Padronização dos Ônibus

Se você mora na cidade do Rio, certamente você já percebeu uma drástica mudança no cenário do transporte público da cidade. Começando na virada do mês de outubro para o mês de novembro, se iniciou um processo de mudanças nos ônibus do Rio de Janeiro. A maioria dessas mudanças visa o conforto e segurança dos passageiros, como instalação de câmeras de segurança e aparelhos GPS para a localização em tempo real de cada carro. Até aí tudo bem, acho que deve-se investir em melhorar a qualidade do serviço de transporte público. Se não fosse uma mudança muito mais visível e radical, que consiste em padronizar a pintura dos ônibus, que está dividindo opiniões...

Antes de dar meus "pitacos" no assunto, vamos explicar como a mudança vai ser, estabelecida pela Prefeitura do Rio. Agora, as viações vão se distribuir em quatro grandes consórcios, cada um deles operando em uma determinada região da cidade. E cada consórcio possui a sua própria cor, embora na verdade essa cor se mostra apenas em pequenos detalhes da pintura, na frente e na traseira do veículo. Veja abaixo algumas fotos, vindas do site Ônibus Expresso.

O Consórcio Intersul é identificado pela cor amarela e pelo prefixo A. Nele estarão ônibus q1ue circulam na Zona Sul e Grande Tijuca, como os circulares e as linhas que vão para o centro.


Já o Consórcio Internorte tem a cor verde, e usa o prefixo B em frente ao número de ordem. Compreende as linhas que operam na Zona Norte.


O Consórcio Transcarioca tem a cor azul e o prefixo C. Esses ônibus vão circular em Jacarepaguá, Barra e Recreio.


Por fim, temos o Consórcio Santa Cruz, de cor vermelha e prefixo D. Ele vai atuar no restante da Zona Oeste.


As empresas tem um tempo para se adaptar a essa nova pintura, até lá os ônibus que ainda seguem as cores próprias da empresa parecem estar obrigados a esconder seu logotipo, colocando um adesivo sobre ele com o nome do consórcio. É interessante destacar que algumas empresas acabam participando de diferentes consórcios também, por operar em diversas regiões da cidade.

Em primeiro lugar, eu fico bem chateado (para não dizer puto da vida) com essa nova proposta de cores padronizadas. Como você já deve ter visto em algumas postagens aqui em meu blog, sempre fui um entusiasta razoável dos ônibus cariocas e suas cores diversas, desde pequeno quando desenhava cada ônibus e seu esquema de pintura (ainda tenho guardado essas relíquias). Claro que existem pinturas que são extremamente escrotas, mas existem também muitas delas que são bem bonitas. E não sou o único que pensa assim, existem muitas pessoas que são grandes interessados pela busologia em geral, incluindo principalmente a grande variedade de pinturas ostentadas pelos veículos, algo de décadas e que se tornou uma espécie de característica especial da cidade. E o quadrúpede do prefeito de nossa cidade vai acabar com tudo isso!

Menos mal se pelo menos tivessem escolhido um padrão de cores mais elegante e de melhor visual. Mas, como tudo que podemos esperar de nossos governantes, conseguiram criar a pior pintura possível, certamente fruto de um "entendido" no assunto que custou milhares de reais de nossos bolsos. O ônibus é basicamente cor de gelo, aquele mesmo cinza sem-graça que costuma-se usar para pintar parede, e as cores dos consórcios mal aparecem, apenas uma faixa debaixo do pára-brisa, um pedaço da traseira e alguns pequenos rabiscos nas laterais. De longe, parecem todos iguais.

E vamos falar sério, a escolha das cores dos consórcios não podia ser mais escrota. Fora o consórcio Santa Cruz, que usa um vermelho padrão (aliás, na minha opinião a pintura menos pior), todos os outros usam tonalidades feias pra cacete. Foram arrumar um azul meio desbotado para a Transcarioca, parece minha calça jeans. Para a Intersul ficou um amarelo meio cor de vômito, enquanto que o verde da Internorte mais parece cor de catarro...

Tem muita gente que até achou bonita a nova coloração, até não discuto muito isso pois gosto não se discute, embora eu prefira de longe que cada empresa tenha a sua cor. Só mostro o dedo médio para aqueles panariços "entendidos", como nosso prefeito Eduardo Paes, que julgam que o novo esquema de cores é mais funcional e vai ajudar as pessoas. Sinceramente, ele diz isso pois a única vez que ele anda de ônibus é para aparecer no jornal. O nosso ilustre prefeito não usa Vale Transporte ou Bilhete Único para trabalhar, ele não precisa ficar esperando no ponto pelo seu meio de transporte, e me vem falar essa palhaçada!

E tem gente que achava que o César Maia era ruim...

