E mais uma do preconceito (2)

Bom, como todo mundo sabe tem muitas notícias que são realmente passageiras, aquelas que ficam bombando por todos os cantos mas que logo caem no esquecimento. Tudo mundo já se esqueceu, por exemplo, das fotos da Jennifer Lawrence sem roupa, todo mundo já se esqueceu da queda do avião do Eduardo Campos, todo mundo já se esqueceu da surra que o Brasil levou da Alemanha na Copa do Mundo (principalmente a CBF, que acha que tudo está perfeito). As pessoas se esquecem muito fácil, os assuntos logo são substituídos por outros, algo que pode muitas vezes ser perigoso para a sociedade de forma geral, pois muitas vezes nos esquecemos de certos problemas, certos crimes cometidos por nossos governantes, algo muito grave especialmente em um ano de eleições.

Mas tem um assunto que ninguém esquece, que ninguém deixa sumir: a torcedora do Grêmio que xingou o goleiro do Santos de macaco. Já tem tempo que isso aconteceu, mas continua na boca do povo, continua sendo manchete nos jornais e revistas. Todo o caso veio rendendo, com amigos de Patrícia a defendendo, dizendo que ela não é racista, além de um depoimento emocionado na delegacia onde ela se apresentou, seguido alguns dias depois de uma entrevista igualmente emocionada naquele programeco da Fátima Bernardes. E por mais que ela tente se defender, está sendo vista como a pior escória da Humanidade, a ponto de que alguns vândalos tacaram um coquetel molotov em uma casa onde ela morava. 


Cara... eu já havia comentado neste post recente como eu acho que as pessoas estão exagerando. E realmente estão passando dos limites. Além desse vandalismo de tacarem fogo na casa dela, sobram ameaças de todos os tipos, principalmente nas redes sociais: vai de tudo, tem gente dizendo que ela tem que ser presa para sempre, que tem que levar uma surra, que tem mais que morrer. Caramba, tem vagabundo que chega ao ponto de defender que ela seja estuprada!

A vontade que me dá é de pegar todos esses filhos das putas que estão dizendo que ela merece ser estuprada, botar esses canalhas de quatro e mandar que metam um mastro de bandeira no rabo de cada um deles, até sair pela boca! Vai se fuder, pôrra! Que tipo de gente é essa, que fica aí posando de que é "de bem", que é contra o preconceito, e que ao mesmo tempo defende uma barbaridade como o estupro?

Mais uma vez vou me dar aqui ao trabalho de reforçar que eu não estou defendendo a atitude da Patricia no jogo, ao chamar o Aranha de macaco. O preconceito, EM TODAS AS SUAS FORMAS, deve ser sim combatido. Temos que conscientizar a sociedade que ninguém pode ser discriminado pela cor de sua pele, origem, sexo, idade, local onde mora, opção sexual, time de futebol, preferência musical ou Pokemon preferido. 

Fiz questão de destacar em letras garrafais o "em todas as suas formas" para deixar bem claro que, ao contrário de muitos "defensores da igualdade racial", eu condeno todo o tipo de preconceito e discriminação. Não apenas quando a vítima é o negro. Existe sim diversas formas de preconceito, e para mim todas são igualmente abomináveis, todas precisam sim ser combatidas. É errado o branco ser preconceituoso contra o negro, da mesma forma como é errado o negro ser preconceituoso contra o branco. 

Mas, claro... sabemos que não é bem assim que a sociedade pensa...

Acho impressionante como que a sociedade está crucificando a garota... Novamente, não estou defendendo a atitude dela, mas acho que essa perseguição contra o simples fato dela ter chamado um cara de macaco é um exagero. Não vejo a população se revoltando tanto assim contra um assassino cruel como aquele Champinha... Lembra dele? Provavelmente não, era aquele "di menor" que matou um casal de adolescente em São Paulo, depois de ter violentado a menina das formas mais sádicas possíveis. Podemos até ver algo mais recente, veja só como por exemplo quase não se fala mais sobre aquele médico, o Abdelmassih, que estuprou dezenas de mulheres em sua clínica de fertilidade, que foi recentemente preso. Alguém mais fala dele? Todo mundo se esqueceu, ninguém parece estar revoltado com os crimes dele, que destruiu as vidas de muitas mulheres que foram covardemente abusadas... Isso é menos pior do que chamar alguém de "macaco"?


