Zona da JMJ


Nesses dias o Rio de Janeiro foi o palco de mais um evento de destaque internacional, mostrando como a capital carioca está mesmo em evidência. Trata-se da Jornada Mundial da Juventude, onde jovens do mundo inteiro vieram pra cá atrás do Papa Francisco, que chegou aqui na última segunda e veio para diversos eventos, como missas, inauguração de obras e outras coisas relacionadas à Igreja Católica.

Eu sou um texugo ateu, logo não estou muito ligado nessa Jornada. Embora ateu seja uma palavra muito forte, digamos que eu até acredite que existe uma força superior, que cada religião interpreta de uma certa forma e que associa a uma determinada entidade. Algo que eu acredito que possa ser feito de forma individual, cada um à sua maneira, sem a necessidade de se juntar debaixo do mesmo teto, como uma igreja ou templo, para praticar a sua religião. Mas sabemos bem que as religiões pregam justamente o contrário, principalmente a Igreja Católica, que sempre prega certas obrigações de seus fiéis, como ir à missa pelo menos uma vez por semana, rezar o terço e fazer comunhão. 

Enfim, mas meu objetivo aqui não é falar de religião. Já basta falar de política e futebol, são assuntos que já geram discussões suficientes, algumas delas bem acaloradas. O que eu quero falar a respeito aqui é da baderna que a JMJ está trazendo para a nossa cidade, em especial para os moradores de Copacabana, onde os grandes momentos desse evento vão ocorrer.

Sim, como já era esperado, presenciamos uma grande baderna e desordem durante os primeiros dias, e independente de quanta reza se faça, a tendência é que o restante dessa jornada seja um verdadeiro inferno. Com trocadilho, por favor.

Só mesmo o Eduardo Paes, aquele filho da puta do nosso prefeito, para achar que tudo iria transcorrer sem problemas. Tudo aqui é feito nas coxas, e graças a esse calhorda foi possível mostrar para o mundo como o Brasil é desorganizado, como a cidade do Rio de Janeiro não está preparada para receber eventos de grande porte. Como já se constatou na Copa das Confederações algumas semanas atrás. E mesmo apelando para soluções extremas, como decretar feriado na cidade, foi possível ver como todo o evento foi mal-planejado. 

Começou já com  a chegada do Sumo Pontífice, na segunda. Tudo bem que o Papa foi o grande responsável por uma mudança de última hora, quando ele quis passear pelo centro da cidade para estar perto dos fiéis, saindo da Catedral Municipal do Rio (aquela construção que mais parece uma pirâmide asteca). Acabou que no trajeto do aeroporto até a tal catedral, a polícia se enrolou com os bloqueios e o Papa Chico ficou preso num engarrafamento no centro! 


Por mais que houvessem mudanças de última hora, a polícia devia ter tido mais jogo de cintura. Pelo que me pareceu, foi cagada do motorista do carro do Papa, que aparentemente errou o caminho e pegou a pista da avenida que estava com trânsito congestionado, e não a que estava liberada para ele passar. O pior de tudo é que esse Papa, ao contrário do Imperador Palpatine que o precedeu, é muito mais humilde, muito mais "do povo", e nessa ocasião ele estava com a janela aberta. Com isso, não faltou gente querendo tocar nele, enfiar crianças pela janela para serem abençoadas, obrigando os seguranças a trabalhar muito. Toda essa zona, essa falha de planejamento no projeto e de segurança, foi destaque na mídia internacional. 

Outra demonstração de falta de organização e de que essa cidade está despreparada ocorreu no dia seguinte, quando haveria a abertura da jornada a praia de Copacabana, no final do dia. Inclusive a prefeitura teve uma idéia bem "brilhante" de instituir feriado a partir das 16 horas, algo que eu nunca vi na vida! Dessa forma, juntou-se um monte de peregrinos querendo ir para a praia para a abertura, com inúmeras pessoas saindo do trabalho e voltando para casa.

E, coincidentemente ou não, bem nessa hora o metrô, o mesmo metrô que eu já critiquei aqui muitas vezes pela sua péssima qualidade, apresentou uma suposta pane que parou todas as estações...


Digo suposta pois é uma puta duma coincidência... Sei que o metrô aqui do Rio é uma merda, o único do mundo onde existem congestionamentos diários na linha, onde somos obrigados a andar espremidos como sardinhas, e já apresentou em algumas oportunidades panes elétricas e quebras de trens que provocaram transtornos. Mas é muita coincidência que essa ocorreu exatamente na hora em que muitas pessoas estavam deixando o trabalho e outras indo para a jornada na praia. Na minha opinião, o metrô simplesmente não estava preparado para o grande volume de passageiros e precisou arrumar uma desculpa. Arrisco até dizer que a possibilidade de sabotagem não seria tão absurda assim...

