Navios de Guerra - Couraçados Sulamericanos

Continuamos com mais uma postagem sobre navios de guerra. Dessa vez, vou mudar drasticamente de ares... ou melhor, de mares, e vou sair do combate no Pacífico entre o Tio Sam e o Jaspion, e vir para mais perto de nosso continente. É hora de contar um pouquinho da história de couraçados que fizeram parte de marinhas de países sulamericanos.


Mas pombas! Quer dizer então que países aqui da América Latrina tiveram navios de guerra desse porte? Sim, e o mais curioso é que o Brasil foi uma dessas nações, ao lado da Argentina e do Chile. Todos esses navios foram adquiridos no início do século XX, estando operacionais durante a Segunda Guerra até o final de suas carreiras, lá pela década de 50, mas sem terem visto muita ação. 

Vamos começar com o Brasil, até porque foi o primeiro país a investir na aquisição de encouraçados, seguindo a onda dos "dreadnoughts"...


Pausa. Afinal de contas, que diabos é um "dreadnought"?

Na verdade, Dreadnought era o nome de um couraçado inglês que inaugurou uma tendência que viria a se tornar o padrão de couraçados: navios de grande porte, carregando apenas canhões de grosso calibre e com propulsão a vapor. Antes disso, tais embarcações eram movidas a carvão e traziam canhões menores, dos mais diversos. Por isso, é comum se referir aos navios lançados antes de 1906, ano em que o Dreadnought nasceu, como "pré-dreadnoughts". 


Enfim, na época só a Inglaterra e os Estados Unidos tinham embarcações que se classificavam como "dreadnoughts", e surpreendendo a todos, o Brasil foi o terceiro país a encomendar navios desse tipo. Sério, antes mesmo de marinhas mais tradicionais como da Alemanha. As reações das demais nações foram das mais diversas, parte destacando o fato de que na época os navios brasileiros em construção eram os mais poderosos do mundo, enquanto outra parte criticava a estupidez e megalomania de um país que havia acabado de promulgar sua República e que poderia estar investindo esse dinheiro em obras de infra-estrutura mais úteis para a população. 

Mostra como desde cedo o governo brasileiro tem prioridades absurdas, sempre pensando no povo...


Interessante observar que o presidente norte-americano da época, o Theodore Roosevelt, juntamente com o embaixador dos EUA daqui, tentaram dissuadir o governo de seguir com a compra desses navios, não apenas pelo elevado custo que isso teria, mas também pelo risco de inflamar uma disputa armada no continente sem a menor necessidade (o que acabou acontecendo). Mas mesmo assim os brasileiros cagaram pra isso e pediram três navios. Acontece que apenas dois deles foram concluídos, o Minas Gerais foi lançado em 1908 e o São Paulo em 1909.


Cada navio tinha aproximadamente 165 metros de comprimento, pesando cerca de 20 mil toneladas quando totalmente carregado. Chegavam numa velocidade máxima de 21 nós (perto de 40 quilômetros por hora). Quanto ao armamento, tinham doze canhões de 12 polegadas (305 mm), organizados de uma forma bem peculiar: duas torres na frente, duas torres atrás, e uma torre de cada lado do convés. Talvez você ache estranho esse design, mas foi justamente esse o estilo proposto pelo Dreadnought e que foi replicado por vários outros navios da época.

Logo que chegaram ao Brasil, os dois couraçados protagonizaram aquele episódio que ficou conhecido como a Revolta da Chibata. Meu conhecimento de história brasileira é pouco, e meu interesse por ficar pesquisando sobre ela menor ainda... Mas digo essa revolta foi um motim promovido por marinheiros negros, descendentes de escravos (lembre-se que a Lei Áurea havia sido assinada menos de trinta anos antes), que tomaram os dois encouraçados e outros dois navios menores, como forma de protesto contra as terríveis condições que eles viviam ali dentro, que incluíam um tratamento na base da porrada, com chibatadas e tudo mais. Acabou que o motim terminou sem maiores problemas, com a anistia de seus participantes, embora muitos deles acabaram dispensados da Marinha.


Em todo caso, tinha tudo pra dar uma merda grande. Dizem que a sorte é que os amotinados não sabiam operar todos os equipamentos dos navios, incluindo os canhões de 12 polegadas.

