hipopótamo manco depois da manguaça. Não se exige nenhum tipo de preparo, basta ter um celular e pronto. Me faz pensar na quantidade de pessoas inconsequentes e despreparadas que podem colocar as mãos no guidão de um patinete desses e causar algum tipo de transtorno para quem não tem nada a ver.

E da mesma forma que nas bicicletas... não existe nenhum tipo de registro para responsabilizar os maus condutores. Pega um carro e dirija em alta velocidade ou passe um sinal, e podem te identificar pela placa para aplicar uma multa. Por sua vez, faça um strike com os pedestres usando seu patinete ecologicamente correto, basta sair correndo e fica por isso mesmo... Ou até mesmo algo mais desumano.


Vi essa notícia de que uma mulher na California estava passeando em seu patinete e levando um cachorro com ela. Mas não levando no colo, mas sim pela coleira, a ponto de que o pobre bichinho foi arrastado por cerca de 30 metros. Confrontada por transeuntes, ela recolheu o cachorrinho com suas patas ensanguentadas, e esbanjando o maior sorrisão estilo "foda-se", ela simplesmente respondeu que "shit happens".


Verdade... shit happens. Essa filha de uma puta desgraçada merecia ser acorrentada no pára-choque de um ônibus, tipo aquele 484, e ser arrastada pela Avenida Brasil inteira até esfolar essa cara de escrota. E depois ser jogada de cabeça numa debulhadeira pra virar purê de estrume, sua vaca arrombada duma figa, canalha do caralho vai tomar no cú, pôrra!

...

Desculpe o palavreado. Mas não tem nada que me tira mais do sério do que cretinos que maltratam os animais e ainda acham isso engraçado. Continuemos...

O que eu acho engraçado é a forma como as empresas olham para essa questão do uso imprudente de seus patinetes. Elas se limitam a dar instruções e orientações aos seus usuários, indicando por exemplo, que os patinetes devem ser usados apenas em ciclovias e calçadas, e quando trafegam nestas a velocidade máxima deve ser de 6 km/h, sempre dando prioridade para os pedestres.

Você acha que alguém respeita?


O pior de tudo que eu penso é o seguinte: os patinetes possuem cada um deles um código de identificação e um GPS, que permite saber a localização de todos eles. Até mesmo uma das empresas usa essa capacidade para cobrar R$100,00 do usuário que deixar o aparelho fora de uma zona de parada. Ou seja, dá pra você saber exatamente onde está cada patinete, por onde eles estão trafegando e com que velocidade. Dessa forma, há como identificar aqueles que desrespeitam as regras e puní-los. Tipo, aplicando eletronicamente um controle de velocidade máxima mais baixa, aplicando uma multa por infrações ou até mesmo banindo o usuário do uso dos patinetes de forma temporária ou até definitiva.

Acontece que as empresas provavelmente não farão nada para punir seus usuários e prejudicar os seus lucros, né?

O outro grande problema desses patinetes tem a ver também com o jeito brasileiro de ser, mas também é incentivado pela própria "facilidade" oferecida pelo serviço de aluguel de patinete. Que consiste da possibilidade de deixá-lo em qualquer lugar.


Brasileiro é egoísta. Ele está pouco se preocupando se vai incomodar os outros. O importante é resolver o seu problema, não importando se vai prejudicar a terceiros. Com isso, a turminha moderninha do patinete, ao terminar o seu passeio, vai simplesmente largá-lo onde for mais fácil. Pode ser no meio da calçada, no meio da rua, na porta de uma garagem, em frente à entrada de um prédio ou sobre o piso tátil usado pelos cegos.

Afinal, pra quê se dar ao trabalho de colocar o patinete em um lugar adequado? Se vai ficar no caminho dos outros, foda-se.


De novo, eu acho que aqui as empresas deveriam ter algum tipo de punição para seus usuários mal-educados. De novo, cada patinete tem sua identificação, deveria ser possível que uma pessoa pudesse denunciar esse tipo de desleixo. Tipo, mandando uma foto com o número do patinete estacionado em lugar impróprio. Seria moleza saber quem foi o engraçadinho que deixou ele ali, e aplicar algum tipo de multa.

Enfim, sem sombra de dúvida os patinetes vieram para ficar... O grande problema é que idéias assim não funcionam bem quando o público é o brasileiro. Essa falta de educação e inconsequência nata da grande maioria das pessoas aqui faz com que os patinetes sejam um grande incômodo para o restante da população. Fico imaginando a quantidade de acidentes e transtornos que são causados por esses patinetes, quando estão nas mãos de pessoas sem noção e imprudentes.

E tudo isso por conta de ser mais uma modinha... Admito que existem sim as suas vantagens, que o patinete pode ser um passatempo legalzinho e até mesmo ajudar a chegar ao seu destino. Mas a grande verdade é que tá cheio de babaquinha aí usando patinete só porque todo mundo está usando, só porque fica legal postar no "Insta" ou do "Feice" que está andando nesses aparelhinhos.


Pode ser a idéia mais legal do mundo... mas quando as coisas são feitas só por modinha, só porque todo mundo está fazendo, na minha opinião eu acho que perde muito a graça. E de quebra, os patinetes chegam pra ser mais um incômodo para as pessoas que querem andar na calçada em paz...

Comentários

eu disse…
Mais uma vez o governo querendo meter o bedelho em tudo
https://oglobo.globo.com/rio/alerj-aprova-lei-que-obriga-que-usuarios-de-patinetes-eletricos-realizem-prova-no-detran-23737780?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar