Motor Kit

Vamos com mais uma postagem de nostalgia... Lembrando brinquedos, jogos e outras coisas legais de minha infância, que sempre é legal para recordar os bons tempos mais simples do passado, que ficam ali guardados na memória. E algumas coisas antigas que eu tenho guardadas aqui em casa, e neste post eu vou falar de um que ainda está comigo, que encontrei outro dia ao arrumar o meu armário, um brinquedo da Estrela muito legal chamado Motor Kit.


Naquela época havia muitos desses brinquedos para meninos. Sim, era uma época onde não tinha essa frescura de "identidade de gênero" que acha abusiva a ideia de que um menino venha a brincar de carrinho e uma menina de boneca. Só pra que não apareça nenhum pentelho aqui me enchendo o saco, não tem nada de errado se uma menina quiser brincar com brinquedos teoricamente masculinos ou vice-versa. Mas também não tem problema se um garoto quiser brincar de carrinho e uma garota quiser brincar de boneca. É foda, esses babaquaras acham inaceitável se os pais "obrigarem" um menino a ter um carrinho, mas acham lindo se o obrigarem a ter uma Barbie...

Tenho que parar um pouco com isso... Essa sociedade politicamente correta ao extremo me dá nos nervos, e qualquer coisa que eu fale sei que pode causar a ira dela, e assim eu já parto pra porrada. Vamos focar no brinquedo.

Se me lembro bem, Motor Kit foi um dos brinquedos que ganhei em um Natal. Aliás, como o Natal era uma coisa mais legal quando se era criança, com a expectativa do brinquedo que você ganharia, ainda mais quando era uma caixa enorme debaixo da árvore. Hoje é sempre uma camisa, um pacote de cuecas ou meias, e alguma coisa diferente que alguém inventa. Tipo, nesse último Natal me deram um aparelho de aparar pêlos do nariz, algo que recomendo não usar...


Sério, aquela droga agarrou em alguns pêlos e eu senti uma dor que foi até a alma quando foram puxados...

Voltando, Motor Kit era um brinquedo bem original lançado pela Estrela, para que os garotos pudessem brincar de construção. Tudo bem que a maioria da garotada curtia mais os carros de Fórmula 1 ou os Comandos em Ação, e admito que em um primeiro momento fiquei com aquela cara de "meh" quando abri o grande pacote da vez daquele Natal. Mas, após abrir a caixa e começar a brincar com meu Motor Kit, fiquei encantando por conta de o quanto ele era engenhoso e muito bem bolado.


Na caixa vinha um caminhão grandão conversível, daqueles de obras, juntamente com um reboque com uma grua, todos predominantemente na cor amarela, típica dos veículos de construção. O caminhão não tinha nada de especial, apenas uma carroceria com quatro rodas e lugar para colocar um monte de acessórios que vinham, juntamente com um boneco de um operário de movimentação extremamente limitada, até mesmo para os padrões dos Playmobil da época, só mexendo os braços e a cabeça. Além dos acessórios, vinha ali uma engenhoca vermelha que era o grande segredo do Motor Kit.


Tratava-se na verdade de um pequeno motor que funcionava com pilhas, duas daquelas grandes. Simplesmente era um pequeno compressor a pistão, muito legal! Ele ficava alojado em uma parte do caminhão, mas podia também ser removido. No topo de seu cilindro transparente (que permitia que você visse o pistão em funcionamento) podia ser engatada uma mangueira plástica para ser acoplada nos demais acessórios. 

Esse era o grande barato do Motor Kit, que tinha ferramentas que funcionavam de verdade com o auxílio desse motor. 


Ele vinha com três ferramentas ao todo: uma furadeira, uma serra elétrica e uma britadeira. Ao conectar a mangueira em uma delas e ligando o motor, era associado ali um pequeno pistão dentro delas, fazendo com que elas funcionassem. Era sensacional, a serra e a britadeira eram perfeitas, pois são ferramentas que têm uma operação alternada mesmo. Por sua vez, a furadeira era mais legal ainda, pois ela tinha um mecanismo que, apesar das golfadas de ar vindas do motor, conseguia simular muito bem a rotação dela, embora não fosse contínua. Todas as ferramentas logicamente podiam ser encaixadas nas mãos do construtor, para que ele pudesse trabalhar. 


Pra completar, a princípio podiam ser apenas três ferramentas, mas com a ajuda de alguns acessórios elas podiam ser reconfiguradas. Com uma ponteira, a furadeira virava uma parafusadeira, enquanto que a britadeira virava uma máquina pra alisar cimento. Não faço nem ideia do nome de verdade...

Alguns acessórios adicionais davam o toque complementar na brincadeira. Havia algo como uma pequena bancada com um piso de cimento com duas regiões ali demarcadas, nas quais dava pra usar a alisadora de cimento. Chegava a ser um pouco frustrante pois as duas regiões eram ligadas como uma gangorra, assim se uma delas subia demais a outra afundava, mas estava valendo. Sobre esse piso havia uma cerca de madeira, incluindo um furo pra rosquear um parafusão que vinha no conjunto e também um pedaço meio solto que podia ser "cortado" pela serra. Muito legal.