Agora, a lambança que veio pra coroar a desorganização foi a mudança de última hora do local da vigília da JMJ. A idéia original dos organizadores seria levar todos os peregrinos para a região de Guaratiba, onde chegaria lá no sábado e ficariam lá acampados até o domingo. Uma região bem distante dos grandes centros, para quem não conhece o Rio segue um mapinha.


Ou seja... Longe pra caralho. Depois de onde Judas perdeu as meias.

Nesse fim de mundo, estava sendo construída uma grande instalação, onde antes havia um mangue sem nada. Um imenso palco faraônico onde o Papa Chico iria fazer uma missa e todos os jovens pernoitariam lá em vigília, depois de andarem mais de dez quilômetros desde o local de desembarque dos ônibus. Todo um sofrimento exagerado na minha opinião, mas que faz parte do programa da jornada.


Acontece que a foto acima é meramente uma imagem gerada por computador, de como ficaria esse palco. Na prática, ele está assim... Um imenso lamaçal.


Bastou algumas chuvas e o local da vigília se transformou num mega lago de barro e lama, em condições impraticáveis para se fazer qualquer coisa. A não ser uma corrida de rally ou luta-livre feminina na lama. Exemplo máximo da falta de planejamento, se as coisas fossem feitas da maneira séria por aqui, se essas obras já tivessem sido feitas a mais tempo, provavelmente o lugar estaria em condições de receber o evento, mas sabemos bem como aqui tudo é feito em cima das coxas e em cima da hora. Com isso, a Igreja e a prefeitura debateram sobre a situação e decidiram mudar o local dessa vigília para a praia de Copacabana, onde já viriam a ocorrer dois eventos na quinta e sexta.

Não precisa dizer como isso literalmente fudeu os planos de muita gente. Pra começar para os moradores do bairro de Copacabana, que vão ser obrigados a enfrentar por mais dois dias uma situação semelhante ao reveillon, com diversas ruas fechadas, com a orla tomada por mais de um milhão de pessoas e todos os acessos ao bairro fechados. Uma vez mais, cagam na cabeça dos moradores que pagam um dos maiores IPTUs da cidade, que raramente podem desfrutar do lazer de fim de semana em seu bairro sem ter que competir com eventos que bagunçam tudo, que simplesmente deixam de ter o seu direito de ir e vir, vendo a praia de Copacabana se tornando terreno de uso da Prefeitura para o que bem querer.

Além disso, quem se deu mal nessa brincadeira foram alguns dos moradores de Guaratiba que planejavam faturar uma graninha adicional graças à jornada. É de lei, quando tem um grande evento desse, sempre tem vagabundo que gosta de se dar bem em cima dos outros, e não seria diferente nessa jornada. Pode apostar que tinha muita gente que deve ter comprado centenas (ou mesmo milhares) de latinhas de cerveja e garrafas d'água, para vendê-las a preços exorbitantes para os participantes dessa vigília, tipo dez reais uma garrafinha de água mineral. Desses eu não tenho muita pena não, pois eles são um bando de exploradores, só querendo lucrar em cima da necessidade dos outros. Se fuderam, quero ver onde vão enfiar essas garrafinhas e latinhas agora.

E outros que vão ter dificuldades são os peregrinos que arrumaram lugares próximos a Guaratiba para se hospedarem, esperando chegar mais facilmente ao local da vigília. Esses agora vão ter que atravessar a cidade inteira para chegar em Copacabana. A caminhada, comum a esse evento, será da Central até a praia, quero ver quem é que vai ter gás pra tudo isso.

Além disso, considerando que a praia de Copacabana não tem a mesma estrutura, a recomendação dos organizadores é que os peregrinos voltem pra casa depois da missa da noite de sábado, voltando na manhã do domingo. Por sua vez, o prefeito Dudu Paes sugere que eles durmam na praia, porém sem montar barracas por não haver espaço (algo extremamente "inteligente" de se fazer, considerando o frio). Mostra o total desencontro entre as partes envolvidas...

Porém a pergunta que não quer calar: o quanto foi gasto com esse palco lá em Guaratiba? Por mais que o prefeito venha dizer que não gastou um centavo, acho difícil que a prefeitura não tenha dado uma ajuda...


Aliás, essa JMJ só fez meu ódio pelo prefeito do Rio aumentar ainda mais. Além dessa pouca-vergonha em dizer que não gastou nada em Guaratiba, ele fica vindo esse papinho mole de que assume a responsabilidade, dizendo que os moradores de Copacabana precisam ter compreensão, que tudo no final das contas está a mil maravilhas. Baita dum filho da puta! O mais engraçado é como os protestos, que continuam acontecendo por aqui no Rio, mas em menor escala, raramente criticam o Dudu Paes, só pedindo a cabeça do Serginho Cabral...

Enfim... ainda vão ter alguns dias de jornada pela frente. Não vejo a hora disso acabar, para que nós cariocas possamos ter a nossa cidade de volta. Pelo menos até o próximo evento que venha a tumultuar o Rio de Janeiro...

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