Durante a Primeira Guerra, o Brasil se ofereceu para ajudar... Mas na verdade os aliados, liderados pela Grã-Bretanha, não se interessaram muito pelo apoio de navios obsoletos, e que não estavam recebendo uma boa manutenção (como esperado...). Na década de 20 eles receberam uma modernização nos Estados Unidos, mas nada muito especial. Em 1922, os dois navios participaram da Revolta Tenentista, aqui no Rio de Janeiro, onde o São Paulo atirou contra o Forte de Copacabana, que havia sido tomado por soldados rebeldes e estavam atirando contra a cidade.


Dois anos mais tarde, outro motim, dessa vez no São Paulo, em que os oficiais queriam pressionar o governo a soltar os presos da Revolta Tenentista. Foi curioso, pois a tripulação do Minas Gerais não topou esse motim, levando o pessoal no São Paulo a atirar com os canhões de menor calibre no seu irmão. Ele se mandou para Montevideo, sendo que no meio do caminho seus motores pifaram, o que limitou a sua velocidade para míseros 9 nós (em torno de 17 quilômetros por hora). Chegando lá, os revoltosos pediram asilo político, e os demais marinheiros levaram o navio de volta para casa.

Na década de 30, o Minas Gerais recebeu uma modernização mais completa, sendo que o maior destaque foi terem juntado suas duas chaminés em uma só. Por sua vez, o São Paulo não ganhou nenhuma recauchutagem pois estava ainda muito fudido depois do motim acima. Na Segunda Guerra, embora o Brasil tivesse entrado do lado dos aliados, seus dois maiores navios não tinham condições de fazer muita coisa, e foram ancorados em portos no Nordeste para atuar como baterias costeiras, o São Paulo em Recife e o Minas Gerais em Salvador.


Acabada a guerra, os dois encouraçados brasileiros viriam a ser desativados alguns anos depois. O Minas Gerais, por estar mais moderno, veio a sair do serviço só no início da década de 50, sendo vendido para um ferro-velho na Itália. Quanto ao São Paulo, seu fim foi mais trágico, e podemos dizer até mesmo misterioso.

O navio saiu do Brasil em setembro de 1951, sendo rebocado por dois navios ingleses que o levariam para a terra da rainha pra virar sucata. A bordo do São Paulo, estavam oito pessoas só pra cuidar do navio. Depois de várias semanas de jornada, os navios esbarraram com uma mega tempestade ao norte da Ilha de Açores, jogando os navios para os lados. Um dos rebocadores precisou soltar o cabo pra evitar uma colisão, enquanto que o cabo do outro não resistiu e se rompeu. O navio ficou a deriva, e logo os ingleses o perderam de vista no meio da tempestade. Passado o temporal, ninguém conseguiu encontrar o São Paulo, que afundou em algum lugar do Atlântico, e nunca mais foi encontrado...

Misterioso, não? Tem até alguns doidos que acreditam que foi o trabalho de extra-terrestres, que abduziram o navio para o espaço...


Enfim, esses foram os dois encouraçados que o Brasil teve. Cabe comentar que a Marinha brasileira quase adquiriu um outro, depois de ver as demais nações sulamericanas se armando com navios de guerra, que você verá que eram melhores que o Minas Gerais e o São Paulo. Como falei, eram pra ser três navios da classe, mas depois de algumas postergadas por conta de problemas políticos e econômicos, as autoridades brasileiras pediram para mudar o projeto e fazer um encouraçado mais poderoso, o Rio de Janeiro. Foi toda uma enrolação, digna da lerdeza de nosso governo, juntamente com uma indefinição sobre o tamanho dos canhões (vencida pelos apoiadores dos canhões de 12 polegadas), a ponto que em 1912, com o navio já em construção, os brasileiros achavam que ele já ficaria obsoleto. Por exemplo, várias marinhas já estavam fazendo canhões de 14 polegadas, de forma que o Rio de Janeiro já estava ultrapassado antes mesmo de terminar...


Pois é... como muitas das obras aqui, que começam prometendo serem as mais modernas do mundo, mas demoram tanto pra ficar prontas que ficam obsoletas antes mesmo de cortarem a faixa.

Como brasileiro tem mania de grandeza, pediram pra fazer com canhões de 15 polegadas, idéia que os ingleses não toparam. Mas aí melou tudo: a conta já estava ficando cara, juntando com a crise das exportações da borracha e do café, e faltou grana pra pagar. Assim, antes mesmo do navio ficar pronto, o Brasil o colocou à venda, e no final o Império Otomano (que viria a se tornar a Turquia) aceitou comprar o navio, que se chamaria Sultan Osman I.