Mas a melhor parte era mesmo a grua, pois ela também funcionava com o motor. Seu painel tinha ali três conectores para as mangueiras, baseado em algumas fotos e no que me lembro era assim: na prática você colocava uma mangueira saindo do motor e podia conectar numa entrada verde para o painel da grua, e a outra mangueira era ligada na saída ao lado e depois na ferramenta. Sim, era meio que dar uma volta a mais, pois as ferramentas podiam ser ligadas direto no motor, mas assim você conseguia usá-las mais longe. 


Ou então você conectava a primeira mangueira na entrada vermelha do guindaste. Aí, ligando o motor você fazia o braço da grua subir. Tudo isso graças a algo como uma sanfona, que ao se encher de ar elevava o mecanismo. Pra não forçar o motor e a sanfona, tinha como você colocar uma trava no braço e assim mantê-lo erguido. Pra abaixar, aí entrava em cena o pequeno botão ao lado, que ao apertar abria uma pequena válvula na sanfona, liberando o ar e baixando a grua. A grua tinha um braço telescópico, permitindo assim alcançar uma altura razoável.

Sensacional!


Assim dava até pro operário fazer algum serviço nas alturas. A jogada era já deixar a mangueira da ferramenta ligada no painel da grua, e primeiro conectar a mangueira do motor pra fazê-la subir. Depois, era só travar a grua, trocar a mangueira para a entrada da ferramenta e fazer o que tivesse que ser feito lá em cima. Embora eu acho que uma britadeira não deve ser muito útil em um lugar alto como esse...


Sem dúvida um brinquedo muito divertido e bem bolado. A ideia de usar um pequeno compressor para ajudar a dar vida às ferramentas foi uma sacada muito original e que divertiu muito a garotada. Um tipo de brinquedo que não se faz hoje em dia.


Como de costume, eu sempre falo aqui um pouco de como foram as minhas experiências lá no passado. E aqui eu tenho que dizer que, apesar de eu sempre ter sido um texugo bem cuidadoso com as minhas coisas, meu Motor Kit sofreu bastante a ponto de ficar bem capenga. Tudo por conta dos conectores de mangueira...

Eu acho que não fui o único a passar por isso. O Motor Kit era suscetível a um problema que era comum também aos Comandos em Ação da época, um problema causado pelo plástico duro usado na sua construção. Da mesma forma que acontecia com os polegares dos Comandos, os bocais de conexão das ferramentas eram ainda mais frágeis, feitos com aquele plástico duro transparente que vocês sabem como é. Assim, com o constante tira e põe da mangueira, com seus bicos plásticos um pouco mais flexíveis mas ainda sim muito rígidos...


Tá, eu sei... Realmente não fui muito feliz com a expressão "tira e põe da mangueira"...

Enfim, com o passar do tempo acabou que os conectores quebravam, depois de muito uso. Tudo bem que ainda dava pra usar, em especial a britadeira pois seu conector ficava bem encaixado dentro do corpo da ferramenta. No meu caso em particular, foi a furadeira quem se fudeu mais, pois seu conector ficava muito ali embaixo, na extremidade dela, e assim quando ele quebrou foi junto com um pedaço da carcaça. Assim, não havia uma vedação suficiente e muito ar escapava por ali, prejudicando o seu funcionamento.

O conector do motor era meio frágil também... O meu também se arrebentou, prejudicando a eficiência do compressor. Este, que depois de uma queda acidental, se quebrou de vez, quando a base das pilhas se soltou, arrebentando os fios. Talvez uma engenharia meio mal-feita, já que o compartimento das pilhas ficava bem pesado mesmo... Claro que hoje em dia, com um pouco de paciência e um ferro de solda, daria pra consertar... só falta é ter o ferro de solda e um pouquinho de noções básicas de eletrônica pra fazer o conserto direito.

E pra fechar, até mesmo o construtor se arrebentou! Repito, era um boneco que não tinha a mesma fabricação robusta de um Playmobil, sendo que assim ele acabou quebrando o braço. Imagino que isso acontecia por conta da britadeira, que usava as duas mãos, e assim forçava um pouco os braços que eram um pouco rígidos demais. Mas, até que foi possível dar um jeito, usando um clipe de papel deu pra colocar o braço de volta e funcionando. Ficou um pouco folgado, como se o carinha tivesse deslocado o ombro, mas parece que até ficou melhor pra usar as ferramentas. Pela foto desse boneco abaixo que achei na internet, dá pra imaginar que era um problema crônico mesmo, e vários operários ficaram manetas...


O guindaste aparentemente é o único que ainda funciona 100%. Claro que ele é muito mais forte que as ferramentas, e só mesmo se eu fosse um pequeno texugo troglodita é que eu iria ter quebrado ele. Embora que fica sem graça sem o compressor funcionando.

Realmente o Motor Kit tinha seus pontos fracos, no que diz respeito a suas características construtivas, com peças muito suscetíveis à quebra. Mas era muito sensacional, muito legal como fizeram um brinquedo bem engenhoso, realmente fazendo justiça ao seu nome, pois tinha um motor de verdade. Não é coisa que se vê hoje em dia, penso eu. Fico feliz de ainda ter o meu aqui, por mais que ele não funcione ainda é uma memorável lembrança de minha infância, e que pelo menos dá pra brincar de forma mais simples. Bons tempos que não voltam mais...

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