Acho muito exagero aqui, trata-se de uma garota nova, que estava lá na torcida vendo o seu time perder, e que no "heat of the moment" acabou falando algo controverso. Não só ela, lógico: metade do estádio deveria estar xingando o goleiro. Mas Patricia deu o azar de que a câmera focou nela bem na hora do "macaco". E somente por isso a vida dela está destruída para sempre, pois é certo que as pessoas vão continuar insistindo em recriminá-la de forma ostensiva como se ela fosse a única ali xingando o Aranha. Um ato que, na minha opinião, não é grandes coisas, considerando a situação, em uma partida de futebol, onde xingamentos como "viado", "filho da puta" e outros são comuns. Imagina se todos os jogadores e técnicos começassem a ficar se doendo por conta de qualquer xingamento que viesse da torcida do time adversário, ou mesmo do próprio? Daqui a pouco vai vir o Fluminense querer jogar na justiça os times rivais por conta de chamarem eles de Bambi, e juntamente com isso rebaixar a Portuguesa mais uma vez...

Faça-me o favor, pessoal! Eu sei que tivemos uma história escravocrata em nosso país, de forma que hoje uma consequência é que os negros sofrem sim de um preconceito por conta de sua raça. Ninguém está discutindo isso, ninguém aqui está dizendo que é certo chamar um negro de "macaco". Mas também temos que ter um certo bom senso: ao meu ver, na situação onde tal ofensa ocorreu, o xingamento foi muito mais na linha da rivalidade esportiva do que um ato de preconceito. Exemplo disso é que amigos negros de Patricia dizem que ela não é racista, entendem que foi muito mais na linha de ir com a torcida do que realmente agir de forma discriminatória. Mas não adianta... Chamar um negro de "macaco" não pode, mas e se viesse alguém ali e chamasse um argentino de "chincheiro", isso pode? Pra mim ambas são provocações no âmbito da rivalidade esportiva, na mesma linha de que chamam flamenguista de mulambo, tricolor de Bambi, vascaíno de vice e botafoguense de chorão.

"Ah, mas isso não é a mesma coisa", alguém pode dizer...

Como escrevi na outra postagem, os negros parecem terem se apoderado da palavra "racismo". Só é racismo quando a vítima é um negro, na cabeça deles... Chamar um branco de "branquelo" ou "Galak", chamar um japonês de "amarelo" ou "Jaspion", chamar um alemão de "Fritz" ou "nazista", chamar qualquer descendente do Oriente Médio de "turco"... O que me dizem, isso pode? Isso aí não é preconceito?


Vou mais além, fugindo do conceito racial. Ao meu ver, se as pessoas acham que é tão errado chamar um negro de palavras como "macaco" ou "crioulo", também tem que ser considerado errado quando uma pessoa acima do peso é chamada de "baleia" ou "rolha de poço"; quando alguém de baixa estatura é chamado de "salva-vidas de aquário" ou "pintor de rodapé"; quando uma pessoa só pelo fato de usar óculos é chamada de "quatro-olho" ou "caolho"; quando um sujeito que sofre de calvície é chamado de "cabeça-de-ovo" ou "bola de bilhar"... Pra mim todas são formas pejorativas de chamar uma pessoa com base em uma ou mais de suas características, todas elas ao meu ver degradantes, que ofendem de forma covarde.

Mas por que a sociedade só se revolta quando é o negro que é vítima de tal tipo de injúria verbal?

Temos toda a consciência de que o negro hoje sofre sim por conta da escravidão de nosso país, que só acabou (pelo menos oficialmente) há pouco mais de um século. Mais uma vez, ninguém aqui está dizendo que os negros não sofrem preconceito. Mas precisamos ter um pouco de bom senso e foco. Um mero xingamento, ainda mais durante um jogo de futebol, é para mim algo muito pequeno em relação a tantos outros problemas que os negros passam em nosso país. Um xingamento com cunho racial é errado sim, mas para qualquer um, isso não é algo exclusivo do negro, e tampouco deve ser combatido e condenado somente quando a vítima é um negro.