Acontece que os turcos se fuderam nessa, pois os ingleses seguraram o navio pra eles, já que o Império Otomano decidiu ficar do lado dos alemães durante a Primeira Guerra, e eles não seriam tolos de dar um navio novinho pro amigo de seu inimigo. Depois de todo esse rolo, o navio que seria o Rio de Janeiro finalmente saiu, com o nome de Agincourt, servindo à real marinha britânica, participando de importantes batalhas na Primeira Guerra. Seria um navio fuderoso pro Brasil, com seus 14 canhões de 12 polegadas...

E estes foram os encouraçados brasileiros. Não fizeram muito de útil, isso é verdade, se envolvendo muito mais em revoltas internas aqui no país. Vale a pena comentar brevemente, na verdade se formos olhar pela real definição da palavra, o Brasil teve ainda dois outros encouraçados antes do Minas Gerais e do São Paulo, mas que se enquadravam na categoria dos "pré-dreadnoughts", que iniciaram serviço ainda na época do Império. O Riachuelo havia sido lançado em 1883, e era na época um navio relativamente poderoso, com quatro canhões de 9,2 polegadas (234 milímetros) em torres duplas, ligeiramente deslocadas para os lados em relação ao centro do navio. Mas ele não chegou a combater, sendo que seu maior destaque foi ter escoltado a família imperial ao exílio, depois de promulgada a República.


O outro era o Aquibadã, muito semelhante ao Riachuelo e carregando o mesmo tipo de armamento, se diferenciando pelo fato de ter uma única chaminé. Como o navio acima, foi construído na Inglaterra ainda na época imperial. Este teve uma vida mais ativa, mas que se restringiu a rebeliões e motins (curioso ver como os navios brasileiros se envolviam muito mais em conflitos internos), e afundou em águas rasas depois de ser torpedeado por um cruzador.

Em 1894 ele foi recuperado, e passou no cartório pra mudar de nome duas vezes: primeiro ele passou a ser chamado de 16 de Abril, e depois virou 24 de Maio, seguindo o mesmo hábito de usar datas para batizar ruas... Voltou a ser Aquibadã logo depois e foi remodelado.


E ele teve um fim trágico também... Em 1906 ele estava escalado para levar um ministro, e enquanto aguardava ancorado na região de Ilha Grande, aqui no Rio, um de seus depósitos de pólvora explodiu, afundando o navio...

Agora sim, a lista de encouraçados brasileiros está completa. Eu ia focar apenas nos dois maiores, mas como além deles foram só o Riachuelo e o Aquibadã, decidi dar espaço pra eles aqui também.

Mas não foram os únicos navios de guerra de grande porte que navegaram aqui pela América Latina. Argentina e Chile já vinham com uma certa disputa entre eles, principalmente com toda uma briga pela região da Patagônia, no sul do continente. Ainda na era dos "pré-dreadnoughts", com navios menores e de armamento mais singelo. Os chilenos começaram, encomendando o Captain Prát dos franceses, um navio ainda de propulsão a vapor, com cerca de 100 metros de comprimento e quatro canhões de 9,3 polegadas (equivalente a 240 milímetros), dispostos em torres simples, uma na frente, uma atrás e uma de cada lado, além de canhões menores, como era comum nos navios da época.


Os argentinos revidaram... pois argentino que se preze tem um ego imenso, e eles não ficariam para trás. E encomendaram da Inglaterra em 1889 dois navios de uma mesma classe, que eles classificaram como "encouraçados de rio", devido às suas dimensões. Eles se chamavam Libertad e Independencia. Eram menores que o navio chileno, tinham apenas 75 metros de comprimento, e cada um levava dois canhões de 240 milímetros.


Tá certo, não eram superiores ao Captain Prát, mas eram dois.

No início do século XX, a disputa continuou, e dessa vez os chilenos partiram pra cima, encomendando da Inglaterra dois couraçados maiores, o Constitución e o Libertad. Bom, acho que não preciso traduzir os nomes, e me pergunto por que essa mania de sempre chamar um navio de guerra por algo nada a ver com guerra como "liberdade", mas tudo bem. Esses seriam gigantes (para os padrões da época) com 145 metros de comprimento e quatro canhões de 10 polegadas, ou 254 milímetros.


Disse seriam pois esses navios não chegaram a ser entregues para o Chile. Na sequência, os argentinos vieram pedir cruzadores blindados pra compensar, e os ingleses, que tinham interesses econômicos com os dois países e não estavam afim de uma guerra entre eles pra fuder tudo, mandou as duas nações pararem com a viadagem de brincar de navio de guerra e interromper aquela corrida armamentista sem sentido. Foi firmado em 1902 um pacto de que nem Argentina nem Chile iriam construir ou comprar navios de guerra pelos próximos cinco anos, e que deveria ter um aviso prévio de 18 meses quando fossem fazer isso. Se quisessem brincar de guerrinha, que pegassem uns pedaços de papel e jogassem batalha naval.