Saindo da questão mais estética, entro agora no aspecto funcional (ou desfuncional, melhor dizendo) da padronização dos ônibus. É fato incontestável que muitas pessoas estão acostumadas a identificar as linhas de ônibus pelas cores, de longe já era possível ter uma idéia se o veículo que se aproximava servia ou não. Agora, com o novo padrão os ônibus são muito semelhantes, os detalhes das cores são muito difíceis de se enxergar, apenas vendo de frente se tem uma idéia com relativa dificuldade de qual consórcio o ônibus faz parte. E soma-se a isso o fato de que os consórcios englobam uma grande quantidade de linhas, indo para lugares bem diferentes: por exemplo, um ônibus da Intersul pode estar indo para o Leblon ou para a Tijuca, destinos completamente distintos...

Vou citar um exemplo, baseado em minha realidade. Como um texugo morador de Copacabana, sempre usei muito as cores para identificar os ônibus à distância, muitas vezes nem precisava olhar para o número da linha. Se eu via um ônibus azul, já sabia que era o 455, indo para os lados da Tijuca e Méier...


Se eu queria ir para o centro, não tinha dúvida, era só fazer sinal para qualquer um dos "amarelinhos", como o 121 ou 132 (apesar de depois ter percebido que a foto abaixo é de um 2016, que na verdade vai pra Barra)...


E se um circular bastasse, para ir para Botafogo por exemplo, era fácil identifíca-los, com a inconfundível pintura azul e bege da São Silvestre.


Aliás, uma das pinturas mais antigas ainda em uso, desde os primeiros anos da empresa que seus ônibus tinha esse esquema de pintura. Poderia perdurar por um pouco mais, se não fosse o imbecil do prefeito e sua decisão nazista de padronizar os ônibus cariocas (todas essas fotos acima vêm do site Cia de Onibus).

Com a nova padronização, vai ficar bem mais complicado, já que linhas totalmente diferentes vão ter a mesma cor... O 121 que vai rapidamente pelo Aterro do Flamengo vai ter o mesmo amarelo vomitado do que um 154 que vai por dentro de Botafogo; o 455 que sempre se mostrou uma boa opção para ir para a Tijuca terá os mesmos detalhes de cor de ranho que o 474 com destino ao Jacaré...

E se já vai me confundir, imagina então para uma grande parcela de nossa sociedade que é analfabeta e não vai saber identificar o número dos ônibus, ou os idosos que têm dificuldade de enxergar? E não precisa nem ser idoso, basta ser míope e ter esquecido os seus óculos em casa, que você já corre o sério risco de não ir para onde você quer, parando em um lugar indesejado ou mesmo perigoso... Sinceramente, só o Eduardo Paes acha que vai facilitar a vida do povo...

Existe ainda um outro detalhe, que observei em alguns sites de busólogos, ao qual não havia me atentado. Os nomes das empresas ficam praticamente imperceptíveis, a maior ênfase é dada ao nome do consórcio, enquanto que o nome da viação aparece abaixo em fonte tamanho 8. Isso é ruim pois dificulta muito que identifiquemos a empresa responsável pelo ônibus, em especial quando precisamos denunciar alguma irregularidade ou falha na operação. A não ser que a pessoa saiba de que empresa é uma determinada linha, vai ficar mais complicado saber a quem reclamar em uma situação dessas.

Uma coisa que comento é como o imbecil de nosso prefeito tomou essa decisão de maneira totalitária e ditatorial. Eu não me lembro em nenhum momento que tenha sido feita uma consulta popular sobre esse assunto, para saber o que o povo acha. Talvez tenha sido essa a razão, pois certamente a população não iria aprovar tal medida, como podemos ver nos comentários de muita gente nas ruas e aqui na Internet. O Eduardo Paes, certamente assessorado por algum ignóbil estúpido que se acha o entendido no assunto, decidiu que a padronização é a melhor coisa do mundo e decretou sua vontade, dizendo que todos os ônibus devem estar "uniformizados". Já tentaram fazer isso aqui no Rio e em outras cidades, e não funcionou como se esperava, mas acham que aqui vai ser diferente, acham que só pintando os ônibus vão melhorar o serviço...

Com isso, se encerra um episódio de longa data da história de nossa cidade. Daqui a alguns meses o colorido característico dos ônibus do Rio de Janeiro dará lugar a uma frota "fardada" e sem graça, atendendo à vontade de nosso prefeito cabeça oca, dificultando ainda mais. Uma proposta que certamente está destinada ao completo fracasso. Só nos resta torcer que essa padronização dê muito errado e voltem ao que era antes...

Comentários

Rodrigo Sousa disse…
concordo contigo kra,citando o exemplo das belas pinturas, o grupo redentor sempre teve as mais bonitas.

sera q o prefeito nao tem mais o q fazer alem de estar tirando a caracteristica do rio copiando a pintura de sao paulo???