Na boa, acho muito fácil para o Aranha ficar aí agora posando de pobre coitado só por ter sido chamado de "macaco"... Por mais que ele possa ter tido um passado difícil, hoje ele é um jogador de futebol certamente ganhando muito bem, morando em uma puta casa com tudo que tem direito e andando de carro novinho, em condições de vida muito melhores do que muita gente de todas as raças. Pra mim pior é ver que o Brasil tem uma grande população negra que, como consequência que ainda persiste da escravidão, vive em condições de miséria, tendo que se virar com um salário mínimo, morando num barraco caindo aos pedaços, tendo que se virar pra cuidar da família. Na minha visão, são essas pessoas que merecem sim mais atenção, é muito mais importante proporcionar a esses negros que vivem em condições difíceis uma vida melhor, com condições iguais ao restante da população. Muito pior do que ver um negro que está relativamente em uma boa condição de vida ser xingado de macaco num jogo de futebol é ver milhões de negros que podem não ser chamados de macacos mas que vivem na merda, vicem em condições péssimas, muitas vezes sem nem tem o que comer. 

O grande problema em minha humilde opinião é que no Brasil as pessoas procuram sempre que possível se colocar em uma posição de vítima. Principalmente quando isso pode ser justificado por conta de alguma lei, convenção ou coisa qualquer. É o que acontece com os negros e vários outros grupos da sociedade, como mulheres, idosos e homossexuais. É muito comum que essas pessoas se usem de sua condição de minoria ou de vítima para assim levar uma certa vantagem, ganhar algo sobre os outros, quase sempre defendendo uma falsa bandeira de igualdade. Isso explica por exemplo termos tido uma ministra que deveria lutar pela igualdade racial mas que achava que não há problema quando o negro se revolta contra o branco, como eu comentei nesse post mais antigo. Pregam pela igualdade, mas só defendem os direitos de uma parte, muitas vezes promovendo uma compensação para esses grupos, como é o exemplo da política de cotas: hoje, ao fazer vestibular, o negro já tem uma vantagem por ter uma quantidade mínima de vagas garantidas para seus semelhantes.

Focando no caso dos negros, fica muito evidente como alguns se colocam mesmo em condição de vítimas de racismo, mesmo em situações onde não está ocorrendo nenhum tipo de preconceito, como uma forma de até levar vantagem. Tenho uma conhecida que trabalha com RH, e certa vez me contou que teve uma mega discussão com um candidato a uma vaga de emprego, que era negro: durante o processo seletivo, na última etapa que era uma entrevista com o chefe do departamento onde iria trabalhar, o sujeito não foi aprovado. E logo ele explodiu, dizendo que era preconceito, que ele não tinha escolhido só porque era negro, como se tivesse sacado uma daquelas cartinha do Banco Imobiliário. Foi uma luta que essa colega minha teve que enfrentar, para explicar que com base na experiência apresentada no currículo ele não estava apto...


Bom... melhor parar por aqui, pois esse assunto vai longe, e confesso que já estou ficando um pouco de saco cheio de repetir aqui as mesmas coisas que eu já falei tantas vezes a respeito desse luta parcial contra o preconceito... Tenho toda a certeza de que teremos ainda muitos desdobramentos dessa história da torcedora gremista, espero só que as próximas notícias não sejam piores do que esse incêndio na casa da garota. Fica realmente a esperança de que não venham a querer combater a intolerância com mais intolerância.

Comentários

Anônimo disse…
Preconceito quem sofre é só o negro! A gremista tá errada sim, é uma falta de respeito com aqueles que são vítima da escravidão. Vc deve ser um branco racista pra ficar defendendo ela
Texugo disse…
Mais um de mente bitolada aqui... Preconceito não é exclusivo dos negros! Muitas pessoas sofrem outros tipos de preconceitos, e ter uma postura de achar que somente quando a vítima é uma pessoa negra é um exemplo máximo de postura preconceituosa.

E mais uma vez (acho que as pessoas não sabem ler, ou só lêem o que querem): não estou defendendo a atitude da torcedora! Estou sim achando um exagero da sociedade e da mídia crucificá-la desse jeito, quando existem coisas muito piores por aí.