Enfim, mãos foram apertadas, papéis assinados e todo mundo concordou. Os encouraçados encomendados pelo Chile ficaram com a marinha britânica, e os cruzadores blindados em construção para a Argentina foram vendidos para o Japão. E tudo ficou tranquilo na América do Sul.

Até o Brasil megalomaníaco fuder a pôrra toda e encomendar o Minas Gerais e o São Paulo...

A Argentina foi a primeira a se mexer, pois os dois novos navios brasileiros poderiam literalmente destruir as marinhas argentina e chilena juntas. Os governantes tentaram de tudo, tinha até uma idéia louca de pedirem para o Brasil dar um dos encouraçados para eles, pra assim tudo ficar de boa... e se o Brasil não aceitasse, eles iriam invadir o Rio de Janeiro, enquanto os novos navios ainda estavam sendo construídos.


Sim, parece piada... Mas lembre-se que argentino odeia brasileiro. A sorte é que esse plano doido foi descoberto pela imprensa, e todo mundo achou ridículo.

Os hermanos tentaram de novo a oferta de comprar um dos navios brasileiros em construção, o que foi declinado. Assim, o senado argentino decidiu meter a mão no bolso e comprar dois encouraçados pra fazer frente à marinha brasileira. Da mesma forma que aqui, muita gente achou isso sem sentido, pois era um dinheiro que poderia ser usado para coisas mais úteis para o povo. Sim, papo de comunista... mas em se tratando de América Latrina, era realmente melhor ter gasto essa grana com coisas mais práticas para a sociedade do que em navios de guerra que provavelmente serviriam só pra ficarem se exibindo... que foi o que aconteceu.

E como argentino é um povo escroto... todo o processo de "licitação" com os diversos estaleiros do mundo foi feito na maior sacanagem. Tipo, cada um dava ali uma proposta de navio, e os argentinos diziam que iam pensar, e depois cancelavam tudo, estabelecendo outros critérios, que certamente eram baseados na melhor proposta que eles haviam recebido anteriormente. E claro, pedindo mais por menos. Foram três tentativas, e no final ganharam os Estados Unidos, que jogaram o preço lá embaixo e se comprometeram a construir dois encouraçados, e um terceiro caso o Brasil viesse a fazer três navios. Era o nascimento do Rivadavia e do Moreno.


A construção dos dois começou em 1910, sendo que o Rivadavia ficou pronto em 1914 e o Moreno em 1915. Eram grandes navios, com cerca de 180 metros e deslocando 30 mil toneladas quando carregado. Quanto ao armamento principal, levavam doze canhões de 12 polegadas (ou 305 mm), dispostos em torres duplas, com duas na frente, duas atrás e uma de cada lado. Em outras palavras, eram navios equivalentes em poder de fogo ao Minas Gerais e ao São Paulo, mas eram maiores e melhor blindados.

Em todo caso, foi curioso que mesmo antes dos navios ficarem prontos e serem entregues para a Argentina, já tinha gente no governo planejando vendê-los logo em seguida, logicamente por um preço maior do que a compra. Pra você ver que existia a chance do Rivadavia e do Moreno serem vendidos para o Japão, o que deixou os americanos putos. Além disso, havia uma pressão das nações européias sobre os Estados Unidos, pois haveria o risco dos navios serem vendidos para uma nação inimiga (o que quase aconteceu). Isso fez com que o Tio Sam agisse diplomaticamente, exigindo que os argentinos ficassem com os navios.


Pois muito bem, parecia que os hermanos iam ter que segurar o rojão sozinhos. Os encouraçados chegaram e não fizeram muito de especial, em grande parte por conta de uma crise de abastecimento no país que limitava o combustível, e dessa forma os navios se restringiram a poucas missões diplomáticas. Na década de 20 os dois foram para os Estados Unidos para passarem por uma modernização, envolvendo uma melhoria em seus maquinários, que passaram a usar óleo combustível em vez de carvão, e na instalação de canhões anti-aéreos.

