Passageiros Apressados

Já comentei sobre isso várias vezes, que sou um texugo muito observador, e muitas vezes me vejo perdido em pensamentos sobre pequenas coisas do cotidiano, que me fazem divagar sobre diversos assuntos. E na maioria das vezes, sempre é algo que me faz desanimar cada vez mais com o ser humano em geral, me deixando com mais nojo da sociedade. Sério, acho que se eu continuar assim, vou acabar indo morar no mato!

A situação de hoje ocorreu em mais uma de minhas viagens pelo "fantástico" metrô do Rio de Janeiro. Embora eu normalmente use o ônibus para ir e vir do trabalho e nas minhas saídas, cada vez mais tenho feito meus deslocamentos por baixo da terra. Mesmo sabendo que andar no metrô aqui é um verdadeiro inferno e um teste de nervos, como já comentei nessa postagem de alguns meses atrás.


Quem anda de metrô aqui na Cidade Maravilhosa sabe a loucura que é... Empurra-empurra, super-lotação, ar condicionado ruim, uma merda! Mas o pior mesmo são as pessoas. O metrô consegue apresentar uma concentração absurda de gente mal educada e filha da puta por metro quadrado! Sério, só dá pra encarar arrumando um canto longe do caminho, com um sonzinho no ouvido e olhando para o teto, minimizando assim ao máximo qualquer contato humano...

Mas tem horas que eu fico observando ao meu redor, nesses meus momentos de divagação sobre como o povo brasileiro é uma merda. E em um desses dias, em uma situação na qual eu observava a peculiar fauna que transita pelos vagões do metrô, observei um espécime curioso e cada vez mais comum. Já cheguei a falar dele na postagem mencionada, mas o comportamento dessa criatura me deixou tão abismado que decidi fazer uma análise mais aprofundada de seus hábitos mal educados...

Pois bem, deixa primeiro eu esboçar a cena. Estava eu pegando o metrô em direção à Tijuca, onde tinha que fazer uma consulta médica pela manhã. Mas já depois do horário do rush, logo o vagão estava com uma ocupação razoável. Eu estava no meio do vagão, encostado naquele lugarzinho estratégico entre a porta e os bancos de lado, fora do caminho e bem debaixo de uma saída de ar condicionado. Na mesma estação, entrou então o "espécime" observado nesse episódio: o bostinha aspirante a advogado.


Você deve conhecer o tipo: aqueles sujeitinhos com ar arrogante morador de Ipanema ou Leblon, com o cabelinho cheio de gel, devidamente trajados no terno e gravata que a mamãe lavou e passou, mochila nas costas atrapalhando todo mundo, e exibindo para todos o iPhone branco que o papai deu de presente de Natal, com aquela expressão metida, se achando melhor que todos ali só porque está cursando uma faculdade particular furreca de Direito. Sinceramente, um tipo de gente que me dá vontade de encher de porrada.

Antes que apareçam os engraçadinhos querendo duvidar da minha masculinidade, não percebi o sujeito porque fiquei o admirando. Foi porque o filho da puta entrou todo expansivo e tempestuoso como um marreco assustado pela porta do vagão, quase me atingindo. Claro, lembre-se que o metrô faz alguma prática macabra lançando no sistema de ventilação de suas estações substâncias que fazem a maioria das pessoas ficar estupidamente apressadas. Enfim, o maldito entrou no vagão e se dirigiu para a parte traseira, onde haviam ainda bancos livres.

A viagem continuou, com o vagão ainda relativamente tranquilo. Após sair da estação Glória, pelo canto do olho percebi o boyzinho se levantando de maneira explosiva, jogando a mochila para um lado e para o outro de maneira escandalosa. E então ele veio ali andando pelo corredor do vagão, atravessando praticamente toda a sua extensão, para se posicionar na outra ponta do vagão, com os beiços encostados na porta.


Sim, eu já havia falado sobre essa situação. São as pessoas que, mesmo estando a dois pentelhésimos de uma das portas, atravessa o vagão para sair por uma porta que vai estar mais próxima da saída. Apenas para situar, eu estava no vagão-locomotiva, o primeiro da composição. e justamente na próxima estação, da Cinelândia, as escadas ficam nas pontas da plataforma. Ou seja, saindo pela primeira porta você fica mais perto das escadas, o que motiva muitos energúmenos a atravessar todo o vagão. Claro, e sem se preocupar se o vagão está lotado, nem que tenha que sair abrindo caminho e empurrando a todos.

Aí é que então comecei a pensar sobre o assunto. Afinal de contas, o merdelhel engravatado foi apenas o que observei naquele dia, diria que não tem uma vez que eu ande de metrô que não veja alguém fazendo algo parecido. Por que diabos as pessoas fazem isso? O que elas ganham fazendo isso?

Bom, aí pegue um texugo que se revolta e se emputece com a estupidez alheia, com muita curiosidade e tempo livre... e temos essa avaliação... Com a ajuda desse site aqui, onde cheguei a arrumar as plantas do vagão do metrô, e uma calculadora, vamos fazer uma breve análise dessa situação.


Pela figura, você pode ver que o vagão tem um pouco mais de 21 metros. Pegando as medidas, se formos ver a distância entre as portas mais extremas, estamos falando de mais ou menos 12 metros (duas vezes a dimensão de 5,106 metros das partes das janelas e bancos e somando com os 1,87 metros da porta central).

Bom, para começo de conversa já podemos dizer que um apressadinho que fica atravessando todo o vagão provavelmente não está querendo encurtar o seu percurso. E se ele pensa que está andando menos por isso, é um calhorda imbecil sem cérebro que merece ser devorado por um bando de abutres peçonhentos depois de levar uma surra! Afinal de contas, se o cretino sair pela porta de trás, vai ter que andar os mesmos 12 metros na plataforma para chegar no mesmo lugar que ele sairia se tivesse saído pela porta da frente...

Isso nos leva a pensar que a razão principal é mesmo a economia de tempo... Não te disse, que no metrô todo mundo fica apressadinho?


Agora vamos considerar o seguinte: um ser humano normal tem uma velocidade média de caminhada de em torno de 1,5 metros por segundo. Isso sem contar as pessoas mal-educadas fechando a passagem pelo corredor do vagão.

Lembrando lá das distantes aulas de física, podemos dizer que pegando a distância e dividindo pela velocidade, saberemos o tempo necessário para percorrer aquela distância. Aí é só pegarmos lá a calculadora do Windows para fazer essa continha bunda (poderia fazer de cabeça, mas estou com preguiça) e chegamos a um tempo de 8 segundos...

 
Sério, 8 segundos...

Então, podemos concluir que as pessoas se espremem dentro do vagão para sair por uma determinada porta para economizar meros 8 segundos...

Claro, isso considerando o cenário mais evidente, onde o sujeito está nos fundos do vagão e quer sair pela frente. Se a criatura está, por exemplo, perto da porta dos fundos e anda os aproximadamente 6 metros para chegar na porta do meio, caso ela seja mais perto da saída... Estamos falando de uma enorme economia de 4 segundos! Sim, quatro míseros segundos!

Sei lá, eu não entendo essas coisas... Pra que tanta pressa para economizar tão pouco tempo, pela madrugada! Eu entenderia se fosse uma economia de 10, mesmo 5 minutos... Mas é necessário tudo isso para ganhar singelos segundos? Puta que pariu, as pessoas estão muito apressadas que estão exagerando, até parece que vai fazer alguma diferença...

Comentários