Mas tudo isso não fazia muita diferença, pois o Rivadavia e o Moreno permaneceram apenas com missões diplomáticas, a maioria aqui na América do Sul, envolvendo a participação em celebrações como o centenário da independência do Brasil e algumas visitas à Europa. Veio a Segunda Guerra, e como a Argentina permaneceu neutra os dois encouraçados nada fizeram. Passada a guerra, o Rivadavia e o Moreno foram colocados na reserva, sendo que o primeiro teve várias de suas peças removidas para serem usadas em navios mais novos e o segundo serviu como prisão para os integrantes de uma revolução.


Por fim, os dois foram vendidos como sucata na década de 50, sendo que o Rivadavia foi desmontado na Itália e o Moreno no Japão. Foi o fim de suas carreiras praticamente inúteis, aos menos os encouraçados brasileiros haviam participado de algumas revoluções internas e haviam disparado seus canhões...

Mas e o Chile? Onde ele fica nessa história toda?

Os chilenos estavam passando por dificuldades ainda maiores que os demais países sulamericanos, graças a um terremoto em 1906. Mesmo assim, eles estavam atentos aos desenvolvimentos dos seus vizinhos, em especial ao ver a Argentina investindo pesado em dois novos encouraçados. Dessa forma, eles também se dispuseram a escutar ofertas de vários estaleiros, embora eles já tinham meio que definido que comprariam com os ingleses, parceiros de longa data. O contrato foi firmado em 1910, para a construção de dois encouraçados grandes, o Almirante Latorre e o Almirante Cochrane. Verdeiros "super-dreadnoughts", com 190 metros de comprimento, deslocando 32 mil toneladas e com 10 canhões de 14 polegadas (ou 354 milímetros) em torres duplas, duas na frente, duas atrás e uma no meio, sem aquela idéia dos demais navios de colocar no lado.


Ou seja: eram pra ser os encouraçados sulamericanos mais poderosos, pra calar a boca do Brasil e da Argentina.

Acontece que esse navio estava ficando pronto muito perto do início da Primeira Guerra, e quando ela começou a construção foi interrompida. Os ingleses, que não eram bobos, precisavam maximizar o tamanho de sua esquadra para enfrentar os alemães. Dessa forma, eles decidiram comprar o Almirante Latorre do Chile, já que ele estava quase terminado, sendo rebatizado como Canada e servindo com a real marinha britânica a partir de 1915. Ele inclusive participou de grandes batalhas contra os chucrutes, e com o fim da guerra foi colocado na reserva.


Terminada a guerra, os chilenos que haviam ficado chupando o dedo decidiram voltar a falar com os ingleses, com a intenção de comprar alguns navios que eles estivessem querendo se livrar. Tentaram oferecer de tudo, mas no final o Chile optou por pegar definitivamente o Canada, que seria originalmente feito para eles. E se deram bem, pois pagaram um terço do valor que gastariam no passado, aproveitando a promoção britânica, pra limpar o estoque de navios velhos da guerra. 

Mas a vida desse ex-combatente da Primeira Guerra veio a ser um marasmo depois, participando de missões diplomáticas e carregando o presidente chileno pelos cantos. Modernizado na década de 30, foi nessa época também em que ocorreu um motim em alguns navios chilenos, incluindo no Almirante Latorre. Depois disso, nada muito especial na vida dele... Curioso observar que os Estados Unidos até chegaram a fazer uma oferta pelo encouraçado, depois de vários de seus navios terem sido afundados em Pearl Harbor, mas logo depois ele se deram conta de que esse era um navio bem ultrapassado e que não ajudaria muito.


O Almirante Latorre amargurou seus últimos dias como um navio-depósito, até ser vendido para desmanche em 1959. Era o fim do único grande encouraçado chileno. 

Mas não eram dois? É, no início os chilenos tinham solicitado dois encouraçados, mas no final apenas um foi comprado. E foi isso mesmo, pois aquele que devia ter sido o Almirante Cochrane, que estava mais incompleto na época do início da Primeira Guerra, ficou com os ingleses e acabou sendo convertido em um porta-aviões. Passou a se chamar Eagle, e foi uma das primeiras embarcações desse tipo da marinha inglesa.


Agora sim, chegamos ao fim, varrendo todos os encouraçados que navegaram (ou quase isso) nas marinhas sulamericanas. Depois da Segunda Guerra, em que o poder aéreo se mostrou decisivo, navios de grande porte como esses caíram no desuso de uma forma geral, e isso foi observado também nas esquadras desses países daqui. Com um foco maior em cruzadores, fragatas e destróieres, navios grandes por aqui foram apenas os porta-aviões... e acho que vou falar deles em uma outra postagem parecida no futuro.

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